Centre
Spirite Lyonnais Allan Kardec
> Origem dos Espíritos: a evolução
anímica
Em O Livro dos Espíritos, os
Espíritos se definem como os seres inteligentes da criação,
que povoam o universo em torno do mundo material. Tendo sido criados
imortais por Deus, os Espíritos tiveram um começo, e
assim não são de todo eternos como Deus.
Encarnados na matéria, os Espíritos formam a humanidade
tal como a conhecemos; o corpo físico é então
uma vestimenta para o Espírito que dele se separa quando estiver
gasta.
As leis que dirigem as evoluções tão variadas
da matéria física ou vivente mostram que nada aparece
subitamente e em estado perfeito. O sistema solar, nosso planeta,
a linguagem, as artes, as ciências, longe de eclodirem espontaneamente,
são o resultado de uma longa e gradual ascensão, desde
as formas rudimentares até às formas mesmas que conhecemos
nos dias de hoje.
A alma humana não poderia fazer exceção a esta
lei geral e absoluta; constatamos sobre a Terra que ela passa por
fases que abraçam as mais diversas manifestações,
desde as mais humildes e mesquinhas concepções do estado
selvagem, até às magníficas eflorescências
do gênio.
Nosso exame retrospectivo deve se deter aí? Devemos crer que
esta alma, que governou no homem primitivo um organismo tão
complicado, tenha podido subitamente adquirir propriedades tão
variadas e tão bem adaptadas às necessidades do indivíduo?
Nossa indução deve se deter aos seres que têm
exatamente as mesmas características anatômicas que as
nossas? Não o cremos, porque as transições insensíveis,
que nos conduzem fisicamente da matéria ao homem, encontramo-las
no domínio intelectual com as mesmas gradações
sucessivas. Então é no início da vida inteligente
que precisamos atacar para encontrar, se não a origem da alma,
ao menos o ponto de partida aparente de sua evolução
através a matéria.
Constatamos experimentalmente, por meio do Espiritismo, a necessidade
da reencarnação da alma humana; e a lei de continuidade,
que temos assinalado nos seres viventes, nos permite crer que a alma
animal está submetida à mesma obrigação.
O princípio inteligente viria assim habitar sucessivamente
os organismos mais e mais aperfeiçoados, à medida que
se tornava mais capaz de os dirigir.
Eis um exemplo que vem confirmar a teoria da encarnação
animal:
Se em uma estrebaria se faz o leito dos cavalos com a palha que serviu
na jaula de leões ou tigres, quando os cavalos sentirem o odor
desta palha, serão tomados de um terror exagerado, e se esforçarão
para fugir. Muitas gerações de cavalos domésticos
devem ter se sucedido desde que o cavalo selvagem foi exposto aos
ataques desses felinos. Entretanto esses cavalos que, depois de numerosas
gerações, nasceram nas estrebarias, reconhecem ainda
o odor desses terríveis predadores de seus longínquos
ancestrais.
Como explicar o medo desses animais? Se supusermos que haja um princípio
intelectual no animal, que esse princípio está revestido
de um perispírito no qual se armazenam os instintos, as sensações,
e que a memória provém de um despertar desses instintos
e dessas sensações, tudo se torna compreensível.
As mesmas causas produzindo os mesmos efeitos, os animais domésticos
são os mesmos seres que viviam antigamente no estado selvagem,
e o odor das feras desperta em seu envelope fluídico as lembranças
que se relacionam ao sofrimento e à morte, sob os dentes dos
carniceiros; daí seu pavor.
O Espiritismo demonstra a existência do perispírito,
mostrando que este órgão reproduz fluidicamente a forma
corporal dos animais, que é estável em meio ao fluxo
perpetuo das moléculas vivas, resultando que é nele
que se incorporam os instintos. Como é imutável a despeito
das mudanças incessantes das quais o homem é o palco,
ele contém, por assim dizer, o estatuto das leis que dirigem
a evolução do ser. Na morte, não se dissolve,
constitui a individualidade do princípio inteligente e registra
cada modificação que as numerosas e sucessivas existências
nele determinam, de modo que após haver percorrido toda a série,
ele se torna apto a conduzir, a dirigir, mesmo sem conhecimento do
espírito, organismos mais complicados. Há neste automatismo
qualquer coisa de análogo ao que se nota quando um pianista
treinado decifra, à primeira vista, uma partitura nova; como
tem flexibilizado por um longo exercício o mecanismo do cérebro,
do braço e dos dedos, aos movimentos mais diversos de sua vontade,
não tem mais que se preocupar com essas dificuldades materiais,
que são intransponíveis para o iniciante; tem apenas
que ler a partitura, e seus órgãos obedecem automaticamente
ao seu espírito. Mas quanta pena e trabalho antes de chegar
a este resultado! Esta maneira de encarar a utilidade indispensável
do perispírito se tornará ainda mais clara, à
medida que compreendermos melhor a natureza das ações
tão complexas que têm por resultado a vida física
e intelectual dos animais e do homem.
O instinto é a forma mais inferior sob a qual a alma se manifesta.
O animal tem uma tendência de reagir contra o meio exterior,
e a sensação determina nele emoções de
prazer ou de dor; quando procura uns e foge de outros, ele cumpre
atos instintivos que se traduzem por ações reflexas
das quais pode ter consciência, sem poder, com freqüência,
impedi-las, mas que são admiravelmente adaptadas à sua
existência. Assim uma lebre foge ao mínimo ruído
que se produz, seu movimento de fuga é involuntário,
inconsciente, em parte reflexo, e em parte instintivo, mas esse movimento
está adaptado à vida do animal: ele tem por objetivo
sua conservação.
Nós pensamos que esses instintos são o resultado de
atos realizados um grande número de vezes nas vidas anteriores
da alma do animal e que se acham incrustados no perispírito
desta mesma alma encarnada em um novo corpo. As sensações
nervosas que o animal sente repercutem no perispírito. Uma
repetição freqüente da mesma sensação
dará nascimento ao instinto.
Tomemos a medusa como exemplo. Esses animais não se dirigem
nunca para a terra senão quando o vento para aí as empurra,
dir-se-ia que elas sentem os perigos que as esperam. A despeito das
precauções tomadas pelas medusas elas, entretanto, encalham
em quantidade e não tardam a se dessecarem. Seu temor pelo
calor é então absolutamente justificado e basta para
lhe criar um instinto, porque a medusa que tiver assim perecido um
grande número de vezes, terminará por se afastar instintivamente,
nas encarnações seguintes, dessas margens tão
funestas para ela.
A luta pela vida, os esforços perpétuos dos seres reagindo
contra as influências destrutivas, para se adaptarem ao seu
meio, para lutar contra as espécies inimigas, fizeram evoluir
os instintos em inteligência. Inteligência que foi primeiramente
confundida com o instinto, mas que se diferenciou, com o tempo e a
experiência, até o desabrochar do pensamento e da consciência
de si mesmo, de seus atos e de suas conseqüências.
Os tesouros do intelecto se tornam claros, lentamente, através
a obscura carapaça dos apetites. O egoísmo, o pensamento
do eu, nascido pela lei de conservação que tem sido
tão longamente sua única soberana, vê diminuir
lentamente sua onipotência, porque já no reino animal,
a maternidade implantou na alma o sentimento de amor, sob suas formas
mais humildes e rudimentares. Mas esses pálidos clarões,
que rompem com dificuldade o sonho animal, irão crescendo de
intensidade e irradiarão à medida que a transformação
se produza e, nas almas superiores, serão a luz cintilante,
o farol que nos dirigirá nas trevas da ignorância.
A lei do progresso não se aplica somente ao homem. Ela é
universal. Em todos os reinos da natureza existe uma evolução.
Desde a célula verde, desde o impreciso embrião flutuante
sobre as águas, através de sucessões variadas,
a cadeia das espécies se desenvolveu até nós.
Sobre esta cadeia, cada anel representa uma forma de existência
que conduz a uma forma superior, a um organismo mais rico, melhor
adaptado às necessidades, às manifestações
grandiosas da vida. Mas sobre a escala da evolução,
o pensamento, a consciência, a liberdade não aparecem
senão após muitos degraus. Na planta, a inteligência
dorme; no animal, ela sonha; somente no homem se desperta, se conhece,
se possui e se torna consciente. Desde então, o progresso,
fatal em qualquer modo nas formas inferiores da natureza, não
pode mais se realizar senão pela conformação
da vontade humana com as leis eternas.
Para saber mais:
O Livro dos Espíritos de Allan Kardec
(2ª parte, cap. I, O mundo dos Espíritos)
O Livro dos Espíritos de Allan Kardec (2ª parte, cap. XI,
Os três reinos)
Após a morte de Léon Denis (3ª parte, cap. XXIII,
A Evolução anímica e perispiritual)
O Problema do ser e do destino de Léon Denis (1ª parte,
cap. IX, Evolução é finalidade da alma)
A Evolução anímica de Gabriel Delanne (cap. II,
A alma animal)
A Evolução anímica de Gabriel Delanne (cap. III,
Como o perispírito pode adquirir as propriedades funcionais)
A Reencarnação de Gabriel Delanne (cap. III, a evolução
animal)
O ser subconsciente do Dr Gustave Geley (2ª parte, cap. I, A evolução
da alma)
O ser subconsciente do Dr Gustave Geley (2ª parte, cap. II, Induções
metafísicas)
Do inconsciente ao consciente do Dr Gustave Geley.
Espiritualismo versus a luz de Louis Serré (cap. I, A vida na
matéria).
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