Entre 2007 e 2011, nos Estados Unidos, os casos
de sífilis entre maiores de 65 anos cresceram 52%
Em tese, os idosos de hoje começaram
sua vida sexual no fim dos anos 1960.
"A pílula", como eram
chamados os contraceptivos, já estava nas farmácias. Não
havia sífilis ou gonorreia que resistissem a umas injeções
de penicilina. E soprava o vento da contracultura: transar de maneira
mais "animada" do que a média era uma declaração
de princípios, uma nova liberdade. Por que diabo usaríamos
preservativos?
A festa durou até a epidemia
de Aids. Quem começou sua vida sexual depois de 1980 teve que
conciliar desejos e fantasias sexuais com a proteção de
uma camisinha.
Houve marqueteiros para vender o erotismo
do preservativo. Não funcionou bem: as pessoas usam camisinha
porque estão com medo, não porque acham graça brincar
com um tubinho de borracha colorido e sabor morango.
Enfim, os que têm mais de 60 anos
hoje agradecem a Deus por ter descoberto os prazeres do sexo antes de
1980 e acham que o uso da camisinha impõe uma transa menos prazerosa
(não pela borracha em si, mas porque é preciso penetrar,
copular sem interrupções e, no fim, cuidar para que o
sêmen não extravase).
De fato, eles não usaram camisinha
na juventude e estão agora numa idade em que, para se excitar,
é melhor potencializar tudo o que incentiva e minimizar tudo
o que brocha. Não é o caso de deixar uma camisinha complicar
um desejo que já não tem mais "aquela" assertividade.
De fato, eis os números. Segundo
uma grande pesquisa de 2010, nos EUA, a camisinha é usada em
40% dos encontros sexuais entre jovens universitários. Agora,
nos encontros entre parceiros de 61 anos ou mais, a camisinha é
usada só em 6% dos casos (http://migre.me/iebeH).
Você dirá: nada demais.
Afinal, supõe-se que os idosos usem sua "melhor" idade
frequentando cinemas ou teatros (por isso pagam meia), e não
transando. Além disso, talvez eles estejam há tempos em
casais fixos, por que usariam camisinha? Pois é, não é
bem assim.
O Department of Health and Human
Services dos EUA publicou, no fim de 2013, um relatório
segundo o qual, entre os inscritos no programa de saúde para
os americanos idosos (Medicare), os pedidos para testes de HIV e de
outras doenças sexualmente transmissíveis são tão
numerosos quanto os pedidos para colonoscopia (que são a cada
um ou dois anos). É paranoia dos velhos?
Não parece: os Centers for Disease
Control and Prevention anunciam que, entre 2007 e 2011, nos Estados
Unidos, a sífilis, entre maiores de 65 anos, cresceu 52%.
O que está acontecendo? Segundo
Ezekiel J. Emanuel, um oncologista que escreve para "The New York
Times" (http://migre.me/ieb8J), há duas explicações:
1) cada vez mais idosos vivem em residências para terceira idade
(Nota: não se sinta culpado de deixar sua mãe ou seu pai
viúvos nessas comunidades: a vida sexual que eles terão
será mais divertida do que as tardes com você e os netos);
2) a reposição hormonal nas mulheres e, nos homens, a
chegada de Viagra, Cialis e Levitra, renovaram a disposição
sexual dos idosos.
Ok, mas não é só
isso. Os idosos de hoje não transam só porque vivem em
comunidades ou porque existem Viagra, Cialis ou Levitra. Eles transam
obstinadamente por causa de ideias que eles mesmos lançaram com
sucesso em sua juventude: a partir dos anos 1960, justamente, transar
se tornou um sinal imprescindível de vigor, alegria, harmonia
com o mundo e com os outros, juventude e, sei lá, boa saúde
física e mental.
É pelo sucesso dessas ideias
que o idoso não sente alívio quando a urgência do
desejo diminui (afinal, o sexo é um esporte complicado, incerto
e cansativo, e poderia ser bom não ter que se preocupar mais
com isso). Ao contrário, o idoso de hoje sente a obrigação
de manter seu desejo vivo.
Há muitos homens idosos que usam
Cialis diário para acordar cada dia com uma ereção
(ou quase) e, eventualmente, fazer o esforço de fantasiar e se
masturbar. E há mulheres que optam pela reposição
hormonal (que não é sem riscos) para não desistir
do sexo.
Em suma, a idealização
do sexo tornou intolerável o descanso sexual na terceira idade.
Não lamento e não encorajo ninguém a se aposentar.
Apenas reparo que o aumento da atividade sexual dos idosos não
é só um efeito das pílulas ou das comunidades de
viúvos e viúvas, mas é um efeito da idealização
do sexo que esses mesmos idosos promoveram (com grande sucesso) quando
eram jovens.