"Renascem muitas idéias
que caíram; e cairão as que hoje estão em voga".
Horacio
Que vem a ser um poltergeist?
Não é fácil explicar
o que seja um poltergeist (pronuncia-se poltergaist).
Para ter-se uma idéia, daremos, mais adiante, alguns relatos
sumaríssimos de fenômenos de poltergeist, extraídos
dos arquivos do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofisicas
- IBPP.
O vocábulo poltergeist e de origem alemã e composto
por duas palavras germânicas: poltern = batedor, brincalhão,
galhofeiro etc., e geist = espírito.
Esta designação e popular e originou-se da crença
de que os fenômenos observados seriam provocados por espíritos
de desencarnados, por duendes, demônios ou outros seres incorpóreos.
Modernamente, há uma apreciável parcela de parapsicólogos
que atribui a determinadas pessoas vivas a origem dos fenômenos
de poltergeist. Tais indivíduos, denominados epicentro, seriam
dotados de excepcional faculdade psicogenética. Em certas ocasiões,
essa faculdade se exaltaria em virtude de algum trauma emocional e
extravasaria suas energias em forma de ação física
sobre os objetos de suas adjacências.
Uma das características do poltergeist seria a repetição
periódica dos mesmos fenômenos. Em razão disso,
e tendo em vista a sua suposta causa psicogenética, os modernos
parapsicólogos passaram a designar os fenômenos de poltergeist
pela sigla RSPK, da expressão em inglês: "Recurrent
Spontaneous Psychokinesis" (psicocinesia recorrente
espontânea). Assim, eliminou-se a conotação metafísica,
segundo os parapsicólogos ortodoxos, embutida no vocábulo
popular poltergeist.
Não obstante, a palavra poltergeist ainda e muito usada para
designar os referidos fenômenos, tal a sua popularização.
Mas, para os parapsicólogos considerados ortodoxos, hodiernamente,
o termo poltergeist significa RSPK (psicocinésia espontânea)
e não a ação Espíritos brincalhões
ou seres incorpóreos.
O poltergeist do Paraguai
Em 28 de julho de 1972, o periódico
de notícias da colônia japonesa, Jornal Paulista, publicou
uma reportagem do jornalista Kazunari Akaki, a respeito de um poltergeist
em atividade no Paraguai, próximo a cidade brasileira de Ponta
Porã. Os referidos fenômenos tiveram início em
1969 e vieram ressurgindo periodicamente ate julho de 1972, quando
houve um novo e intenso surto de atividades. (Akaki, 1972).
Esse poltergeist manifestou-se no sítio do sr. Katsumi Okabe.
Aquela propriedade media cerca de 100 hectares e estava localizada
em solo paraguaio, distante aproximadamente 20 (vinte) quilômetros
de Ponta Porã. Os fenômenos constituirá-se, inicialmente,
em movimento, sobretudo "apports", de objetos
os mais diversos. A natureza dos objetos transportados variava desde
pedras de diferentes tamanhos, pneus de caminhão, pedaços
de trilhos de aço, carrinhos de mão, rolos de arame,
latas, garrafas etc., ate aves (dois papagaios que se achavam encerrados
em gaiolas).
O poltergeist do Paraguai (como o designamos comumente) e um dos mais
estranhos da nossa coleção. Suas características
principais consistem no seguinte:
Sua atividade quase não cessava, permanecendo praticamente
dia e noite. Notava-se apenas redução irregular de suas
atividades, por pequenos intervalos de tempo, durante os quais ocorriam
algumas quedas de pedra, sumiços de objetos etc.
A família do proprietário, sr. Katsumi Okabe, trabalhava
no cultivo da terra, em plantação de tomates e outros
tipos de hortaliças. As vezes os tomates e pedras eram apanhados
e atirados nos trabalhadores. Um dos empregados foi atingido no pé
por uma pedrada. O ferimento mostrou-se mais ou menos grave.
Objetos pesados eram transportados de forma misteriosa do pavimento
térreo para o superior do grande barracão onde dormiam
os membros da família. A escada e a passagem que ligam os dois
pavimentos são estreitas, dando apenas para caber uma pessoa.
Entretanto, eram trasladados objetos grandes, bicicletas, rolos de
malhas de arame, sacos de mantimentos, bujões de gás,
macacos de caminhão e outros mais. Tais objetos sumiam do lugar
ocupado no piso térreo e iam aparecer no cômodo superior,
causando enorme trabalho para recolocá-los de novo nos antigos
lugares, pois a passagem pela escada não era suficiente. Tornava-se
necessário descê-los pelas janelas.
Quando o repórter do Jornal Paulista esteve naquele local,
ele fez algumas experiências para verificar a autenticidade
dos fenômenos. Entre elas, ele obteve um cadeado novo (comprado
por ele próprio) e uma corrente de ferro. Com esses utensílios,
o sr. Akaki (o repórter) prendeu dois pneumáticos a
um dos esteios do barracão, na parte do piso inferior. Assim,
os pneus ficaram fortemente acorrentados e sujeitos ao esteio pelo
robusto cadeado novo, cujas chaves foram guardadas no bolso do próprio
sr. Akaki.
O repórter saiu de perto dos pneus por uns instantes e foi
o quanto bastou para sumirem dali e aparecerem no cômodo superior.
A corrente e o cadeado não foram mais encontrados em parte
alguma. Esta "teimosia" do poltergeist em levar todos os
objetos volumosos e pesados para o cômodo superior do barracão
era uma de suas características típicas.
Outros objetos de menor porte eram conduzidos a outros lugares inimagináveis,
ou sumiam misteriosamente para reaparecerem em condições
e locais inesperados. Assim, por exemplo, balas e chocolates ganhos
pela família e doados por visitantes - entre estes o Cônsul
japonês -, depois de desaparecerem de dentro dos invólucros
intactos, surgiam a noite e durante o dia, caindo aqui e acolá
nos cômodos da casa, como se viessem do teto.
Latas de talco, garrafas de bebida, maços de fósforos,
pilhas de lanterna e outros objetos costumavam colocar-se espontânea
e inexplicavelmente sobre o tirante de madeira do telhado do barracão.
O jipão Toyota
No sítio achava-se um "jipe
Toyota", modelo grande, com carroceria coberta. Quando o jipe
era acionado e davam-se voltas com ele ao redor do barracão,
ocorria um recrudescimento dos fenômenos, talvez devido ao ruído
do motor.
Certa ocasião, o jipe estava lotado e estacionado a uma distância
de cerca de 40 (quarenta) metros da frente de uma tulha. [celeiro;
armazém produtos agrícolas] Já era noite. As
pessoas da casa e as visitas achavam-se reunidas na casa do sr. Okabe
jantando em torno de duas mesas, entre as quais havia um bujão
de gás equipado com um tubo longo, na extremidade do qual havia
um lampião. De tempos em tempos, ouvia-se o ruído de
uma ou outra pedra que inexplicavelmente surgia do ar a uma pequena
distancia do bujão e batia no mesmo. Uma das pessoas da família,
mais habituada com os fenômenos, alertou os visitantes: "isto
e sinal de que o poltergeist irá fazer alguma de suas brincadeiras...".
Não deu outra, daí a instantes todos ouviram um tremendo
barulho que assustou as pessoas ali presentes! Saíram munidos
de lanterna. Atônitos, verificaram que o enorme jipe havia sido
transportado e batera violentamente contra a tulha, vencendo os 40
(quarenta) metros que o separava daquele deposito. O trajeto era em
aclive, e o jipe estava lotado, pesando cerca de 2.500 kg! O mais
surpreendente foi o fato de não ter deixado no solo as marcas
dos pneus! Como teria transposto aquele caminho em ascensão
até a tulha? O impacto foi tão violento que uma das
pontas do forte pára-choque de aço do veículo
chegou a entortar!
De onde teria sido extraída a energia para produzir tamanho
trabalho?! O jipe estava brecado e com a primeira marcha engatada!
Ninguém ouvira qualquer ruído do motor, facilmente perceptível
no silencioso ermo daquele sítio e tão próximo
como se encontrava o veículo. Ter-se-ia dado um "apport"
semelhante ao ocorrido com os demais objetos transladados de um para
outro lugar no barracão? Mistério...
Como começou...
Segundo informações
fornecidas por pessoas do local, o sr. Katsumi Okabe teria comprado
as terras nos idos de 1962, formando seu sítio a partir dai.
Aproximadamente em 1969, um paraguaio comprou uma dúzia de
bananas e sentou-se a beira da estrada para comê-las. Depois
de haver comido uma das bananas da penca, notou que haviam desaparecido
dali duas delas. Após ter comido duas bananas, verificou que
haviam desaparecido mais quatro. Acreditando que alguém estivesse
escondido e roubado-lhe as frutas, o paraguaio tratou de esconder
consigo o resto das bananas. Ao tomar esta providência, sentiu
que lhe davam um tremendo soco nas costas, que o fez cair sem sentidos.
Na ocasião em que tal fato ocorrera, uma família paraguaia
instalada aproximadamente a meio quilometro da casa do sr. Okabe passou
a ser palco de fenômenos inusitados: as camas em que as pessoas
estavam dormindo eram levitadas e balançavam de um lado para
outro! Temerosos de serem atirados de cima de seus leitos para o solo,
os habitantes daquela casa passaram a dormir no chão sob as
camas! Mas assim mesmo não tiveram sossego, pois, a noite,
enquanto dormiam, eram empurrados para longe dos colchões.
Logo mais, os objetos da casa passaram a ser movimentados e atirados
para fora, atraindo inúmeros curiosos que vinham assistir aos
estranhos fenômenos ali em atividade.
A família paraguaia resolveu mudar-se daquela casa. Porém,
lá ficou apenas uma senhora de idade. Esta não quis
- não se sabe o porquê - deixar a casa. Ao que parece,
ela não devia estar se sentindo incomodada. Ela trabalhava
na lavoura de tomates do sr. Okabe. Entretanto, aconteceu que ela
também recebeu uma saraivada de tomates numa ocasião
em que ali se achava trabalhando. A velha ficou brava, pensando que
estava sendo vítima de uma brincadeira de mau gosto. Logo após
alguns dias, o filho e a filha do sr. Okabe também foram atingidos
por tomates e pepinos, enquanto lá se achavam trabalhando.
A referida horta de tomates distava da casa da velha paraguaia, tanto
quanto da casa do sr. Okabe. Os três pontos formam um triângulo
quase eqüilátero com cerca de 400m de lado. Era nessa
região que ocorriam os fenômenos do poltergeist. Fora
desse triangulo, não se observava nenhum fenômeno paranormal.
A mais ou menos 250m distante da casa do sr. Okabe, havia outra construção
onde residia outra família paraguaia. Ali jamais se deram fenômenos
semelhantes.
Inúmeros outros fenômenos foram registrados durante a
atividade desse poltergeist. Mas ficaremos por aqui devido as naturais
limitações de espaço disponível nestas
colunas.
Há alguma explicação?
Sim, há explicações,
mas não são unânimes, pois nem todas conseguem
satisfazer as exigências do bom senso.
A teoria mais em voga, adotada atualmente pelos parapsicólogos
considerados ortodoxos, e aceita hodiernamente como a mais correta
pela maioria dos especialistas, e aquela que atribuía um agente
humano a causa de tais fenômenos. Segundo este ponto de vista,
o poltergeist e um fenômeno provocado por vivos e não
por seres desencarnados, tais sejam: espíritos de mortos, duendes,
demônios ou algo semelhante. Portanto, no poltergeist, apenas
o agente humano denominado epicentro e o causador dos distúrbios,
ruídos, movimento de objetos ("apports"),
vozes humanas, levitações, sumiços de objetos
etc.
Vejamos as hipóteses " adhoc " necessárias
para apoiar a teoria em questão:
O epicentro provoca os fenômenos inconscientemente. Portanto,
mesmo no caso em que o epicentro se sinta apavorado com algumas das
ocorrências, ou desejando conscientemente que elas não
ocorram (casos preocupantes de parapirogênia, em que há
perigo de incêndios catastróficos, ou riscos de vida
para pessoas amadas etc.), o inconsciente da "pessoa
foco" a contrária de maneira insólita
e até desumana, agindo contra suas crenças, seus sentimentos,
seus desejos e mesmo contra seu instinto de conservação
ou de defesa de si e de sua prole. Por exemplo: nós temos ocorrências
em que o marido do epicentro (uma senhora casada) sofreu vários
cortes no rosto, provocados pelo poltergeist. Nesse mesmo caso, houve
o episodio de uma garotinha golpeada profundamente na perna. (Andrade,
1988, pp. 147-153).
O epicentro fornece ou desenvolve uma energia psicocinética
capaz de atuar sobre os objetos materiais ou controlar forças
como a eletricidade, o calor, o magnetismo, a gravidade etc. e, desse
modo, provocar os fenômenos observados nos poltergeists. Vai
além, sendo capaz, inconscientemente, de produzir o "apport",
com manifestações de transposição - pelo
menos assim parece - da matéria através da matéria.
Mencionamos como exemplo o episódio do jipão Toyota
de 2.500 kg, no poltergeist do Paraguai que ora relatamos e que teria
sido aportado a distância de 40 metros em aclive as custas da
energia do epicentro. Todavia não se observou nenhuma reação
em qualquer das pessoas presentes no local, como deveria ocorrer em
virtude do tremendo dispêndio de energia ocorrido nesse fenômeno!
Onde estaria o epicentro? Ou, se ele existia entre aquelas pessoas
- o que parece lógico -, tal agente psicocinético deveria
ter tido alguma reação. Será que o princípio
universal da conservação da energia pode ser derrogado
em um caso desses? Ou, então, o epicentro saberia, inconscientemente,
produzir a transformação de matéria em energia?
Isto e, obter reação nuclear a frio? E, depois disso,
aplicá-la no jipão da forma como ocorreu?
Poderíamos estender-nos muito mais, citando outros fatos muito
estranhos observados na nossa coleção de poltergeists,
porém pedimos licença para ficarmos por aqui.
Infelizmente, somos obrigados a confessar que, pessoalmente, ainda
não conhecemos nenhuma explicação satisfatória
para os fenômenos poltergeist.
Conclusão
Por mais atraente e mesmo erudita
ou "cientifica" que possa parecer uma hipótese
explicativa para os casos de poltergeist, não basta que ela
ofereça uma formula infalível para fazê-los cessar.
É preciso que ela ensine também como produzi-los a vontade,
pois há casos de poltergeist que costumam cessar espontaneamente,
tão misteriosamente como começaram a ocorrer.