A dinâmica mediúnica
revela um estado alterado de consciência; portanto, um autêntico
estado de transe.
Transes existem de variada natureza, razão porque devemos estar
atentos para as devidas distinções e avaliações.
Assim é que podemos presenciar os transes ligados a ausência
de oxigênio no sangue (anóxia), as doses oscilantes de
glicose no sangue comuns dos diabéticos, além de outros
transes causados por distúrbios metabólicos. Também
substâncias farmacológicas, tais como álcool, drogas
diversas (cocaína, maconha, heroína, etc.) são
desencadeadoras de tal processo. Ainda mais, estão inclusos nestes
parâmetros o transe hipnótico e aqueles observados nas
distonias mentais (epilepsia, histeria, etc.).
O transe mediúnico, por ser condição fisiológica
e absolutamente hígida, ou seja, saudável, necessita de
avaliações e apreciações cuidadosas, a fim
de não ser confundido com outros setores, principalmente o patológico,
aliás o que já deu margem a intensos desencontros.
A dinâmica mediúnica, por se desenvolver em vários
setores do psiquismo humano, é fenômeno de extrema complexidade,
onde muitas nuanças nos escapam.
‘Quando a entidade
espiritual procura comunicar-se com a organização psíquica
do médium, ambos em sintonia buscam entrosamento. De um lado,
o Espírito (vontade-apelo), do outro, o médium (vontade-resposta),
a fim de que o mecanismo de ideação possa desencadear-se,
nos diz André Luiz.
Inicialmente os campos de entrosamento
se fazem através das respectivas zonas perispirituais - irradiações
perispirituais do Espírito e recepção perispiritual
do médium - que, assim enredados, dirigem-se aos campos físicos
do receptor para as devidas elaborações psicológicas.
Dessa forma, haverá necessidade de transformações
nos respectivos campos do psiquismo. As energias vindas da dimensão
hiperfísica (campos perispirituais) sofrerão transformações
no psiquismo do médium, a fim de que o processo intelectivo se
instale fornecendo a informação - mensagem.
Ante as informações espirituais, principalmente de A.
Luiz, e os estudos realizados em França pelo dr. Thiebault, a
glândula pineal está sendo novamente reconhecida como elemento
valoroso nos processos nobres do psiquismo. Não seria apenas
uma glândula passageira a controlar o sexo nos primeiros anos
de vida, com posterior apagamento funcional, mas uma unidade endócrina
de grande valor a responder por autêntico campo de filtragem,
onde os dígitos de características perispirituais (dimensão
hiperfísica) fossem transformados e adaptados para as recepções
neuroniais da base cerebral(tálamo e hipotálamo). Daí
as impulsões seriam direcionadas para a região cortical
onde a intelecção se processará, proporcionando
condições para o nosso entendimento intelectual. É
bem possível que as coisas se passem dessa forma, acompanhando
processos sutis, e ainda não definidos, de neurotransmissão.
Assim, a impulsão perispiritual da entidade perispiritual, captada
pelo perispírito do médium, em acoplagem de mútua
aceitação, passaria aos campos físicos da intelecção,
após processo de seleção e autocrítica realizado
nos campos perispirituais do médium ou zona inconsciente. Este
processo seletivo e auto-crítico estaria relacionado ao grau
de moralização do médium, cuja elaboração
se faria, compreensivelmente, sem a análise ou conhecimento da
zona consciente. É como se fora um mecanismo de automatismo inconsciente.
O médium moralizado e ajustado jamais deixará passar a
mensagem em termos grosseiros e agressivos. As retificações
serão elaboradas sem modificações da essência
das mensagens, porém demonstrando o "colorido" do médium.
Não haveria inserções anímicas do próprio
médium, mas uma filtragem de ajuste a demonstrar as características
individuais que o receptor possui. As mais perfeitas e ajustadas mensagens,
sempre mostram o "selo" da máquina onde foram operadas.
Com isso, jamais queremos dizer que o fenômeno autêntico
seja combinado com fatores anímicos do médium, embora
existindo mensagens que demonstram tais condições.
Isso vem mostrar a importância do estudo da Doutrina Espírita,
por ter sido quem melhor elaborou as condições de exercício
da mediunidade, como um dos adequados caminhos de evolução
psicológica. Exercício de mediunidade será o constante
impulso de aperfeiçoamento a buscar todas as angulações
no bem.
Nessa síntese, tentativa de descrição do fenômeno
mediúnico, conhecido, comumente, como sendo mediunidade de incorporação
(termo inadequado), são imensas e incontáveis as variações
que, por sua vez, estariam atadas aos biótipo psicológicos
de cada ser. Conforme as zonas dos centros corticais (no cérebro)
que fossem mais solicitados, teríamos as variações
mediúnicas refletidas nas conhecidas psicografias, psicofonias
(zonas da linguagem), vidência (centro visuais) e tantas outras
modalidades onde as ativações de locais específicos
se mostrem mais contundentes.
Como não existem, no panorama da vida, posições
estáticas, a dinâmica mediúnica avança em
constante desenvolvimento, onde o processo de incorporação
em suas variedades - consciente, semiconsciente e inconsciente - estarão
na dependência da solicitação e dominância
do comunicante (entidade espiritual). Desse modo, o processo mediúnico
vai sendo como que, a pouco e pouco, substituído, sem apagamento
definitivo, por mecanismo em que o próprio médium tem
uma atuação mais dominante e efetiva.
Na mediunidade de incorporação, a irradiação
da entidade espiritual que se comunica é bem mais ativa do que
a posição do médium, que se torna mais passiva.
Esta condição pode ser denominada de mediunidade receptiva
- o médium com sua passividade recebe o que lhe é imposto
pelo comunicante.
No segundo caso, onde o médium exerceria, pela sua vontade, uma
espécie de procura sobre as condições dos seus
porquês, ele impõe, mesmo de modo inconsciente, forte carga
afetiva-emocional, o que propiciaria alargamento e ampliação
de suas antenas mediúnicas (campo de irradiação
perispiritual). Com isso, passaria a trafegar nas correntes superiores
de pensamento, buscando idéias mais precisas na definição
das suas inquirições. Neste caso, teríamos a outra
variedade mediúnica que poderíamos chamar de mediunidade
captativa. A região cerebral mais adequada a tal cometimento
seria a dos lobos frontais, onde centros nervosos específicos
devem existir em virtude de suas apuradas funções, ao
lado da ajuda e ativação do hemisfério cerebral
direito; enquanto que, no outro tipo mediúnico (processo receptivo),
as zonas do centro cerebral seriam as mais solicitadas. No mecanismo
receptivo prepondera o processo analítico, no mecanismo captativo
o processo sintético; no receptivo, portanto, o intelecto, no
captativo a intuição. Hoje temos como assertiva que o
lado esquerdo do cérebro, onde existem os centros de linguagem,
é região da programação racional, dos fatos
analíticos que compõem o nosso dia-a-dia da pesquisa intelectiva.
O lado direito do cérebro estaria ligado aos processos criativos,
imaginativos, aos dons artísticos e todos os componentes da intuição.
Desse modo, o fator evolutivo que acompanha a vida na sua eterna busca
do Infinito também estaria presente na dinâmica mediúnica,
onde a variedade denominada incorporação, de características
analíticas, iria avançando para uma posição
mais abrangente de totalidade, de síntese, a desembocar nos fatores
da intuição.
Será bem lógico de compreender-se que os degraus evolutivos
terão de ser experienciados, e que não se pode ter as
antenas da intuição ativadas e bem ajustadas se não
houver passagem pelos degraus das posições analíticas
que, por sua vez, em esgotando os potenciais por maturação
de vivências, despertariam no degrau superior, onde a intuição
mostra uma nova gleba a ser trabalhada e elaborada. A mediunidade que
vem acompanhando o homem, através das conhecidas civilizações
se irá beneficiando dos imensos fatores aquisitivos, reconhecidos
no dia-a-dia pelas pesquisas da ciência e da filosofia. Esta última,
por sua vez, oferece no desfile dos pensamentos as condições
éticas para um estado de religiosidade. Assim, o homem inquieto
dos dias presentes, na busca de seu próprio estado de religiosidade,
não mais atende moldes religiosos constituídos de aparatos
externos, mas, sim, a busca de um Deus na intimidade de sua própria
consciência.
Fonte: Revista "Presença
Espírita", jan./fev.de 1994
topo
Leiam outros de textos de Jorge Ândrea dos Santos
->
Bases espíritas na Psicologia
->
Inteligência e mediunidade
-> Nuanças Mediúnicas
->
Expansões do Princípio Inteligente
->
Mediunidade e a Evolução do Psiquismo
topo