13 / maio / 2014
Este é o ano do centenário
de José Herculano Pires, autor de obras que passam por literatura,
parapsicologia, crítica doutrinária, filosofia e educação.
Este fecundo autor esteve presente com sua pena afiada em muitos
momentos da história do espiritismo no Brasil. Não
podemos esquecer que este espírita apaixonado pela obra de
Allan Kardec e pelo espiritismo enquanto projeto cultural de cumprimento
das promessas cristãs do advento do Consolador, também
atuou nos jornais e no rádio, sempre colocando o conhecimento
espírita em debate seja com espíritas, seja com não-espíritas
e contraditores.
À semelhança de Sócrates, que caminhava pela
Ágora de Atenas conclamando a reflexão filosófica
através do diálogo, Herculano Pires utilizou-se da
pena para conclamar à cogitação sobre o papel
do espírito enquanto elemento intrínseco à
realidade existencial através do confronto do pensamento
espírita com a filosofia contemporânea. Este fecundo
processo de diálogo entre espiritismo com a cultura contemporânea
gerou diversas obras filosóficas, a exemplo de O
ser e a serenidade que dialoga com o existencialismo. Neste
processo, chegou a articular o existencialismo espírita.
“A história
da filosofia brasileira já possui o filósofo do espiritismo,
e esse foi, indiscutivelmente, José Herculano Pires.”
Jorge Jaime
Entretanto, muito se comenta sobre
seu importantíssimo papel no movimento espírita e
esquece-se de analisar a semeadura de Herculano Pires no meio acadêmico
em nosso país. É importante lembrar que fora professor
de História da Educação e Filosofia da Educação
na Faculdade de Filosofia de Araraquara, além de ter sido
membro do Instituo Brasileiro de Filosofia. Seria estranhíssimo
se sua obra não houvesse reverberado nos meios acadêmicos.
No ano de 1969, Luis Washington Vita publica a
obra A Filosofia Contemporânea em São Paulo.
É uma coletânea de filósofos que representam
diversas tendências no debate intelectual filosófico
da época. Não é de surpreender que encontremos
entre os diversos filósofos paulistanos Herculano Pires enquanto
filósofo espírita. Anteriormente, Luis Vita já
havia resenhado a obra O Ser e a Serenidade
na Revista Brasileira de Filosofia em 1965.
Jorge Jaime, abnegado historiador
do pensamento filosófico no Brasil, também incluiu
Herculano Pires em sua obra História da filosofia no Brasil,
na qual consta a epígrafe acima.
Tais historiadores da filosofia
no Brasil não são espíritas. Isso demonstra
a importância que Herculano Pires teve, já que sua
obra também chegou aos meios acadêmicos de sua época.
Em comemoração ao centenário, mais do que comemorar
a árdua tarefa que ele cumpriu ao trazer o espiritismo ao
debate intelectual com seu tempo, é abraçar a tarefa
de continuar esse profícuo debate de trazer o pensamento
espírita para o diálogo com os problemas contemporâneos,
aprendendo com Herculano Pires para dar continuidade a este processo.
Referências
JAIME, Jorge. História da filosofia no Brasil. 2.ed. Petrópolis:
Vozes; São Paulo: Faculdades Salesianas, 2000. Vol. 3. 509
p.
VITA, Luis Washington. A Filosofia Contemporânea em São
Paulo. São Paulo: Editora Grijalbo, 1969. 255 p.