Jesus diz aos seus apóstolos:
“Quando jejuarem não mostrem uma aparência
triste como os hipócritas, (...), arrume o cabelo e lave o
rosto,...” (Mateus, 6:16 a18).
Se estranhamos que Jesus oriente os apóstolos a manter uma
prática exterior, já que ele próprio as combateu,
voltemos a Kardec, no cap. XV, item 3 de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, para obter esclarecimentos sobre essa questão.
“Para ser mais bem compreendido, precisava não se
afastar muito das ideias do seu tempo reservando sempre para o futuro
a verdadeira interpretação das suas palavras e dos pontos
sobre os quais ele não podia explicar-se claramente.”
Então ao ser perguntado por que seus discípulos não
jejuavam, ele responde: “Podem os amigos do noivo jejuar,
enquanto o noivo está com eles?”; é interessante
perceber a forma com que Jesus ensina. Ele lança um questionamento,
pois a prática do jejum era feita com a intenção
de alcançar uma bênção, ou uma penitência
como vemos em várias passagens do Antigo Testamento, a exemplo
dessas: “Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei
e chorei. (...) ‘Quem sabe? Talvez o Senhor tenha misericórdia’...,”
(Samuel, 12:22); “(...) e jejuaram aquele dia, e disseram ali:
Pecamos contra o Senhor (...)” (1 Samuel, 7:6).
Jesus dá a entender que enquanto os amigos estão em
companhia do noivo, num momento de alegria e felicidade, não
têm por que jejuarem.
Mas o ensinamento não parou por aí. Em seguida, Jesus
diz: “Remendos novos em panos velhos rasgam o tecido velho
e vinho novo fermenta e arrebenta odres velhos”. Ele incita
à reflexão: A costureira sabe que se remendar roupa
velha com remendo novo, o rasgo vai ampliando devido à fragilidade
do tecido velho, e o povo sabia que com a fermentação
do vinho novo os odres velhos não suportam a pressão.
Percebemos aqui o respeito de Jesus ao entendimento equivocado que
deveria ser mudado mediante o raciocínio, a reflexão
que leva ao conhecimento, não por imposição.
E é dessa forma que ele respeita a prática do jejum
entre os discípulos, que não conseguiriam mudar seus
hábitos de uma hora para outra. E então recomendou que
eles mantivessem a serenidade ao jejuar.
Muitos podem perguntar: Por que estamos falando de jejum se essa não
é uma prática espírita? Para propor a uma reflexão
sobre a questão: forma X essência que Kardec trata no
capítulo XVIII, item 2 de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Ele diz que “prendendo-se à forma, e desprezando
a essência do ensino divino (...) os judeus,(...), mesmo abandonando
inteiramente a idolatria, negligenciaram a lei moral para se ligarem
à prática mais fácil das formas exteriores”...
E nós, espíritas, abandonamos a lei moral para nos ligarmos
às práticas exteriores?
Kardec esclarece que “A crença na eficácia
dos signos exteriores é nula, se ela não impede que
se cometam homicídios, adultérios e espoliações,
que se digam calúnias, que se faça mal ao próximo,”...
(E.S.E., cap.VIII, 10).
Muitas vezes, nos prendemos aos fenômenos, ou perdemos tempo
querendo saber quem foi esse ou aquele espírito em vidas passadas,
e não aproveitamos a mensagem das revelações
que eles nos trazem, ou ficamos fascinados com a beleza das mensagens
e não extraímos para nossa vida os ensinamentos que
elas trazem.
Então, irmãos, fiquemos atentos para nos ligarmos à
essência dos ensinos da Doutrina Espírita para que aos
poucos aprendamos a fazer o jejum contínuo dos maus hábitos
e dos vícios morais.
E Jesus diz: “E ninguém tendo bebido o velho quer
logo o novo”... (Lucas, 5:39), que possamos afirmar que
queremos o novo, pois as velhas práticas exteriores, que experimentamos
no passado, não nos libertaram dos velhos comportamentos, e
por isso queremos, hoje, absorver os ensinos de Jesus que o Espiritismo
nos oferece.