Estudando-se com cuidado
o caráter dos espíritos que se apresentam, sobretudo
do ponto de vista moral, se reconhece sua natureza e o grau de
confiança que se lhe pode conceder. O bom-senso não
poderia enganar
Seja você espírita ou não,
provavelmente, já se viu em determinada situação
em que alguém lhe transmitiu alguma “mensagem”,
recebida por algum médium, adivinho ou “sensitivo”,
tendo você como especial destinatário. É muito
provável, também, você conhecer pessoas que andam
consultando e recebendo instruções de espíritos
por aí, na intenção de obter soluções
rápidas para seus problemas ou aflições. Há
também o caso daquele seu vizinho que “recebe”
tal e qual entidade e “trabalha” em casa mesmo.
Pois bem, você deve ter ficado em dúvida, sem saber discernir
o conteúdo dessas mensagens. Teria sido proveniente de um espírito
mesmo? Ou então, no mínimo, teria esse espírito
uma índole moral superior capaz de merecer a sua confiança?
Levando ainda essa questão para o campo estritamente psíquico,
da influenciação espiritual, a que todos estamos sujeitos
e que ocorre inconscientemente, na rotina de nossas vidas, podemos
observar a natureza de nossas próprias cogitações
mentais. O que estamos cogitando? Seja o que for, será algo
digno de alguém preocupado com a auto-educação
espiritual?
Respostas para dúvidas mediúnicas estão na obra
de Allan Kardec
O codificador do espiritismo, Allan
Kardec, em sua obra O Livro dos Médiuns, deixou tudo isso muito
bem claro e, para os estudiosos da doutrina, o que falamos aqui não
é nenhuma novidade. Mas, para quem está chegando agora
e para os que se interessam em recapitular o aprendido, aqui vão
26 maneiras de identificar se uma comunicação
é proveniente de um espírito superior ou não:
1.- Não há outro critério para
discernir o valor dos espíritos senão o bom-senso.
2.- Conhecemos os espíritos pela sua linguagem
e pelos seus conselhos, ou seja, pelos sentimentos que inspiram e
os conselhos que dão.
3.- Uma vez admitido que os bons espíritos
não podem dizer e fazer senão o bem, tudo o que for
mau não pode provir de um bom espírito.
4.- A linguagem dos espíritos superiores é
sempre digna, nobre e elevada, sem mistura de trivialidades. Dizem
tudo com simplicidade e modéstia, não se gabam jamais,
não exibem seu saber nem a sua posição entre
os outros.
A linguagem dos espíritos inferiores
ou vulgares tem sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda
expressão que indique baixeza, presunção, arrogância,
fanfarrice, acrimônia, é indício característico
de inferioridade, ou de fraude se o espírito se apresenta sob
um nome respeitável e venerado.
5.- Não é pela forma material e nem
pela correção do estilo que se julga um espírito
mas, sim, sondando-lhe o íntimo, esquadrinhando suas palavras,
pesando-as friamente, maduramente e sem prevenção. Todo
desvio de lógica, razão e de sabedoria, não pode
deixar dúvida quanto à sua origem, qualquer que seja
o nome com o qual se vista a entidade espiritual comunicante.
6.- A linguagem dos espíritos elevados é
sempre idêntica, senão quanto à forma, pelo menos
quanto ao fundo. Não são contraditórios.
7.- Os bons espíritos não dizem senão
o que sabem, calam-se ou confessam sua ignorância sobre o que
não sabem.
Os maus falam de tudo com segurança,
sem se preocuparem com a verdade. Toda heresia científica notória,
todo princípio que choque o bom-senso, mostra a fraude se o
espírito se diz esclarecido.
8.- É fácil reconhecer os espíritos
levianos pela facilidade com que predizem o futuro e precisam fatos
materiais que não nos é dado conhecer. Os bons espíritos
podem fazer pressentir as coisas futuras quando esse conhecimento
for útil, mas não precisam jamais as datas: todo anúncio
de acontecimento com época fixada é indício de
uma mistificação.
9.- Os espíritos elevados se exprimem de maneira
simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir
a poesia de idéias, de expressões sempre inteligíveis
e ao alcance de todos, sem exigir esforço para ser compreendido.
Têm a arte de dizerem muitas coisas com poucas palavras, porque
cada palavra tem sua importância.
Os espíritos inferiores, ou
falsos sábios, escondem sob a presunção e ênfase
o vazio dos pensamentos. Sua linguagem, freqüentemente, é
pretensiosa, ridícula, ou obscura à força de
querer parecer profunda. Mas não é.
10.- Os bons espíritos jamais ordenam: não
se impõem, aconselham e, se não são escutados,
se retiram. Os maus são imperiosos, dão ordens, querem
ser obedecidos e permanecem mesmo assim. Todo espírito que
se impõe, trai sua origem. São exclusivos e absolutos
em suas opiniões, e pretender ter, só eles, o privilégio
da verdade. Exigem uma crença cega e não apelam à
razão, porque sabem que a razão os desmascariam.
11.- Os bons espíritos não lisonjeiam.
Aprovam quando se faz o bem, mas sempre com reservas. Os maus dão
elogios exagerados, estimulam o orgulho e a vaidade, pregando a humildade,
e procuram exaltar a importância pessoal daqueles a quem desejam
captar.
12.- Os espíritos superiores estão
acima das puerilidades da forma e em todas as coisas. Só os
espíritos vulgares podem dar importância a detalhes mesquinhos,
incompatíveis com as idéias verdadeiramente elevadas.
Toda prescrição meticulosa é um sinal certo de
inferioridade e de fraude da parte de um espírito que toma
um nome importante.
13.- Desconfie dos nomes bizarros e ridículos
que tomam certos espíritos que querem se impor à credulidade.
Seria soberanamente absurdo tomar esses nomes a sério.
14.- Desconfie também dos espíritos
que se apresentam muito facilmente com nomes extremamente venerados
e não aceite suas palavras senão com a maior reserva.
Neste caso é necessário um controle severo e indispensável,
porque, freqüentemente, é uma máscara que tomam
para fazer crer em pretendidas relações íntimas
com os espíritos excepcionais. Por esse meio afagam a vaidade
do médium e dela se aproveitam para induzi-lo, constantemente,
a diligências lamentáveis ou ridículas.
15.- Os bons espíritos são muito escrupulosos
sobre as atitudes que podem aconselhar. Em todos os casos, não
aconselham jamais se não houver um objetivo sério eminentemente
útil. Deve-se considerar como suspeitas todas as que não
tiverem esse caráter, ou não estiverem de acordo com
a razão. É ainda necessário refletir maduramente
todo conselho recebido para não correr o risco de expor-se
a mistificações desagradáveis.
16.- Os bons espíritos podem também
serem reconhecidos pela sua prudente reserva sobre todas as coisas
que podem comprometer. Repugna-lhes revelar o mal.
Os espíritos levianos ou malévolos se comprazem em faze-lo
realçar. Enquanto que os bons procuram suavizar os erros e
pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a cizânia
por meio de insinuações pérfidas.
17.- Os bons espíritos prescrevem unicamente
o bem. Toda máxima, todo conselho que não esteja estritamente
conforme a pura caridade evangélica, não pode ser obra
dos bons espíritos.
18.- Os bons espíritos não aconselham
jamais senão coisas perfeitamente racionais. Toda recomendação
que se afaste da reta linha do bom-senso ou das leis imutáveis
da natureza, acusa um espírito limitado e, por conseqüência,
pouco digno de confiança.
19.- Os espíritos maus ou simplesmente imperfeitos
se traem ainda por sinais materiais ante os quais a ninguém
poderiam enganar. Sua ação sobre o médium é
algumas vezes violenta, nele provocando movimentos bruscos e sacudidos,
uma agitação febril e convulsiva, que se choca com a
calma e a doçura dos bons espíritos.
20.- Os espíritos imperfeitos, freqüentemente,
aproveitam os meios de comunicação de que dispõem
para dar pérfidos conselhos. Excitam a desconfiança
e animosidade contra aqueles que lhe são antipáticos,
os que podem desmascarar suas imposturas são, sobretudo, o
objeto de sua repreensão.
Os homens fracos são seu alvo para os induzir ao mal. Empregando,
sucessivamente, os sofismas, os sarcasmos, as injúrias e até
sinais materiais de seu poder oculto para melhor convencer, procuram
desviá-los da senda da verdade.
21.- O espírito de homens que tiveram, na
Terra, uma preocupação única, material ou moral,
se não estão libertos da influência da matéria,
estão ainda sob o império das idéias terrestres,
e carregam consigo uma parte de preconceitos, de predileções
e mesmo de manias que tinham neste mundo. O que é fácil
de se reconhecer pela sua linguagem.
22.- Os conhecimentos com os quais certos espíritos
se adornam, com uma espécie de ostentação, não
são um sinal de sua superioridade. A inalterável pureza
dos sentimentos morais é, a esse respeito, a verdadeira prova
de sua superioridade moral.
23.- Não basta interrogar um espírito
para conhecer a verdade. É preciso, antes de tudo, saber a
quem se dirige, porque os espíritos inferiores, ignorantes
eles mesmos, tratam com frivolidade as questões mais sérias.
Também não basta que um espírito tenha tido um
grande nome na Terra, para ter, no mundo espírita, a soberana
ciência. Só a virtude pode, em purificando-o, aproximá-lo
de Deus e desenvolver seus conhecimentos.
24.- Da parte dos espíritos superiores, o
gracejo, freqüentemente, é fino e picante, mas jamais
é trivial. Entre os espíritos gracejadores que não
são grosseiros, a sátira mordaz é sempre muito
oportuna.
25.- Estudando-se com cuidado o caráter dos
espíritos que se apresentam, sobretudo do ponto de vista moral,
se reconhece sua natureza e o grau de confiança que se lhe
pode conceder. O bom-senso não poderia enganar.
26.- Para julgar os espíritos, como para julgar
os homens, é preciso saber primeiro julgar a si mesmo. Infelizmente,
há muitas pessoas que tomam sua opinião pessoal por
medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso. Tudo o
que contradiga sua maneira de ver, suas idéias, o sistema que
conceberam ou adotaram, é mau aos seus olhos. A tais pessoas,
evidentemente, falta a primeira qualidade para uma justa apreciação:
a retidão do julgamento. Mas disso não suspeitam. É
o defeito sobre o qual mais nos iludimos.
Acreditamos que tendo essas considerações em mente,
fica bem mais fácil discernirmos a qualdade de nossos próprios
pensamentos e também nos precavermos de tanta charlatanice
que anda deturpando a essência esclarecedora do espiritismo
por aí.