06/01/2015
texto e fotos
Ismael Gobbo
FOCALIZANDO O TRABALHADOR ESPÍRITA:
MARLENE ROSSI SEVERINO NOBRE

por Ismael Gobbo
A entrevistada Dra Marlene Rossi Severino Nobre é
médica, presidente da AME - Associação
Médico Espírita do Brasil e também da
AME Internacional. É a diretora do jornal Folha Espírita,
de São Paulo, capital. Dra. Marlene é viúva do
grande jornalista Dr. José Freitas Nobre que como Deputado Federal
foi um dos mais respeitados parlamentares do país. Com larga
folha de trabalho Dra Marlene continua firme e forte na sua faina de
divulgar a Doutrina Espírita pelo Brasil e pelo mundo. É
atualmente um dos mais destacados nomes do movimento espírita
internacional.
_____________
ISMAEL GOBBO.
Caríssima doutora Marlene, poderia nos fazer sua auto apresentação?
MARLENE NOBRE:
Sou Marlene Rossi Severino Nobre. Nasci em Severínia, interior
do Estado de S. Paulo, em 1937, filha de pais espíritas - Pedro
Severino Júnior e Ida Rossi Severino - desde solteiros, já
comprometidos com a Causa Espírita. Eles não se casaram
na Igreja Católica; reuniram os amigos no Centro Espírita,
no dia da bodas, para os abraços de confraternização.
Meu pai era de Monte Azul Paulista e minha mãe de Monte Verde
Paulista, ambos muito ligados a Cairbar Schutel – o baluarte do
Espiritismo da cidade de Matão, que tanta contribuição
deu e continua dando à divulgação, ao estudo e
à vivência da Doutrina em nosso país e no mundo.
E, hoje, segundo Chico Xavier, no outro plano da vida, é o responsável
pelo livro espírita no Brasil.
Minha mãe foi, aos 19 anos, ainda solteira, a mais jovem presidente
de Centro Espírita do Brasil em uma Casa construída em
Monte Verde pelo meu avô – Aristodemo Rossi. Meu tio Leonardo
Severino, irmão de meu pai, trabalhou a vida toda em favor das
obras de Matão, viajando para conseguir assinaturas do jornal
O Clarim e da Revista Internacional do Espiritismo,
ao lado de Giacomo Di Bernardo e de outros pioneiros do interior paulista.
Ainda segundo nosso amado Chico, eu me comunicava com o sr. Schutel
em Matão, antes da minha reencarnação, o que se
concretizou seis meses antes da desencarnação do nosso
amado Bandeirante do Espiritismo.
Casei-me com Freitas Nobre, em maio de 1964; tivemos dois filhos: Marcos
e Marcelo. Marcos é professor de Filosofia e Ciência Política
na Unicamp e Marcelo é advogado, fazendo parte, no momento, do
CNJ - Conselho Nacional de Justiça. Tenho uma filha pelo coração,
Marilia Oliveira Chaves, que está com 21 anos e cursa Direito.
Marcelo é casado com Monica Autran Campos Machado, minha norinha,
que é juíza federal. Tenho dois netinhos – Ana Luísa
e João Pedro – duas estrelas a iluminar e aquecer nossas
vidas.
Qual a sua trajetória acadêmica e profissional?
MARLENE NOBRE:
Sou de uma época em que o vestibular de Medicina ainda não
era unificado, por isso, tendo ficado entre os dez excedentes do Vestibular
de Medicina da Faculdade de Pinheiros (USP), fui para Ribeirão
Preto, na esperança de tentar segunda chamada por lá,
mas, em 1957, não houve, porque as vagas tinham sido todas preenchidas
na mesma época em que prestei vestibular em São Paulo.
Eu já me preparava para voltar para minha casa e fazer Biologia
na USP, Curso para o qual eu também havia feito vestibular e
passado, quando minha amiga, Maria Emilia Barboni, de Ribeirão,
me deu uma sugestão, que mudaria minha vida. Com bastante ênfase,
ela disse que eu deveria prestar vestibular de Medicina em Uberaba,
porque o curso médico era o meu ideal e não o de biologia.
Para isso, eu não deveria perder tempo, porque os exames estavam
para ocorrer por aqueles dias. Se Medicina era o meu ideal – disse
ela – eu deveria tentar. E foi de uma bondade inesquecível,
facilitando-me em tudo, passagem de ônibus, auxílio financeiro
para a pensão onde eu deveria ficar em Uberaba, além do
suporte espiritual, que só as grandes almas oferecem aos amigos.
Foi assim que iniciei o meu curso em Uberaba no final de fevereiro de
1957.
Terminei -o em dezembro de 1962, e depois fixei residência junto
aos meus pais, na Capital paulista. Fiquei de 1963 a 1967, como estagiária
do Prof. Dr. José Medina, no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia
do Hospital das Clínicas de São Paulo, depois, em 1967,
estagiei nos Hospitais Broca e Boucicault, ambos em Paris, por indicação
do nosso chefe e instrutor do HC.
Depois, a partir de 1968, fui para o Instituto de Previdência
(Inamps) onde trabalhei cerca de 30 anos na especialidade para a qual
fui mais preparada, o serviço de prevenção do câncer
em senhoras.
Estou aposentada desde 1994, porque antes da tarefa médica eu
trabalhei seis anos como funcionária do Colégio Paes Leme,
em S. Paulo, de 1950 a 1956.
Assumi em 1995 a presidência da Associação Médico-Espírita
do Brasil, acompanhando-a desde a sua fundação até
os dias de hoje. Também tomei parte na primeira Diretoria da
Associação Médico-Espírita de São
Paulo, fundada em 30 de março de 1968, da qual originaram-se
as outras AMEs, inclusive a Brasileira.
Pelo que depreendemos de resposta anterior a senhora é
uma espírita de berço...
MARLENE NOBRE:
Sim sou espírita desde o berço. Meus pais tiveram um lar
muito harmonioso. Sobretudo eles nos ensinaram o amor ao Mestre Jesus
e a Kardec. Não tinham ambição material. Eles nos
criaram dentro dos padrões da simplicidade e sempre diziam que
o único tesouro que deixariam para os oito filhos era O Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo, interpretado por Allan Kardec. Uma grande
herança também que recebemos foi a de valorizar as amizades.
Por décadas a fio, meus pais foram fiéis aos amigos, ensinando-nos
que os sentimentos de amor devem sobrepujar quaisquer outros interesses.
Certa vez, Chico me disse que, se eu fracassasse, eu não teria
perdão, porque tive pais espíritas maravilhosos. Cada
vez mais, dou razão ao Chico.
Como foi o encontro com Freitas Nobre?
MARLENE NOBRE:
Encontrei Freitas Nobre em 1962, em Uberaba, nos trabalhos da Comunhão
Espírita Cristã, quando ele realizou um grande sonho:
conhecer Chico Xavier. Isto foi possível graças ao incentivo
de nosso grande amigo, Spartaco Ghilardi, do Grupo Espírita
Batuira de São Paulo, que organizava caravanas
periódicas para visitar Chico em Uberaba. Nesta mesma caravana
de maio de 1962 estavam, entre outros, o dr Luiz Monteiro de Barros
e Apolo Oliva Filho, amigos de longa data.
Na sessão pública da qual tomaram parte, Emmanuel deu
uma mensagem especial chamada Os Pacificadores
que faria parte do livro de comemoração dos 100 anos de
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Ao final
dos trabalhos, Chico nos disse que a mensagem era dirigida ao Freitas,
e complementou dizendo que o Brasil penderia fortemente para a Esquerda,
depois para a Direita, e que, finalmente, iria para o Centro, afirmando
também que o Dr. Nobre – era assim que Chico chamava o
Freitas – desempenharia um papel muito importante na pacificação
do nosso país.
Acredito, sinceramente, que ele tenha contribuído para isso.
Em 1962, Freitas era vice-prefeito de São Paulo, governando a
cidade ao lado de Prestes Maia. Antes ele havia sido vereador da Capital
por várias legislaturas.
Casamo-nos em maio de 1964, logo após Freitas ter deixado o cargo,
já sob o jugo militar. A partir de então foram muitos
os sobressaltos sempre na expectativa da cassação dos
seus direitos políticos, o que nunca se concretizou, acreditamos,
por interferência do plano espiritual.
Desde que conheceu Chico, toda a vida política do Freitas foi
direcionada pelas cartas do Dr. Bezerra de Menezes, através do
médium. Por orientação dele, exilou-se voluntariamente
em Paris de novembro 1966 a novembro de 1967 para fazer curso de pós-graduação
em Comunicação na Sorbonne.
Em 1968, em campanha de somente 40 dias, Freitas foi eleito, com enorme
votação, deputado federal, tendo desenvolvido um trabalho
exemplar ao longo de 4 legislaturas seguidas. Foi muito importante a
sua contribuição para o MDB dos Autênticos e para
a redemocratização do país.
Como foi sua experiência como esposa do político
Freitas Nobre, de trajetória brilhante em São Paulo e
Brasília?
MARLENE NOBRE:
Felizmente, sempre me mantive na retaguarda. Nunca participei da vida
social e política de Brasília. Em 16 anos de vida parlamentar,
devo ter ido à Capital do país por duas vezes somente.
Poucos da esfera política me conheceram ou me conhecem. Freitas
nunca desejou que nos mudássemos de São Paulo e isto veio
de encontro ao meu ideal de servir à causa espírita, dentro
do pouco que tenho para oferecer. Ele passava os fins de semana conosco,
permanecendo mais tempo por aqui nas férias do Parlamento.
Em 1963, iniciamos as tarefas de assistência aos mais carentes
em Santo André e São Caetano do Sul, e, em 1966, em Diadema.
Conforme instrução do Chico, fundamos o Grupo Espírita
Cairbar Schutel. Freitas participou conosco dos primeiros tempos, logo
depois, a partir de 1968, ele tinha que estar em Brasília.
Embora saibamos ser muito extensa poderia sintetizar sua participação
no Movimento Espírita?
MARLENE NOBRE:
O Culto do Evangelho em nossa casa, feito com tanta unção
por meus pais, é uma referência inesquecível na
minha vida, uma vigorosa viga de sustentação de minha
alma carente de Espiritualidade.
Também foi um marco fundamental em minha trajetória de
vida o Grupo Espírita Conceição-Carolina,
do qual participei na minha adolescência na casa de meu avô
Aristodemo Rossi, à rua Bela Cintra, em São Paulo, dirigido
por meu pai, Pedro Severino Jr., com a participação assídua
do meu irmão Paulo Rossi Severino e de alguns conhecidos e parentes,
e que depois se transformaria no Grupo Espírita Cairbar Schutel.
De 1957 a 1962, enquanto fiz Medicina na Faculdade Federal do Triângulo
Mineiro, estive diretamente ligada ao movimento espírita em Uberaba,
particularmente aos trabalhos da Comunhão Espírita
Cristã (CEC), junto ao nosso Chico. Além das
tarefas nas sessões públicas da CEC, dei aulas de moral
cristã na Evangelização infantil do Centro Espírita
Uberabense e fiz dois programas de rádio.
De 1963 a 1991 estive mais ligada às tarefas do Grupo
Espírita Cairbar Schutel, tanto às doutrinárias
quanto às assistenciais, participando principalmente a partir
de 1977 da Creche Lar do Alvorecer. Começamos com 30 crianças
e hoje temos 230. Quase não fiz palestras nesse período,
a não ser em nosso próprio Grupo, em algumas Casas Espíritas
dirigidas por amigos e conhecidos, e em Simpósios da AME-SPaulo.
Em abril de 1974, por incentivo do nosso Chico, meu marido fundou o
jornal Folha Espírita, com o qual colaborei
desde as primeiras horas.
Em 1968, 30 de março, tivemos um marco importante com a fundação
da Associação Médico-Espírita
de São Paulo, da qual fui a primeira secretária.
Muitos colegas, dentre os quais, Luiz Monteiro de Barros, Adroaldo Modesto
Gil, Antonio Ferreira Filho, Eurico Branco Ribeiro , Maria Julia Prieto
Peres, Alberto Lyra, Miguel e Luiz Dorgan, uniram-se sob a inspiração
de Batuira e Bezerra de Menezes, através do médium Spartaco
Ghilardi, para lançar as bases do movimento médico-espírita
no Brasil.
Com a desencarnação de meu marido a 19 de novembro de
1990, fui chamada, cerca de quinze dias depois, por Dr Bezerra de Menezes
para a tarefa de aglutinar colegas e formar a AME-Brasil.
A partir daí começou uma outra etapa na minha vida, porque
fiquei mais ligada ao movimento médico-espírita, sem,
no entanto, abandonar nenhuma das tarefas a que estava anteriormente
vinculada.
Como surgiram as AME’s no Brasil e no exterior?
MARLENE NOBRE:
Em fevereiro de 1990, assumi a presidência da Associação
Médico-Espírita de São Paulo, que atravessava naquele
momento um período de muita turbulência espiritual. Chico
Xavier veio em meu auxílio, por ocasião de uma das minhas
visitas a Uberaba, dizendo-me para eu ter paciência, que o Dr.
Bezerra iria me ajudar, porque uma falange negativa havia se postado
contra a AME, tentando impedi-la de realizar importante tarefa que lhe
estava reservada dentro do movimento espírita.
No começo de 1990, dos nove elementos da Diretoria, ficamos reduzidos
a apenas dois e a freqüência não passava de meia dúzia
de colegas, se tanto. Chico foi nosso grande sustentáculo nessa
fase difícil. No final de 1990, como já me referi, dia
19 de novembro, meu marido partiu, aos 68 anos, vítima de câncer.
No início de dezembro, Dr Bezerra de Menezes conclamou-me para
a tarefa mais ampla a que Chico se referira e que só a partir
de então tomei conhecimento, a de chamar os colegas para a fundação
da Associação Brasileira que aglutinaria todas as AMEs.
E que eu deveria me empenhar para a fundação das AMEs
nos Estados, porque era chegada a hora. Disse-me o nosso Patrono que
a Associação já estava formada no coração
de Jesus e que nós precisávamos materializá-la
na Terra. E assim foi feito. Iniciamos, em 1991, com vistas à
concretização desse projeto, o primeiro Congresso da AME-São
Paulo, no Anhembi, conclamando os colegas de todos os Estados para a
fundação das AMEs. No Terceiro Congresso, em 1995, dia
17 de junho, com 9 AMEs já formadas, fundamos a AME-Brasil.
Estamos completando, em 2010, 15 anos de fundação com
40 AMEs em funcionamento. Além do nosso site (www.amebrasil.org.br)
trabalhamos agora em nossa Revista virtual, que será lançada
em comemoração aos 15 anos. Vários livros foram
publicados e outros estão sendo planejados para publicação
em breve. A cada dois anos temos o MEDNESP
– o congresso nacional que congrega todas as AMEs. O de 2011 será
em Belo Horizonte, no feriado de Corpus Christi.
Em junho de 1999, com representantes de seis países – Argentina,
Brasil, Colômbia, Guatemala, Panamá e Portugal –
fundamos a AME-Internacional.
Desde 2001, eventos são realizados com a participação
dos médicos da AME que integram os diferentes países.
Hoje, além das AMEs fundadoras, temos AME-EUA, AME-Cuba, AME-Suiça.
E outras mais em vias de fundação.
No Brasil e no exterior como vão as atividades dessas
associações?
MARLENE NOBRE:
As AMEs do exterior têm procurado realizar eventos e manter sites.
No Brasil, cada AME tem sua característica própria e se
dedica com mais afinco a determinadas tarefas. Mas todas elas são
dinâmicas e tem produzido muitos eventos, cursos, seminários,
livros, visando difundir o paradigma médico-espírita.
Em alguns Estados, há também parcerias muito interessantes
entre os centros espíritas e as AMEs com vistas às pesquisas
da Terapêutica Complementar Espírita e também em
tarefas de auxílio aos irmãos carentes.
O trabalho tem sido reconhecido pela comunidade cientifica?
MARLENE NOBRE:
Já avançamos muito, mas a mudança de paradigma
se faz de maneira lenta, gradual. Ela é, no entanto, inevitável.
A construção da Espiritualidade na Medicina veio para
ficar.
Aos poucos, os preconceitos vão sendo vencidos e os novos conceitos
passam a ser incorporados pela maioria das instituições
de saúde, beneficiando em muito a vida no planeta. Mas é
preciso paciência. E, sobretudo, tolerância e compreensão,
porque, como dizia Einstein, é mais fácil quebrar um átomo
do que um preconceito.
De que forma tem se organizado para dar conta de tantas atividades?
MARLENE NOBRE:
Tenho dois filhos maravilhosos, que respeitam o meu ideal de vida. E
o mesmo posso dizer da minha norinha e dos meus netos. O nosso entendimento
familiar me permite, hoje, ampla liberdade de agir. Aliás, sempre
usufruí de liberdade, desde que meu marido estava entre nós,
mas com a sua desencarnação, em 1990, e a emancipação
de meus filhos, é natural que eu tenha muito mais tempo hoje
para dedicar-me ao que considero meu ideal de vida.
De 1963 a 1990 dediquei-me inteiramente ao exercício da Medicina,
à minha família e às atividades do Grupo
Espírita Cairbar Schutel (GECS), tanto em Diadema
como em São Paulo, Nesse mesmo período, estive envolvida
com as tarefas da Associação Médico-Espírita
de São Paulo e as da Folha Espírita, mas nestas duas instituições,
até 1990, minhas obrigações eram menores.
A partir da desencarnação do meu marido, em 1990, passei
a ser inteiramente responsável pela Folha Espírita,
até que em 2004 um grupo de companheiros do GECS, de grande garra
e competência, assumiu comigo o ideal do nosso jornal. Também
foi a partir de 1990 que fui chamada pela Espiritualidade, em particular
pelo Dr. Bezerra de Menezes, para a formação da AME-Brasil,
o que veio a se tornar realidade em 1995. Em 2000, o Dr. Sergio Felipe
de Oliveira assumiu a AME-São Paulo, e, em 2006, foi a vez do
colega Rodrigo Bassi, que a tem dirigido com grande competência,
desde então.
Tudo se tornou bem mais amplo para mim a partir de 1999 com a fundação
da AME - Internacional e as idas freqüentes
ao exterior, desde 2001.
Tento me organizar para prosseguir com as tarefas do GECS, do Lar do
Alvorecer, da Folha Espírita, da AME-Brasil e Internacional.
E também cumprir a minha parte nos programas da rádio
Boa Nova – Diálogos Médicos – e da TV, Portal
de Luz.
Como é natural, só posso dirigir essas instituições
com a contribuição da comunicação cibernética.
Tenho de dar conta de dezenas de e-mails por dia, entrevistas, gravações
semanais, e tudo isso costurado com as minhas freqüentes viagens
de divulgação do ideal médico-espírita.
Para isso, não tiro férias, trabalho muito nos feriados,
e raramente tenho outra atividade que não seja doutrinária.
Não creio, no entanto, que esteja fazendo algo que me distinga
dos demais companheiros de ideal espírita, sinceramente, acho
que faço pouco; deveria me empenhar mais. Sempre gostei de trabalhar
e agora me sinto muito feliz, porque estou ligada ao que realmente gosto
de fazer.
Como tem sido a aceitação do trabalho da AME no
exterior?
MARLENE NOBRE:
Creio que a linguagem médico-espírita está mais
voltada ao braço científico da Doutrina, por isso tem
sido bem aceita por nossos irmãos do exterior. Todos nós
sabemos a dificuldade que é divulgar o Espiritismo em outros
países, e isto se dá principalmente porque não
há aceitação do movimento da forma como é
organizado no Brasil. Temos de compreender que são culturas diferentes.
Os europeus, por exemplo, tem desgostos profundos com seitas e religiões,
por isso são arredios a quaisquer apelos nesse sentido.
E, infelizmente, incluíram também nessa rejeição
as lições do Cristo, daí a dificuldade de aceitar
o modo brasileiro de viver o Espiritismo. Eles não gostam de
pregação no velho estilo, daquele que lhes pareçam
lavagem cerebral, imposição de idéias sem discussão.
O modo como os médicos das AMEs apresentam as palestras tem agradado,
porque primeiramente nós levamos a argumentação
científica, chamando à razão, e depois tiramos
a conclusão religiosa. Há também um gosto apurado
para pesquisas e estas são muito diferentes das que foram realizadas
no século XIX. E é justamente nelas que as nossas AMES
tem procurado se esmerar.
Nós temos de compreender que a cultura brasileira não
é assimilada por eles, é muito diferente. Se levarmos
isto em consideração o sucesso da Doutrina será
bem maior, porque a fé raciocinada é algo imperativo para
as outras culturas. E nós devemos fazer de tudo para respeitar.
Quais as atividades programadas para 2010?
MARLENE NOBRE:
Iniciamos com a comemoração dos 100 anos de Chico, em
Lisboa, no dia 2 de abril, em parceria com o Grupo Espírita Batuira,
de Algés.
Dias 29 e 30 de maio teremos as Vas Jornadas de Medicina e Espiritualidade
em Lisboa, dias 5 e 6 de junho, o 3º. Congresso Francofônico
em Liège, Bélgica, e dias 11,12, 13 de junho, o 3º.
Congresso de Medicina e Espiritualidade dos EUA, em Washington.
No segundo semestre: 29 e 30/10 em Amsterdam, I Congresso de Medicina
e Espiritualidade da Holanda, dias 6 e 7 de novembro, o III Congresso
de Medicina e Espiritualidade da Suíça, e dias 13 e 14
de novembro, em Bonn, teremos o III Congresso Alemão.
E o dia-dia da senhora na Casa Espírita?
MARLENE NOBRE:
Sempre que estou em São Paulo, procuro estar presente às
nossas atividades no Grupo Espírita Cairbar Schutel. Faço
atendimento fraterno às segundas-feiras, breve explanação
de textos de O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos,
como aprendi com o Chico em Uberaba. Há também neste dia
o trabalho de psicografia; às terças-feiras temos cursos,
às quartas-feiras desobsessão, e às quintas cursos.
Outros irmãos e irmãs de ideal auxiliam também
com outras atividades nos mesmos dias e nos demais dias da semana. Só
não temos tarefas na Casa aos domingos.
Neste ano, completo 50 anos de exercício das faculdades mediúnicas
de psicofonia e psicografia, mas na minha cabeça parece que iniciei
ontem .
Poderia nos falar de sua convivência com Chico Xavier?
MARLENE NOBRE:
Conheci Chico em outubro de 1958, às vésperas da sua mudança
para Uberaba, o que veio a ocorrer em janeiro de 1959. Ele pediu ao
meu colega de Faculdade, Waldo Vieira, que me levasse até ele,
porque precisava conversar comigo. Durante a entrevista, como não
o conhecia, apenas havia lido suas obras, fiquei muito admirada com
o convite que me fez, o de trabalhar com ele nas sessões públicas
da Comunhão Espírita Cristã,
a partir de janeiro, quando ele já estivesse instalado definitivamente
em Uberaba. E foi o que aconteceu. Durante cerca de quatro anos, de
janeiro de 1959 a dezembro de 1962, trabalhei com ele, dando minha pequena
parcela de contribuição na interpretação
dos textos de O Livro dos Espíritos
e de O Evangelho Segundo o Espiritismo, obras
que eram estudadas nos dias de sessão pública.
Neste encontro, em 1958, ele me deu detalhes de um trabalho assistencial
que fazíamos, às quartas-feiras, nos arredores do bairro
da Abadia em Uberaba. Éramos um pequeno grupo – Ligia Alonso
Andrade, “seu” Lázaro, de saudosa memória,
que segurava o lampião no ombro para nos iluminar, porque na
parte do bairro que visitávamos não havia luz elétrica,
e mais um ou dois companheiros esporádicos. Como não conhecia
bem de perto a mediunidade de Chico, fiquei espantada com os detalhes
que ele me deu da nossa peregrinação das quartas-feiras.
Ele só podia ter acompanhado em espírito para saber de
tanta coisa.
Mesmo tendo me mudado para São Paulo, em 1963, nossa amizade
permaneceu sempre a mesma, até a sua desencarnação,
em 2002. Como somos imortais, com certeza perdurará por toda
a eternidade. Guardo deste período da minha vida, as mais gratas
lembranças. Fui profundamente marcada por sua bondade, por sua
humildade genuína. Por isso mesmo, reconheço a enorme
distância que nos separa do ponto de vista espiritual e a grande
responsabilidade que assumi por ter trabalhado com ele e tomado conhecimento
de sua obra.
Qual a dimensão que enxerga na obra psicográfica
de Chico Xavier no contexto da Doutrina Espírita?
MARLENE NOBRE:
A produção psicográfica de Chico Xavier ampliou
os ensinamentos de Allan Kardec, acrescentando as revelações
que não poderiam ser feitas no século XIX. Com Emmanuel,
nós temos os desdobramentos das lições abordadas
pelo Mestre Jesus e Seus Discípulos, comentadas pelo Codificador
no importante livro de sua autoria - O Evangelho Segundo
o Espiritismo -, obra monumental que se constitui em uma
estaca profunda na construção do edifício do Reino
dos Céus na Terra. Como Emmanuel fez parte da plêiade de
espíritos que trabalhou à época de Kardec, ele
continuou no século XX a analisar os ensinamentos evangélicos
e trouxe também algo muito importante - revelações
no campo da ciência. Apenas para citar, veja-se o quanto há
de ciência nos livros Pensamento e Vida
e A Caminho da Luz.
André Luiz devassou o mundo espiritual. Trouxe os desdobramentos
já antevistos por Kardec no livro O Céu e
o Inferno e na coleção da Revista
Espírita com os inúmeros depoimentos de
desencarnados, que ele colecionou em sua pesquisa criteriosa, aplicada
no século XIX.
Junto com as informações sobre a vida no além,
André Luiz trouxe também as inúmeras revelações
científicas que estão sendo comprovadas depois de décadas
de informação. Os livros de sua coletânea trazem
revelações científicas importantes quanto à
natureza da luz e de sua participação na formação
dos corpos físicos e sutis; informa sobre o funcionamento das
células e dentro delas o papel das mitocôndrias; do mesmo
modo expõe o papel neuroendócrino da glândula pineal;
traz indicações importantes quanto ao funcionamento do
nosso cérebro; desvenda a ação da mente –
pensamentos e sentimentos – sobre o nosso organismo; o modo como
a mente pode atuar sobre o genoma e modificar a conta do nosso destino
para o bem ou para o mal; elucida a evolução do ser humano
em dois mundos – o material e o espiritual – ao longo de
bilhões de anos, etc, etc.
A revelação espiritual tanto na obra de Kardec quanto
na de Chico Xavier – Emmanuel é dedicada ao ser humano
integral. Em ambas a ciência vem imbricada à fé.
Não há como separar.
Assim, encontramos as revelações científicas nas
obras de André Luiz, integradas, perfeitamente, às descrições
das paisagens e vivências no mundo espiritual. Há muitas
revelações científicas a serem estudadas nesta
obra magnífica. Muitas delas feitas há 50 ou 60 anos,
mas que somente agora a ciência está comprovando, através
de pesquisas. E há muitas mais a serem constatadas, conforme
vem investigando os membros das Associações
Médico-Espíritas do Brasil.
A AME tem alguma programação alusiva à
comemoração do Centenário de Nascimento de Chico
Xavier?
MARLENE NOBRE:
Já tivemos a primeira comemoração nos dias 2 e
3 de abril, em Lisboa, dois dias inteiramente dedicados às lembranças
de Chico e de Isabel de Aragão, sua protetora.
O programa Portal de Luz nas 4 edições de abril também
foi inteiramente dedicado a Chico. O mesmo fizemos – Dr Marco
Antonio Palmieri e eu mesma - nos programas da Radio Boa Nova –
Diálogos Médicos, durante o mês de abril.
O III Congresso de Medicina e Espiritualidade de Alagoas, que se realizará
em Maceió, de 14 a 16 de maio, sob a direção de
Ricardo Santos, nosso colega, presidente da AME-Alagoas, será
inteiramente dedicado ao Centenário de Nascimento de Chico Xavier.
Assim também, teremos em S.Paulo, nos dias 4 e 5 de dezembro,
as Jornadas de Medicina e Espiritualidade da AME-SPaulo, em homenagem
ao querido Chico.
ISMAEL GOBBO . Algo mais que queira acrescentar?
MARLENE NOBRE.
Gostaria de dizer que relutei muito em abrir o coração
e responder tantas perguntas sobre mim mesma, porque estou muito longe
de merecer o carinho e a confiança dos amigos da seara espírita.
Somente me decidi, quando me fixei no título da entrevista: Trabalhador
Espírita. Sim, isto eu quero ser. Não vejo em mim nenhum
mérito, mas há algo que eu luto por alcançar, ser
servidora do Mestre Jesus e de Kardec, dentro do pouco que posso oferecer.
Agradeço a paciência dos que leram os meus singelos arrazoados
até aqui. Que Jesus, nosso Mestre de Amor e Bondade, a todos
nos ilumine e abençoe.
Marlene e Heigorina em Sacramento
Freitas Nobre, Chico Xavier e Marlene Nobre
Fonte:
http://www.noticiasespiritas.com.br/2015/JANEIRO/07-01-2015.htm
_______________________
>>> clique aqui para acessar a página principal
de Notícias
>>>
clique aqui para voltar a página inicial do site
>>>
clique para ir direto para a primeira página de Artigos, Teses e Publicações