No capítulo VII, item 6, de
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec diz: “O
Espiritismo vem confirmar a teoria pelo exemplo, mostrando-nos grandes
no mundo dos espíritos aqueles que foram pequenos na Terra;
e, muitas vezes, bem pequenos aqueles que nela eram importantes e
poderosos”.
Antes de fazer esta afirmação, Kardec coloca três
passagens bíblicas para nos mostrar a importância da
humildade para combater o orgulho que, muitas vezes, nos guia e nos
impede de sermos admitidos nesse reino.
A primeira passagem evangélica é a que os discípulos
perguntam quem é o maior no reino dos céus (Mt.,
18, 1 a 5); a segunda é a passagem em que a mãe
dos filhos de Zebedeu solicita que Jesus ordene que eles tenham lugar
à sua direita e à sua esquerda; e a terceira é
a parábola que Jesus propõe aos convidados para a refeição
na casa de um dos principais fariseus.
Na primeira passagem, Jesus apresenta uma criança como símbolo
de pureza, pois, nos primeiros anos de vida, os instintos estão
em estado latente e a fragilidade física não possibilita
a expressão das más tendências. Por isso Kardec
nos esclarece que a criança, “não tendo ainda
podido manifestar nenhuma tendência perversa, nos oferece a
imagem da inocência e da candura”.
A infância é a fase em que o espírito se reconhece
e se desenvolve, e é isso que Jesus espera de nós. Que
nos reconheçamos como espíritos e trabalhemos pelo nosso
aperfeiçoamento.
Na segunda passagem, Salomé, mãe de Tiago e João
(filhos de Zebedeu), solicita a Jesus posição privilegiada
a seus filhos. Quando analisamos essa passagem, num primeiro momento,
achamos normal que uma mãe, pelo amor que dedica aos seus filhos,
deseje o melhor para eles. Falamos que nossos filhos são os
melhores, que são os mais inteligentes; se participam de uma
competição e ganham, mostramos o troféu para
todos e não cansamos de elogiá-los e expor suas conquistas
e vitórias; e não percebemos que até
no amor que dedicamos aos nossos queridos, temos atitudes orgulhosas.
Na terceira passagem Jesus nos orienta a não procurarmos os
melhores lugares, a não disputar posição de destaque,
a não perdermos tempo em expor nossos méritos e conquistas,
mas que saibamos nos contentar com a nossa posição,
que sejamos úteis aos nossos semelhantes, que tenhamos simplicidade
e pureza de coração. Ou seja, queremos ser o maior por
conta do orgulho, mas para alcançar a superioridade moral precisamos
ser pequenos na Terra.
Para conquistarmos uma posição elevada, precisamos desenvolver
humildade, nos libertarmos dos interesses egoístas e transformamonos
em servidores do Cristo.
Sabemos que estas atitudes exigem de nós um grande esforço,
por isso diversos espíritos que se deixaram dominar pelo orgulho
vêm contar para nós o que sentiram e como se viram no
mundo espiritual para nos servirem de exemplo.
A Doutrina Espírita confirma a teoria mostrando-nos grandes
no mundo dos espíritos aqueles que foram pequenos na Terra.
No capítulo II, item 8, de O Evangelho... temos o
depoimento da Rainha de França que nos diz “O orgulho
foi a minha perdição na Terra; (...) Que desilusão!
Que humilhação quando, em lugar de ser recebida como
soberana, eu vi, acima de mim, mas bem acima, homens que eu considerava
insignificantes (...)”.
Temos diversos outros exemplos no livro O Céu e o Inferno,
inclusive de espíritos que mesmo no Plano Espiritual ainda
não perceberam o quanto são orgulhosos.
O Espiritismo ainda nos ensina que se nos deixarmos dominar pelo orgulho,
pela ambição, pela vaidade, teremos que repetir a prova,
em condições difíceis para desenvolvermos a humildade
e os bons sentimentos para tornarmo-nos espíritos de ordem
elevada.