Há muito mais gente do que se
pensa que anda saindo por aí atrás de uma oportunidade
para trabalhar... de graça. São aposentados, pessoas que
nunca trabalharam fora e outros, ainda, que, embora tenham um emprego
fixo, ainda arrumam tempo para fazer algum tipo de trabalho voluntário.
É certo que se verá por
toda parte muito mais gente caridosa que está a ajudar a matar
a fome do próximo, ou a recolher donativos ou, ainda, a fazer
algum trabalho manual. Costureiras, cabelereiros, cozinheiros, instrutores
de informática, pedreiros etc. ? tem de tudo e espaço
é o que não falta para praticar qualquer tipo de boa ação,
desde que se queira.
Mas Tânia Alves Afonso enveredou-se
por outro caminho. Ouviu que podia doar algo de que gostasse muito e
que não lhe fizesse falta. Pronto! Como ela gosta muito de ler,
descobriu seu próprio jeito de fazer o bem sem olhar a quem:
alistou-se como contadora de histórias.
Passou a atuar no Hospital das Clínicas,
onde tudo acontece.Toda semana ela dedica um período do seu dia
para ler livros infantis para crianças com câncer que vivem
no local. É o caso, por exemplo, do curumim Pedro de Oliveira,
um indiozinho da tribo Xacriabá, de São João das
Missões (MG), que há anos luta contra a doença.
Entre uma e outra quimioterapia, a meninada deixa se embalar pelas fábulas
de Rapunzel, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho... e quem mais chegar.
Já as mulheres da Igreja Presbiteriana,
com a médica Silvia Pelegrino à frente, preferem ler para
os moradores do Lar dos Velhos, uma casa que abriga idosos pobres na
periferia de Ribeirão Preto (SP). Uma vez por semana, essas donas
de casa, empregadas de lojas ou escritórios e trabalhadoras da
saúde largam tudo que estão fazendo em troca de minutos
de puro deleite. Elas fazem do prazer de ler sua profissão de
fé.
- Ler faz bem pra saúde - diagnostica
a doutora, que tem constatado melhoras extraordinárias, seja
na percepção visual, emocional, seja no campo neurológico.
Já Shirley chegou a se matricular
num curso de contadores de histórias do Centro do Voluntariado.
Só para caprichar mais seu desempenho. Desde então, ela
vai, toda semana, ler para jovens e adolescentes internados no Hospital
Santa Lídia. Muitos deles jamais tiveram contato com um livro
antes. De repente, estão vivendo experiências fascinantes.
Gente como Tânia, Silvia, Shirley,
e tantas outras por aí, em geral não se dá conta
do bem que está fazendo. Mas, com um gesto simples, que nem custa
nada, ajudam a promover pequenas e grandes transformações
nas pessoas. Verdadeiras revoluções íntimas. Só
pensam em passar adiante o muito que a vida lhes deu. Não esperam
nada em troca.
Sem que também percebam, acabam
recebendo de volta, e até mais, o que generosamente doam. É
uma onda poderosa de amor, de gratidão, de respeito. Com um gesto
muito simples!
Ler para si próprio é,
sem dúvida, uma atitude de autoestima e cidadania. Porém,
ler para o outro é muito mais que isso: é um ato de amor.