27/12/2014
Reportagem da France Presse
O papa Francisco surpreendeu a todos nesta segunda-feira
(22/12/2014) com uma mensagem de Natal na qual pediu que os cardeais
façam um exame de consciência ante o que chamou de "alzheimer
espiritual", entre outras doenças que relacionou e que disse
afetarem a Cúria.
Em seu discurso anual de uma severidade sem precedentes,
o Papa falou aos membros do governo da Igreja contra as rivalidades,
as calúnias e as intrigas dentro da Cúria.

Papa Francisco fez tradicional discurso de Natal
nesta segunda-feira (22/12/2014)
(Foto: ANDREAS SOLARO / AFP)
O Papa afirmou que, "como qualquer corpo humano",
a Cúria sofre de "infidelidades ao Evangelho" e de
"doenças que precisa aprender a curar".
O Papa citou 15 doenças, usando expressões fortes como,
além de "alzheimer espiritual", "terrorismo do
falatório", "esquizofrenia existencial", "exibicionismo
mundano", "narcisismo falso" e "rivalidades pela
glória".
Através de expressões fortes, que geraram um certo desconcerto
entre os cardeais e altos funcionários da Santa Sé, o
Papa analisou o que chamou de patologia do maquinário central
da Igreja católica, e pediu reflexão, penitência
e confissão por ocasião do período natalino.
A primeira doença a que se
referiu foi a de "sentir-se imortal e insubstituível",
sem defeitos, privado de autocrítica, que não se atualiza
nem tenta melhorar.
"É preciso visitar os cemitérios
para ver os nomes de tantas pessoas que se consideravam imunes e indispensáveis",
alfinetou.
A segunda doença citada foi
o "excesso de atividade", de trabalho,
e convidou a Cúria a respeitar as férias e a dedicar momentos
de descanso com a família, algo que ele pessoalmente não
segue.
A terceira doença que atinge os membros da Igreja
é "a petrificação mental e espiritual",
seguida do "excesso de planejamento e funcionalismo", "má
coordenação" e o que chamou de "Alzheimer espiritual",
ou seja, o esquecimento do fervor da fé inicial.
Outra grave patologia é a da "rivalidade
e vanglória", o viver no mundo das aparências.
Na lista, o pontífice inclui a "esquizofrenia existencial"
de quem esquece que está a serviço das pessoas, de quem
apenas se limita a realizar trâmites burocráticos, dos
que somente dependem de suas próprias paixões, caprichos
e manias e 'constroem a seu redor muros e costumes'.
"Sanar essa enfermidade tão grave é
urgente e indispensável", afirmou.
Intrigas e fofocas
O tom foi ainda mais severo quando mencionou a doença
das "fofocas e das intrigas", e
pediu que todos se protejam desse tipo de terrorismo pelos danos que
provoca.
Entre as doenças, incluiu a de "divinizar os
chefes", o de ser "vítima
do carreirismo e do oportunismo", de pensar "apenas
no que pode obter e não no que pode oferecer".
Outra patologia é "a doença
da indiferença para com os demais" e a da
"cara fúnebre", já
que acha que o religioso "deve ser uma pessoa amável, serena
e entusiasmada".
"Deve transmitir alegria", enfatizou.
"Como faz bem uma boa dose de humor!",
acrescentou ainda.
Francisco, que rejeita toda e qualquer ostentação
papal, inclui entre os males da Igreja atual os de
"acumular bens materiais", de pertencer
"a círculos fechados", assim
como "ao mundano e o exibicionismo".
Respeitando o estilo singular de seu discurso, o Papa recordou que "os
sacerdotes são como os aviões, são notícia
apenas quando caem".
E concluiu com uma advertência:
"Quanto mal pode causar a todo o corpo da Igreja
um único sacerdote que cai", afirmou, aludindo indiretamente
aos escândalos sexuais e financeiros, assim como o vazamento
de notícias por parte de membros da Cúria, atos que
marcaram o pontificado de seu antecessor, Bento XVI.
"A cura é o fruto da tomada de consciência
da doença", concluiu o Papa, pedindo que
os bispos e cardeais permitam que o Espírito Santo inspire
suas ações, invés de confiar apenas em suas capacidades
intelectuais.
Depois deste discurso, recebido como uma ducha fria,
Francisco saudou um a um todos os cardeais, em um ambiente tenso, apesar
das amabilidades de fachada.
"Ele não teve piedade ao dar o nome das
doenças que percebe nos ambientes próximos a ele",
comentou o vaticanista Gianni Valente.
"Rompeu com o estereótipo do 'papa latino-americano' que
não conhece a complexidade da Cúria e a cultura europeia,
críticas que provêm de seus detratores para neutralizá-lo",
afirma Valente no Vatican Insider.
Francisco conduz desde sua eleição, em março de
2013, uma profunda reforma da Cúria, e topa com inúmeras
oposições internas, causando muitas preocupações
em certos meios.
Fonte:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/12/papa-diz-que-vaticano-sofre-de-alzheimer-espiritual.html
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