Espiritualidade e Sociedade





Alexandre Aksakof

>    Pesquisas sobre a Origem Histórica das Especulações Reencarnacionistas dos Espiritualistas Franceses

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Alexandre Aksakof
>   Pesquisas sobre a Origem Histórica das Especulações Reencarnacionistas dos Espiritualistas Franceses

 


- Conforme publicação no blog de Vital Cruvinel, o artigo abaixo foi publicado pelo embaixador e professor russo Alexandre Aksakof em 1875 no periódico 'The Spiritualist Newspaper' de Londres.

 

- título original:
RESEARCHES ON THE HISTORICAL ORIGIN OF THE REINCARNATION SPECULATIONS OF FRENCH SPIRITUALISTS


O autor

O pesquisador russo Alexandre Aksakof, na época com 43 anos, formado a mais de 20, já estava consagrado como um especialista em fenômenos psíquicos tendo traduzido obras de Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis. Era respeitado por sua posição de conselheiro imperial russo. Estava há pouco mais de um ano como editor do periódico alemão Psychische Studien. Mas, somente mais tarde, 18 anos depois, ele viria a publicar a sua mais famosa obra Animismo e Espiritismo.


O periódico

O artigo foi publicado no influente semanário britânico The Spiritualist (ou The Spiritualist Newspaper) que permaneceu em circulação de 1869 a 1881. Era editado por W. H. Harrison e fazia parte da British National Association of Spiritualists que mais tarde se tornou a Society for Psychical Research.

 

Vejam a tradução disponibilizada no blog:

O artigo traduzido...

Pesquisas sobre a Origem Histórica das Especulações Reencarnacionistas dos Espiritualistas Franceses

Pelo Exmo. senhor Alexandre Aksakof, conselheiro imperial russo e cavaleiro da Ordem de São Stanislas

Em vista da recente publicação das traduções no idioma Inglês das obras de Allan Kardec, cujo volume principal, O Livro dos Espíritos, já está esgotado, sinto o dever de colocar diante do público inglês o resultado de minhas pesquisas direcionadas à origem do dogma da reencarnação. Quando o "Espiritismo", recém batizado com esse nome, e encorpado na forma de uma doutrina criada por Kardec, começou a se espalhar pela França, nada me surpreendeu mais do que a divergência desta doutrina para a do "Espiritualismo", com relação ao ponto da reencarnação. Essa divergência era mais estranha porque as fontes de afirmações contraditórias sustentam ser as mesmas, ou seja, o mundo espiritual e as comunicações dadas pelos espíritos. Como o Espiritismo nasceu em 1856 com a publicação do Livro dos Espíritos, é claro que para resolver este enigma seria necessário começar com a origem histórica deste livro. É notável que em nenhuma parte, seja neste volume ou em qualquer um dos outros, Kardec não dá sobre este assunto o menor detalhe. E por que isso? o ponto essencial em qualquer crítica séria está em saber, antes de mais nada, como tal livro veio a surgir?

Como eu não vivo em Paris, era difícil para mim obter as informações necessárias; tudo o que eu poderia saber era que uma certa sonâmbula, conhecida pelo nome de Celina Japhet, havia contribuído largamente para o trabalho, mas que tinha morrido já a algum tempo. Durante a minha estadia em Paris em 1873, disse a um amigo Espiritualista sobre o meu arrependimento em não ter encontrado esta sonâmbula ainda em vida, ao que ele respondeu que ele também tinha ouvido dizer que ela estava morta, mas duvidava que esta informação fosse verdadeira; aliás, ele tinha motivos para supor que isto era apenas um boato espalhado pelos Espíritas, e que seria melhor se eu fizesse uma investigação pessoal. Ele me deu um endereço antigo da senhora Japhet, e quão grande foi minha surpresa e alegria em encontrá-la em perfeita saúde! Quando eu lhe disse da minha surpresa, ela respondeu que não era novidade para ela, pois os espíritas estavam realmente fazendo-a passar por uma pessoa morta. Aqui está a essência da informação que ela me forneceu.

A senhora Celina Bequet foi uma sonâmbula natural desde seus primeiros anos. Aos dezesseis ou dezessete anos de idade, enquanto ainda residia com os seus pais em Paris, ela teria sido mesmerizada pela primeira vez por Ricard, e três vezes ao todo. Em 1841 ela estava vivendo nas províncias, quando foi atacada por uma grave doença; tendo perdido o movimento das pernas, ela ficou de cama por vinte e sete meses; mais tarde, tendo perdido toda a esperança de alívio por meio da medicina, ela foi mesmerizada e posta para dormir por seu irmão; então, prescritos os recursos necessários, e após o tratamento durante seis semanas, ela saiu da cama e pode caminhar com o auxílio de muletas, que ela era obrigada a usar durante onze meses. Finalmente, em 1843, já tinha recuperado totalmente a sua saúde.

Em 1845 ela foi para Paris em busca do senhor Ricard, e acabou conhecendo o senhor Roustan na casa de senhor Millet, um magnetizador. Ela tomou, então, por motivos familiares, o nome de Japhet, e tornou-se uma sonâmbula profissional sob o controle do senhor Roustan, e permaneceu nessa posição até meados de 1848. Ela deu, sob seu novo nome, conselhos médicos, sob a orientação espiritual de seu avô, que tinha sido um médico, e também de Hahnemann e de Mesmer, de quem ela recebeu um grande número de comunicações. Dessa forma, portanto, em 1846 a doutrina da reencarnação foi dada a ela pelos espíritos de seu avô, Santa Teresa e outros. (Como os poderes sonambúlicos da senhora Japhet foram desenvolvidos sob a influência magnética do senhor Roustan, é interessante observar aqui que ele próprio acreditava na pluralidade das existências terrestres. Veja Sanctuaire du Spiritualisme de Cahagnet - Paris, 1850 - página 164: datado em 24 de agosto de 1848.)

Em 1849, senhora d'Abnour, em seu retorno da América, quis formar um grupo para estudar os fenômenos espirituais, de que tinha sido recentemente uma testemunha. Para este propósito, ela convidou o senhor de Guldenstubbe, a pessoa por quem o senhor Roustan e Celina Japhet foram convidados a se tornarem membros de seu círculo espírita. (Veja a edição alemã de Pneumatologie Positive do Barão de Guldenstubbe-Stuttgart, 1870 - página 87). Este círculo também teve a filiação de Abbé Chatel e das três Demoiselles Bauvrais, e consistia, ao todo, de nove pessoas. Este círculo se reunia uma vez por semana na casa da senhora Japhet, Rue des Martyrs, 46; mais tarde, quase até a época da guerra de 1870, ele se reunia duas vezes por semana. Em 1855, o círculo era composto das seguintes pessoas: senhor Tierry, senhor Taillandier, senhor Tillman, senhor Ramón de la Sagia (já morto), os senhores Sardou (pai e filho), senhora Japhet, e senhor Roustan, que continuou como membro da mesma até meados de 1864. Eles começaram fazendo uma corrente, a moda americana, sob a forma de uma ferradura, rodeando a senhora Celina, e obtiveram fenômenos espirituais mais ou menos notáveis; mas rapidamente a senhora Celina desenvolveu a psicografia, e foi através desse canal que a maior parte das comunicações foram obtidas.

Em 1856, ela conheceu o senhor Denizard Rivail, apresentado pelo senhor Victorien Sardou. Ele correlacionou os materiais por uma série de perguntas, organizou o conjunto de forma sistematizada, e publicou O Livro dos Espíritos, sem nunca ter mencionado o nome da senhora C. Japhet, embora três quartos deste livro tenham sido dados por meio de sua mediunidade. O restante foi obtido a partir de comunicações através da senhora Bodin, que pertencia a um outro círculo espírita. Ela não é mencionada senão na última página do primeiro número da Revista Espírita, onde, em consequência do número de reprovações que foram dirigidas a ele, faz, então, uma breve menção a ela. Como ele também estava vinculado a um jornal importante, o L'Univers, ele publicou seu livro com os nomes que ele teria tido em suas duas existências anteriores. Um destes nomes era Allan - revelado a ele pela senhora Japhet - e o outro nome, Kardec, foi revelado a ele pelo médium Roze.

Após a publicação do Livro dos Espíritos, que Kardec nem sequer presenteou a senhora Japhet com um exemplar, ele deixou o círculo e organizou um outro em sua própria casa, sendo o senhor Roze o médium. Assim que ele saiu, ele se apoderou de um conjunto de manuscritos que tinha levado da casa da senhora Japhet, e se deu o direito de um editor por nunca tê-lo devolvido. Para os inúmeros pedidos de devolução que foram feitos a ele, ele contentou-se em responder: "Deixe-a ir na lei contra mim". Estes manuscritos foram, em certa medida, útil para a elaboração do Livro dos Médiuns, cujo conteúdo, como diz a senhora Japhet, havia sido obtido através das comunicações mediúnicas.

Seria essencial para completar este artigo rever as idéias sobre a preexistência e sobre a reencarnação que estiveram fortemente em voga na França, pouco antes de 1850. Um resumo destas pode ser encontrado na obra do senhor Pezzani, Pluralidade das Existências. As obras de Cahagnet também devem ser consultadas. Como agora estou longe da minha biblioteca, é impossível para mim dar as referências exatas.

Além do exposto, detalhes complementares sobre a origem de O Livro dos Espíritos, e os diferentes pontos de conexão, podem e devem ser obtidos a partir de testemunhas vivas para lançar luz sobre a concepção e o nascimento deste livro, como a senhora Japhet, senhora de Guldenstubbe, senhor Sardou, e o senhor Taillandier. Este último continua, até o presente momento, trabalhando com a senhora Japhet como uma médium; ela ainda está na posse de seus poderes sonambúlicos, e continua dando consultas. Ela se auto sugestiona para dormir por meio de objetos que tinham sido magnetizados pelo senhor Roustan. Penso que é um dever aproveitar esta ocasião para testemunhar a excelência de sua lucidez. Eu perguntei a ela sobre mim, e ela me deu a informação exata tanto de uma doença localizada quanto de meu estado geral de saúde. Agora, não é surpreendente que esta pessoa notável, que tanto fez para o Espiritismo francês, esteja vivendo inteiramente desconhecida por vinte anos, e nenhuma notícia ou observação tenha sido feita sobre ela? Ao invés de ser o centro das atenções do público, ela é totalmente ignorada; na verdade, eles a enterraram viva! Esperemos que uma devida reparação seja feita um dia. O "Espiritualismo" pode, neste caso, oferecer um nobre exemplo para o "Espiritismo". *

Vamos voltar à questão da reencarnação. Deixo isso para os críticos ingleses tirarem as suas conclusões a partir dos fatos que desvendei por meio das minhas pesquisas, por mais incompletas que sejam; Não vou lançar mais do que as seguintes idéias: a de que a propagação desta doutrina por Kardec era uma questão de forte predileção é fato e desde o início a reencarnação não tem sido apresentada como um objeto de estudo, mas como um dogma. Para sustentar que ele sempre teve o recurso de médiuns escreventes, que, como é sabido, se deixam levar tão facilmente pela influência psicológica das idéias preconcebidas; e o Espiritismo engendrou isto em profusão; e que através de médiuns de efeitos físicos as comunicações não são apenas mais objetivas, mas sempre contrárias à doutrina da reencarnação. Kardec adotou o plano de sempre depreciar esse tipo de mediunidade, alegando como pretexto a sua inferioridade moral. Assim, o método experimental é completamente desconhecido pelo Espiritismo; por vinte anos, não fez o menor intrínseco progresso, e se manteve na completa ignorância quanto ao Espiritualismo anglo-americano! Os poucos médiuns franceses de efeitos físicos que desenvolveram seus poderes, apesar de Kardec, nunca foram mencionados por ele na Revue; eles permanecem quase desconhecidos para os espíritas, e simplesmente porque seus espíritos não apóiam a doutrina da reencarnação! Por exemplo, Camille Bredif, um muito bom médium de efeitos físicos, ficou famoso apenas em conseqüência de sua visita a São Petersburgo. Não me lembro de ter visto alguma vez na Revue Spirite a menor atenção a ele, menos ainda qualquer descrição das manifestações produzidas em sua presença. Conhecendo a reputação do senhor Home, Kardec fez várias propostas para trazê-lo para seu lado; fez duas entrevistas com ele para esta finalidade, mas como o senhor Home lhe disse que jamais os espíritos que se comunicaram através dele, aprovaram a idéia da reencarnação, daí em diante ele o ignorou, desvalorizando, assim, as manifestações que se produziam em sua presença. Tenho sobre este assunto uma carta do senhor Home, embora neste momento não está ao meu alcance.

Concluindo, é mesmo necessário ressaltar que tudo o que eu tenho aqui afirmado não afeta a questão da reencarnação, considerando apenas os seus próprios méritos, mas apenas diz respeito às causas da sua origem e da sua propagação como Espiritismo.

Chateau de Krotofka, Rússia, 24 de julho de 1875

[* O endereço da senhora Japhet é Paris, Rue des Enfants Rouges, G.]

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* na página de origem da publicação no blog, há interessantes comentários do artigo feitos pelo editor do blog e tradutor do artigo Vital Cruvinel
- link :
http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2010/03/uma-controversia-em-detalhes.html


Fonte:

http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2010/03/uma-controversia-em-detalhes.html



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