Vejam a
tradução disponibilizada no blog:
O artigo traduzido...
Pesquisas sobre a Origem Histórica das
Especulações Reencarnacionistas dos Espiritualistas
Franceses
Pelo Exmo. senhor Alexandre
Aksakof, conselheiro imperial russo e cavaleiro da Ordem de São
Stanislas
Em vista da recente publicação das traduções
no idioma Inglês das obras de Allan Kardec, cujo volume principal,
O Livro dos Espíritos, já está esgotado,
sinto o dever de colocar diante do público inglês o
resultado de minhas pesquisas direcionadas à origem do dogma
da reencarnação. Quando o "Espiritismo",
recém batizado com esse nome, e encorpado na forma de uma
doutrina criada por Kardec, começou a se espalhar pela França,
nada me surpreendeu mais do que a divergência desta doutrina
para a do "Espiritualismo", com relação
ao ponto da reencarnação. Essa divergência era
mais estranha porque as fontes de afirmações contraditórias
sustentam ser as mesmas, ou seja, o mundo espiritual e as comunicações
dadas pelos espíritos. Como o Espiritismo nasceu em 1856
com a publicação do Livro dos Espíritos, é
claro que para resolver este enigma seria necessário começar
com a origem histórica deste livro. É notável
que em nenhuma parte, seja neste volume ou em qualquer um dos outros,
Kardec não dá sobre este assunto o menor detalhe.
E por que isso? o ponto essencial em qualquer crítica séria
está em saber, antes de mais nada, como tal livro veio a
surgir?
Como eu não vivo em Paris, era difícil para mim obter
as informações necessárias; tudo o que eu poderia
saber era que uma certa sonâmbula, conhecida pelo nome de
Celina Japhet, havia contribuído largamente
para o trabalho, mas que tinha morrido já a algum tempo.
Durante a minha estadia em Paris em 1873, disse a um amigo Espiritualista
sobre o meu arrependimento em não ter encontrado esta sonâmbula
ainda em vida, ao que ele respondeu que ele também tinha
ouvido dizer que ela estava morta, mas duvidava que esta informação
fosse verdadeira; aliás, ele tinha motivos para supor que
isto era apenas um boato espalhado pelos Espíritas, e que
seria melhor se eu fizesse uma investigação pessoal.
Ele me deu um endereço antigo da senhora Japhet, e quão
grande foi minha surpresa e alegria em encontrá-la em perfeita
saúde! Quando eu lhe disse da minha surpresa, ela respondeu
que não era novidade para ela, pois os espíritas estavam
realmente fazendo-a passar por uma pessoa morta. Aqui está
a essência da informação que ela me forneceu.
A senhora Celina Bequet foi uma sonâmbula
natural desde seus primeiros anos. Aos dezesseis ou dezessete anos
de idade, enquanto ainda residia com os seus pais em Paris, ela
teria sido mesmerizada pela primeira vez por Ricard, e três
vezes ao todo. Em 1841 ela estava vivendo nas províncias,
quando foi atacada por uma grave doença; tendo perdido o
movimento das pernas, ela ficou de cama por vinte e sete meses;
mais tarde, tendo perdido toda a esperança de alívio
por meio da medicina, ela foi mesmerizada e posta para dormir por
seu irmão; então, prescritos os recursos necessários,
e após o tratamento durante seis semanas, ela saiu da cama
e pode caminhar com o auxílio de muletas, que ela era obrigada
a usar durante onze meses. Finalmente, em 1843, já tinha
recuperado totalmente a sua saúde.
Em 1845 ela foi para Paris em busca do senhor Ricard, e acabou conhecendo
o senhor Roustan na casa de senhor Millet, um magnetizador. Ela
tomou, então, por motivos familiares, o nome de Japhet, e
tornou-se uma sonâmbula profissional sob o controle do senhor
Roustan, e permaneceu nessa posição até meados
de 1848. Ela deu, sob seu novo nome, conselhos médicos, sob
a orientação espiritual de seu avô, que tinha
sido um médico, e também de Hahnemann e de Mesmer,
de quem ela recebeu um grande número de comunicações.
Dessa forma, portanto, em 1846 a doutrina da reencarnação
foi dada a ela pelos espíritos de seu avô, Santa Teresa
e outros. (Como os poderes sonambúlicos da senhora Japhet
foram desenvolvidos sob a influência magnética do senhor
Roustan, é interessante observar aqui que ele próprio
acreditava na pluralidade das existências terrestres. Veja
Sanctuaire du Spiritualisme de Cahagnet - Paris, 1850 -
página 164: datado em 24 de agosto de 1848.)
Em 1849, senhora d'Abnour, em seu retorno da América, quis
formar um grupo para estudar os fenômenos espirituais, de
que tinha sido recentemente uma testemunha. Para este propósito,
ela convidou o senhor de Guldenstubbe, a pessoa por quem o senhor
Roustan e Celina Japhet foram convidados a se tornarem membros de
seu círculo espírita. (Veja a edição
alemã de Pneumatologie Positive do Barão
de Guldenstubbe-Stuttgart, 1870 - página 87). Este círculo
também teve a filiação de Abbé Chatel
e das três Demoiselles Bauvrais, e consistia, ao todo, de
nove pessoas. Este círculo se reunia uma vez por semana na
casa da senhora Japhet, Rue des Martyrs, 46; mais tarde, quase até
a época da guerra de 1870, ele se reunia duas vezes por semana.
Em 1855, o círculo era composto das seguintes pessoas: senhor
Tierry, senhor Taillandier, senhor Tillman, senhor Ramón
de la Sagia (já morto), os senhores Sardou (pai e filho),
senhora Japhet, e senhor Roustan, que continuou como membro da mesma
até meados de 1864. Eles começaram fazendo uma corrente,
a moda americana, sob a forma de uma ferradura, rodeando a senhora
Celina, e obtiveram fenômenos espirituais mais ou menos notáveis;
mas rapidamente a senhora Celina desenvolveu a psicografia, e foi
através desse canal que a maior parte das comunicações
foram obtidas.
Em 1856, ela conheceu o senhor Denizard Rivail,
apresentado pelo senhor Victorien Sardou. Ele correlacionou os materiais
por uma série de perguntas, organizou o conjunto de forma
sistematizada, e publicou O Livro dos Espíritos,
sem nunca ter mencionado o nome da senhora C. Japhet,
embora três quartos deste livro tenham sido dados por meio
de sua mediunidade. O restante foi obtido a partir de comunicações
através da senhora Bodin, que pertencia
a um outro círculo espírita. Ela não é
mencionada senão na última página do primeiro
número da Revista Espírita, onde, em consequência
do número de reprovações que foram dirigidas
a ele, faz, então, uma breve menção a ela.
Como ele também estava vinculado a um jornal importante,
o L'Univers, ele publicou seu livro com os nomes que ele
teria tido em suas duas existências anteriores. Um destes
nomes era Allan - revelado a ele pela senhora Japhet - e o outro
nome, Kardec, foi revelado a ele pelo médium Roze.
Após a publicação do Livro dos Espíritos,
que Kardec nem sequer presenteou a senhora Japhet com um exemplar,
ele deixou o círculo e organizou um outro em sua própria
casa, sendo o senhor Roze o médium. Assim que ele saiu, ele
se apoderou de um conjunto de manuscritos que tinha levado da casa
da senhora Japhet, e se deu o direito de um editor por nunca tê-lo
devolvido. Para os inúmeros pedidos de devolução
que foram feitos a ele, ele contentou-se em responder: "Deixe-a
ir na lei contra mim". Estes manuscritos foram, em certa medida,
útil para a elaboração do Livro dos Médiuns,
cujo conteúdo, como diz a senhora Japhet, havia sido obtido
através das comunicações mediúnicas.
Seria essencial para completar este artigo rever as idéias
sobre a preexistência e sobre a reencarnação
que estiveram fortemente em voga na França, pouco antes de
1850. Um resumo destas pode ser encontrado na obra do senhor Pezzani,
Pluralidade das Existências. As obras de Cahagnet
também devem ser consultadas. Como agora estou longe da minha
biblioteca, é impossível para mim dar as referências
exatas.
Além do exposto, detalhes complementares sobre a origem de
O Livro dos Espíritos, e os diferentes pontos de
conexão, podem e devem ser obtidos a partir de testemunhas
vivas para lançar luz sobre a concepção e o
nascimento deste livro, como a senhora Japhet, senhora de Guldenstubbe,
senhor Sardou, e o senhor Taillandier. Este último continua,
até o presente momento, trabalhando com a senhora Japhet
como uma médium; ela ainda está na posse de seus poderes
sonambúlicos, e continua dando consultas. Ela se auto sugestiona
para dormir por meio de objetos que tinham sido magnetizados pelo
senhor Roustan. Penso que é um dever aproveitar esta ocasião
para testemunhar a excelência de sua lucidez. Eu perguntei
a ela sobre mim, e ela me deu a informação exata tanto
de uma doença localizada quanto de meu estado geral de saúde.
Agora, não é surpreendente que esta pessoa notável,
que tanto fez para o Espiritismo francês, esteja vivendo inteiramente
desconhecida por vinte anos, e nenhuma notícia ou observação
tenha sido feita sobre ela? Ao invés de ser o centro das
atenções do público, ela é totalmente
ignorada; na verdade, eles a enterraram viva! Esperemos que uma
devida reparação seja feita um dia. O "Espiritualismo"
pode, neste caso, oferecer um nobre exemplo para o "Espiritismo".
*
Vamos voltar à questão da reencarnação.
Deixo isso para os críticos ingleses tirarem as suas conclusões
a partir dos fatos que desvendei por meio das minhas pesquisas,
por mais incompletas que sejam; Não vou lançar mais
do que as seguintes idéias: a de que a propagação
desta doutrina por Kardec era uma questão de forte predileção
é fato e desde o início a reencarnação
não tem sido apresentada como um objeto de estudo, mas como
um dogma. Para sustentar que ele sempre teve o recurso de médiuns
escreventes, que, como é sabido, se deixam levar tão
facilmente pela influência psicológica das idéias
preconcebidas; e o Espiritismo engendrou isto em profusão;
e que através de médiuns de efeitos físicos
as comunicações não são apenas mais
objetivas, mas sempre contrárias à doutrina da reencarnação.
Kardec adotou o plano de sempre depreciar esse tipo de mediunidade,
alegando como pretexto a sua inferioridade moral. Assim, o método
experimental é completamente desconhecido pelo Espiritismo;
por vinte anos, não fez o menor intrínseco progresso,
e se manteve na completa ignorância quanto ao Espiritualismo
anglo-americano! Os poucos médiuns franceses de efeitos físicos
que desenvolveram seus poderes, apesar de Kardec, nunca foram mencionados
por ele na Revue; eles permanecem quase desconhecidos para os espíritas,
e simplesmente porque seus espíritos não apóiam
a doutrina da reencarnação! Por exemplo, Camille Bredif,
um muito bom médium de efeitos físicos, ficou famoso
apenas em conseqüência de sua visita a São Petersburgo.
Não me lembro de ter visto alguma vez na Revue Spirite a
menor atenção a ele, menos ainda qualquer descrição
das manifestações produzidas em sua presença.
Conhecendo a reputação do senhor Home, Kardec fez
várias propostas para trazê-lo para seu lado; fez duas
entrevistas com ele para esta finalidade, mas como o senhor Home
lhe disse que jamais os espíritos que se comunicaram através
dele, aprovaram a idéia da reencarnação, daí
em diante ele o ignorou, desvalorizando, assim, as manifestações
que se produziam em sua presença. Tenho sobre este assunto
uma carta do senhor Home, embora neste momento não está
ao meu alcance.
Concluindo, é mesmo necessário ressaltar que tudo
o que eu tenho aqui afirmado não afeta a questão da
reencarnação, considerando apenas os seus próprios
méritos, mas apenas diz respeito às causas da sua
origem e da sua propagação como Espiritismo.
Chateau de Krotofka, Rússia, 24 de julho de 1875
[* O endereço da senhora Japhet
é Paris, Rue des Enfants Rouges, G.]
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