Leonardo
Boff
> Todo ponto de vista é a vista de um ponto
Uma frente avançada das ciências,
hoje, é constituída pelo estudo do cérebro e
de suas múltiplas inteligências. Alcançaram-se
resultados relevantes, também para a religião e a espiritualidade.
Enfatizam-se três tipos de inteligência. A primeira é
a inteligência intelectual, o famoso QI (Quociente de Inteligência),
ao qual se deu tanta importância em todo o século XX.
É a inteligência analítica pela qual elaboramos
conceitos e fazemos ciência. Com ela organizamos o mundo e solucionamos
problemas objetivos.
A segunda é a inteligência emocional, popularizada especialmente
pelo psicólogo e neurocientista de Harvard David Goleman, com
seu conhecido livro A Inteligência emocional (QE = Quociente
Emocional). Empiricamente mostrou o que era convicção
de toda uma tradição de pensadores, desde Platão,
passando por Santo Agostinho e culminando em Freud: a estrutura de
base do ser humano não é razão (logos) mas é
emoção (pathos). Somos, primariamente, seres de paixão,
empatia e compaixão, e só em seguida, de razão.
Quando combinamos QI com QE conseguimos nos mobilizar a nós
e a outros.
A terceira é a inteligência espiritual. A prova empírica
de sua existência deriva de pesquisas muito recentes, dos últimos
10 anos, feitas por neurólogos, neuropsicólogos, neurolingüistas
e técnicos em magnetoencefalografia (que estudam os campos
magnéticos e elétricos do cérebro). Segundo esses
cientistas, existe em nós, cientificamente verificável,
um outro tipo de inteligência, pela qual não só
captamos fatos, idéias e emoções, mas percebemos
os contextos maiores de nossa vida, totalidades significativas, e
nos faz sentir inseridos no Todo. Ela nos torna sensíveis a
valores, a questões ligadas a Deus e à transcendência.
É chamada de inteligência espiritual (QEs = Quociente
espiritual), porque é próprio da espiritualidade captar
totalidades e se orientar por visões transcendentais.
Sua base empírica reside na biologia dos neurônios. Verificou-se
cientificamente que a experiência unificadora se origina de
oscilações neurais a 40 herz, especialmente localizada
nos lobos temporais. Desencadeia-se, então, uma experiência
de exaltação e de intensa alegria como se estivéssemos
diante de uma Presença viva.
Ou inversamente, sempre que se abordam temas religiosos, Deus ou valores
que concernem o sentido profundo das coisas, não superficialmente
mas num envolvimento sincero, produz-se igual excitação
de 40 herz.
Por essa razão, neurobiólogos como Persinger, Ramachandran
e a física quântica Danah Zohar batizaram essa região
dos lobos temporais de ''o ponto Deus''.
Se assim é, podemos dizer em termos do processo evolucionário:
o universo evoluiu, em bilhões de anos, até produzir
no cérebro o instrumento que capacita o ser humano perceber
a Presença de Deus, que sempre esteve lá embora não
perceptível conscientemente. A existência desse ''ponto
Deus'' representa uma vantagem evolutiva de nossa espécie humana.
Ela constitui uma referência de sentido para a nossa vida. A
espiritualidade pertence ao humano e não é monopólio
das religiões. Antes, as religiões são uma das
expressões desse ''ponto Deus''.
Leonardo Boff, pseudônimo de Genézio
Darci Boff (Concórdia, 14 de dezembro de 1938), é
um teólogo, escritor, filósofo e professor universitário
brasileiro. Simpatizante do socialismo, Boff é expoente da
teologia da libertação no Brasil e conhecido internacionalmente
por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos.
Foi membro da Ordem dos Frades Menores (franciscanos)
e atualmente é professor emérito de Ética,
Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ).
Leonardo
Boff é autor de "Francisco de Assis: ternura
e vigor", Vozes 2003.
Fonte: https://www.pensador.com/autor/leonardo_boff/
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