Neste estudo iremos conhecer as origens da Umbanda
e sua relação com o Espiritismo. Geralmente
ocorrem confusões sobre a origem da Umbanda, muitos acreditam
que ela derivou dos cultos africanos; porém, a Umbanda é
uma religião genuinamente brasileira. Ela se utiliza, sim,
de elementos das crenças africanas, da mesma forma que se utiliza
das crenças européias (a Umbanda é cristã)
e das indígenas. De origem puramente africana são os
diversos cultos do candomblé.
O que é a Umbanda?
A palavra Umbanda
é um vocábulo sagrado da língua Abanheenga, que
era falada pelos integrantes do tronco Tupy. Diferentemente do que
alguns acreditam, este termo não foi trazido da África
pelos escravos. Na verdade, encontram-se registros de sua utilização
apenas depois de 1934, entre os cultos de origem afro-ameríndia.
Antes disto, somente alguns radicais eram reconhecidos na Ásia
e África, porém sem a conotação de um
Sistema de Conhecimento baseado na apreensão sintética
da Filosofia, da Ciência, da Arte e da Religião.
O termo Umbanda,
considerado a "Palavra Perdida" de Agartha, teria sido revelado
por Espíritos integrantes da Confraria dos Espíritos
Ancestrais. Estes espíritos seriam Seres que há muito
não encarnam por terem atingido um alto grau de evolução,
mas dignam-se em "baixar" nos templos de Umbanda
para trazer a Luz do Conhecimento, em nome de Oxalá - O Cristo
Jesus. Utilizam-se da mediunidade de encarnados previamente comprometidos
em servir de veículos para sua manifestação.
Os radicais que compõem o mote
UMBANDA são, respectivamente: AUM
- BAN - DAN. Sua tradução pode ser comprovada
através do alfabeto Adâmico ou Vattânico revelado
ao Ocidente pelo Marquês Alexandre Saint-Yves d'Alveydre, na
sua obra "O ARQUEÔMETRO".
AUM significa "A
DIVINDADE SUPREMA", BAN significa "CONJUNTO
OU SISTEMA", DAN significa "REGRA OU LEI",
A UNIÃO destes princípios radicais, ou AUMBANDAN,
significa "O CONJUNTO DAS LEIS DIVINAS".
Portanto, o AUMBANDAN
ou CONJUNTO DAS LEIS DIVINAS é a PROTO-SÍNTESE CÓSMICA,
encerra em si os princípios geradores do Universo, que são
a SABEDORIA e o AMOR DIVINOS. Estende-se ao Ser Humano como a PROTO-SÍNTESE
RELIGIO-CIENTÍFICA que contém e dá origem aos
quatro pilares do conhecimento humano, ditos como FILOSOFIA, CIÊNCIA,
ARTE e RELIGIÃO.
Pelo acima exposto, entendemos que
a Umbanda seria patrimônio dos Seres Espirituais de Alta Evolução
que governam o Planeta Terra, os Seres Humanos encarnados e desencarnados
seriam herdeiros deste Conhecimento-Uno. Entretanto, a aquisição
deste conhecimento cósmico depende de condições
ou pré-requisitos que o indivíduo deve possuir para
que possa compreender a extensão e significado deste patrimônio.
Deve ser, também, capaz de participar efetivamente da marcha
evolutiva do Planeta como um espírito de horizontes largos
e consciência cósmica.
Ao processo de amplificação
da consciência que conduz à integração
do Ser neste contexto denomina-se Processo Iniciático ou Iniciação,
no qual o pretendente busca o início das Causas e Origens do
nosso Universo a partir do conhecimento de si mesmo e das Leis que
regem o Macrocosmo.
O Movimento Umbandista é um
Movimento Filo-Religioso que visa resgatar o CONHECIMENTO - UNO ou
AUMBANDAN; sua divulgação é
estimulada pelo CÍRCULO CÓSMICO DE UMBANDA e seus aspectos
internos ou iniciáticos têm suas raízes fundadas
na ORDEM INICIÁTICA DO CRUZEIRO DIVINO, um Templo-Escola da
Alta Iniciação de Umbanda.
História da Umbanda
Em fins de 1908,
uma família tradicional de Neves, Estado do Rio de Janeiro,
foi surpreendida por uma ocorrência que tomou aspecto sobrenatural:
o jovem Zélio Fernandino de Moraes, que fora
acometido de estranha paralisia, que os médicos não
conseguiam debelar, certo dia ergueu-se no leito e disse: "Amanhã
estarei curado". No dia seguinte, levantou-se normalmente e começou
a andar, como se nada, antes, houvesse-lhe tolhido os movimentos.
Contava apenas dezessete anos e destinava-se a carreira militar na
marinha.
A medicina não soube explicar
o que tinha ocorrido. Os tios, que eram padres católicos, foram
colhidos de surpresa e nada disseram sobre a misteriosa ocorrência.
Um amigo da família sugeriu,
então, uma visita à Federação Espírita
de Niterói, presidida por José de Souza, na época.
No dia 15 de novembro de 1908, o jovem Zélio foi convidado
a participar de uma sessão e o dirigente dos trabalhos determinou
que ele ocupasse um lugar à mesa. Tomado por uma força
estranha e superior à sua vontade, contrariando as normas que
impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem
Zélio levantou-se e disse:
"- Aqui está faltando
uma flor"! E retirou-se da sala. Pouco depois, voltou trazendo
uma rosa, que depositou no centro da mesa.
Essa atitude insólita causou
quase um tumulto. Restabelecida a "corrente", manifestaram-se
espíritos, que se diziam de pretos escravos e de índios
ou caboclos, em diversos médiuns. Esses espíritos foram
convidados a se retirar pelo presidente dos trabalhos, advertidos
de seu suposto atraso espiritual.
Foi então que o jovem Zélio
foi novamente dominado por uma força estranha, que fez com
que ele falasse sem saber o que dizia (De acordo com depoimento do
próprio à revista Seleções de Umbanda,
em 1975).
Zélio ouvia apenas a sua própria
voz perguntar o motivo que levava os dirigentes dos trabalhos a não
aceitarem a comunicação desses espíritos e porque
eram considerados atrasados, se apenas pela diferença de cor
ou de classe social que revelaram ter tido na sua última encarnação.
Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela
mesa procuraram doutrinar e afastar o espírito desconhecido,
que estaria incorporado em Zélio e desenvolvia uma argumentação
segura.
Um dos médiuns videntes perguntou,
afinal:
"- Porque o irmão fala
nesses termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação
de espíritos que pelo grau de cultura que tiveram, quando
encarnados são claramente atrasados? E qual é o seu
nome irmão"?
Respondeu Zélio , ainda tomado
pela força misteriosa:
"- Se julgam atrasados esses
espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que
amanhã estarei em casa deste aparelho (o médium Zélio)
para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios
poderão dar a sua mensagem e, assim, cumprir a missão
que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião
que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve
existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.
E, se querem saber o meu nome, que seja este : "Caboclo das
Sete Encruzilhadas", porque não haverá caminhos
fechados para mim".
O vidente interpelou a Entidade dizendo
que ele se identificava como um caboclo mas que via nele restos
de trajes sacerdotais.
O espírito respondeu então:
"- O que você vê
em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre
e meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado
na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761.
Mas em minha última existência física, Deus
concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro".
"- Julga o irmão que
alguém irá assistir ao seu culto"?
Perguntou com ironia, o médium
vidente. Ao que o Caboclo das Sete Encruzilhadas respondeu:
"- Cada colina de Niterói
atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã
iniciarei"!
Zélio de Morais contou que
no dia seguinte, 16 de novembro, ocorreu o seguinte:
"- Minha família estava
apavorada. Eu mesmo não sabia explicar o que se passava comigo.
Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros senhores de
cabeça branca, em volta de uma mesa onde se praticava para
mim um trabalho desconhecido. Como poderia, aos dezessete anos,
organizar um culto? No entanto eu mesmo falara, sem saber o que
dizia e por que dizia. Era uma sensação estranha:
uma força superior que me impelia a fazer e a dizer o que
nem sequer passava pelo meu pensamento".
"- E, no dia seguinte
em casa de minha família, na Rua Floriano Peixoto, 30, em
Neves, ao se aproximar a hora marcada, 20 horas, já se reuniam
os membros da Federação Espírita, seguramente
para comprovar a veracidade dos fatos que foram declarados na véspera.
Os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e, do lado de fora,
estavam um grande número de desconhecidos".
Às 20 horas, manifestou-se
o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava naquele
momento, um novo culto em que os espíritos de velhos africanos,
que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não
encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas
negras, já deturpadas e dirigidas quase exclusivamente para
trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos de nossa
terra poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos
encarnados, qualquer que fosse o credo e a condição
social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno,
seria a característica principal desse culto, que teria por
base o Evangelho de Cristo e, como mestre supremo
Jesus.
O Caboclo estabeleceu as normas em
que se processaria o culto: sessões, assim
se chamariam os períodos de trabalho espiritual, diárias
das 20 às 22 horas, os participantes estariam uniformizados
de branco e o atendimento seria gratuito.
Deu, também, o nome desse movimento
religioso que se iniciava; disse primeiro allabanda
(ou um dos presentes assim anotou) mas considerando que não
soava bem a sua vibratória, substituiu-o por Aumbanda,
ou seja Umbanda, palavra de origem sânscrita
que se pode traduzir por "Deus ao nosso lado",
ou "o lado de Deus".
Muito provavelmente, ficou o nome
Umbanda, e não Aumbanda,
porque alguém anotou a palavra separadamente (a umbanda).
A casa de trabalhos espirituais, que
no momento se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da
Piedade, porque assim como Maria acolhe o Filho nos braços,
também seriam acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem
de ajuda ou de conforto.
Ditadas as bases do culto, após
responder, em latim e em alemão às perguntas dos sacerdotes
ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou á parte
prática dos trabalhos, curando enfermos, fazendo andar aleijados.
Antes do término da sessão, manifestou-se um preto velho.
Pai Antônio, que vinha completar as curas.
Segundo o jornal Gira de Umbanda (n.º
19 "As Verdadeiras origens da Umbanda do Brasil"), foi esse
guia quem ditou o ponto hoje cantado no Brasil inteiro:
Chegou, chegou, chegou, com Deus,
chegou, chegou
O Caboclo das Sete Encruzilhadas
Nos dias seguintes, verdadeira romaria
se formou na Rua Floriano Peixoto, n.º 30, em Neves. Enfermos,
cegos, paralíticos, vinham em busca de cura e ali a encontravam,
em nome de Jesus. Médiuns (cujas manifestações
haviam sido consideradas loucuras) deixaram os sanatórios e
deram provas de suas qualidades excepcionais. Estava fundada a Umbanda
no Brasil. 15 de novembro seria chamado posteriormente, Dia Nacional
da Umbanda.
Cinco anos mais tarde manifesta-se
o orixá Malé exclusivamente para a cura de obsedados
e o combate aos trabalhos de magia negra (obs. Orixá, na realidade
não incorpora, apenas manda sua vibração à
terra, é comum no estado do Rio, trata-se de um guia espiritual
pela denominação do orixá segundo Ivone Maggie
Alves Velho, em seu livro "Guerra de Orixá").
Dez anos após a fundação
da Tenda Nossa Senhora da Piedade (registrada como
tenda Espírita, porque não era aceito na época,
o registro de uma entidade com especificação de umbanda),
o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que iniciava a segunda parte
de sua missão: a criação de sete templos, que
seriam o núcleo do qual se propagaria a religião da
Umbanda.
Em 1935, estavam fundados os sete
templos idealizados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, sendo curiosa
a fundação do sétimo, que receberia o nome de
Tenda São Jerônimo (a casa de Xangô). Faltava um
dirigente adequado ao mesmo, quando numa noite de quinta feira, José
Alvares Pessoa, espírita e estudioso de todos os ramos do espiritualismo,
não dando muito crédito ao que lhe relatavam sobre as
maravilhas ocorridas em Neves, resolveu verificar pessoalmente o que
se passava.
Logo que assomou à porta
da sala em que se reuniam os discípulos do Caboclo das Sete
Encruzilhadas, este interrompeu a palestra e disse:
"- Já podemos fundar
a Tenda São Jerônimo. O seu dirigente acaba de chegar".
O Sr. Pessoa ficou muito surpreso,
pois era desconhecido no ambiente. Não anunciara a sua visita
e viera apenas verificar a veracidade do que lhe narravam. Após
breve diálogo em que o Caboclo das Sete Encruzilhadas demonstrou
conhecer a fundo o visitante, José Alvares Pessoa assumiu a
responsabilidade de dirigir o último dos sete templos que a
entidade criava.
Dezenas de templos e tendas, porém,
seriam criados posteriormente, sob a orientação direta
ou indireta do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 1939, o Caboclo
das Sete Encruzilhadas determinou que se fundasse uma federação
(que posteriormente passou à denominação de União
Espírita de Umbanda do Brasil, segundo relata Seleções
de Umbanda n.º 7 1975) , para congregar templos Umbandistas e
que deveria ser o núcleo central desse culto, em que o simples
uniforme branco de algodão, dos médiuns estabelecia
a igualdade de classes e a simplicidade do ritual permitia.
Principais Características
da Umbanda
A Umbanda
possui uma corrente de espíritos com uma missão definida,
que se apresenta nos terreiros com as "ROUPAGENS FLUIDICAS"
de pretos-velhos (elemento negro, africano, etnia negra), caboclos
(elemento vermelho, indígenas, etnia vermelha) e crianças
(elemento branco, europeu, etnia caucasiana).
Embora bastante confundido, o termo
Olodumaré não é umbandista e sim africano. Deus
na Umbanda é chamado de ZAMBI.
Os orixás na Umbanda
não são deuses, e sim essências divinas (são
atributos de Deus que toda a humanidade deve aprender
na sua jornada evolutiva). Os espíritos da sagrada corrente
de Umbanda se agrupam em falanges, segundo o aprendizado
correspondente ao seu estágio evolutivo. Oxalá
representa o atributo divino FÉ e tudo que diz respeito às
relações do ser humano com Deus. Tem por representante
Jesus. Uma pessoa que nasce "filha de Oxalá" tem
como missão desenvolver o atributo fé, religiosidade
etc. Percebam que esta é uma visão oposta à visão
do Candomblé, em que cada orixá é uma divindade
com ATRIBUTOS HUMANOS (ciúmes, disputas e brigas entre os orixás
são constantes nas lendas africanas).
- Contrário ao que se pensa
a Umbanda não sofreu sincretismo algum. Quem
sofreu o sincretismo foi o Candomblé. Os fundamentos da Umbanda
nada têm de sincréticos. A Umbanda é uma religião
que evolui. Foi se imiscuindo nos cultos de candomblé e modificando-lhes
as práticas. Assim, teremos uma enorme gama de práticas
umbandistas conforme o maior ou menor grau de assimilação
que os cultos foram tendo. Dessa forma, temos a umbanda africana (umbandomblé,
que possui todas as práticas do candomblé, inclusive
os sacrifícios), mas trabalha com mediunidade e incorporação
de espíritos. Há a umbanda esotérica que agrega
ensinamentos de diversos sistemas, desde o Espiritismo,
à Astrologia, Cromoterapia, Apometria etc. Entre esses dois
estágios há níveis intermediários de culto,
de forma que a classificação fica muito difícil,
pois a Umbanda não foi codificada, como ocorreu
com o Espiritismo.
- O que se acredita ser sincrético
na Umbanda, na verdade são conhecidas como falanges de trabalho.
Assim, Jesus é o responsável pela linha de Oxalá;
Maria é responsável pela falange Yemanjá; Jerônimo
é um dos espíritos que lideram as falanges de Xangô;
Sebastião é um dos espíritos que lideram a falange
de Oxossi. O mesmo ocorre com Jorge da Capadócia. Iansã
e Oxum não são Orixás Maiores, são ramificações,
sub-falanges de Yemanjá, são espíritos encarregados
de atuar junto às demais falanges (Iansã é uma
falange de Yemanjá encarregada de trabalhar junto á
falange de Xangô; Oxum é uma falange encarregada de trabalhar
junto á falange de Oxossi).
Assim a Umbanda se apresenta:
- Oxalá
representa a fé e todas as relações entre o homem
e a divindade;
- Oxossi representa
o conhecimento e todas as relações entre o homem e a
inteligência;
- Yemanjá
representa o amor e todas as relações entre o homem
e o poder criador divino;
- Xangô representa
a justiça e todas as relações entre o homem e
a justiça divina;
- Yori (crianças)
representa a pureza e todo o esforço do homem em se tornar
mais espiritualizado;
- Yorimá (pretos-velhos)
representa a humildade e todo o esforço do homem em alcançar
sabedoria;
- Ogum representa
a luta, o esforço do homem nas batalhas contra a sua própria
animalidade dentro da lei de amor. Todos os exus (entidades de Ki-banda)
estão subordinados às falanges de Ogum justamente por
representarem a cobrança kármica, a lei da justiça.
- Na Umbanda não há
sacrifícios de animais. Há terreiros que se dizem de
Umbanda, mas que praticam QUIUMBANDA (um culto dedicado ao mal).
A relação entre
o Espiritismo e a Umbanda.
Muitos umbandistas trabalham
também em centros espíritas. Relatos desses médiuns
confirmam que uma entidade de Umbanda não
se manifesta em um Centro Espírita.
Porém o que ocorre atualmente
é uma relação de receio entre as duas vertentes.
Os umbandistas que trabalham em Centros Espíritas, não
informam que são Umbandistas e muitos acabam não participando
de Centros Espíritas por temerem ser tachados de "inferiores".
A leitura dos livros de Kardec é
cada vez mais recomendada nos centros de Umbanda,
assim como a manifestação de pretos-velhos é
cada vez mais comum nos centros espíritas. É um fenômeno
que está partindo da própria espiritualidade. Não
são os umbandistas que estão invadindo os centros espíritas,
nem são os espíritas que estão invadindo os terreiros.
O candomblé não segue
Kardec, por outras razões. Uma delas é que eles não
trabalham com manifestações de eguns (espíritos
que já encarnaram), outra razão é que o candomblé
é pagão, não cultua Jesus, e
o Espiritismo é essencialmente cristão.
O Espiritismo foi
um termo criado por Kardec para distinguir os espiritualistas
que crêem na existência e manifestação de
espíritos daqueles espiritualistas que não crêem;
podemos conferir no livro "O que é o Espiritismo":
"(...) A palavra espiritualista,
desde muito tempo, tem uma significação bem definida;
é a Academia que no-la dá: ESPIRITUALISTA é
aquele ou aquela cuja doutrina é oposta ao materialismo.
Todas as religiões, necessariamente, estão baseadas
no Espiritualismo. Quem crê haver em nós outra coisa
além da matéria, é espiritualista, o que não
implica na crença nos Espíritos e nas suas manifestações.
Como vós o distinguiríeis daquele que o crê?
Precisar-se-ia, pois, empregar uma perífrase e dizer: é
um espiritualista que crê, ou não crê, nos Espíritos.
Para as coisas novas, é preciso palavras novas, se se quer
evitar equívocos".
– (Kardec, A. O que é
o Espiritismo)
Mas e os rituais? O que a Doutrina
Espírita pensa a respeito?
Vejamos o que os Espíritos respondem a Kardec:
Pergunta 653: A adoração tem necessidade de
manifestações exteriores?
Resposta: A verdadeira
adoração é a do coração. Em todas
as vossas ações, imaginai sempre que o Senhor está
convosco.
– (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos)
Pergunta 653: A adoração
exterior é útil?
Resposta: Sim, se
não for uma farsa, uma vã simulação. É
sempre útil dar um bom exemplo; mas aqueles que o fazem de
forma fingida ou por amor próprio e cuja conduta desmente a
piedade que aparentam dão um exemplo antes mau do que bom e
fazem mais mal do que pensam.
– (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos)
Pergunta 654: Deus
dá preferência aos que O adoram desse ou daquele modo?
Resposta: Deus prefere
os que O adoram verdadeiramente com o coração, com sinceridade,
fazendo o bem e evitando o mal, àqueles que acreditam honrá-lo
por cerimônias que não os tornam melhores para com seus
semelhantes.
– (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos)
Além da codificação podemos
observar Bezerra de Menezes trabalhando em conjunto
com espíritos de Umbanda no livro: "Dramas da
obsessão":
a) No Além existem regras
de trabalho admiravelmente estabelecidas, equivalentes a leis, mediante
as quais os trabalhadores do Bem poderão tomar as providências
que a sua responsabilidade, ou competência, entenderem devidas
e necessárias. Geralmente aplicam-nas, as providências,
Espíritos investidos de autoridade, espécie de chefes
de Departamento ou de secção, tal como os entendem os
homens, sem que para tanto sejam necessários entendimentos
prévios com outras autoridades superiores, ou seja, o regime
da burocracia, de que os homens tanto abusam nas suas indecisões,
e o qual é desconhecido no Espaço. De outro modo, encontrando-se
os referidos serviços do Invisível sob a jurisprudência
da fraternidade universal, quaisquer servidores estarão em
condições de resolver os problemas que se apresentam
no seu roteiro, desde que para tanto investidos se encontrem daquela
autoridade que, no Além, absolutamente não é
o cargo que confere, mas o equilíbrio consciencial e moral
de que disponham.
Tendo a meu cargo um
desses setores de serviço que, pela magnanimidade do Senhor
e Mestre, me fora confiado como estímulo e bendito ensejo para
os labores de que me adviria o progresso pessoal, do qual tanto carece
o meu Espírito, não vacilei nas medidas a tomar, visando
a evitar novo caso de suicídio naquela família,
desgraça que, através do impressionante relatório
do meu jovem assistente, pressenti iminente no referido domicílio...
Porquanto, além dos inimigos obsessores, sombrios e odiosos
desde quatro séculos, existia ainda a permanência dos
dois suicidas citados, cuja pressão magnética inferior,
corrosiva, por si só seria passível de contágio
mental nos demais afins, levando-os, sem mesmo disso se aperceberem,
a imitar-lhes o gesto.
b) — "Perseverai,
tu e Peri, por afastardes do cenário familiar de Leonel
o chefe dos obsessores em primeiro lugar — pois certo estava
eu de que a obsessão coletiva, exercendo ação
múltipla, dispõe sempre de um orientador, que será
o mais inteligente ou cruel dentre os obsessores, com ascendência
irresistível sobre os demais. — Defende-o, aprisionando-o
até novas instruções, no recinto deste
mesmo Centro, cuja ambiência respeitável, legitimamente
apropriada para o caso, se acha em condições de hospedá-lo."
Em seguida, indiquei providências
para a remoção de Leonel e sua filha do ambiente doméstico
para regiões condizentes com suas afinidades, a bem da tranqüilidade
dos demais membros da família e, outrossim, visando à
recuperação de ambos para o estado consciente do Espírito
desencarnado.
Prontificou-se o meu assistente ao
mandato espinhoso e partiu acompanhado do amigo Peri. Tais operosidades,
no entanto, são melindrosas e de difícil realização,
para os Espíritos delas incumbidos, tal a catequese aos malfeitores
terrenos por missionários cujas armas serão apenas a
fé na vitória do Bem e a certeza do auxílio celeste,
e cujas insígnias serão a lembrança do sacrifício,
na Cruz, do Cordeiro de Deus.
c) Geralmente, a caça
a obsessores mui trevosos é levada a efeito por
entidades espirituais pouco evolvidas, conquanto já regeneradas
pela dor dos remorsos e pela experiência dos resgates,
ansiosas pela obtenção de ações meritórias
com que adornem a própria consciência, ainda tarjada
pela repercussão dos deméritos passados. Efetuam-na,
porém, invariavelmente, sob direção de entidades
instrutoras mais elevadas, subordinadas todas a leis rígidas,
invariáveis, as quais serão irrestritamente observadas.
Essas leis são, como bem se perceberá, as normas divinas
do Amor, da Fraternidade e da Caridade, que obrigarão os obreiros
em ação às mais patéticas e desvanecedoras
atitudes de renúncia e abnegação, a fim de que
não deixem jamais de aplicá-las, sejam quais forem as
circunstâncias. Muitos desses operadores possuem método
próprio de agir e os instrutores responsáveis pelo trabalho
deixam-nos à vontade dentro do critério das leis vigentes,
tal como a equipe de professores que ensinassem letras, ciências,
etc., mantendo cada um o seu próprio método, embora
observando todas as leis da pedagogia ou do critério particular
de cada matéria.
d) Peri era especializado em tarefas
tais e possuía métodos particulares,
os quais aplicava com eficiência, sempre que necessário.
Trazia às suas ordens pequeno pelotão de auxiliares,
que, obedecendo-lhe fielmente, tais os milicianos ao seu general,
junto dele desempenhavam concurso valioso de proteção
ao próximo, enquanto, assim agindo em defesa dos mais fracos,
reparavam deslizes graves de um passado reencarnatório remoto,
como explicamos para trás.
(PEREIRA, Y. A. Dramas da Obsessão)
E ainda o Espírito Humberto
de Campos, no livro: "Brasil Coração
do Mundo, Pátria do Evangelho", psicografado
por Chico Xavier:
"(...) Não é raro
vermos caboclos, que engrolam a gramática nas suas confortadoras
doutrinações, mas que conhecem o segredo místico
de consolar as almas, aliviando os aflitos e os infelizes, ou então,
médiuns da mais obscura condição social, e nas
mais humildes profissões, a se constituírem instrumentos
admiráveis nas mão piedosas dos mensageiros do Senhor..."
– (XAVIER, F. C. Brasil, Coração
do Mundo, Pátria do Evangelho)
Conclusão
Conforme elucidado por Kardec:
"(...) Uma vez que, por toda
parte que haja homens, há almas ou Espíritos, que as
manifestações são de todos os tempos, e que o
relato se encontra em todas as religiões, sem exceções.
Pode-se, pois, ser católico, grego ou romano, protestante,
judeu ou muçulmano, e crer nas manifestações
dos Espíritos, e por conseqüência, ser Espírita;
a prova é que o Espiritismo tem adeptos em todas as
seitas."
– (KARDEC, A. O que é o
Espiritismo, p. 189)
E comprovado que a Umbanda
crê na manifestação de Espíritos, então
seus adeptos só podem ser classificados como Espíritas.
Desta maneira, os fenômenos ocorridos na Umbanda
devem ser estudados pelo Espiritismo de maneira séria e livre
de preconceitos.
* * *
Terminamos este estudo com a mensagem
deixada pelo espírito Humberto de Campos,
no livro: "Brasil Coração do Mundo, Pátria
do Evangelho", psicografado por Chico Xavier,
onde fica claro o apelo da Espiritualidade Maior em prol da fraternidade,
humildade e do amor:
"(...) É dentro dessa
serenidade, sob a luz da humildade e do amor, que os espiritistas
do Brasil devem reunir-se, a caminho da vitória plena de Ismael
em todos os corações..."
– (XAVIER, F. C. Brasil, Coração do Mundo,
Pátria do Evangelho)