Foi na gestão do psicólogo
venezuelano Jon Aizpúrua que a CEPA, então Confederação
Espírita Pan-Americana, fundada em 1946, na Argentina, retornou
ao Brasil, após meio século de ausência.

Em outubro de 1949, a CEPA realizava
o seu II Congresso no Rio de Janeiro, ocasião em que a FEB,
aproveitando a presença de grandes lideranças espíritas
na Capital da República, firmou em Ata um acordo que consolidou
sua posição de Casa Mater do espiritismo, documento
que ficou conhecido como Pacto Áureo.
Desde 1953, o Brasil deixou de participar dos congressos da CEPA,
não tendo a FEB jamais concordado em filiar-se à Confederação.
Aizpúrua assumiu a presidência da CEPA em 1993. Em setembro
desse ano, durante a realização do III Simpósio
Brasileiro do Pensamento Espírita, organizado por Jaci Régis
em Santos-SP, formalizou convite a várias instituições
espíritas do Brasil, inclusive ao CCEPA, a que ingressassem
nos quadros da Confederação. Em 1994, a CEPA publica
a Circular no 4, endereçada ao movimento espírita brasileiro
com o intuito de estreitar relações institucionais e
doutrinárias, a qual é ve ementemente repudiada pela
FEB em editorial do Reformador, de novembro do mesmo ano. A CEPA contesta
elegantemente a reação febeana através de nova
Circular, de no 5.
Em outubro de 1996, uma numerosa delegação brasileira
vai ao XVII Congresso da CEPA, em Buenos Aires, onde Aizpúrua
é reeleito, tendo Milton Medran Moreira como 2o vice-presidente
e Porto Alegre escolhida para sediar o congresso seguinte, em 2000.
O CCEPA fica responsável e o autor desta matéria é
indicado para presidir a Comissão Organizadora do evento.
Mesmo antes de realizado, o XVIII Congresso provocou polêmica.
Com o tema escolhido – Deve o Espiritismo atualizar-se?
– o evento objetivava “discutir a questão da atualização
do espiritismo” o que não foi bem recebido pelo movimento
espírita. Convidadas a participar do evento, tanto a federação
gaúcha como a brasileira negaram presença. A FEB, em
atencioso ofício de 28.12.98 assinado pelo seu presidente Juvanir
Borges de Souza, declarou que “por não reconhecer nos
homens nenhuma autoridade para alterar, a qualquer título,
uma Doutrina que não foi por eles elaborada e nem revelada,
mas sim pelos Espíritos Superiores, que a FEB não se
faz presente nos Congressos ou em outras quaisquer reuniões
que apresentem conclusões que impliquem modificação
dos princípios e postulados da Doutrina Espírita codificada
por Allan Kardec.” Em novembro de 1999, o Conselho Federativo
Nacional da FEB divulga longa Mensagem ao movimento espírita
brasileiro na qual afirma que “nada justifica a revisão
de qualquer dos fundamentos da Doutrina dos Espíritos”
e que “não reconhece em nenhuma pessoa ou instituição,
como também em nenhuma assembleia ou congresso, qualquer autoridade
ou direito para alterar ou modificar, a qualquer título, os
princípios fundamentais e ensinos do Espiritismo, contido nas
obras básicas de
Allan Kardec”.
Isso que tivemos o cuidado de divulgar, com grande antecedência,
uma Declaração de Intenções esclarecendo
que:
“1. Em hipótese alguma, a CEPA alimenta o propósito
de, no ano 2000, em um único congresso, efetuar a revisão
pontual da Doutrina Espírita.
2. É indiscutível a atualidade de partes importantes
e fundamentais da obra de Kardec, não superadas pela Ciência,
que serão, óbvia e plenamente, reafirmadas pelo Congresso.
3. Os organizadores do Congresso entendem que atualizar o Espiritismo
é torná-lo atual, situá-lo na época em
que vivemos, torná-lo presente e atuante em todos os setores
do pensamento humano.
4. Em hipótese alguma, sob pena de violação de
direitos autorais, podem ser alterados os textos ou expressões
das obras de Allan Kardec, como os de qualquer autor. Já as
ideias, concepções e teorias expostas nas obras da Codificação
e nas que lhe são complementares, como o próprio fundador
do Espiritismo afirmava, não sendo mais do que a expressão
do conhecimento dos seus autores, subordinadas ao contexto de uma
época, são passíveis de revisão e de atualização.
5. Não serão objeto de discussão, neste Congresso,
os postulados básicos do Espiritismo - Deus, Imortalidade,
Comunica bilidade, Reencarnação, Mundos Habitados, Evolução.
Todavia, poderão ser questionados conceitos e interpretações
a eles referentes expressos na literatura espírita por autores
encarnados ou desencarnados ou que se tornaram correntes entre os
espíritas.
6. Embora os congressos da CEPA possuam amplo caráter deliberativo,
este não tomará deliberações no que concerne
ao conteúdo doutrinário das propostas, exposições,
teses e/ou trabalhos que ali forem apresentados. Estes se constituirão
em subsídios para novas pesquisas, experimentos e estudos,
em áreas específicas, por parte de pessoas e/ou instituições,
com a participação dos Espíritos, cujos resultados
e conclusões retornarão ao debate em futuros simpósios,
seminários, congressos, etc.
O XVIII Congresso foi realizado, de 11 a 15.10.2000, nas confortáveis
instalações do Hotel Embaixador, com cerca de 400 participantes,
tendo inovado com a inclusão em seu programa - além
de conferências e painéis temáticos, com expositores
convidados - de um Fórum de Temas Livres, no qual se inscreveram
cerca de trinta pesquisadores e estudiosos do espiritismo com trabalhos
relaciona-
dos com a temática central.
Nesse congresso, a Assembleia Geral da CEPA elegeu Milton Medran Moreira
seu novo presidente, que exerceu dois mandatos, de 2000 a 2008. Durante
esse período, a CEPA ficou sediada no Brasil.
Esses acontecimentos estão detalhados em meu livro “Da
Religião Espírita ao Laicismo – a trajetória
do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”(2006).
Sem modéstia, decorridos 20 anos desse memorável evento,
é possível afirmar que, não obstante a resistência
do segmento majoritário do ME, a atualização
do espiritismo, hoje, é assunto recorrente em publicações
e mídias digitais, dentro e fora do âmbito da CEPA.

Salomão Jacob Benchaya -
Economista, 74,
ex-presidente da FERGS e
do CCEPA, Secretário Geral
da CEPA, presidiu a Comissão
Organizadora do XVIII
Congresso da CEPA.