02/05/2015
Traduzido o livro de Conan Doyle sobre o espiritualismo
europeu.
- clique na imagem para ampliar -
O Professor Jáder Sampaio comentou em seu
blog "Espiritismo
Comentado - http://espiritismocomentado.blogspot.com.br"
a tradução do livro de Conan Doyle "A Terra
da Bruma" para a língua portuguesa.
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Há alguns meses meu amigo Alexandre Caroli me
sugeriu a leitura do livro “A Terra da Bruma”, que acabava
de ser publicado em língua portuguesa, depois de um século
em inglês e total desconhecimento por parte do público
espírita do nosso país. Conan Doyle ainda é conhecido
apenas como o “autor de Sherlock Holmes”, personagem que
continua estimulando filmes e séries de TV até os nossos
dias.
Os espíritas conhecem o seu História
do Espiritualismo Moderno (traduzido com o nome de História
do Espiritismo), e talvez conheçam “A Nova Revelação”,
publicado pela Federação Espírita Brasileira.
A Terra da Bruma é uma ficção com raízes
profundas na realidade. Ele gira ao redor de dois ou três personagens
que vão aos poucos conhecendo o Espiritualismo Moderno inglês
e europeu, em princípio, para escrever matérias para um
jornal. Céticos, eles vão a diversos espaços onde
a mediunidade é praticada.
Não vou falar muito do enredo, para não estragar a leitura
de quem ainda não o fez. Apenas antecipo que é diferente
do texto de suspense de Doyle. Ele parece ter escolhido instituições
e situações que desejava apresentar ao leitor e inseriu
no enredo. É um livro para quem deseja conhecer mais do espiritismo
e do espiritualismo europeus do século XIX, e não para
quem deseja um romance de suspense.
O que mais me chamou a atenção no livro são as
diferenças entre o modern spiritualism,
a cultura inglesa e o espiritismo brasileiro. Creio que é uma
leitura boa para quem já conhece bem nosso movimento espírita
e a obra de Allan Kardec. Pode gerar alguma confusão nos iniciantes
ou desconhecedores do espiritismo. Vou destacar algumas diferenças:
Mediunidade paga: o autor defende a mediunidade paga,
ao contrário de Allan Kardec, como uma forma do médium
poder se dedicar ao desenvolvimento de sua faculdade e poder atender
a um público maior de consulentes. No próprio livro, Doyle
mostra também pessoas que resolvem se fazer passar por médiuns
apenas pelo dinheiro e a ação da polícia inglesa,
implacável, mesmo com os médiuns honestos. Do pouco que
conheço da história, apesar de ficção, está
muito próxima do que realmente aconteceu na Inglaterra do início
do século XX.
Relação com padres da Igreja Anglicana:
A Igreja Católica adotou uma posição de rechaço
ao espiritismo de Allan Kardec ainda no século XIX. Conan Doyle
tem personagens que são padres, possivelmente anglicanos, e que
articulam sua fé cristã à mediunidade. Lembrei-me
de pessoas como Dale Owen, Stainton Moses e Haraldur Nielson. Qual terá
sido a posição oficial da igreja anglicana, uma vez que
o modern spiritualism é visto como uma religião pelos
ingleses?
Relações com doutrinas orientais: Doyle
apresenta ideias esotéricas e de origem oriental como aceitas
pelos espiritualistas. A doutrina das esferas celestes e a doutrina
dos sete céus (judaica, hindu e cristã medieval), por
exemplo, aparecem na boca de guias e expositores. Eliphas Levi (pseudônimo
de Papus), que chegou a ser lido pelos espíritas brasileiros
da primeira metade do século XX, é referido como uma influência
de parte do movimento inglês. Como se deu a aproximação
entre o movimento espírita francês e o movimento espiritualista
inglês com o esoterismo, a teosofia e outras doutrinas ocidentais
de influência oriental?
Interesse em fenômenos da mediunidade de efeitos físicos:
Doyle vive a época posterior às pesquisas de Crookes,
mas o Instituto Metapsíquico Internacional, criado por Jean Meyer,
está em seu auge. Gustave Geley é um dos personagens que
aparecem na trama com nome trocado, e as reuniões de materializações,
transportes, transfigurações, voz direta e outros parecem
ser comuns em círculos restritos.
Casas mal-assombradas: como não poderia passar
batido, há uma visita a uma casa mal assombrada, coisa que não
é muito valorizada hoje por aqui como objeto de discussão
pelos espíritas (exceção feita ao livro sobre Poltergeist,
escrito por Carlos A. F. Guimarães e Carlos Alberto Tinoco).
A relação do espiritualistas ingleses com os espíritos
perturbadores é muito curiosa.
Preces: As preces estão presentes nas reuniões
públicas, onde se fazia mediunidade pública, ao contrário
do que acontece hoje nos centros espíritas brasileiros. O pai
nosso aparece como uma referência cristã, mas há
preces ditadas pelos espíritos. Não me recordo de haver
lido fazerem preces espontâneas, muito comuns em nosso meio.
Maçonaria: Há uma citação
da maçonaria na página 90. Parece que havia uma proximidade
entre os maçons e os espiritualistas ingleses, assim como com
os espíritas brasileiros, na mesma época.
Mediunidade curativa: Há um relato de trabalhos
envolvendo médiuns curadores. Não me recordo de menção
à homeopatia no livro de Conan Doyle, como acontecia no movimento
espírita brasileiro daquela época.
Cientistas pesquisando fenômenos espirituais:
Conan Doyle cita em diversos momentos do texto cientistas da época
interessados nos fenômenos espirituais. Eles são quase
todos conhecidos pelo movimento brasileiro de hoje, embora estejam sendo
lidos cada vez menos. Hoje temos um pequeno número de cientistas
dedicados ao estudo da mediunidade, reencarnação, entre
outros fenômenos, embora haja um grande número de antropólogos
de franceses e brasileiros interessados no espiritismo como movimento.
Hábitos da sociedade inglesa e europeia: Alguns
hábitos dos espiritualistas ingleses nos causam hoje algum desconforto.
Frequentar sala de fumantes, discussões regadas a vinho e agressão
física a médiuns farsantes, buscando retratação
pública, certamente seriam vistos como inadequados entre nós.
O médium como pessoa, e não como santo:
Para concluir, acho a visão que Conan Doyle tem dos médiuns
muito próxima à de Kardec. Ele não os endeusa,
não os aproxima à imagem dos santos. Os médiuns
ingleses são humanos, talvez “demasiado humanos”.
Eles não leram “O evangelho segundo o espiritismo”,
nem “o livro dos médiuns”, então os personagens
não parecem se preocupar com uma transformação
moral, embora não sejam devassos. Gostei muito de uma frase que
Conan Doyle escreveu, após um personagem se incomodar com um
médium: “É preciso separar o homem, da coisa”
(pág. 241)
A Terra da Bruma
Arthur Conan Doyle
332 páginas
Zahar
2014
1ª Edição Portuguesa
Encontra-se também em formato de e-book
Fonte: http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2015/05/a-terra-da-bruma.html
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Abaixo vejam a sinopse do livro "A Terra da Bruma",
conforme publicado na Folha de São Paulo online:
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"A Terra da Bruma' marca conversão de sir
Arthur Conan Doyle ao espiritismo"
Sir Arthur Conan Doyle já conhecia o gosto da
fama quando decidiu criar um personagem tão peculiar quanto Sherlock
Holmes. A Terra da Bruma traz o cético professor George Edward
Challenger, um homem com exímias habilidades de observação
e inteligência dedutiva que, assim como o famoso detetive, só
acredita naquilo que consegue ver.
O livro é o terceiro da série protagonizada
pelo personagem e recebe tradução inédita no Brasil.
Nesta aventura, o professor aparece pouco e deixa Enid, sua filha, e
o jornalista Edward Malone no lugar de destaque.
Em "A Terra da Bruma", tudo aquilo em que Challenger acredita
é desafiado por estranhos fenômenos sobrenaturais que escapam
à compreensão da lógica. A obra questiona o universo
que o personagem conhece e marca a conversão do autor para o
espiritismo.
Abalado por uma série de infelizes acontecimentos, como o falecimento
de sua mulher, em 1906, e a perda de seu filho, Kingsley, durante a
Primeira Guerra Mundial, Doyle entrou em depressão. Com o impacto,
o autor passou a se dedicar a mudanças religiosas que experimentava
desde 1880, o que o aproximou cada vez mais do espiritismo.
Nos anos seguintes, Doyle escreveu alguns estudos a respeito: em 1919,
publicou "'A Mensagem Vital" e, em 1921, "Devaneios de
um Espírita".
Sua fé na vida após a morte se evidencia em "A Terra
da Morte". Se nos dois primeiros livros da série, "O
Mundo Perdido" e "A Nuvem da Morte", o professor Challenger
é um homem convicto de sua habilidade lógica, neste livro
ele é obrigado a analisar de perto os limites entre ciência
e religião e aceitar que a morte pode não ser a fronteira
final.
Fonte:
http://livraria.folha.com.br/livros/literatura-estrangeira/terra-bruma-arthur-conan-doyle-1268790.html?tracking_number=734
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