08/07/2015
por MICHAEL PAULSON
WEST CHICAGO, Illinois
- O tom do culto foi determinado logo em seu início, quando numa
prece o pastor avisou que aquele era "um dia sombrio". No
sermão, um salmo de lamentação foi comentado. Antes,
o pastor lera uma nota anunciando que os decanos e funcionários
da igreja estavam "profundamente tristes".
No centro de Chicago, como em várias outras cidades dos EUA,
o domingo de 28 de junho foi de festa, já que a tradicional celebração
anual do orgulho gay acontecia dois dias após a Suprema Corte
legalizar o casamento homossexual em todo o território norte-americano.
No entanto, na Igreja Bíblica Wheaton, congregação
evangélica suburbana que atrai cerca de 2.600 fiéis em
cinco cultos aos fins de semana, o dia era de tristeza.
"Vim com uma grande sensação
de pesar, por causa do que aconteceu na sexta", disse o pregador
Lon Allison aos fiéis, antes de ler o comunicado em que declarava:
"Não podemos aceitar ou aderir a qualquer redefinição
legal, política ou cultural do matrimônio bíblico,
nem vamos realizar ou endossar cerimônias [com pessoas] do mesmo
sexo."
A mudança dramática
na opinião pública, e agora na legislação
americana, deixou os evangélicos, que compõem cerca de
um quarto da população dos EUA, em uma posição
desconfortável.
Fora de sintonia com a sociedade em geral, e muitas vezes ridicularizados
por suas supostas posições discriminatórias ou
de ódio, muitos desses religiosos se sentem sitiados ao tentarem
vivenciar os ensinamentos bíblicos de acordo com suas convicções.
Vários deles disseram temer que um cenário de mudança
jurídica sobre os direitos dos homossexuais inevitavelmente leve
a restrições à liberdade religiosa.
No entanto, os desafios não são apenas externos. Muitas
igrejas evangélicas também enfrentam divisões internas.
Especialmente nos grandes centros urbanos e em seu entorno, os pastores
relatam que há cada vez mais cristãos assumidamente homossexuais
que optam por frequentar congregações evangélicas.
Além disso, fiéis heterossexuais passaram a confrontar
a posição das igrejas por terem parentes e amigos gays.
"Há um desejo crescente
por parte de alguns, inclusive dentro da igreja, de combinar a fé
cristã com a aceitação da prática homossexual",
admitiu a Igreja Bíblica Wheaton na sua declaração.
O resultado tem sido uma alteração
evidente no tom e na ênfase -mas não nos ensinamentos e
nas políticas- de muitas igrejas.
Quase todas as denominações evangélicas se opõem
ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, e muitas não permitem
que gays e lésbicas ocupem posições de liderança,
a menos que sejam celibatários.
Alguns pastores, no entanto, vêm minimizando sua pregação
sobre o assunto ou abordando-o de forma cuidadosamente contextualizada,
enfatizando que todos são pecadores e que os cristãos
devem amar e acolher a todos.
"Os evangélicos
estão percebendo que têm uma visão minoritária
dentro da cultura e que, nessa questão específica, perderam
a vantagem de jogar em casa", disse Ed Stetzer, diretor-executivo
da empresa de opinião pública LifeWay Research, que
faz pesquisas com os evangélicos.
"Eles estão aprendendo a falar com graça e jovialidade,
o que os evangélicos tendiam a não fazer quando a visão
deles era majoritária."
Várias igrejas evangélicas
já mudaram de posição. É o caso da Igreja
da Cidade, em San Francisco, que revogou a exigência de celibato
para gays e lésbicas que desejem se afiliar. Já na Igreja
Ponto da Graça, do Tennessee, agora os homossexuais podem assumir
posições de liderança e receber o sacramento do
matrimônio.
No entanto, mesmo numa época em que a maioria dos americanos
- incluindo católicos e protestantes brancos de denominações
tradicionais - apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apenas
27% dos evangélicos apoiam essa essa ideia, segundo o Centro
de Pesquisas Pew.
"Não é porque
é legal que significa que seja ético", disse Wilfredo
de Jesús, pastor da Igreja Aliança Nova Vida, megatemplo
da Assembleia de Deus com quase 20 mil fiéis, na Grande Chicago.
"Não vamos casar dois homens", disse De Jesús.
"Vai contra nossas crenças."
Ele, como outros entrevistados, observou que, durante mais de 2.000
anos de história cristã, as igrejas muitas vezes entraram
em desacordo com a cultura vigente.
"Estamos preparados para
ir para a cadeia ou o que vier a ocorrer, mas a igreja não
pode mudar."
Fa'Darryl Brown, 34, que é
gay e frequenta uma filial da Vida Nova em Chicago, disse que o seu
pastor descreveu a homossexualidade como um pecado, mas que ele próprio
só enxerga a questão como "algo sobre o que precisamos
concordar em discordar. Não significa que eu não possa
me sentar sob o ministério dele".
Na igreja A Capela, de Libertyville (Illinois), cujos oito templos atraem
cerca de 6.000 fiéis a cada fim de semana, o pastor Scott Chapman
disse não apoiar o casamento entre homossexuais, mas admitiu
que "temos um número significativo de pessoas em nossa igreja
com esse estilo de vida".
"Queremos ser um lugar
que ama a todos e é aberto a todo o mundo."
Depois do culto de sábado
à noite no local, o fiel Kevin Woodside, 51, disse que se sentiu
desconfortável vendo o noticiário sobre a decisão
da Suprema Corte e observando a irritação de alguns oponentes.
"É difícil
olhar para isso como uma reação cristã",
afirmou.
Na Igreja Bíblica Wheaton,
Allison disse que, naquele domingo, ao ler a declaração
que reiterava a oposição da sua igreja ao casamento homossexual,
ele olhou para a sua congregação e intuiu que 5% a 10%
dos presentes discordavam.
"Não é um
dia triste", disse um fiel, que pediu para não ser identificado
e que discordava do que um líder religioso pregava no salão
ao lado.
"É um dia feliz."
Outro disse:
"A corte tomou a decisão
certa".
Claudia Velazquez, 21, afirmou:
"Não concordo com
a legalização, mas respeito os seres humanos".
Ela acrescentou: "Afinal, [os homossexuais] também são
uma criação de Deus."
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/224860-divididos-evangelicos-abrandam-tom-sobre-casamento-gay.shtml
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