27/10/2014
Marcus Braga divulgou entrevista com o estudioso
e psicopedagogo espírita Marcos Paterra, na qual este fala sobre
a questão da inclusão das crianças especiais nas
instituições espíritas
Marcos Paterra, radicado em João Pessoa, capital
do Estado da Paraíba, é psicopedagogo, palestrante e
articulista espírita, membro da AME/PB. Na presente entrevista
ele nos fala como vê a questão da inclusão das
crianças especiais nas instituições espíritas.
Como psicopedagogo e espírita, como
o senhor vê a inclusão de crianças especiais nas
instituições espíritas?
Nas instituições espíritas percebemos que poucos
centros se adequam na estrutura física e menos ainda têm
pessoas com conhecimento para lidar com as diversas e complexas formas
de deficiências. A inclusão, tanto nas instituições
espíritas ou mesmo nas escolas, é para alguns uma utopia,
pois embora algumas instituições se adequem para algumas
deficiências instalando rampas, banheiros apropriados, a falta
de conhecimento dentre os que ali estão torna a estadia de crianças
ou mesmo adultos um tanto comprometida.
Vejo instituições que fundam associações
ou fundações paralelas para tratamento de crianças
especiais, ou de doenças crônicas ou mesmo para deficientes
físicos. Isso é muito bom, mas restringe a elas a inclusão,
além do que tem fins específicos para determinado tratamento.
E as outras instituições onde no bairro há uma
família com um filho autista, ou deficiente auditivo, ou Down?
Tem que excluir seu filho ou se deslocar para uma instituição
que o aceite ou possa integrá-lo?
O senhor então considera a inclusão uma utopia?
Não. Mas... A inclusão se baseia em vários conceitos,
dentre eles posso frisar três, em que é necessário
que a criança:
1. Seja uma pessoa que se encontra dentro de um grupo, no sentido
de dele fazer parte.
2. Que tenha amigos e relações sociais significativas
com iguais, ou sinta que participa na vida social, contribuindo com
alguma coisa.
3. Por fim que seja tratada com igualdade, carinho e respeito como
a pessoa única que é.
Resumindo, ela tem que ser inserida de modo a sentir bem-estar pessoal
e social. Fica evidente que a inclusão sem esses conceitos não
assegura inclusão social. Se as instituições não
pensarem e agirem baseadas nesses conceitos, as mudanças estruturais
para deficientes não terão usuários com deficiência.
Qual sua opinião quanto à inclusão nas
escolas de evangelização espíritas?
Um dos grandes desafios das instituições espíritas,
atualmente, é saber lidar com a criança que apresente
alguma deficiência. Em seu despreparo o centro espírita
pode desencadear mais problemas ainda, e até mesmo agravar os
já existentes, reforçando nessa criança o autoconceito
negativo, a desmotivação, o desinteresse e outros mecanismos
de defesa, como a indisciplina, rebeldia ou agressividade, que utiliza
para justificar a sua incompetência diante da aprendizagem, acreditando-se
incapaz de internalizar novos conhecimentos. Acredito que seja necessária
a construção do Projeto Pedagógico moldado às
novas condições, e também identificar e intervir
junto às dificuldades que esses alunos incluídos possuem
ou tendem a possuir nessa nova perspectiva de ensino.
Que consequências você vislumbra para o processo
de evangelização infantil e juvenil advindas da carência
de uma visão inclusiva nessa atividade no movimento espírita
atual?
Enfrentamos um paradigma cultural que vem dos conceitos eugenistas,
em que o que é diferente ou deficiente deve ser “excluído”.
Assistimos no decorrer dos últimos anos às tentativas
maciças de liberar o aborto, a eutanásia e, é claro,
também minar as tentativas de inclusão. Sob esse prisma
é necessário criar processos de ensino onde a visão
inclusivista seja acrescida, ou teremos espíritas elitizados
e moldados a formas arcaicas do conhecimento. Entendo que a própria
palavra “Evangelizar” é espalhar a “boa nova”
e, portanto, vamos fazer isso aprofundando-nos em uma visão inclusivista,
no grande amor de Jesus por todos, sem distinção de sexo
ou deficiências. E vou mais além, na evangelização
juvenil que abre precedentes para o ESE e o ESDE, deve-se já
instigar os jovens à leitura de obras de J. Herculano Pires,
Ernesto Bozzano, Bezerra de Menezes, Adenauer de Novaes, e tantos outros
que fazem também parte da história do Espiritismo e abordam
assuntos pertinentes sobre diversos tópicos, dentre eles as deficiências.
E dentro do ESDE seria imprescindível também ter esse
incentivo. A doutrina espírita, maravilhosa que é, abre
precedentes para a crítica e a autocrítica, e para responder
às dúvidas inerentes a essas críticas é
necessário ampliar as fontes do saber.
Se nós, que pregamos a caridade e tencionamos o entendimento
do ser, não abrirmos precedentes para a inclusão dentro
de nossas instituições, e é claro na evangelização,
estaremos caindo na hipocrisia da falsa moralidade e criando seres eugênicos.
Você diria que crianças com alguma síndrome,
como o autista por exemplo, sofrem algum tipo de obsessão ?
Conforme Bezerra de Menezes na obra Loucura e Obsessão, psicografada
por Divaldo Franco, o Autismo, como também todos os processos
de limitações e doenças psíquicas ou mentais,
é um resgate para Espíritos que em suas encarnações
passadas tiveram "poder" de influência, decisão,
liderança, ideológico ou coisas assim e que não
utilizaram aquele "dom" em um objetivo útil ao próximo,
abusando de sua influência e muitas vezes se aproveitando de tudo
o que podia fazer para ganho próprio.
O psicólogo espírita Adenáuer de Novais na obra
“Reencarnação: processo educativo” nos diz:
“Há crianças que rejeitam tão fortemente
a encarnação atual, aos membros de sua família,
ao ambiente em que retornaram, que se alheiam da realidade. Experimentam
uma rejeição muito grande à atual encarnação.
O Espírito prefere permanecer vinculado ao passado, a algo
distante e remoto que, de alguma forma, lhe recompensa. Esses casos
podem levar ao autismo. [...]”.
Em resumo, além da auto-obsessão, essas “crianças
que apresentam síndromes” também atraem inimigos
do passado que as obsidiam.
Gostaríamos de agradecer sua disposição
em nos conceder esta entrevista e pedir suas considerações
finais.
Eu que agradeço, e gostaria de aproveitar e enfatizar que a “inclusão”
não se restringe aos portadores de deficiência, mas também
envolve as diversidades étnicas, a opção sexual
e as diferenças sociais ou religiosas.
Devemos lembrar que, segundo aprendemos no Espiritismo, o corpo nada
mais é que uma carcaça para que o Espírito possa
habitar e evoluir. Sob essa ótica somos todos Espíritos...
Portanto, todos IRMÃOS!
Devo também lembrar que os Centros Espíritas ajudam e
orientam nas questões espirituais, todavia se o frequentador/evangelizando
necessita de cuidados médicos ou fazer uso de remédios,
não podemos nem devemos interferir. Nosso tratamento é
baseado na fluidoterapia e na orientação, mas não
descartamos o auxílio carnal dos médicos.
Para finalizar cito a frase de Kardec em “A Gênese”
(pág. 31):
“na reencarnação desaparecem os preconceitos
de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar
a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou
subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação
funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal,
também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais
e, por conseguinte, o da liberdade”.
Muito obrigado.
Fonte:
http://www.oconsolador.com.br/ano8/373/entrevista.html
* Marcus Braga recomenda, para complementar a discussão, a leitura
dos artigos a seguir:
> http://www.oconsolador.com.br/ano7/322/entrevista.html
> http://visaoespiritabr.com.br/reencarnacao/deficiencia-mental-e-a-casa-espirita
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