O livro de Catherine Nixey, uma professora
de estudos clássicos que se tornou escritora e jornalista,
teve grande repercussão na Europa e Estados Unidos.
O choque entre a ordem clássica e o cristianismo
é uma história de assassinato e vandalismo forjado
pelo fanatismo religioso, evocando paralelos modernos

A jornalista e escritora esteve esteve em Lisboa para o lançamento
deste livro, que aborda o lado menos conhecido do “triunfo
cristão”
Lançado em Portugal com o título de
“A Chegada das Trevas: Como os Cristãos
Destruíram o Mundo Clássico” narra
como o triunfo do cristianismo num mundo pagão não
se fez sem uma bela dose de opressão e destruição
dos antigos cânones.
Reportagem do The Guardian inicia-se desta forma:
"O teólogo", escreveu Edward Gibbon
em seu clássico A História do Declínio
e Queda do Império Romano ,“Pode entregar-se à
agradável tarefa de descrever a religião quando ela
desceu do céu, vestida com sua pureza nativa. Um dever mais
melancólico é imposto ao historiador. Ele deve descobrir
a inevitável mistura de erro e corrupção, que
ela contraiu em uma longa residência na Terra, entre uma raça
fraca e degenerada de seres. ”Gibbon era filho do Iluminismo
europeu, e ele via sua tarefa como historiador dos primeiros tempos.
O cristianismo é como um cientista desapaixonado: ver as
coisas como elas são, e não como os piedosos gostariam
que fossem. As conclusões a que chegou foram, talvez inevitavelmente,
controversas em sua época. O império romano pré-cristão,
acreditava ele, era caracterizado pela “harmonia religiosa”,
e os romanos estavam mais interessados no bom governo do que na
imposição da ortodoxia religiosa em seus muitos assuntos.
Uma característica distintiva do cristianismo primitivo,
em contraste, era para Gibbon seu “zelo exclusivo pela verdade
da religião”, uma obsessão intermitente e intolerante
que foi bem-sucedida pela intimidação e pelo bullying
e promoveu uma classe de místicos de olhos arregalados. De
fato, o fanatismo cristão foi, em última análise,
responsável pela queda do império romano, criando
cidadãos desdenhosos de seu dever público."
Esse espírito permeia o livro de Catherine Nixey.

Vejam abaixo a entrevista dela
para a jornalista MARIANA MADRINHA
- https://ionline.sapo.pt/ -
Catherine Nixey não esconde o
fascínio que nutre pela Antiguidade Clássica, principalmente
pelo período tardio. Filha de um ex-monge e de uma ex-freira,
criada num ambiente católico, acabou por ir para Cambridge,
onde se formou em Estudos Clássicos. Durante vários
deu aulas, mas acabou por se tornar jornalista no “The Times”.
Durante todo este tempo, não parou de reunir informação
para o livro.
O título é, de certa forma,
bastante dramático. Foi fácil para si chegar a esta
fórmula ou é suposto chocar?
Ah, estou a ver. De uma certa forma soa mais chocante
porque a ênfase está colocada nos cristãos e
na destruição cristã. O livro refere-se a um
determinado ponto da História, não quer dizer que
eles tenham destruído tudo. Só que o mundo clássico
foi destruído e alguma dessa destruição foi
feita às mãos dos cristãos. Sou filha de um
ex-monge e de uma ex-freira e para mim foi chocante quando comecei
a ler essa parte da História. Não está muito
estudado, não há muito para ler sobre esse período.
Os cristãos suprimiram tanto a literatura que 90% de toda
a literatura clássica foi perdida.
E quando se confrontou com isto, quando
começou a interessar-se por este período?
Quando estava na universidade. Fui educada de uma
forma católica, fui estudar os clássicos e a minha
mãe sempre me tinha ensinado que os cristãos preservaram
o mundo clássico, o conhecimento, falando-me dos monges virtuosos
- os copistas - que se dedicaram a escrever a história para
que não fosse perdida. Quando fui para Cambridge e comecei
a estudar percebi que o processo não podia ter sido assim
tão suave. E, claro, não foi: os cristãos odiavam
todo o sexo, a diversão, as bebedeiras, os deuses, a homossexualidade.
Odiavam a filosofia, Santo Agostinho escreveu sobre isso: todas
aquelas vozes, quem estaria certo?
Sentiu que tinha sido, de alguma forma,
induzida em erro?
Não pela minha mãe, mas pelo que aprendi
na escola, claro que senti! Só ouvimos uma versão.
A História é escrita pelos vencedores, e a vitória
cristã foi absoluta. Hoje há dois mil milhões
de cristãos no mundo e não há uma única
pessoa realmente pagã. A história da cristianização
da Europa foi contada quase inteiramente a partir de fontes cristãs,
fontes simpáticas. No passado, chegou a escrever-se sobre
a destruição dos templos por parte dos cristãos,
mas isso ficou fora de moda, a sociedade deixou de querer ouvir
falar sobre isso.
Mas primeiros os romanos perseguiram os
cristãos.
Temos esta ideia de que os romanos eram obcecados
pelos cristãos, que os queriam tirar completamente de cena,
e isso não pode estar mais longe da realidade. Muitas vezes,
os cristãos pediam para ser mortos porque era uma forma de
chegarem ao céu, de serem vistos como mártires. E
os governadores romanos ficavam intrigados com isto, haver alguém
que quisesse morrer voluntariamente. Havia um desejo muito, muito
forte na cristandade pela vida que estava para vir, pelo martírio.
Havia grupos de homens que cometiam suicídio porque pensavam
que as recompensas pelo martírio eram mil vezes melhores
do que podiam experienciar em vida, e pensavam que dessa forma não
só chegariam ao céu como seriam as melhores pessoas
de lá e ainda famosos na terra.
E os romanos não conseguiam compreender
esses pensamentos?
Não. Pensavam: “Mas o que estás
a fazer, por que estás a desperdiçar a tua vida?”.
Desprezavam os homens que faziam isto. Usavam barba, vestes pretas,
eram pouco educados.
A estátua que aparece na capa foi
destruída em Palmira, certo?
Não, esta é uma Afrodite que foi destruída
em Atenas. É interessante porque lhe fizeram esta cruz na
testa, o que não era habitual. O mais normal era cortarem
o nariz, destruírem os olhos - como também lhe fizeram.
Atacaram a beleza dela, e isto é um ponto importante: os
cristãos não gostavam de nudez, tinham medo do sexo,
que era visto como um pecado, como algo malévolo. E portanto
não gostavam de coisas que o celebrassem - e Afrodite é,
como sabemos, o símbolo de tudo isso. Havia imensas estátuas
dela nua nas termas e foi uma das divindades mais atacadas, porque
para a nova religião não era suposto haver a exposição
do corpo despido. Neste caso a cruz era para afastar um demónio,
era uma forma de a batizarem.
Também faziam o mesmo a estátuas
masculinas?
Sim, cortavam os pénis, a cara também
era danificada - a Apolo, outro símbolo da beleza, aconteceu
bastante, era uma forma de conter a sua sexualidade.
Uma das primeiras histórias no livro
passa-se em Palmira, por volta de 385 d.C. Hoje estamos a ver a
história a repetir-se?
É difícil não ver paralelos.
No meu livro escrevo sobre essa estátua de Atena que é
atingida com tanta força com uma espada que é decapitada
por um grupo de cristãos. Depois ainda lhe arrancam os braços.
Os arqueólogos encontraram as diversas partes e reconstituíram-na.
Depois veio o Daesh e, em 2015, vimos fotografias do que fizeram
em Palmira. E o que foi? Cortaram a cabeça e os braços
à mesma estátua - exatamente as mesmas feridas. Em
ambos os casos é porque acham que o símbolo malévolo
que Atena representa deve ser destruído.
Os livros de história falam muitas
vezes de um triunfo cristão e uma das coisas que explica
no seu livro é que o verdadeiro triunfo à maneira
romana era uma aniquilação total.
Hoje em inglês a maneira como usamos a palavra
triunfo é sempre positiva, e nos tempos romanos era um termo
preciso e absolutamente militar que significava, primeiro, que se
tinha morto um certo número de oponentes. Mas também
era uma celebração da repressão, com todos
os despojos, com a exibição dos líderes conquistados
agrilhoados a que se seguiam execuções - e tudo isto
significava que se tinha esmagado o inimigo. Quando falamos do triunfo
cristão temos que ter em conta também essa imagem,
e não apenas o sentimento simpático que hoje associamos
à palavra triunfo. Era uma vitória militar em que
os inimigos eram esmagados e muitas vezes aniquilados - mas os cristãos
não mataram os pagãos, pelo menos no início,
e merecem créditos por isso. Mas tiraram-lhes as posses,
humilharam-nos, apagaram o conhecimento. Pilharam e destruíram
os templos e substituíram os líderes religiosos pagãos
por padres.
Essa apropriação de que fala
- e também a destruição - não é,
de todo, uma invenção cristã e ao longo da
História sucessivas religiões e tribos adotaram esse
tipo de comportamentos. Estou a lembrar-me de um exemplo português
em que uma vila romana foi destruída, não por cristãos,
mas por suevos e visigodos: Conímbriga.
Sim, isto foi comum. Contudo os cristãos
foram diferentes por dois motivos: a primeira, é que o fizeram
com tanto sucesso que nos esquecemos completamente que houve sequer
alguma oposição a esta a apropriação;
e a segunda é que a História hoje diz que toda a gente
estava disposta a aceitar esta mudança, que todos o queriam.
E isso não é verdade. Nos livros é contado
que o domínio cristão foi uma libertação
- e mesmo agora, os livros escritos em Inglaterra no século
XXI chamam a este período “o fim da perseguição”.
Não foi - nessa altura, no máximo, 10% do império
era cristão. E em pouco mais de 120 anos já não
havia mais não-cristãos. Com exceção
dos judeus, viram-se livres de todas as outras religiões.
Havia 60 milhões de pessoas neste império, todos se
converteram em pouco mais de cem anos - isto não acontece
porque és simpático...
Foi uma guerra metafísica?
Sim, uma guerra do bem contra o mal de certa forma.
Os genuinamente cristãos acreditavam que apenas os cristãos
estavam a salvo, mas não foi só metafísica,
também foi terrena. Constantino, o primeiro imperador cristão,
antes de ter tido uma visão da cruz tinha tido uma visão
de Apolo. E converteu-se ao cristianismo não por dizer “uau,
Jesus!”, mas porque queria ganhar uma guerra! Os biógrafos
dele escreveram isto - que ele sabia que não tinha tropas
suficientes e para agregar o império vira-se para o Deus
cristão e... vence, porque havia soldados cristãos
a travar uma guerra.
Nas cruzadas, ver-se-á o mesmo fenómeno.
Exatamente. Exércitos de cristãos
numa guerra de conversão. Mas antes disto, como estávamos
a falar, houve também a tal guerra metafísica entre
o bem e o mal, em que os cristãos acreditavam que o seu dever
era livrar do mal e dos demónios todos os pagãos,
convertê-los através de todos os meios que conseguissem.
Acreditavam que estes atos eram legítimos porque estavam
a salvar estas pessoas de morrer acreditando no ‘lado mau’,,
o que faria com que ficassem eternamente no inferno a ser torturados.
Essa guerra metafísica era assente
também em palavras?
Um ponto que está sempre a aparecer neste
livro é a virtude das muitas vozes - e pensamentos - daquele
tempo [da Antiguidade Clássica]. Na Grécia, os filósofos
eram famosos pelas suas discussões. Em Roma, a mesma coisa,
mas ninguém chegava ao ponto de acreditar que podia esmagar
os pensamentos de outro. Havia pessoas em Roma que eram muito religiosas,
ao lado de outras que achavam que a religião era lixo, uns
que acreditavam na vida depois da morte, filósofos que diziam
que isso era um disparate. Uns que acreditavam que éramos
unicamente feitos de átomos e que, por isso, não havia
nenhum Deus criador. E todas estas ideias conseguiam sobreviver
até chegar uma ideia que as varre e passa a ser só
permitido pensar de uma forma.
Os cristãos também se apropriaram
do calendário pagão, por exemplo, na data de celebração
do Natal. Vê isto como mais uma forma de supremacia ou acha
que foi um ato de respeito?
Acho que foi pragmatismo. Os grandes festivais pagãos
eram divertidos, não havia como dar volta a isso, pelo que
foram essas as datas escolhidas para o Natal assim como para a Páscoa
e as festividades de Ano Novo.
Como é que os seus pais, que já
pertenceram à estrutura da Igreja, receberam o seu livro?
A minha mãe morreu há muitos anos,
o meu pai gostou. Não conhecia grande parte dos factos, o
que, pelo percurso dele, me surpreendeu. Ele foi um monge beneditino
- uma ordem mais liberal, com muita educação, que
circulava livremente.
Ainda é católico?
Não, deixou de acreditar de todo.
Escrever um livro deste género deve
ser duplamente difícil - primeiro por causa das falta de
fontes; e por outro lado há a supremacia milenar da Igreja.
Sentiu estas dificuldades, recebeu alguma crítica mais dura?
Não fico chateada com as críticas
- faz parte. As críticas tornam os autores melhores. Mas
sim, quem me dera que houvesse mais fontes! Quando lemos sobre o
império romano desde 100 a.C. até por volta de 180
d.C. há tanta coisa. Depois chegamos a este ponto e é
um vazio, foi quase tudo perdido.
No livro cita, por exemplo, São Crisóstomo,
que deixou escritos a gabar-se de que todos os manuscritos dos filósofos
gregos tinham sido apagados - e que isso hoje é uma fonte
para o que aconteceu.
E Santo Agostinho também, o que é
deveras chocante. Eles genuinamente odiavam os filósofos,
especialmente os tais que defendiam que éramos feitos de
átomos. A filosofia pagã era uma ameaça real
porque descrevia a mensagem cristã como lixo, pelo que eles
ficaram encantados quando foi destruída.
Se parar para pensar num monge hoje, a primeira
imagem que vem à sua cabeça é a de um guardião
do conhecimento ou a de alguém que o apagou?
Essa é uma boa questão. Posso responder
os dois? Acho que são os dois, duas faces - uma que preservou,
a outra, a dos palimpsestos [manuscritos medievais reescritos].
Consegue imaginar um mundo sem estes acontecimentos,
onde pensa que a humanidade estaria, por exemplo, no campo científico?
Sempre me perguntei isso. Por um lado é impossível
não pensar que estaríamos mais desenvolvidos cientificamente.
Por outro, quem sabe se não destruiríamos o mundo
três séculos mais cedo com as alterações
climáticas? (risos). Se pensarmos em todas as pessoas que
passaram tantas e tantas horas a estudar e a dedicar-se à
teologia cristã e, intelectualmente, o que teriam feito se
não tivesse havido este domínio de pensamento...
Foi difícil encontrar um equilíbrio
entre o rigor dos factos e uma escrita que fosse apelativa ao leitor?
Acho que devia aos leitores a civilidade de não
escrever um livro chato. E também há outra coisa:
há uma forma covarde de escrever História que é
a seguinte: no ano 200 a.C., aconteceu isto, no ano 50 d.C. aconteceu
aquilo e por aí fora. E isto parece absolutamente verídico,
indiscutível. Mas 200 a.C. nunca se chamou assim - tudo o
que se escreve na História foi fabricado através de
um ponto de vista tardio, muito posterior ao próprio acontecimento.
O que quero dizer é que tentei ligar os factos de uma maneira
legível. É preciso falar dos sentidos e não
apenas de uma lista seca de datas. Foi isso que tentei fazer e trabalhei
muito para encontrar dados para isso. Quão escuro era um
templo, quantas luzes tinha, a que cheirava... E de repente esse
mundo torna-se vivo.
E como preencheu esses espaços em
branco, usando a sua imaginação?
Não - em cada descrição concreta
que faço, tenho uma nota de rodapé a explicar de onde
veio. Cada vez que digo que em sítio x cheirava assim, usei
uma fonte. Por exemplo, descrevo que em Alexandria havia brisas
refrescantes e há duas fontes que dizem que a cidade foi
especificamente construída para as proporcionar aos habitantes,
e quando digo que a cidade era de um branco ofuscante não
são palavras minhas, são de um historiador da época
que a descreveu assim. Veio tudo de fontes históricas.
Qual foi o monumento ou o bem destruído
que mais a chocou?
A grande biblioteca de Alexandria. Foi uma dupla
destruição. Quando um bispo mandou destruir o lindo
templo de Serápis, o que restava da biblioteca - que se guardava
dentro do templo - foi atrás.
Se entrasse numa máquina do tempo,
seria a biblioteca de Alexandria o local que gostaria de visitar?
Definitivamente. Eles tinham a ambição
de colecionar todos os livros, escritos em qualquer parte do mundo,
que traduziam e guardavam. Foi a primeira a ter uma tradução
em grego do Antigo Testamento: estavam abertos a todo o tipo de
conhecimento, queriam perceber tudo. E, a partir daí, só
se passaram a guardar os livros que não perturbassem as mentes
cristãs.
Encontrou cristãos que, à
época, estavam preocupados com a destruição
do património?
Sim, em Espanha, por exemplo, foi descrito que os
ornamentos das cidades romanas estavam a ser destruídos e
que isso tinha que parar porque as cidades começavam a parecer
pilhadas, e foram os próprios cristãos que o disseram.
Nesses casos, em vez de destruírem os templos removeram as
estátuas dos velhos deuses e encheram-nas de cruzes.
Que mensagem gostaria que as pessoas retirassem
do seu livro?
Somos muito críticos de outras religiões,
vemos hoje a violência religiosa e parece-nos chocante, mas
esquecemo-nos de que a Europa, a par dos ensinamentos de amor cristãos,
também foi fundada com violência, repressão.
Gostava de lembrar as pessoas de que os romanos eram muito mais
liberais do que pensamos hoje em dia. E que antes do monoteísmo
havia o pluralismo, que hoje é visto quase como uma desordem
moderna. Antes de o cristianismo dizer que havia apenas um caminho,
havia pessoas que diziam continuamente: “Mas o que importa?
Vivemos todos os dias com o mesmo céu”.
Fonte: https://ionline.sapo.pt/614885
Recomendamos a leitura da reportagem sobre
o livro publicada no The Guardian:
(trecho)
Este também é, no entanto, um livro
para o século XXI. O que dizia respeito a Gibbon era o choque
entre fé e razão; para Nixey, os confrontos são
físicos. Isto é, fundamentalmente, um estudo da violência
religiosa. Sua capa mostra uma estátua de Athena deliberadamente
danificada: seus olhos foram arranhados e seu nariz esmagado, e
uma cruz foi gravada em sua testa. A história dessa desfiguração
é contada em seu prólogo e reprisada em suas últimas
palavras. Os eventos aconteceram em Palmyrano final do século
IV, quando alguns dos magníficos templos da cidade do oásis
foram reaproveitados como locais de culto cristão. Sua escolha
de começar em Palmyra é, naturalmente, cuidadosa.
Quando ela fala da destruição causada pela arquitetura
da cidade síria por “fanáticos barbudos e vestidos
de preto”, o leitor não pensa em saqueadores fundamentalistas
cristãos do século IV, mas em imagens de televisão
da história recente.
(...)
Ainda mais do que a violência física,
é a devastação cultural que chama a atenção
de Nixey. No início do livro, ela descreve como foi educada
em sua juventude para pensar nos cristãos do final da antiguidade
e medieval como curadores esclarecidos da herança clássica,
copiando textos e poemas filosóficos ao longo dos tempos
para que fossem salvos do esquecimento. Seus pontos de vista nesta
matéria evidentemente mudaram um pouco com o tempo. Neste
livro, os primeiros cristãos são muito mais propensos
a fechar as academias, fechar templos, pilhar e destruir obras de
arte, proibir práticas tradicionais e queimar livros. Em
vez de elogiar os cristãos por preservarem as lascas da sabedoria
clássica, ela argumenta que devemos reconhecer o quanto foi
conscientemente apagado.
(...)
... este livro não pretende ser uma história
abrangente do cristianismo primitivo e seu relacionamento complexo
e aguerrido com o império romano, e seria injusto julgá-lo
contra esse objetivo. É , ao contrário, uma polêmica
revigorante, finamente elaborada, contra o resiliente mito popular
que apresenta a cristianização de Roma como o triunfo
de uma política mais gentil e gentil. Nesses termos, consegue
brilhantemente.
- leiam no link
- https://www.theguardian.com/books/2017/dec/28/the-darkening-age-the-christian-destruction-of-the-classical-world-by-catherine-nixey
- Leiam também a resenha do livro
no The New York Times - How Christians
Destroyed the Ancient World
-
https://www.nytimes.com/2018/06/08/books/review/catherine-nixey-darkening-age.html