Este trabalho aproxima as contribuições
da teoria das representações sociais e dos estudos em
memória social para a compreensão do campo religioso,
especificamente o Espiritismo, reconhecendo a importância da
recordação de personalidades para a dinâmica religiosa.
Esta pesquisa objetiva analisar o conteúdo da representação
social de perfeição, o conteúdo e estrutura da
memória de personalidades do Espiritismo e a relação
entre ambos.
Trata-se de estudo descritivo, desenvolvido em duas etapas. Participaram
75 participantes auto-declarados espíritas - 38 na primeira
etapa e 37 na segunda, sendo entrevistados 24 desses. Os participantes,
em média, possuíam 37,3 anos de idade e 16,7 anos como
espíritas. Na primeira fase aplicou-se, através da Internet,
a técnica de evocações livres com o termo indutor
"espíritos superiores", na qual os participantes
respondiam que pessoas se associavam ao termo. Na segunda, prosseguiu-se
com as evocações livres e questionário, para
caracterização dos participantes. A partir das doze
personalidades mais lembradas, realizou-se entrevista semi-estruturada,
com questões sobre características, virtudes, lembranças,
hierarquia das personalidades, e questões sobre o significado
da perfeição e como alcançá-la. Os dados
das evocações foram analisados através das técnicas
do quadro de quatro casas e construção de árvore
máxima de similitude. As entrevistas foram analisadas mediante
análise categorial temática. Assim, verificou-se que
as personalidades mais recordadas foram: Chico Xavier, Jesus, Allan
Kardec, Emmanuel, Bezerra de Menezes, Madre Teresa de Calcutá,
Joanna de Ângelis, Gandhi, André Luiz, Francisco de Assis,
Maria de Nazaré e Divaldo P. Franco.
A representação social de perfeição foi
expressa, de modo simplificado, na sentença: um caminho, difícil
e longo, em que o ser humano sai da sua condição de
inferioridade para a perfeição, através do conhecimento
(proveniente do trabalho, do estudo e do auto-conhecimento), livrando-se
do seu egoísmo e expressando o amor, tal como demonstrado e
vivido por Jesus.
Verificou-se, ainda, que essas memórias se organizam, principalmente,
em dois modelos de valores complementares no Espiritismo:
1) conhecimento, inteligência, razão, estudo, livro e
2) amor, vivência, fé, trabalho, exemplo.
Eles se constituem nas duas condições essenciais para
se alcançar essa perfeição. O primeiro modelo
está principalmente personificado na figura de Allan Kardec
e o segundo, em Jesus. Nesse sentido, o Espiritismo opera na mente
dos fiéis, uma síntese entre ambos os modelos, tendo
em Chico Xavier a personificação dessa síntese,
constituindo-se como tipo ideal de espírita.