Neste dia onde
comemoramos os 200 anos do nascimento de Charles Darwin (http://www.darwin200.org),
co-criador da teoria da Evolução com Alfred Russel Wallace,
gostaria de falar sobre a parte ainda "desconhecida" da
evolução das espécies, e principalmente a do
homo sapiens.
Como Drausio Varella e outros antropologistas
gostam de lembrar, a evolução cultural não se
deu apenas no homo sapiens, como em outras espécies capazes
de conviver em sociedade, como chipanzés e bonobos, nossos
parentes mais próximos (segundo os estudos do Genoma Humano
comprovaram). E não paramos por aqui: muitos psicólogos
evolutivos fazem alarde sobre a teoria da evolução da
mente humana - "Homens traem mais pois na Idade da Pedra precisavam
disseminar a espécie em diversas parceiras, sob o risco de
condenar sua espécie a extinção caso fossem monogâmicos
numa época ainda absolutamente inóspita a sobrevivência
sedentária." - esse tipo de afirmação é
muito comum entre os defensores da PE Pop (Psicologia Evoltutiva Populacional).
Em artigo recente na Scientific American,
o prof. David J. Butler critica a afirmativa de que "o homem
moderno tem a mente da Idade da Pedra", e expõe diversas
razões, na maioria falta de evidências, para
que consideremos essa afirmação uma falácia.
Entretanto, se perguntarmos a qualquer cético que crê
na teoria da Evolução, o fato de que existe a evolução
cultural e cognitiva humana é quase que sempre dado como verdadeiro...
Interessante pois que, independente de críticas como as do
prof. Butler, exista um problema muito mais importante e crucial
para ser resolvido: "Como é possível que
Genes, que transmitem apenas características físicas,
possam carregar informações ou memórias de uma
possível evolução cultural e cognitiva da espécie?".
Até hoje, pouco se desenvolveu
esse assunto na literatura científica. Podemos aqui destacar
que Dawkins percebeu o problema, tanto que se preocupou em delinear
uma vaga teoria acerca dos Memes, teoricamente os "genes que
transmitiriam as características não-físicas
adiante"... Infelizmente o célebre autor do Gene Egoísta
não conseguiu encontrar essa outra espécie de "genes
exóticos" em lugar algum, e nem tampouco qualquer outro
pesquisador. Os memes continuam sendo alternativas místicas
aos genes.
Também podemos citar Jung e
seu Inconsciente Coletivo, segundo a Wikipedia ele "é
a camada mais profunda da psique humana. Ele é constituído
pelos materiais que foram herdados da humanidade. É nele que
residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais, que
seriam comuns a todos os seres humanos." - Seria então,
mais ou menos, como quintilhões de bits de informação
que "flutuam no ar" e, de alguma forma desconhecida, são
acessados não somente por homo sapiens conscientes, como também
por todas as outras espécies que obtiveram alguma forma de
evolução cultural ou cognitiva - ou seja, não
dependeríamos de genes para passar tais informações
adiante, elas estariam simplesmente "em algum lugar do espaço".
E chamaríamos isso de ciência ou de esoterismo?
É verdade que a teoria de Darwin-Wallace
nunca pretendeu explicar a origem da vida, apenas trazer luz a forma
com a qual essa vida evoluiu de simples bactérias para seres
formidáveis e complexos, numa infinidade de espécies.
A teoria da Evolução nunca casou muito bem com a noção
de evolução da cultura e cognição nas
espécies, e se mostrou especificamente limitada em explicar
o surgimento da consciência. Poderemos imaginar que isso se
explica pelo fato de que ambos os criadores de tal teoria serem cientistas
e céticos, que nada compreendiam de espiritualidade. Então
estaríamos errados...
Não é à toa que
Wallace é tão pouco citado quando se fala na teoria
da Evolução - primeiro, era bem mais jovem que Darwin
quando a teoria lhes surgiu a ambos, mas principalmente, Wallace foi
espiritualista, e um cientista espiritualista é algo que nunca
soou muito bem aqueles que escrevem a história da ciência...
Segundo a Wikipedia e suas fontes, Wallace "argumentou que a
seleção natural não poderia justificar o gênio
matemático, artístico ou musical, nem contemplações
metafísicas, a razão ou o humor, e que algo no "invisível
universo do Espírito" tinha intercedido pelo menos três
vezes na história: 1. A criação da vida a partir
da matéria inorgânica; 2. A introdução
da consciência nos animais superiores; 3. A geração
das faculdades acima-mencionadas no espírito humano. - Ora,
não é tão fácil desacreditar o pensamento
de um espiritualista, quando este é um dos responsáveis
pela teoria mór do materialismo, não é mesmo?
Mas poderemos pensar: será
que ciência e religião estão em lados opostos?
Será que materialismo e espiritualismo nunca se encontraram?
Será que a Natureza se explica por noções radicais,
preto no branco, como "tudo é matéria" ou
"tudo é espiritual e ilusório", ou será
que Natureza antes opera em gradações de cinza?
O que Wallace defendia é conhecido
pela humanidade desde milhares de anos atrás, nos primórdios
das religiões orientais, principalmente do Hinduismo (mesmo
Sagan traça paralelos entre as teorias de criação/destruição
do Unirveso e a cosmologia religiosa da antiga India). Consciência,
alma ou espírito, chame-a como achar melhor, o que a teoria
da Reencarnação defende é tão somente
que existe uma lógica perfeitamente plausível por detrás
da crença de que a consciência e a memória não
dependem de genes para serem passadas adiante, simplesmente pelo fato
de que, ao contrário do corpo dito "físico",
não são exterminadas na morte.
Num Universo não-local, onde
96% da matéria não interage com a luz, e onde pululam
teorias físicas acerca da existência de diversas dimensões,
branas, ou mesmo universos palralelos - e mais, onde sabe-se a tempos
pela ciência que toda matéria é invisível
e intangível - será assim tão fantástico
e absurdo imaginarmos que a consciência, algo que sequer detectamos
no cérebro humano, e que não sabemos do que é
formado, possa sobreviver ao fim das atividades cerebrais?
Pode ser que no futuro a ciência
descubra que realmente a consciência nada mais é do que
um estado exótico do cérebro, fruto de reações
químicas que possibilitaram que poeira de estrelas pudessem
adquirir conhecimento do céu noturno, e do Cosmos das quais
são filhas. No entanto, negar de antemão a possibilidade
da evolução "desconhecida" se dar através
de caminhos igualmente ocultos, e apostar todas as fichas no materialismo,
me parece algo arriscado... Afinal, todos podemos estar errados, então
não deveríamos apontar raivosos e dizer "você
está louco, isso não pode estar certo!" - E quem
disse que a Natureza obedece aquilo que "achamos estar certo"?