Kardec, logo na capa de O Livro
dos Médiuns, apresenta a obra:
“Contém
o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os
gêneros de manifestações, os meios de comunicação
com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as
dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática
do Espiritismo. (continuação de O LIVRO DOS ESPÍRITOS)”.
(1)
Herculano Pires, em sua tradução,
destina a abertura da obra com um capítulo que se intitula
EXPLICAÇÃO, iniciando com os seguintes parágrafos:
“Este é o segundo volume
da Codificação do Espiritismo. Logo após a publicação
de O Livro dos Espíritos, obra básica
da doutrina, em 1857, Kardec lançou, em 58, um livrinho intitulado
Instruções Práticas Sobre as Manifestações
Espíritas. Era um ensaio para elaboração
de O Livro dos Médiuns, que só
pôde aparecer em 1861.
Publicado este, Kardec suprimiu aquele.
Apesar disso, 62 anos mais tarde, em 1923, Jean Meyer, então
diretor da Casa dos Espíritas, resolveu reeditar o Instruções,
para circular juntamente com este livro, por considerar aquele livrinho
útil à iniciação nas questões mediúnicas.
No Brasil, Cairbar Schutel, em sua gráfica de Matão,
lançou também o Instruções
em nossa língua.
A finalidade deste livro é
desenvolver a parte prática da doutrina, em sequência
à exposição teórica do livro básico.
Por isso Kardec o considerou “continuação de O
Livro dos Espíritos”, como se vê
no frontispício. Mesmo porque, segundo declara na Introdução,
este livro também pertence aos Espíritos. Foram eles
que o orientaram na sua elaboração, eles que o reviram
e modificaram inteiramente para a segunda edição de
1862, que ficou sendo a definitiva e que serviu para esta tradução.“(2)
Como espíritas, essa obra fundamental
não necessitaria de maiores apresentações. Entretanto,
mesmo o maior conhecedor do tema mediunidade e, consequentemente,
da própria obra, surpreende-se em vários momentos com
informações contidas nas suas entrelinhas, linhas, parágrafos
e temas de seu conteúdo.
Repetir que é um livro para
ser estudado e não apenas lido, parece óbvio, mas sabemos
que Kardec foi além das supostas obviedades. Sim, podemos dizer
que O Livro dos Médiuns, assim como
Herculano Pires afirma, é um “tratado superior de fenomenologia
paranormal”. E que, além disso, disponibiliza de maneira
basilar a necessidade de voltarmos o “Instruí-vos”
para as conquistas de ordem moral.
Verificando o índice e ordem
da organização, vemos como é ampla a sua abordagem.
Podemos entender que falar ou ver os espíritos não é
um simples roteiro ou uma sensação física. É
um compendio que se inicia no entendimento do que são os espíritos,
ou além, da pergunta “Existem Espíritos?”
até a formação das instituições,
fechando com o Vocabulário Espírita, no capítulo
XXXII.
Um ponto importante a ser destacado
da obra é o conhecimento que ela agrega no sentido que o desenvolvimento
é um estágio de evolução, mas que essa
esta evolução só se dará efetivamente
a partir da aplicação desses conceitos na prática
do bem. Em seus capítulos, a obra evidencia ainda que a prática
da mediunidade (no emprego de suas possibilidades e potencialidades)
tem os objetivos da transformação moral do médium
e o auxílio ao próximo.
Então, qual o maior presente
ou celebração que podemos proporcionar nesse aniversário
de 160 anos de O Livro dos Médiuns?
Com toda a certeza, como dirigentes e divulgadores da Doutrina Espírita,
a sua divulgação. Não somente
a venda do livro, mas principalmente o seu uso e aplicação.
“Dissemos que o Espiritismo
é toda uma Ciência, toda uma Filosofia. Quem desejar
conhecê-lo seriamente deve, pois, como primeira condição,
submeter-se a um estudo sério e persuadir-se de que, mais do
que qualquer outra ciência, não se pode aprendê-lo
brincando. O Espiritismo, já o dissemos, se relaciona com todos
os problemas da Humanidade. Seu campo é imenso e devemos encará-lo
sobretudo quanto às suas consequências. A crença
nos Espíritos constitui sem dúvida a sua base, mas não
basta para fazer um espírita esclarecido, como a crença
em Deus não basta para fazer um teólogo. Vejamos, pois,
de que maneira convém proceder no seu ensino, para levar-se
com mais segurança à convicção.
Que os adeptos não se assustem
com a palavra ensino. Não se ensina apenas do alto da cátedra
ou da tribuna, mas também na simples conversação.
Toda pessoa que procura persuadir outra por meio de explicações
ou de experiências, ensina. O que desejamos é que esse
esforço dê resultados. Por isso julgamos nosso dever
dar alguns conselhos, que poderão ser aproveitados pelos que
desejam instruir-se a si mesmos e que terão aqui o meio e chegar
mais segura e prontamente ao alvo”. (3)
Na nossa condição de
aprendizes, se faz necessário sempre repetir: “o óbvio
precisa ser dito”. Com isso, sigamos o que de melhor temos à
nossa disposição para as nossas atividades espiritas,
que é a Codificação!
Silvio Costa é diretor do Departamento
de Mediunidade da USE e diretor-adjunto do CCDPE-ECM.
Texto veiculado no Dirigente Espírita 181 –
edição janeiro-fevereiro de 2021, veículo de comunicação
da União das Sociedades Espíritas do Estado de São
Paulo