Yuri Elias
Gaspar
> Voluntariado numa instituição espírita
6º ENLIHPE - Investigando relações
entre voluntariado e contexto sociocultural numa instituição
espírita - YURI ELIAS GASPAR - aconteceu em SP em agosto de 2010
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Resumo: Inserindo-nos no debate atual
sobre o voluntariado e os movimentos culturais que o propõem,
objetivamos comprender como a estruturação do contexto
sociocultural de uma instituição espírita articula-se
ao modo como o trabalho voluntário é ali desenvolvido
e discutir a metodologia que permite captar essa articulação
em seus elementos essenciais. Quanto à configuração
do contexto sociocultural investigado, apreendemos a íntima relação
entre seu caráter religioso e assistencial; o incentivo a que
o voluntário priorize a pessoa em todas as suas ações;
a fundamentação no Evangelho tomado à luz da Doutrina
Espírita; a valorização da formação
adequada e da disciplina na sistematização das atividades.
A preocupação com o rigor alia-se à abertura para
compartilhar a totalidade da vida. Quanto à metodologia empregada,
encontramos na Fenomenologia Clássica a possibilidade de apreender
o dinamismo característico da relação entre voluntariado
e contexto sociocultural preservando sua complexidade e unidade. Adotamos
como estratégia de coleta de dados a observação
participante de cunho etnográfico, para apreender elaborações
pessoais e coletivas do mundo-da-vida; e a realização
de entrevistas semi estruturadas, para colher a vivência de voluntariado
dos sujeitos. Na análise dos dados, buscamos explicitar a dinâmica
de articulação das vivências, de modo a compreender
e comunicar a estruturação da realidade social da intituição
pesquisada. Como conclusão, destacamos a importância de
investigar o voluntariado em seu contexto sociocultural considerando
a experiência de quem trabalha, o que requer um olhar capaz de
colher os elementos essenciais tanto da elaboração da
pessoa quanto do mundo-da-vida por ela compartilhado.
Investigar o tema voluntariado tem se mostrado tarefa
complexa e árdua. A começar pelo próprio termo
"voluntariado". Seria essa a expressão ideal? Ou seria
"trabalho voluntário"? Ou "caridade"? Ou
"solidariedade"? Ou "filantropia"? Ou "assistência
social"? Ou "Terceiro Setor"? Cada uma dessas expressões
carrega diferentes conotações e desdobramentos, os quais
não se desvinculam de quem as propõe, de como propõe
e de que pressupostos adota para propor. Dada a atualidade da discussão
em torno da significação do voluntariado situado em um
determinado contexto, vários são os estudos acadêmicos
que se debruçam sobre o tema partindo da realidade brasileira.
Dentre tais estudos, emergem investigações que dão
visibilidade a movimentos culturais que há muito propõem
o voluntariado, em que se destaque o Movimento Espírita (Giumbelli
1998; Sampaio, 2010).
Essa discussão, oriunda de um plano teórico,
ganha nova consistência ao nos aproximarmos da experiência
de pessoas que trabalham voluntariamente numa instituição
espírita. Atuando ao lado delas e estando atentos aos seus gestos
e palavras, as questões que nos provocam levam-nos a problematizar
imbricações entre o contexto e os sujeitos da experiência.
Sob uma perspectiva, é o próprio contexto
sociocultural dessa instituição religiosa que nos interroga,
fazendo emergir em nós o interesse por adentrar a particularidade
de sua dinâmica concreta de forma a colher o modo vivo como é
proposto, o campo de possibilidades por ele aberto para os sujeitos
que o compõem. Visto sob outro ângulo, esse mesmo interesse
tem como foco os sujeitos, os "voluntários" cuja experiência
pessoal nos solicita: como eles se posicionam diante do que lhes é
proposto cotidianamente por esse contexto sócio-cultural?