Cruzava os corredores de uma das casas
Espíritas que frequentei quando uma senhora me abordou dizendo
que havia sido maltratada. Gesticulando as mãos junto com palavras
indignadas, reclamava de uma das trabalhadoras do Centro por não
tê-la recebido direito ao vir pedir uma cesta básica:
- Logo aqui, onde eu esperava ser
bem tratada, “fulana” me trata com falta de educação.
Só porque eu sou pobre e vim pedir doações! Que
absurdo!
E assim ela saiu pelos corredores,
dizendo que voltava depois quando a servidora fosse outra.
Em outra ocasião, já
em diferente casa Espírita, deparei-me com uma senhora que
conduzia o estudo por meio da leitura das obras básicas de
Kardec. Naquela época ainda não havia o ESDE (Estudo
Sistematizado da Doutrina Espírita) e muitas casas faziam esse
trabalho lendo capítulo por capítulo do Livro dos Espíritos,
seguindo o Evangelho e as demais obras. Lembro-me que por ela se tratar
de uma trabalhadora com anos de experiência naquela casa, muitas
das vezes retrucava de maneira ríspida os comentários
e perguntas dos novatos durante o estudo. Certa vez questionei colocações
apresentadas por ela sobre uma das perguntas do Livro dos Espíritos.
Como se eu tivesse cometido um pecado mortal, ela me respondeu de
forma contundente o que me constrangeu junto aos demais colegas de
estudo. Não sendo a primeira vez que via ela nos tratar daquela
forma, e como ainda era jovem e imaturo, nenhuma colocação
a mais eu fiz, afastando-me daquele trabalho e, posteriormente, daquele
Centro.
Estes são apenas dois exemplos
de tantos fatos que vivenciamos ou ouvimos falar em nossas casas Espíritas,
como também em outras religiões. O normal é questionarmos
o atendimento em estabelecimentos comerciais. No entanto, quando se
trata de religião ou locais de apoio, sempre esperamos que
as pessoas que estão lá para nos atender sejam anjos
ou espíritos iluminados prontos para nos receber. Quando o
contrário acontece, nossa indignação parece ser
muito maior, o que aumenta significativamente nossa decepção.
É bem compreensível
que não aceitemos este tipo de postura em locais de caráter
religioso. Mas pensemos bem, quem trabalha nestas casas? No caso do
movimento Espírita são, em sua grande maioria, voluntários
que dedicam parte do seu precioso tempo em prol da caridade, na busca
da aprendizagem e da solução de seus próprios
problemas. Todos nós, a exceção de Espíritos
missionários, os quais são raros, estamos ainda em um
mundo de expiação e provas devido às nossas imperfeições
morais e intelectuais. Muitos de nós ainda não nos desvencilhamos
das doenças da alma, tais como o orgulho, a vaidade, dentre
outras, as quais se exteriorizam em algumas situações
e ferem corações necessitados que buscam paz. Estes
são os nossos trabalhadores que nos recebem: pessoas igual
a nós em um sentido mais amplo, Espíritos de terceira
ordem ou Espíritos imperfeitos.
É claro que tais imperfeições
não justificam atos indesejáveis. Mas nos servem de
exemplo de como não agir, principalmente em locais onde o amor
e paz devem estar presentes. Lembremo-nos dos princípios redentores
apresentados por André Luiz no livro “Agenda Cristã”,
psicografado por Francisco Cândido Xavier. Em todos os momentos
não podemos esquecer que “Deus é o tema central
de nossos destinos”. Desculpemos sinceramente tais irmãos.
Não levantemos críticas. Desejemos a ele o bem. Muitas
das vezes, aquele que nos recebe em uma instituição
religiosa pode ser muito mais necessitado que nós mesmos. A
diferença entre ele e cada um de nós é que já
percebeu suas necessidades e busca no trabalho fraterno formas de
melhorar-se a cada dia.
Pensemos bem, se Jesus, guia e modelo
da humanidade, não atirou nenhuma pedra a quem possuía
defeitos, quem somos nós para fazê-lo. Se nos aborrecermos
com um irmão, responda com o exemplo do amor e da paz. Busque
contagiá-lo com as ações que ele não esteja
praticando. Talvez hoje ele não dê atenção
a você, mas seu continuado exemplo poderá ajudá-lo
a perceber as próprias falhas. Revidar não constrói.
Façamos a nossa parte. Só assim estaremos contribuindo
com a psicosfera positiva e com a harmonia do local que frequentamos.
E sem perceber, também estaremos ajudando a nós mesmos.
Aos trabalhadores: o alerta! Muitas
almas passam por nossas mãos todos os dias. Se nós estamos
em um local empenhados em apoiar os irmãos no amor e na caridade,
busquemos de maneira mais sublime conduzi-los à luz. Somos
responsáveis pelo nosso progresso intelecto-moral, mas não
conseguiremos ir muito adiante se continuarmos contraindo débitos
no trato com os irmãos. Antes de levar a palavra, estender
as mãos ou acalentar um irmão, coloque-se no lugar dele.
Será desta forma que gostaríamos de ser recebidos? Este
é o acalento da alma que precisamos? Busquemos as resposta
na reflexão diária. Se estivermos moralmente confortáveis
junto à sublime espiritualidade nos momentos de prece é
porque estamos no caminho certo.
Enfim, sejamos nós trabalhadores
ou necessitados, todos estamos na mesma nave, caminhando em direção
ao Mundo de Regeneração. Façamos cada um a nossa
parte, pois somente com o amor e a caridade é que poderemos
transformar nossas casas, sejam Espíritas ou não, em
lares de acolhimento espiritual, digno de nossas expectativas.
Márcio Martins da Silva Costa