Seu Leonídio lê uns 40
livros por ano. Dos mais diferentes gêneros. É assumidamente
um leitor compulsivo.
Não é muito! – logo
dizem, ao saberem do seu passado: no último meio século,
ele publicou, como editor, nada menos do que dois mil livros; e ainda
vendeu, ele próprio, batendo de porta em porta, ou com a ajuda
das muitas equipes que criou e liderou, milhões e milhões
deles.
Só que não foi sempre
assim.
Até os 20 anos, Leonídio
era analfabeto. Nascido em Arapiraca, no interior de Alagoas, trocou
a vida e o miserê da roça no sertão nordestino pela
cidade grande. Embalado pelo sonho de ser alguém na vida, subiu
num pau de arara e rumou em direção ao Sul Maravilha.
Logo arrumou um bico como faxineiro e tratou de ganhar alguns trocados
para não morrer de fome.
Por pura obra do acaso, foi parar no
lugar certo. Na pensão onde foi morar e trabalhar, na Praça
João Mendes, em São Paulo, o rapaz conheceu uns vendedores
de livro, de quem rapidamente ficou amigo. Ouvia seus relatos apaixonados
e os causos que contavam sobre a atividade. Soube, então, que
eles iam de casa em casa para oferecer livros, muitas vezes para gente
como ele, que também não sabia ler. De cara, se encantou!
Embora não soubesse ler ou escrever,
em pouco tempo se tornara um vendedor. Para se dar bem no negócio,
decorava os títulos e os textos contidos nas orelhas dos livros.
Para não ter erro, criou sua própria arte: declamava as
informações sobre a obra e seus autores. Estabelecia uma
empatia natural com a freguesia. Logo ficaria patente que Leonídio
era mesmo um craque no ofício, o que ele próprio descobrira
anos antes, enquanto vendia galinhas vivas penduradas no pedaço
de pau que carregava entrelaçado sobre os ombros.
Na hora de emitir o pedido de compra,
o novo vendedor não se fazia de rogado: passava a incumbência
para o freguês, inventando sempre alguma desculpa. Um dia um deles
– era um advogado que já tinha comprado muitos livros dele
– percebeu. E acabou por convencê-lo de que nunca é
tarde para ir para escola. Mas Leonídio, autodidata, acabou fazendo
diferente, do seu jeito: se alfabetizou por conta própria, lendo
placas de rua, reclames de TV e... capas de livros.
Mas nunca deixou de dar valor à
escola. Tanto é que não sossegou enquanto não viu
os seis filhos terminarem a faculdade. Outra promessa era trazer a família
para morar perto dele em São Paulo. Com o dinheiro dos livros,
ele comprou um prédio inteiro no bairro da Aclimação
– onde instalou a parentela toda e montou sua própria editora.
Entusiasta da era do conhecimento e
incansável, Leonídio Balbino sabe como poucos sobre o
poder de transformação que os livros podem ter na vida
de uma pessoa. Por isso, não se cansa de apregoar por toda parte
que as pessoas – tenham elas a idade que tiverem, e independente
de sua situação social e econômica – devem
ler, ler, ler... Sempre!
No livro autobiográfico que lançou,
O Operário do Livro, diz que, como qualquer um, também
teve seus momentos de dor e angústia. E como! Mas que conseguiu
superar todas as dificuldades da vida graças a sua vontade de
viver e à crença em si próprio.
— E aos livros! – apressa-se
em acrescentar esse operário da leitura, que, nos últimos
anos, se tornou cidadão honorário nas cidades de São
Paulo e Rio, onde também conquistou, além dos títulos
e do reconhecimento público, uma legião de amigos e fãs.