A hipótese que norteou
esta pesquisa é a de um campo relacional entre ciência
e religião, pensado a partir da verificação de
espaços nos quais se constata a atuação de médicos
espíritas. Conforme Turner, a dialética do ciclo de
desenvolvimento é um processo relacionado às categorias
liminares, como a dos médicos-espíritas.
A opção por observar três locais dessas atuações
– um centro espírita, um hospital espírita e uma
associação médico-espírita – permitiu
a compreender as relações desses profissionais com o
sistema ritual espírita composto segundo Cavalcanti pela caridade,
pela mediunidade e pelo estudo.
A terapêutica espírita, entendida como ritual, permite
a elaboração de novos conhecimentos nos termos de Geertz
(1973), ao tornar inteligível pela experiência uma teoria
do espírito. Esse conhecimento permite uma reinterpretação
de conceitos médicos, tais como o de saúde e doença,
incluindo a dimensão espiritual tanto na causalidade das doenças
como na escolha do tratamento.
A mediação entre ciência e religião é
realizada nestes termos pelas características do sistema ritual,
e a eficácia desta mediação na hipótese
desta pesquisa está relacionada ao domínio dos dois
códigos – o médico e o espírita –
por parte do profissional médico espírita. A organização
em associações e a constituição de um
movimento médico-espírita permite a essa categoria um
diálogo com seus pares e a sociedade mais ampla, conseguindo
legitimar gradativamente através de pesquisas e inserções
no campo científico, os fundamentos que norteiam a sua prática.