A Doutrina Espírita apresenta-nos
um contexto mais amplo e mais sublime a respeito da grande fraternidade
cósmica que irmana todos os seres visíveis e invisíveis
"O Espiritismo é o maior antagonista do materialismo."
Allan Kardec
"O Livro dos Espíritos"
A mediunidade sempre esteve presente na cultura de
todo os povos, atrás de todas as grandes revelações
espirituais. Inerente a todo ser humano, em menor e maior grau em
uns e outros, a mediunidade é o limiar da percepção,
a faculdade que possibilita entrever o mais além.
Em sua obra O Livro dos Médiuns,
no cap XIV, item 159, Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita,
assistido pelos Espíritos Superiores, encarregados de transmitir
a Terceira Revelação à Terra, e através
de muitos anos de rigorosas experimentações, análises
e comparações, encontramos o seguinte esclarecimento:
"Todo aquele que sente, num grau qualquer,
a influência dos Espíritos, é, por esse fato,
médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não
constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo,
raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos.
Pode-se, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos médiuns.
No entanto, usualmente, assim só se qualificam aqueles em
quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e
se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então
depende de uma organização mais ou menos sensitiva.
Além disso, essa faculdade não se revela, da mesma
maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão
especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde
resulta que forma tantas variedades, quantas são as espécies
de manifestações."
"As principais mediunidades são: a dos médiuns
de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis;
a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos
curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes ou psicógrafos."
Coube à nossa época o descortinar
do mundo invisível
Kardec explica-nos que o Espiritismo é uma
revelação que foi reservada para a nossa época.
É chegado o tempo de compreendermos as Leis que regem o universo
e nos desenfeixarmos das amarras da ignorância, da superstição
ou do pensamento reducionista de que todas as coisas são um
produto do acaso.
"Uma importante revelação se
processa, na época atual e mostra a possibilidade de nos
comunicarmos com os seres do mundo espiritual. Não é
novo, sem dúvida, esse conhecimento; mas ficara até
aos nossos dias, de certo modo, como letra morta, isto é,
sem proveito para a Humanidade. A ignorância das leis que
regem essas relações o abafara sob a superstição;
o homem era incapaz de tirar daí qualquer dedução
salutar; estava reservado à nossa época desembaraçá-lo
dos acessórios ridículos, compreender-lhe o alcance
e fazer surgir a luz destinada a clarear o caminho do futuro."
Revelação científica
e divina
A doutrina espírita não é produto
de uma pessoa, mas um conjunto de revelações espirituais
de diferentes comunicações mediúnicas.
Allan Kardec esclarece que a Doutrina Espírita
não foi fundada ou criada por ele ou outra pessoa. Não
é ela o produto de um único intelecto, mas sim, um conjunto
de revelações espirituais proveniente de diferentes
comunicações mediúnicas, através de diferentes
médiuns de todas as partes do planeta.
Por outro lado, sua elaboração sim,
é o resultado das observações feitas pelo homem.
"Por sua natureza, a revelação
espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo
da revelação divina e da revelação científica.
Participa da primeira, porque foi providencial o seu aparecimento
e não o resultado da iniciativa, nem de um desígnio
premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da doutrina
provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados
por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam,
que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa
conhecer, hoje que estão aptos a compreendê-las. Participa
da segunda, por não ser esse ensino privilégio de
indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por
não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos,
dispensados do trabalho da observação e da pesquisa,
por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio;
porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário,
recomendado; enfim, porque a doutrina não foi ditada completa,
nem imposta à crença cega; porque é deduzida,
pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que
os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções
que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta,
compara, a fim de tirar ele próprio as ilações
e aplicações. Numa palavra, o que caracteriza a revelação
espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa
dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto
do trabalho do homem."
Revolução silenciosa nas idéias e no coração
dos homens
A revelação espírita opera como
uma revolução silenciosa na mente e no coração
dos homens. No entender do missionário de Lion, deve ela agir
sem alarde, sem imposições, simplesmente como reflexão
amadurecida naquele que se encontra idôneo para compreendê-la
e praticá-la.
"O simples fato de poder o homem comunicar-se
com os seres do mundo espiritual traz conseqüências incalculáveis
da mais alta gravidade; é todo um mundo novo que se nos revela
e que tem tanto mais importância, quanto a ele hão
de voltar todos os homens, sem exceção. O conhecimento
de tal fato não pode deixar de acarretar, generalizando-se,
profunda modificação nos costumes, caráter,
hábitos, assim como nas crenças que tão grande
influencia exerceu sobre as relações sociais. É
uma revolução completa a operar-se nas idéias,
revolução tanto maior, tanto mais poderosa, quanto
não se circunscreve a um povo, nem a uma casta, visto que
atinge simultaneamente, pelo coração, todas as classes,
todas as nacionalidades, todos os cultos".
A terceira revelação
O Espiritismo é o desdobramento de duas outras
revelações espirituais anteriores, ensina-nos Kardec.
Portanto, "é com razão que o Espiritismo é
considerado a terceira das grandes revelações. Vejamos
em que essas revelações diferem e qual o laço
que as liga entre si".
"Moisés, como profeta, revelou aos homens
a existência de um Deus único, Soberano Senhor e Orientador
de todas as coisas; promulgou a lei do Sinai e lançou as
bases da verdadeira fé. Como homem, foi o legislador do povo,
pelo qual essa primitiva fé, purificando-se, havia de espalhar-se
por sobre a Terra".
"O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino
e rejeitando o que era transitório, puramente disciplinar
e de concepção humana, acrescentou a revelação
da vida futura, de que Moisés não falara, assim como
a das penas e recompensas que aguardam o homem, depois da morte".
Nesse sentido, conforme atinge maior maturidade, o
plano espiritual, gradativamente, ergue ao homem terreno o véu
da verdade maior.
"A cada um segundo as suas obras..."
O codificador enfatiza que a revelação espírita,
por ser um desodobramento da doutrina do Cristo, apresenta conceitos
mais elevados para a correta compreensão dos mecanismos da
lei divina, sua ação e sua justiça.
"A parte mais importante da revelação
do Cristo, no sentido de fonte primária, de pedra angular
de toda a sua doutrina é o ponto de vista inteiramente novo
sob que considera ele a Divindade. Esta já não é
o Deus terrível, ciumento, vingativo, de Moisés; o
Deus cruel e implacável, que rega a terra com o sangue humano,
que ordena o massacre e o extermínio dos povos, sem excetuar
as mulheres, as crianças e os velhos, e que castiga aqueles
que poupam as vítimas; já não é o Deus
injusto, que pune um povo inteiro pela falta do seu chefe, que se
vinga do culpado na pessoa do inocente, que fere os filhos pelas
faltas dos pais; mas, um Deus clemente, soberanamente justo e bom,
cheio de mansidão e misericórdia, que perdoa ao pecador
arrependido e dá a cada um segundo as suas obras"
E assim, passamos a ter um conceito mais elevado e
justo da Divindade, compreendendo que nossa alegria ou felicidade
reultam do fato de estarmos agindo em conformidade ou não com
suas soberanas leis.
O progresso incessante da alma
Kardec ainda esclarece que o Bem e o Amor são
uma fatalidade para a alma humana. Após um vasto período
de experiências e aprendizado, deverá o Espírito
conquistar sua glória através do natural processo evolutivo.
"O Espiritismo, partindo das próprias
palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é
conseqüência direta da sua doutrina. A idéia vaga
da vida futura, acrescenta a revelação da existência
do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço,
e com isso precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma
consistência, uma realidade à idéia. Define
os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu
que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte".
"Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai, por
que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê
por toda parte a justiça de Deus. Sabe que a alma progride
incessantemente, através de uma série de existências
sucessivas, até atingir o grau de perfeição
que a aproxima de Deus. Sabe que todas as almas, tendo um mesmo
ponto de origem, são criadas iguais, com idêntica aptidão
para progredir, em virtude do seu livre-arbítrio; que todas
são da mesma essência e que não há entre
elas diferença, senão quanto ao progresso realizado;
que todas têm o mesmo destino e alcançarão a
mesma meta, mais ou menos rapidamente, pelo trabalho e boa-vontade".
A grande solidariedade cósmica
A Doutrina Espírita também apresenta-nos
um contexto mais amplo emais sublime a respeito da grande fraternidade
cósmica que irmana todos os seres visíveis e invisíveis.
O codificador soube muito bem compreender esta solidariedade interdimensional,
esforçando-se, durante toda a sua vida missionária,
por reatar no pensamento ocidental, o liame perdido entre a dimensão
física à espiritual. Ainda hoje, este é o propósito
do Espiritismo.
"Pelas relações que hoje pode
estabelecer com aqueles que deixaram a Terra, possui o homem não
só a prova material da existência e da individualidade
da alma, como também compreende a solidariedade que liga
os vivos aos mortos deste mundo e os deste mundo aos dos outros
planetas. Conhece a situação deles no mundo dos Espíritos,
acompanha-os em suas migrações, aprecia-lhes as alegrias
e as penas; sabe a razão por que são felizes ou infelizes
e a sorte que lhes está reservada, conforme o bem ou o mal
que fizerem. Essas relações iniciam o homem na vida
futura, que ele pode observar em todas as suas fases, em todas as
suas peripécias; o futuro já não é uma
vaga esperança: é um fato positivo, uma certeza matemática.
Desde então, a morte nada mais tem de aterrador, por lhe
ser a libertação, a porta da verdadeira vida".