13/07/2014
Estudos internacionais realizaram uma pesquisa utilizando amostras de
DNA para reconstruir o caminho que teriam feito os primeiros homens
modernos para sair da África. Segundo os resultados da pesquisa,
os homens teriam surgido na África e teriam viajado pela costa
para o sul. As primeiras migrações humanas teriam como
destino a Índia, Malásia e Austrália.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores
utilizaram o chamado DNA mitocondrial. Trata-se de um DNA semelhante
ao encontrado no núcleo das células, só que localizado
no órgão responsável pela produção
de energia de cada estrutura e que é transmitido sem alterações
das mães para os filhos - com uma taxa pequena de mutações.
Durante a pesquisa os DNAs mitocondriais de populações
nativas (e até certo ponto isoladas) da Malásia e Austrália,
foram comparados com o DNA coletado de exemplares dos primeiros hominídios
que habitaram a África. A semelhança da estrutura desses
dois DNAs analisados fez com que o grupo acreditasse que, ao contrário
do que imaginava antes, a dispersão dos humanos pelo mundo se
deu através da costa e inicialmente para o sul.
Essa migração teria acontecido há
cerca de 70 mil anos, sempre em busca de alimentos e melhores condições
de sobrevivência. Esses resultados corroboram com os primeiros
vestígios humanos encontrados nas regiões pesquisadas
e também na Europa. Na Austrália, por exemplo, o mais
antigo ancestral humano encontrado data de 65 mil anos atrás,
enquanto na Europa, o mais antigo tem apenas 35 a 40 mil anos de idade.
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Vejamos reportagem da Revista "Diálogo
Médico" (Ano 15 nº 3):
Quem Somos? De onde viemos?
Bioarqueólogo da USP tem algumas certezas

Com base na análise de filigranas
do DNA, cientistas juntam as peças de um enigmático quebra-cabeças
Desvendar o passado da humanidade e o próprio surgimento do mundo
é um desafio que o homem vem perseguindo há milênios.
Cada novo avanço tecnológico é logo utilizado nas
pesquisas arqueológicas. E em tempos de clonagem e alimentos
transgênicos, a genética também está contribuindo
– e muito – nessa incessante busca pela origem da vida.
A mais recente descoberta aponta um novo caminho trilhado pelo Homo
sapiens, da África ruma à Austrália. O trabalho,
cuja autora principal é a cientista Augusta Silvana Santachiara
Benerecelli, da Universidade de Pavia no norte da Itália,
revela que, entre 60 mil e 70 mil anos atrás, a espécie
humana chegou ao continente australiano passando pela Etiópia,
península arábica e litoral da Ásia. Por falta
de evidências fósseis, essa teoria não tinha ainda
sido comprovada. Mas, através da análise de filigranas
do DNA de populações atuais, os cientistas conseguiram
juntar as peças desse enigmático quebra-cabeças.
Para o bioarqueólogo brasileiro, Walter
Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos
do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP),
essa comprovação genética é a confirmação
da teoria paleontológica proposta pela brasileira Martha
Mirazón Lahr, que atualmente está na Universidade
de Cambridge, no Reino Unido.
- A Martha é uma das pessoas que mais conhece
a questão da origem e da dispersão do homem moderno.
Em 1995 e 1996, ela levantou essa possibilidade de uma de uma terceira
emigração da África. Hoje, nós sabemos
que o homem moderno surgiu na África, por volta de 120 mil
anos atrás. Houve três tentativas de ele sair do continente
para colonizar o planeta. A primeira ocorreu há cerca de 100
mil anos. Mas quando ele chegou no Oriente Médio, na região
que atualmente é o Estado de Israel, não conseguiu avançar
provavelmente por questões climáticas. O frio devia
ser muito forte – explica Neves.

A segunda tentativa de deixar a África,
desta vez realizada com sucesso, foi a comprovada pelo estudo genético.
De acordo com o bioarqueólogo da USP, a nova rota seguida pelo
homem primitivo tinha o clima tropical, o que facilitou sua sobrevivência.
– A última saída
do continente africano aconteceu há 50 mil anos, quando a espécie
humana já dispunha de uma nova tecnologia, chamada de tecnologia
do Paleolítico Superior, que incluiu instrumentos de ossos
e de chifre, entre outras inovações. Com esses recursos,
eles puderam enfrentar o frio e colonizar todo o mundo, chegando à
Europa, ao Oriente Médio, à Ásia e à Eurásia
– afirma.

O minucioso mapeamento dos ossos cranianos possibilita
a comparação e o rastreamento da evolução
humana.
DECIFRANDO O DNA
A equipe da cientista Augusta baseou suas pesquisas
no marcador genético haplogrupo M, presente no DNA mitocondrial
(mtDNA). As mitocôndrias são os órgãos celulares
responsáveis pela produção de energia. São
elementos importantes no estudo das linhagens populacionais. Sua vantagem
está na transmissão por apenas um dos pais. Assim, os
pesquisadores, os pesquisadores, a partir da hipótese da rota
etíope, começaram a comparar genes de populações
atuais, para tentar encontrar características únicas e
compartilhadas, que permitam relacioná-las. Além disso,
traçam estimativas sobre a época de mutações
nesses traços genéticos e vão aos poucos reconstruindo
árvores denominadas de filogenias. Sem os recursos tecnológicos
atuais, certamente seria muito difícil realizar os cálculos
matemáticos necessários, feitos pelos computadores. Mas
se hoje temos a genética molecular, no passado, Neves lembra
que os grupos sangüíneos e alguns produtos do DNA conhecidos
já ajudavam a desvendar os mistérios da humanidade.
– Desde a década de 50 vem-se estudando
a composição genética das populações
humanas. É claro que com a possibilidade de se trabalhar diretamente
com o gene e não mais com um produto dele, a pesquisa se torna
muito mais apurada – diz.
Quando a genética e a antropologia chegam a um consenso, os
pesquisadores arqueólogos comemoram. Segundo o bioarqueólogo,
o sonho de todos os antropólogos é ter uma teoria sua,
baseada no estudo de fósseis humanos, confirmada geneticamente.
- Esse trabalho da Augusta publicado na revista Nature Genetics,
é muito importante para todos nós. É maravilhoso
termos uma hipótese feita sobre esqueletos pré-históricos
corroborada pela genética das populações atuais
– declara.


Pesquisas no Brasil
Um dos responsáveis pela descoberta do fóssil batizado
de “Luzia”, com cerca de 11.500 anos de idade, na região
de Lapa Vermelha, em Minas Gerais, Neves conta que no Brasil existem
grupos de pesquisa no Rio Grande do sul, em Belo Horizonte e no Pará
que trabalham com as composições genéticas das
populações indígenas atuais, também para
poder tentar entender o processo de ocupação do continente
americano.
Mas diferente do que ocorreu no estudo da emigração da
África, Neves destaca que suas descobertas com os esqueletos
estão caminhando para um lado diferente das descobertas genéticas.
- Vale ressaltar que os conflitos entre essas duas áreas também
existem. No meu caso, as pesquisas genéticas têm mostrado
que a população indígena das Américas
é muito homogênea, portanto deve ter tido uma única
população fundadora da Ásia que veio para cá.
Já as minhas pesquisas apontam o contrário.
No passado, tivemos na América a presença tanto de povos
asiáticos, quanto de povos biologicamente muito diferente dos
asiáticos. Logo a informação esqueletal –
conta.
Como e quando esse impasse vai se resolver, o pesquisador não
sabe dizer, mas ele afirma que certamente as respostas estarão
mais próximas quando se conseguir retirar o DNA dos esqueletos.
- Isso é possível e já foi em alguns lugares
do mundo. Minha hipótese só poderá ser comprovada
geneticamente quando tivermos condições tecnológicas
de extrair o DNA dos esqueletos com os quais eu trabalho. Se é
que sobrou DNA neles. Condições tecnológicas
existem, mas ainda estão sendo testadas – finaliza.
* Obs.
Recomendamos a leitura da Dissertação de Mestrado
de Tatiana Ferreira Almeida, realizada no Departamento de Genética
e Biologia Evolutiva, do Instituto de Ciências da Universidade
de São Paulo (USP): Análise da dispersão das populações
nativas americanas: uma abordagem genético-fisiográfica.
-
clique aqui para acessar a tese, em pdf -
Fontes:
http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT965317-3269,00.html
http://www.psiquiatriageral.com.br/saudecultura/quem_somos.htm
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