Foi muito a propósito
que Charles Richet deu por iniciado com William Crookes, em 1872,
o período científico da metapsíquica, hoje
parapsicologia. Possivelmente, nenhum cientista que se atreveu a
estudar com afinco os fenómenos objectivos da parapsicologia
foi tão controvertido quanto William Crookes.
Nenhum levantou tanta celeuma em torno de suas afirmações
acerca dos fenómenos que observou; nenhum teve a sua reputação
tão atacada; e nenhum foi tão firmemente honesto em
suas convicções científicas quanto ele.
Agora, após mais de
um século, a extraordinária figura de William Crookes
emerge límpida e majestosa, desafiando serenamente aqueles
que ainda tentam, em vão, enlamear-lhe a imagem. A obra deste
sábio extraordinário tem resistido aos embates do
tempo e aos ataques mesquinhos de seus adversários gratuitos,
unicamente porque é toda ela, límpida e cristalinamente
apoiada sobre uma granítica base de factos. Quem estuda,
sem má-fé e sem preconceitos, os trabalhos de William
Crookes, impressiona-se pela pureza, simplicidade e clareza meridiana
de seus relatórios. Dos seus trabalhos, transpiram a sinceridade,
a firme convicção e a serenidade de um sábio
que tranquilamente proclama a verdade, sem inquietar-se com o julgamento
dos demais, por achar-se seguro de que o erro está com aqueles
que negam a evidência dos factos.
O homem
Vamos extrair os seus dados biográficos da excelente Encyclopaedia
of Psychic Science, de Nandor Fodor (USA: University Books, 1974).
Sir William Crookes (1832-1919) pode ser considerado um dos mais
proeminentes físicos do século XIX. Em 1863 foi eleito
membro da Royal Society. Obteve as seguintes láureas: a Royal
Gold Medal, em 1875; a David Medal em 1888; a Sir Joseph Copley
Medal em 1904; foi nomeado cavaleiro em 1897, pela rainha Vitória;
e, em 1910, ganhou a Ordem de Mérito. Foi presidente das
seguintes instituições: Royal Society, Chemical Society,
Institution of Electrical Engineers, British Association e Society
for Psychical Research. No campo das pesquisas científicas
Crookes é conhecido como o descobridor do elemento químico
de número atómico 81, o Tálio; do Radiómetro;
do Espintariscópio; do tubo de raios catódicos, mais
conhecido como Tubo de Crookes, etc.
Na área da divulgação científica, ele
foi fundador do Chemical News, em 1859, e editor do Quarterly Journal
of Science, em 1864. Em 1880, recebeu uma medalha de ouro e o prémio
de 3.000 francos, da Academia de Ciências da França.
Na ocasião em que William Crookes passou a interessar-se
pelos fenómenos paranormais, houve uma grande expectativa
em torno dessa decisão, por parte do grande público.
Seu nome era por demais conhecido nos meios científicos,
e o seu veredicto seria, naturalmente, aceite como decisivo julgamento
do movimento então chamado «Spiritualism».
Primeiros contactos
Certamente, William Crookes devia achar-se a par da repercussão
nada favorável, na imprensa, do relatório da «London
Dialectical Society». Pairava no ar uma certa hostilidade
surda contra o «Spiritualism». A má vontade com
relação a este movimento era evidente, especialmente
por parte da imprensa e do meio científico. Se Crookes se
decidiu a sondar tão perigoso terreno, é porque naturalmente
confiava no método científico positivo, com o qual
se achava tão familiarizado. O seu interesse despertou, após
ter assistido a uma sessão com a médium Mary Marshall
(1842-1884), em Julho de 1869. Esta médium foi também
iniciadora do Dr. Alfred Russel Wallace, na investigação
dos fenómenos paranormais. Os fenómenos eram banais:
«raps», movimentos e levitação de uma
mesa, nós dados em lenços, escrita directa em lousas,
etc. A partir de 1867, ela produziu sessões de voz directa,
nas quais se manifestava o famoso espírito John King.
Em Dezembro de 1869, Crookes assistiu
às sessões do célebre sensitivo J. J. Morse
(1848-1919), o mais extraordinário médium psicofónico
daquela época, o qual o impressionou bastante. Em Julho de
1870, depois que Henry Slade chegou a Londres, ele anunciou sua
decisão de investigar seriamente os fenómenos espíritas.
Publicou, então, no Quarterly Journal of Science
um artigo intitulado: «Spiritualism Viewed by the Light
of Modern Science» (O «Spiritualism»
visto à Luz da Moderna Ciência). São
suas as palavras neste artigo:
«Modos de ver ou opiniões
não posso dizer que possuo sobre um assunto que eu não
tenho a presunção de entender.»
A seguir, ele acrescentou:
«Prefiro entrar na investigação,
sem noções preconcebidas sejam quais forem, como
do que possa ou não ser, mas com todos os meus sentidos
alerta e prontos para transmitirem a informação
ao cérebro; acreditando, como creio, que não temos,
de nenhuma maneira, esgotado todo o conhecimento humano ou examinado
as profundezas de todas as forças físicas».
Segundo ele, tais investigações
foram-lhe sugeridas «por um eminente homem que exercia grande
influência no pensamento do país».
Finalmente, a derradeira sentença:
«O crescente emprego dos
métodos científicos produzirá uma geração
de observadores que lançará o resíduo imprestável
do «Spiritualism», de uma vez por todas, ao limbo
desconhecido da magia e da necromância».
Tal anúncio foi recebido
com especial júbilo pela imprensa. Havia uma expectativa
geral de que, desta vez, o «Spiritualism» iria ter sua
correcta avaliação. Em suma, seria colocado em sua
exacta posição e avaliado em suas devidas proporções,
isto é, não receberia nenhuma aprovação.
Após submetido ao escalpelo do método científico,
tudo não passaria de fraude, logro e imposturice.
É um fenómeno difícil de explicar exactamente
essa aversão contra os factos do Spiritualism. Talvez se
deva isso, em parte, à influência da Filosofia Positivista,
que, naquela época, se difundira pelas elites culturais da
Europa. Sabe-se que o relatório da London Dialectical Society,
de 20 de Julho de 1870, já tivera péssima recepção
por parte da imprensa e também por grande fracção
dos intelectuais de então. E deve frisar-se que a sua comissão,
composta de 33 membros, era formada por homens ilustres, conforme
mostraremos em artigo posterior. A única explicação
para tal reacção, seria o facto de a comissão
ter concluído que os fenómenos do Spiritualism (**)
eram reais.
As investigações
Entre 1869 e 1875, Crookes levou a efeito um número enorme
de sessões com os mais variados médiuns; as de maior
importância, no seu próprio laboratório pessoal.
São cinco os seus principais grupos de experiências
com os médiuns mais qualificados e por ordem cronológica:
Daniel Dunglas Home, Kate Fox, Charles Edward Williams, Florence
Cook e Annie Eva Fay. Além desses, ele teve experiências
esparsas com os seguintes médiuns: mrs. Marshall, J. J. Morse,
aos quais já nos referimos, mrs. Event, o reverendo Staiton
Moses, mrs. Mary M. Hardy, miss Showers e inúmeros outros
de menor fama.
Experiências com Daniel Dunglas
Home
As experiências feitas com Daniel Dunglas Home parecem as
mais bem controladas das cinco principais séries. Foram relatadas
no The Quarterly Journal of Science, a partir de 1871, mais tarde
enfeixadas num volume sob o título Researches in the Phenomena
of Spiritualism e publicados também nos Proceedings of
the Society for Psychical Research (Vol.
VI, 1889-90, pp. 98-127).
Tais experiências constaram
de diversos fenómenos de efeitos físicos, tais como
movimentos de corpos pesados com contacto, mas sem esforço
mecânico por parte do médium. Para controlar e medir
esses fenómenos, Crookes construiu e montou aparelhos dotados
de alavancas e dinamómetros, bem como registadores gráficos
operados mecanicamente. Dentro desta categoria de fenómenos,
destaca-se um deles pelo inusitado. Trata-se de um acordeão
que era tocado, tendo apenas uma de suas extremidades presa entre
os dedos da mão do médium. A outra extremidade contendo
as teclas, ficava dependurada. O instrumento, assim suspenso dentro
de uma gaiola de madeira e arame, era misteriosamente tocado e,
inclusive, as suas teclas eram accionadas por suposta mão
invisível.
Foram investigados os fenómenos de percussão e outros
ruídos surgidos sob a acção do médium.
Objectos pesados situados a determinada distância do médium
eram movimentados ostensivamente. Assim, mesas e cadeiras elevavam-se
do chão por si sós. Todos esses fenómenos,
em sua maioria, ocorriam à luz clara, permitindo absoluto
controlo.
O médium D. D. Home é famoso também pelas suas
levitações. Diz Crookes:
«Há pelo menos 100
casos bem verificados de elevação do sr. Home, produzidos
em presença de muitas pessoas diferentes; e ouvi mesmo
da boca de 3 testemunhas: o conde de Dunraven, lord Lyndsay e
o capitão C. Wynne, a narração dos casos
mais notáveis desse género acompanhados dos menores
incidentes.»
(Crookes, W. Fatos Espíritas, Rio:
FEB, 1971, pp. 36 e 37).
Inúmeros outros fenómenos
extraordinários foram reportados por Crookes. Entre eles
destacam-se os efeitos luminosos. Eis alguns:
«Em plena luz, vi uma nuvem
luminosa pairar sobre um heliotrópio colocado em cima de
uma mesa, ao nosso lado, quebrar-lhe um galho, e trazê-lo
a uma senhora, e, em algumas ocasiões, percebi uma nuvem
semelhante condensar-se sob nossos olhos, tomando uma forma de
mão e transportar pequenos objectos.»
(Opus cit. p. 40)
Noutras ocasiões
ocorreram em plena luz fenómenos de materialização
parcial. Transcrevamos alguns descritos por Crookes:
«Pequena
mão de muito bela forma elevou-se de uma mesa da sala de
jantar e deu-me uma flor; apareceu e depois desapareceu três
vezes, o que me convenceu de que essa aparição era
tão real quanto a minha própria mão.»
(Opus cit. p. 41)
Tais membros,
parcialmente materializados, eram, algumas vezes, vistos a formar-se
a partir de nuvens ectoplásmicas.
«Algumas
vezes, é preciso dizer, ofereciam antes a aparência
de nuvem vaporosa condensada em parte, sob a forma de mão.»
(Opus cit. p. 41)
Tais mãos,
quando tocadas, davam a sensação ora de frias como
de gelo, ora de quentes e vivas, chegando a cumprimentar com firme
aperto de mão o investigador. Crookes, certa ocasião,
reteve uma dessas mãos, resolvido a não a deixar escapar.
Entretanto, ocorreu facto singular: em vez de fazer qualquer esforço
para libertar-se, a mão materializada simplesmente se desmaterializou,
parecendo dissolver-se em vapor!
Entre as pessoas convidadas por William Crookes para assistirem
e testemunharem tais fenómenos, contavam-se as seguintes:
o seu assistente químico, Williams; seu irmão Walter;
o eminente físico e astrónomo, ex-presidente da Royal
Society, sir William Huggins, e o jurisconsulto Sarjeant Cox.
Foram, também, convidados para participarem do grupo de observadores
os secretários da Royal Society. Entretanto recusaram o convite.
Não quiseram investigar pessoalmente os factos.
Familiares de Crookes também assistiram às sessões,
durante as quais os grandes sensitivos e agentes paranormais eram
por ele observados e estudados.
A reacção
Os relatórios de William Crookes a respeito da «força
psíquica» por ele verificada de maneira inequívoca,
assim como os relatos dos demais fenómenos que, de certa
forma, davam apoio às teorias espiritualistas, provocaram
tremenda decepção entre aqueles que esperavam justamente
o contrário. Crookes, ao que parece, já contava com
esse tipo de reacção. Em 20 de Junho de 1871, ele
escrevia, após ter enviado primeiro um relatório à
Royal Society, cinco dias antes:
«Considero
ser meu dever enviar primeiro à Royal Society, porque assim
fazendo, eu deliberadamente lanço o peso de minha reputação
científica em apoio à verdade daquilo que envio».
Em Julho de
1871, Crookes publicou um relato sobre a famosa série de
testes com D. D. Home e também com Kate Fox, no Quarterly
Journal of Science, sob o título: «Experimental
Investigation of a New Force». Em
Outubro do mesmo ano e no mesmo periódico, ele publicou o
artigo «Some Further Experiments on Psychic Force»,
com uma explicação de sua abordagem à Royal
Society.
No próprio
mês de Outubro daquele ano, estourou a reacção
pública: um violento ataque anónimo surgiu na Quarterly
Review. O anonimato não funcionou, pois logo se soube que
sua origem era o oficial de registo da London University, o conhecido
biólogo Dr. W. B. Carpenter, membro da Royal Society.
Em Dezembro daquele ano, William Crookes publicou, no Quarterly
Journal of Science, o artigo «Psychic
Force and Modern Spiritualism a Reply to the Quarterly Review».
Era a resposta ao artigo de Carpenter, desmascarando-o e refutando
ponto por ponto os seus ataques.
O jornal Echo, de 31 de Outubro de 1871, publicou
uma carta anónima a ele enviada e assinada «B».
Nesta carta o autor pôs em forma definitiva alguns dos rumores
contra Crookes, que se haviam desencadeado depois do artigo de Carpenter.
O anónimo «B» referia-se a informações
e críticas de um tal «Mr. J», a quem ele atribuía
autoridade para julgar Crookes. Este logo descobriu o covarde autor
da carta anónima, um certo John Spiiler, que fora, numa ocasião
admitido a assistir duas sessões com D. D. Home na residência
de Sarjeant Cox. Crookes achava-se presente no momento, mas não
havia, ainda, iniciado as suas pesquisas sistemáticas sobre
mediunidade de D. D. Home.
A esta e todas
as demais críticas, Crookes deu a devida resposta, quando
reconheceu alguma importância nas mesmas.
Vamos passar à outra fase das actividades de Crookes. Escolheremos
apenas uma delas, embora todas as demais tenham sido dignas de nota.
vamos tratar das ectoplasmias de Katie King, obtidas pela mediunidade
de Florence Cook.
Florence Eliza Cook (1856-1904)
A mediunidade de Florence Cook manifestou-se desde a sua infância,
quando afirmava ver espíritos e ouvir vozes. Tais factos
eram levados pouco a sério pelos seus familiares, que os
atribuíam a produtos da sua imaginação infantil.
Em 1871, aos 15 anos de idade, a sua mediunidade começou
a aflorar mais intensamente e foi-se desenvolvendo com o correr
do tempo.
Em 22 de Abril de 1872, numa sessão na qual se achavam presentes
a mãe, os irmãos e uma irmã da médium,
além da criada Mary, materializou-se o espírito Katie
King, parcialmente e pela primeira vez. Numa carta dirigida ao director
do periódico The Spiritualist, de Londres,
Harrison, a própria Florence Cook relatou o ocorrido, pois
manteve-se em vigília durante a manifestação:
«Katie
mostrou-se na abertura das cortinas; os seus lábios moveram-se;
por fim, falou durante alguns minutos com a minha mãe.
Todos puderam acompanhar os movimentos dos seus lábios.»
«Como eu não a via muito bem de onde me encontrava,
pedi-lhe que se voltasse para mim. Ela atendeu e virou-se. "Com
muito gosto desejo atender-te", disse. Então pude
observar que a parte superior de seu corpo estava formada somente
até ao busto; o resto de seu corpo era uma nebulosidade
vagamente luminosa.» (Rodrigues,
W. L. V. - Katie King, Matão: O Clarim, 1975, p.32).
Posteriormente, Florence Cook passou
a entrar em transe profundo. Daí em diante, Katie King foi
adquirindo mais consistência e autonomia, chegando a sair
inteiramente da cabina escura e a passear livremente entre os assistentes,
mostrando-se à luz clara.
Em Dezembro de 1873, durante uma
sessão em que se achavam entre os convidados, o conde e a
condessa de Caithness, o conde de Medina Pomar e um certo W. Volckman,
Katie King mostrou-se tão nitidamente que despertou suspeitas
neste último. Volckman, subitamente, avançou contra
Katie King, agarrando uma de suas mãos e prendendo-a pela
cintura com o outro braço! Estabeleceu-se uma luta, na qual
dois amigos da médium tentaram socorrer Katie King. O advogado
Henry Dumphy conta que ela pareceu perder os pés e as pernas,
e fazendo um movimento semelhante ao de uma foca na água,
escapuliu sem deixar traços de sua existência corporal,
tendo desaparecido inclusive os véus brancos em que se envolvia.
Segundo Volckman, ela libertou-se violentamente. Mas o facto incontestável
é que uns cinco minutos mais tarde, quando se restabeleceu
a calma e a cabina foi aberta, ali foi encontrada Florence Cook
perfeitamente composta em seu vestido preto e calçada com
suas botas. As amarras que a prendiam estavam intactas, assim como
o lacre impresso com o sinete do anel do conde de Caithness, tal
como no início da sessão. Foi-lhe dada uma busca,
mas não se descobriu qualquer vestígio de vestes ou
véus brancos. Como resultado da brutal prova, a médium
adoeceu.
(Fodor, N. - Encyclopaedia of Psychic Science,
U.S.A.: University Books, 1974, p. 62).
Logo após este incidente,
Florence Cook procurou sir William Crookes e solicitou-lhe que investigasse
a sua mediunidade.
Naquela ocasião, devido a certos fenómenos que ocorriam
numa escola onde Florence Cook tinha um emprego, e também
em virtude da repercussão na imprensa, dos factos que com
ela ocorriam, a directora demitiu-a de sua colocação.
Desse modo, Florence Cook viu-se desempregada. Um senhor que se
interessava vivamente pelas faculdades da srta. Cook, ofereceu-lhe
uma pensão permanente com a condição de ela
manter-se em actividade mediúnica exclusivamente para fins
de pesquisa científica. A referida pensão duraria
enquanto Florence se mantivesse solteira. O nome desse generoso
protector era Charles Blackburn. Quando ocorreu o incidente com
o desastrado Valckman, Charles Blackburn excluiu Florence da assistência
pública e confiou-a exclusivamente aos cuidados de William
Crookes, para investigações rigorosamente científicas.
Katie
King
Katie King era o pseudónimo adoptado pelo espírito
de Annie Owen Morgan. Ela era o «espírito guia»
de Florence Cook. Dizia ter sido filha de Henry Owen Morgan, famoso
pirata que foi protegido por Charles II e feito governador da Jamaica.
O espírito de H. O. Morgan adoptou o pseudónimo de
John King, tendo-se manifestado, pela primeira vez, em 1850, com
os irmãos Davenport.
Katie King colaborou de maneira notável com William Crookes.
Vamos transcrever os relatos de algumas sessões controladas
por Crookes e reportadas pessoalmente por ele.
No início
Katie King assemelhava-se a Florence Cook
Este episódio, do qual extraímos o texto que se segue,
mostra-nos um facto de grande importância: quando o médium
não está em transe suficientemente profundo, pode
ocorrer uma ectoplasmia incompleta. Neste caso, o duplo astral da
médium arrasta consigo o ectoplasma. O espírito, então,
se sobrepõe a este conjunto, surgindo daí uma forma
híbrida, com a aparência do médium. A sessão
realizava-se na casa do sr. Luxmore:
«Pouco depois, a forma de
Katie apareceu ao lado da cortina, dizendo que o fazia porque
havia perigo em se afastar do seu médium, visto que este
não se achava bem e não poderia ser lançado
em sono suficientemente profundo».
«Eu — William Crookes — estava colocado a alguns
pés da cortina, atrás da qual a srta. Cook se achava
sentada, tocando-a quase, e podia frequentemente ouvir os seus
gemidos e suspiros, como se ela sofresse. Esse mal-estar continuou
por intervalos, durante toda a sessão, e uma vez, quando
a forma de Katie estava diante de mim, na sala, ouvi distintamente
o som de um suspiro doloroso, idêntico aos que a srta. Cook
tinha feito ouvir, por intervalos, durante todo o tempo da sessão
e que vinha de trás da cortina onde ela devia estar sentada.»
«Confesso que a figura era surpreendente na sua aparência
de vida e de realidade, e tanto quanto eu podia ver, à
luz um pouco fraca, os seus traços assemelhavam-se aos
da srta. Cook; mas, entretanto, a prova positiva, dada por um
dos meus sentidos, pois que o suspiro vinha da srta. Cook, no
gabinete, enquanto a figura estava fora dele, esta prova é
muito forte para ser destruída por simples suposição
do contrário, mesmo bem sustentada.»
Posteriormente sir William Crookes
organizou uma série de sessões no seu laboratório
particular, situado em sua própria residência. Foi
aí que se deram as melhores ectoplasmias de Katie King, durante
as quais, inúmeras vezes, puderam ser vistas e até
fotografadas, ao mesmo tempo, a materialização e a
médium.
Crookes pôde ver simultaneamente
Katie King e Florence Cook
Esta sessão ocorreu em 12 de Março de 1874, na casa
de Crookes:
«Voltando ao meu posto de
observação, Katie apareceu de novo e disse que pensava
poder mostrar-se a mim ao mesmo tempo que a sua médium.
Abaixou-se o gás e ela pediu-me a lâmpada florescente.
Depois de se ter mostrado à claridade, durante alguns segundos,
restituiu-ma, dizendo: "Agora entre
e venha ver a minha médium". Acompanhei-a de
perto à minha biblioteca e, à claridade da lâmpada,
vi a srta. Cook estendida no canapé, exactamente como eu
a tinha deixado; olhei em torno de mim para ver Katie, porém
ela havia desaparecido...».
Em outra sessão Crookes conseguiu
ver, durante um largo tempo, simultaneamente a médium e a
entidade materializada. Esta sessão ocorreu em Hackney. Nesta
ocasião, Crookes obteve permissão de Katie King para
enlaçar sua cintura e abraçá-la, repetindo
sem incidentes a desastrada experiência de W. Volckman. Crookes,
em artigo publicado no The Spiritualist, disse:
«O sr. Volckman ficará
satisfeito ao saber que posso corroborar a sua asserção,
de que o "fantasma" (que afinal não fez nenhuma
resistência) era um ser tão material quanto a própria
srta. Cook.»
Prosseguindo em seu artigo, Crookes
relatou o seguinte episódio, ocorrido nessa mesma sessão:
«Katie, disse então
que dessa vez julgava-se capaz de se mostrar ao mesmo tempo que
a srta. Cook. Abaixei o gás, e em seguida, com a minha
lâmpada florescente penetrei o aposento que servia de gabinete.»
«Mas, eu tinha pedido previamente a um dos meus amigos,
que é hábil estenógrafo, para anotar toda
a observação que eu fizesse, enquanto estivesse
no gabinete, porque bem conhecia eu a importância que se
liga às primeiras impressões, e não queria
confiar à minha memória mais do que fosse necessário:
as suas notas acham-se neste momento diante de mim».
«Entrei no aposento com precaução; estava
escuro e foi pelo tacto que procurei a srta. Cook; encontrei-a
de cócoras no soalho.»
«Ajoelhando-me deixei o ar entra na lâmpada e, à
sua claridade, vi essa moça vestida de veludo preto, como
se achava no começo da sessão, e com a toda a aparência
de estar completamente insensível. Não se moveu
quando lhe tomei a mão; conservei a lâmpada muito
perto do seu rosto, mas continuou a respirar tranquilamente.»
«Elevando a lâmpada, olhei em torno de mim e vi Katie,
que se achava em pé, muito perto da srta. Cook e por trás
dela. Katie estava vestida com roupa branca, flutuante, como já
a tínhamos visto durante a sessão. Segurando uma
das mãos da srta. Cook na minha e ajoelhando-me ainda,
elevei e abaixei a lâmpada, tanto para alumiar a figura
inteira de Katie, como para plenamente convencer-me de que eu
via, sem a menor dúvida, a verdadeira Katie, que tinha
apertado nos meus braços alguns minutos antes, e não
o fantasma de um cérebro doentio. Ela não falou,
mas moveu a cabeça, em sinal de reconhecimento. Três
vezes examinei cuidadosamente a srta. Cook, de cócoras,
diante de mim, para ter a certeza de que a mão que eu segurava
era de facto a de uma mulher viva, e três vezes voltei a
lâmpada para Katie, a fim de examinar com segurança
e atenção, até não ter a menor dúvida
de que ela estava diante de mim. por fim, a srta. Cook fez um
ligeiro movimento e imediatamente Katie deu-me um sinal para que
me fosse embora. Retirei-me, para outra parte do gabinete e deixei
então de ver Katie, mas só abandonei o aposento
depois que a Srta. Cook acordou e que dois dos assistentes entrassem
com luz.»
(Crookes, W. - Fatos Espíritas, trad.
de Oscar D’Argonnel, Rio: FEB, 1971, pp.69-73)
O testemunho de Crookes
Apesar de cerrado ataque de que foi alvo, devido aos seus relatórios
acerca dos fenómenos que observou e investigou durante vários
anos, sir William Crookes nem uma só vez titubeou em afirmar
sua convicção na realidade dos factos por ele pesquisados.
Diante da British Association at Bristol, na sua palestra presidencial,
em 1989, ele declarou:
«Trinta anos se passaram
desde que eu publiquei um relatório de experiências,
visando demonstrar que além do nosso conhecimento científico
existe uma Força exercida por inteligência diferente
da inteligência ordinária, comum aos mortais. Não
tenho nada a retractar. Mantenho-me fiel às minhas afirmações
já publicadas. Na realidade, eu poderia acrescentar muito
mais, além disso».
E numa entrevista na The International
Psychic Gazette, em 1917, ele repetiu:
«Nunca tive jamais qualquer
ocasião para modificar minhas ideias a respeito. Estou
perfeitamente satisfeito com o que eu disse nos primeiros dias.
É absolutamente verdadeiro que uma conexão foi estabelecida
entre este mundo e o outro.»
(Fodor, N. - Encyclopaedia of Psychic Science,
U.S.A.: University Books, 1974, p.70).
William Crookes foi um marco inicial
do período científico da história da parapsicologia.