14/08/2014
Cerimônia do adeus: Quando já não
existe chance de cura
Energizações, relaxamento,
transmissão de imagens mentais e amor: pacientes devem morrer
sem isolamento
Reportagem do Jornal A Cidade
por Jose Manuel Lourenço
A professora e pesquisadora Ana Catarina de Araújo Elias desenvolveu
uma técnica que permite atenuar a angústia e a dor psíquica
de pacientes terminais.
Mesmo entubados, pacientes podem reagir a estímulos
(Foto: L. F. Piton / A Cidade)
Denominada Relaxamento, Imagens Mentais
e Espiritualidade (Rime), a técnica usa as experiências
de pessoas que passaram por situações de quase-morte como
uma ferramenta para auxiliar pacientes terminais a lidar com a iminência
da morte.
Segundo Ana Catarina, a ideia para a criação da Rime surgiu
em 1998, quando ela trabalhava com crianças e adolescentes com
câncer. No convívio com os pacientes, ela percebeu momentos
de grande sofrimento psicológico e espiritual no momento da morte.
Para atenuar essa dor, a ideia da pesquisadora foi “importar”
as experiências de quase-morte vividas por diversas pessoas –
marcadas por sensações de tranquilidade, alívio,
bem-estar e profunda paz – para criar uma terapêutica que
aliviasse a dor de seus pacientes.
“Esse contato com o que outro
lado faz com que os pacientes tenham uma experiência menos traumática
com a proximidade da morte”, disse.
A recriação das
experiências de quase-morte na Rime foram o tema do mestrado
e doutorado da pesquisadora, pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), em 2001 e 2006. O trabalho de mestrado rendeu à pesquisadora
o prêmio do Simpósio Brasileiro e Encontro Internacional
sobre Dor (Simbidor), em 2005.
No doutorado, a terapia Rime foi testada em onze pacientes do Centro
de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism)
e dos hospitais do Servidor Público de São Paulo e dos
Plantadores de Cana-de-Açúcar de Piracicaba. Além
disso, uma médica, três psicólogas e uma enfermeira
também foram treinadas para poderem aplicar a terapia a esses
pacientes.
Segundo Ana Catarina, o bem-estar dos pacientes após
o recurso à Rime foi significativa. Uma das formas usadas
por ela para medir essas melhoras foi através do uso de uma escala
de seis níveis de dor, baseada em expressões faciais,
que vão da “máxima angústia” ao “ótimo
bem-estar”. Os pacientes eram avaliados antes do uso da Rime e
depois dela de acordo com esse critério.
Liga sensibiliza médicos
Em funcionamento desde 2013, a Liga Acadêmica de Cuidados Paliativos
da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) tem como finalidade
tornar os médicos mais atentos para a importância dos cuidados
paliativos, sobretudo no convívio dos pacientes com a dor.
“Os médicos têm toda uma percepção
voltada para a cura. E quando não há cura?”, perguntou
a presidente da Liga, a médica geriatra Mariana Freiria Duarte.
Segundo ela, é importante que o profissional consiga ter consciência
do impacto da dor no estado geral de um paciente, sobretudo quem se
encontrar já em processo terminal.
“Esse tipo de visão já começa a mudar
e, hoje, muitos médicos já têm consciência
da importância da adoção dos cuidados paliativos
na manutenção da qualidade de vida do paciente”,
disse a presidente da Liga.
Família também precisa
de ajuda
Pacientes e parentes ouvidos pelo jornal disseram que o trabalho de
apoio espiritual é importante para poderem lidar com as situações
adversas.
Dona de um pesqueiro em Cássia dos Coqueiros, Edice Regina de
Oliveira, de 78 anos, conta que as conversas com os mensageiros do apoio
espiritual têm ajudado muito na sua recuperação,
no Hospital das Clínicas.
“O trabalho deles faz com que fiquemos mais tranquilos”,
conta.
A atendente Angélica da Cruz, de 25 anos, por sua vez, está
com a mãe internada há quatro meses, após contrair
uma infecção hospitalar.
Ela visita a mãe diariamente e diz que o trabalho dos voluntários
do apoio espiritual é importante para ela e para a mãe.
“Para mim ajuda muito porque nos deixa mais tranquilos para
lidar com uma situação que é muito difícil.
E, para a minha mãe, conversar com eles faz com que o seu ânimo
melhore”, diz.
Fonte:
http://www.jornalacidade.com.br
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clique aqui e veja o resumo do trabalho e a entrevista em vídeo
com Ana Catarina de Araújo Elias, feita em 2009, durante o 5º
ENLIHPE
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Exército
de voluntários une esforços para cuidar de doentes em
fase terminal
Tratamento inclui conforto espiritual, além
de cuidados especiais aos doentes hospitalizados em Ribeirão

Voluntários e médicos se reúnem
para dar apoio e cuidados
(Foto: Lucas Mamede / Especial)
Há duas semanas, na cidade de Sacramento (MG), dois jovens invadiram
uma igreja e quebraram diversas imagens religiosas. O motivo? Intolerância
religiosa.
No entanto, na mesma semana, a 200 quilômetros da cidade mineira,
um serviço de apoio a pacientes internados em diversas instituições
de saúde de Ribeirão Preto, mostra que as barreiras entre
religiões podem ser superadas com o objetivo de tornar melhor
a vida física e espiritual de quem está enfermo. Grande
parte desse serviço envolve pacientes já em fase terminal.
Criada em 2009, a Rede de Apoio Espiritual de Ribeirão
Preto é um dos recursos utilizados nos cuidados paliativos.
Ela envolve o trabalho conjunto de quase duas dezenas de diferentes
instituições religiosas (católicas, evangélicas,
espíritas) e um exército de voluntários que, só
no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo, conta com mais de 400 pessoas.
Na maioria dos casos, o atendimento espiritual aos pacientes é
feito por integrantes de diferentes orientações religiosas,
como é o caso do pastor Paulo Ros e do padre Josirlei Aparecido
da Silva.
Todo o processo de interação dos voluntários, chamados
“mensageiros” é regulado por um manual que prevê
normas específicas nas áreas de biossegurança,
legislação, ética e saúde: o contato com
os pacientes só pode ser feito após todas as vacinas estarem
em dia.
Mas a principal característica do trabalho da Rede - e dos próprios
mensageiros - é a ausência de uma abordagem religiosa.
“O mensageiro entra, recebe
um crachá especial, não para falar de alguma religião
em particular, mas do apoio espiritual. Cada um tem a sua crença,
mas não se fala de religião.
Os voluntários levam uma mensagem de serenidade, paz e conforto,
daí serem chamados de mensageiros. Não são da
igreja x, y ou z”, diz a coordenadora da rede no HC, a psiquiatra
Catalina Cabrera, que faz parte do núcleo original da rede,
surgido no hospital da USP.
Assim como Catalina, Maria Augusta
Rosa também faz parte do grupo que criou a rede. Psicóloga
da Santa Casa da Misericórdia, ela coordena os trabalhos de 16
instituições religiosas e cerca de 90 mensageiros, além
de outros quatro no Hospital Santa Lydia, desde 2013.
“O trabalho deles é
extremamente importante, pelo conforto que levam aos pacientes e,
também, à família em momentos de muita angústia”,
disse.
“Nós somos, por natureza, um país crente em um
ser superior, daí a importância que assume a dimensão
espiritual”, concluiu.
O trabalho dos mensageiros também
é destacado pela assistente social Denise Ruiz, da Beneficência
Portuguesa.
“É interessante ver
pessoas de várias religiões trabalharem juntas, sem
quererem converter ninguém, mas apenas levar palavra de conforto,
carinho e amor”, conta a respeito da ação dos
cerca de 90 mensageiros da Beneficência.
Além de Ribeirão Preto, a Rede de Apoio Espiritual também
se estende ao Hospital Estadual de Américo Brasiliense e parte
da rede pública de Serrana. Os trabalhos ainda estão no
início e são coordenados por Cleice Levorato e Lilian
de Jesus.
Manual cria normas para evitar exageros
A necessidade de se criar normas no trabalho de voluntários
a pacientes em cuidados paliativos surgiu após diversas situações
de abusos que, em alguns casos, envolveram até a existência
de exorcismos em unidades de emergência.
Atualmente, a relação do mensageiro com o paciente e a
instituição de saúde é regida por um manual,
com o objetivo de auxiliar e dar orientações aos visitadores
sobre como proceder no apoio espiritual, mostrando questões importantes
como o preparo e o entendimento que o mensageiro deve ter nas áreas
da ética, biossegurança e legislação.
Além disso, o mensageiro passou a ser cadastrado e receber um
crachá personalizado para entrar na instituição.
Também passou a ser exigido de todos o cartão de vacinação
atualizado e o uso de um jaleco com a inscrição “Apoio
Espiritual” no lugar do credo religioso. Os mensageiros são
indicados pelas instituições. Todos os anos é feita
uma reunião na rede para avaliar o trabalho.
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Doentes perdem
invisibilidade no HC
Uma professora e um enfermeiro estão entre
os 400 voluntários que consolam pacientes no leito de morte

Emiliana e Adélcio com paciente terminal
(Foto: F.L. Piton / A Cidade)
Pelo menos uma vez por semana, a professora Emiliana Fagundes, 52 anos,
e o enfermeiro Adélcio Guirão, de 46, visitam diversas
Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas
com o objetivo de passar palavras de esperança e conforto para
pacientes internados. A dupla faz parte dos cerca de 400 mensageiros
que trabalham no HC.
Ambos são católicos, mas a crença de cada um fica
para trás no momento em que se encontram com os pacientes.
“O importante para nós
é passar uma mensagem de esperança e de tranquilidade,
mesmo que a situação em que encontra o paciente seja
extremamente difícil”, conta Adélcio.
As visitas às UTIs não têm duração
pré-determinada, mas o trabalho dos dois está limitado
a duas horas e meia por dia.
Com os aventais com a inscrição “Apoio Espiritual”
na manga, os dois conversam com pacientes, trocam palavras de carinho,
sempre com o semblante bastante tranquilo.
Retribuição
A retribuição vem com palavras de agradecimento pela
visita. Quando isso não é possível, o toque de
uma mão ou, em alguns casos, um olhar é o reconhecimento
suficiente para os dois.
“Muitas vezes, as pessoas que visitamos só têm
a nós para poderem ter um sorriso, uma palavra de amor e uma
mensagem de esperança. Por isso, qualquer gesto deles, por
menor que seja, é suficiente para nós”, conta
Emiliana.
Mas, depois de lidar tantas vezes com a dor e o sofrimento dos outros,
como é que os dois trabalham esses sentimentos dentro de si?
“Nós temos a nossa fé e é ela que nos
dá força para seguir em frente e, a cada semana, fazer
com que possamos ir em frente e continuar na nossa missão”,
conta Adélcio.
Religião da solidariedade
A melhor síntese de como o amor ao próximo se torna maior
do que as crenças religiosas está no trabalho do pastor
Paulo Ros (Igreja Batista Marincek) e do padre Josirlei da Silva (Capelania
Católica da Unidade de Emergência do HC). Os dois trabalham
em parceria há vários anos.
“Não discutimos doutrinas, porque nossos objetivos são
maiores”, disse o pastor.
“O que queremos é levar uma mensagem de amor, paz e conforto”,
diz o padre.
“Nesse sentido, o trabalho com o Paulo tem sido magnífico,
porque é na diferença que a gente cresce”, completa.
Em várias ocasiões, os dois religiosos já foram
convidados para dar palestras em diversas instituições,
sobre a importância do apoio espiritual.
Quem também destaca a importâcia do diálogo inter-religioso
na Rede de Apoio é a espírita Virgínia dos Reis.
Na rede desde 2009, ela diz que o convívio com voluntários
de outras religiões tem sido um aprendizado permanente.
“Hoje é mais fácil para mim aceitar mudanças
do que antes”, disse ela.
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