26/12/2015
Teólogo
medieval antecipou teoria cosmológica atual
Com informações da New Scientist

A coincidência entre a cosmologia atual e
o modelo proposto por Robert Grosseteste em 1225 é impressionante
- e leva aos mesmos gargalos.
[Imagem: Tom C. B. McLeish et al.]
Honrando os mestres
Os cientistas gostam de chamar a Idade
Média de "era da escuridão", "noite medieval"
e outras denominações pouco elogiosas.
Em contraposição, com
o declínio do paradigma religioso em termos de explicação
da natureza, emergiu a "idade das luzes", esta capitaneada
pelos próprios cientistas.
Obviamente que a ciência moderna
surgiu nos ombros dos pioneiros medievais, uma herança que não
pode ser esquecida sob pena de negligenciar a coragem e o heroísmo
desses pioneiros - ainda que o fato de que grande parte deles tenha
pago com a vida seu amor pelo conhecimento torne compreensível
o medo inconsciente que leva à tentativa dos cientistas atuais
em apartar-se dessa época.
O restabelecimento desses laços
agora ganhou uma nova força: uma das principais teorias cosmológicas
da atualidade foi redescoberta em um autor medieval - e mais, ela está
inspirando os cientistas atuais a melhorarem suas próprias teorias.
Quando físicos traduziram um
texto em latim do século 13, e transformaram suas afirmações
em equações matemáticas, eles descobriram que um
teólogo inglês previu a ideia dos multiversos em 1225.
A descoberta do momento, que envolve
a detecção de ondas gravitacionais e a comprovação
da inflação cósmica, apoia justamente a ideia dos
multiversos.
Cosmologia medieval
Tom McLeish e seus colegas da Universidade
de Durham, no Reino Unido, desenvolveram equações a partir
do tratado De Luce - Sobre a Luz - escrito pelo teólogo medieval
Robert Grosseteste.
"Nós tentamos traduzir
matematicamente o que ele disse em palavras em latim," disse
McLeish.
"Então você tem um conjunto de equações
que podem ser inseridas no computador e resolvidas. Estamos explorando
matematicamente um novo tipo de universo, que é o que os teóricos
das cordas fazem o tempo todo. Apenas estamos sendo teóricos
das cordas medievais."
Grosseteste vinha estudando as obras
então recém-redescobertas de Aristóteles, que explicou
o movimento das estrelas incorporando a Terra em uma série de
nove esferas celestes concêntricas.
As coincidências das suas conclusões
com a teoria cosmológica contemporânea são estarrecedoras.
No tratado Sobre a Luz, Grosseteste
propôs que o universo concêntrico começou com um
flash de luz, que empurrou tudo a partir de um ponto minúsculo,
formando uma grande esfera.
E as similaridades continuam: Grosseteste
propõe que a luz e a matéria são intimamente relacionadas
- essencialmente acopladas.
Quando o pulso inicial de luz-matéria
em expansão alcançou uma densidade mínima, o universo
entrou no que ele chamou de um estado perfeito e parou de se expandir.
Esta esfera perfeita emitiu então uma forma diferente de luz,
que ele chamou de lúmen, que se propagou para dentro varrendo
a matéria "imperfeita", comprimindo-a como um floco
de algodão.
A região menos densa de
luz-matéria que restou pode então chegar ao seu estado
perfeito e cristalizar-se em uma nova esfera embutida na primeira, que
emitiria então seu próprio lúmen. Este processo
se repetiu até que restou apenas um núcleo de matéria
imperfeita, que por sua vez deu origem à Terra.

O reconhecimento da grandiosidade da ideias
do autor medieval pode ser uma forma de reatar os laços dos cientistas
acadêmicos modernos com seus mestres.
[Imagem: Tom C. B. McLeish et al.]
Cosmologia moderna
Traduzindo tudo isso em números,
a equipe de McLeish descobriu que o modelo resultante produz exatamente
o tipo de universo que Grosseteste estava descrevendo: esferas concêntricas
que se propagam para dentro.
Isso é análogo à
maneira como os cosmólogos modernos usam observações
da radiação cósmica de fundo - que eles descrevem
como um eco do Big Bang - para testar modelos matemáticos do
Universo, incluindo um período de rápida expansão
chamada inflação cósmica.
Mais do que isso, o universo de Grosseteste
prevê uma das possibilidades mais intrigantes da cosmologia do
Big Bang: o multiverso.
Os modelos cosmológicos atuais
só batem com as observações se certos parâmetros
assumirem valores específicos - se as forças que mantêm
a matéria coesa fossem apenas ligeiramente mais fortes ou mais
fracas, por exemplo, o universo não se pareceria em nada com
o que observamos hoje.
Os cosmólogos chamam isso de
"problema do ajuste fino" (ou da sintonia fina), e uma maneira
de resolvê-lo é dizer que deve haver um número infinito
de universos, em que todos os resultados são possíveis.
Apenas vivemos em um deles porque acontece
de ele ser bem adequada à nossa vida - ou vice-versa, ou algo
parecido.
De forma semelhante, o resultado
do modelo de Grosseteste depende do seu estado inicial: mude a maneira
como a luz e a matéria se acoplam, e você obtém
um número diferente de esferas.
Humildade
Grosseteste aparentemente não
percebeu que poderia haver muitos universos - ou, pelo menos, isso não
está em seu tratado.
"Mas o que as pessoas daqui a
800 anos vão pensar sobre os pressupostos que fazemos hoje?
Há um pouco de humildade em perceber que estamos limitados
por aquilo que podemos ver e pelo que nós não podemos
ver," disse McLeish.
Ou seja, embora gostemos de acreditar
que houve um grande progresso no conhecimento desde a Idade Média,
talvez seja mais sábio concentrarmo-nos no longo caminho que
temos pela frente para entender este Universo - e os outros, se eles
realmente existirem.
Bibliografia:
A Medieval Multiverse: Mathematical Modelling of the 13th Century Universe
of Robert Grosseteste
Richard G. Bower, Tom C. B. McLeish, Brian K. Tanner, Hannah E. Smithson,
Cecilia Panti, Neil Lewis
Proceedings of the Royal Society A
Vol.: 507, 161-163
DOI: 10.1038/507161a
http://arxiv.org/abs/1403.0769
History: A medieval multiverse
Tom C. B. McLeish, Richard G. Bower, Brian K. Tanner, Hannah E. Smithson,
Cecilia Panti, Neil Lewis, Giles E. M. Gasper
Nature
Vol.: 507, 161-163
DOI: 10.1038/507161a
Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=teologo-medieval-antecipou-teoria-cosmologica-atual&id=010130140321#.Vn5fiBtIiHs
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