Brasil registra 11 mil casos de suicídio
por ano, diz Ministério da Saúde
Levantamento aponta que metade das tentativas ocorre por intoxicação

Depressão e transtornos mentais estão
fortemente associados ao suicídio
por Natália Cancian
O Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio
em 2016, o equivalente a 31 casos por dia. Os dados, que representam
um aumento de 2,3% em relação ao ano anterior, fazem
parte do novo boletim epidemiológico do Ministério
da Saúde que foi divulgado nesta quinta-feira (20).
Veja
aqui como prevenir o suicídio.
O governo, porém, estima que o número
real de casos seja maior devido à subnotificação
nos registros. “Estimamos um subdiagnóstico de 20%
de mortes por suicídio. Temos ainda mortes que são
classificadas como de intenção não determinada,
e não sabemos se foi um acidente ou uma tentativa de suicídio
que levou à morte”, afirma a diretora de vigilância
de doenças e agravos não transmissíveis, Fátima
Marinho.

Momentos de isolamento e crise médica
requerem atenção médica imediata
Essa é a segunda vez que os dados nacionais
sobre suicídio são divulgados pelo Ministério
da Saúde. A primeira foi em 2017, quando foram registrados
11.178 casos no país, referentes a 2015.
O objetivo é alertar para a necessidade de
discutir o problema e alternativas de prevenção.
Em 2016, a taxa de mortalidade por suicídio
no Brasil foi 5,8 casos a cada 100 mil habitantes. Para comparação,
em 2007, esse índice era de 4,9 mortes a cada 100 mil habitantes
—um aumento de 18%.

Transtornos mentais alteram a química
do cérebro e podem causar disfunção na liberação
de neuorotransmissores específicos
Abuso de substâncias químicas
é um fator de risco para suicídio, e podem levar à
depressão e esquizofrenia
Essa é a segunda vez que os dados nacionais
sobre suicídio são divulgados pelo Ministério
da Saúde. A primeira foi em 2017, quando foram registrados
11.178 casos no país, referentes a 2015.
O objetivo é alertar para a necessidade de
discutir o problema e alternativas de prevenção.
Em 2016, a taxa de mortalidade por suicídio
no Brasil foi 5,8 casos a cada 100 mil habitantes. Para comparação,
em 2007, esse índice era de 4,9 mortes a cada 100 mil habitantes
—um aumento de 18%.

“É um importante problema de saúde
pública, não só no Brasil como no mundo. E
temos visto um aumento, o que traz a necessidade de discutir o tema
e os vários determinantes que levam ao sofrimento na população”,
afirma a diretora.
Ela lembra que a taxa de mortalidade tem sido maior
entre homens, grupo que apresentou crescimento de 28% na taxa de
mortalidade em dez anos. Atualmente, a taxa de mortalidade entre
esse grupo é de 9,2 casos a cada 100 mil habitantes. Já
entre as mulheres, a taxa é de 2,4 a cada 100 mil habitantes.
Quando observadas as tentativas de suicídio, mulheres são
maioria.
Segundo Marinho, a pasta pretende aprofundar os
estudos sobre fatores de risco. Entre alguns deles, estão
o desemprego e casos de violência contra as mulheres. "Desemprego
tem sido um fator de risco nas tentativas, apesar de o sistema reportar
mal esse status. Mas, entre os casos que captamos, ele desponta
como fator associado", afirma. "Também vemos que
as mulheres vítimas de violência têm risco muito
maior."

INTOXICAÇÕES
Dados de boletins epidemiológicos da pasta dos últimos
dez anos também alertam para a necessidade de novas medidas
de prevenção. Nesse período, cerca de metade
das tentativas de suicídio no país foram por intoxicações
exógenas, como envenenamento, abuso de substâncias
e outros meios.
O aumento nessas ocorrências preocupa autoridades
de saúde. Em 2016, ano dos números mais recentes,
foram 36.279 tentativas de suicídio por intoxicação.
No ano anterior, eram 27.072.
As regiões com maior número de ocorrências
foram o Sudeste, com 49% dos casos, seguido do Sul, com 25,1%, região
que também concentra a maior taxa de suicídios do
país. Entre as tentativas de suicídio por intoxicação,
70% eram de mulheres, a maioria jovens. Para Marinho, isso pode
ser explicado pela maior prevalência de casos de depressão
e outras formas de sofrimento mental entre esse grupo. Casos de
violência e estupro também aparecem como fatores.
Apesar das mulheres responderem pela maioria das
tentativas, dados mostram que a letalidade é maior entre
homens –4,7% daqueles que tentaram suicídio por intoxicação
foram à morte. Entre as mulheres, esse índice é
de 1,7%. De acordo com o ministério, a diferença pode
estar associada ao uso de substâncias mais tóxicas.
Em geral, os homens são maioria quando observados
os casos de intoxicação por agrotóxicos e outros
venenos, por exemplo. Para Marinho, os dados evidenciam a necessidade
do governo adotar novas medidas de controle.
Em média, o Brasil registra 12 mil internações
por ano por intoxicação intencional, com custo estimado
de R$ 3 milhões ao ano. Com o mesmo valor, seria possível
custear o funcionamento de oito Caps (centros de atenção
psicossocial). “Temos que olhar mais para a intoxicação
exógena. Acreditamos que podemos tomar novas medidas [para
evitar esses casos]”, afirma Marinho.
Entre as ações em análise,
está a possibilidade de editar uma norma, em conjunto com
a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),
para maior restrição ao acesso e adoção
de embalagens maiores para produtos como agrotóxicos e outros
venenos. “Uma das possibilidades é aumentar o tamanho
das embalagens para que ela fique mais cara e difícil de
acessar”, diz a diretora, que estima subnotificação
de 40% nos casos de intoxicação por agrotóxicos.
Entre os estados, Sergipe, Ceará e Goiás
são aqueles com maiores taxas de suicídio por intoxicação
exógena. Também chama a atenção o aumento
na mortalidade por suicídio em alguns estados, como Amazonas,
Rondônia, Alagoas, Maranhão e Piauí.
Governo quer aumentar ações em estados
com grande aumento de registros
Segundo o coordenador de saúde mental do
ministério, Quirino Cordeiro, a pasta deve lançar
em outubro um edital público para novas pesquisas sobre o
tema. Também há previsão de aumentar o número
de Caps e de redes de atenção psicossocial nestes
locais, informa.
No último ano, 109 Caps foram habilitados
no país, segundo a pasta. O governo também pretende
aumentar o número de leitos psiquiátricos em hospitais
gerais. Questionado, Cordeiro diz que ainda não há
uma meta prevista, mas que o número atual é "insuficiente".
Desde julho deste ano, as ligações
para o CVV (Centro de Valorização da Vida), que atua
na prevenção ao suicídio, passaram a ser gratuitas
em todo o país. O serviço está disponível
por meio do telefone 188. Todas as ligações são
sigilosas. “É importante que a sociedade como um todo
diminua o preconceito e o estigma sobre isso”, diz Cordeiro.