21/08/2014
Humanos viveram com neandertais
por até 5 mil anos, afirma pesquisa
Estudo mostra que tempo de convivência seria suficiente para miscigenação
e trocas culturais
Pesquisadores da Universidade de Oxford propõem também
'certidão de óbito' mais antiga para neandertais
por Reinaldo José Lopes
da Folha de São Paulo
Ainda não se sabe ao certo por que os neandertais se
extinguiram, mas um novo estudo deixa uma coisa bastante clara: o triunfo
do Homo sapiens sobre seus primos supostamente primitivos não
foi um passeio. As duas espécies podem ter convivido por até
5.000 anos na Europa.
É como se o primeiro contato entre neandertais e ancestrais
dos humanos modernos no continente tivesse acontecido antes da construção
das primeiras pirâmides do Egito, enquanto o desaparecimento total
deles ocorreria no ano passado.
"Imagino um cenário no qual havia pequenas populações
dos dois grupos na Europa, com um declínio lento e constante
dos neandertais conforme os humanos modernos iam aparecendo em maior
número, com tecnologia mais sofisticada", disse à
Folha Tom Higham, pesquisador da Universidade de Oxford (Reino Unido)
e coordenador da pesquisa.
Higham e seus colegas também estão propondo uma "certidão
de óbito" mais antiga para o Homo neanderthalensis. Há
39 mil anos, afirmam eles, todos teriam desaparecido --pesquisas anteriores
indicavam que, na Espanha e Portugal, os neandertais poderiam ter resistido
até uns 35 mil anos atrás.
As conclusões, publicadas na edição desta semana
da revista "Nature", baseiam-se em avanços tecnológicos
que melhoraram bastante a precisão das datações
de achados arqueológicos, feitas com o método do carbono-14.
Tais datações são realizadas com base na presença
de uma variante radioativa do elemento químico carbono em restos
de matéria orgânica, como ossos e dentes.
Esse carbono-14 é incorporado naturalmente pelos seres vivos
em seu organismo. Após a morte de plantas e animais, ele passa
a se transformar em nitrogênio a uma taxa conhecida, o que permite
calcular o tempo entre a morte e o momento presente.
Acontece que o cálculo é complicado --a matéria
orgânica muito antiga pode acabar sendo contaminada com carbono
"jovem", entre outros problemas.
A equipe dominou técnicas para contornar essas dificuldades
e realizou uma batelada de novas datações, investigando
amostras de 40 sítios europeus, de Gibraltar (sul da Espanha)
à Rússia.
Os resultados mostraram não apenas que os neandertais teriam
desaparecido mais cedo do que se imaginava como também sugerem
que as primeiras tribos de humanos modernos já estavam por perto
entre 5.400 anos e 2.600 anos antes do sumiço do Homo neanderthalensis.
É tempo mais do que suficiente não apenas para episódios
de miscigenação (a comparação entre o DNA
de pessoas de hoje e o de neandertais indica que, de fato, isso ocorreu)
como também para intercâmbio cultural, defende Higham.
Esse seria um jeito de explicar a tradição arqueológica
conhecida como chatelperroniense, encontrada na França. Os artefatos
com esse estilo parecem ter sido feitos por neandertais, mas têm
sofisticação similar à dos produzidos por humanos
anatomicamente modernos. A ideia é que os neandertais teriam
aprendido essa arte com nossos ancestrais.
A pesquisa, porém, já provoca controvérsia. O
arqueólogo português João Zilhão, da Universidade
de Barcelona, criticou as conclusões de Higham e companhia.
Ele questiona, entre outras coisas, a ideia da "aculturação"
neandertal que teria gerado o chatelperroniense. Para ele, os neandertais
teriam sido capazes de criar essa cultura sozinhos.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/181629-humanos-viveram-com-neandertais-por-ate-5-mil-anos-afirma-pesquisa.shtml
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