História do Espiritismo e da
Psiquiatria - apresenta vários pontos de contato, mas este
tem sido um tema pouco explorado pelos historiadores.
No Brasil, particularmente, houve um acirrado, mas pouco investigado,
confronto entre psiquiatras e espíritas na primeira metade
do século XX em torno da "loucura espírita".
o objetivo deste estudo foi investigar o processo de construção
da representação da mediunidade 'enquanto loucura, aqui
definida como "loucura espírita", ou seja, como as
experiências mediúnicas espíritas passaram a ser
interpretadas pelos psiquiatras como causa e/ou manifestação
de doenças mentais.
Este estudo se concentrou no local e período onde este conflito
foi mais intenso, ou seja, no sudeste brasileiro, entre 1900 e 1950
No Brasil da primeira metade do século XX, tanto a Psiquiatria
como o Espiritismo estavam em busca de legitimação,
de seu espaço cultural, científico e institucional dentro
da sociedade brasileira. Estes dois atores sociais estavam ligados
às classes urbanas intelectualizadas e defendiam diferentes
visões e abordagens terapêuticas relacionadas à
questão da mente e da loucura. Ambos disputavam um mesmo espaço
no campo científico, cultural, social e institucional, buscando
a afirmação da própria legitimidade.
Este conflito se manifestou através de constantes embates entre
psiquiatras e espíritas. Os médicos publicaram teses,
artigos e livros no âmbito acadêmico sobre a "loucura
espírita" e a necessidade de combatê-Ia através
do controle governamental sobre os centros espíritas, proibição
da divulgação do Espiritismo, combate ao charlatanismo
supostamente praticado por médiuns, tratamento e internação
dos médiuns, considerados graves doentes mentais. Os espíritas
também publicaram livros, escreveram artigos em periódicos
espíritas, produziram uma tese em medicina (que foi reprovada)
e fundaram hospitais psiquiátricos espíritas. Os espíritas,
além de negarem ser a mediunidade uma forma ou causa.