13/07/2014
Excluídos pela inclusão
Colocar crianças com necessidades especiais em salas
separadas divide educadores: parte deles acredita que é segregação,
outros defendem que é uma alternativa eficiente de aprendizado
por Ana Elizabeth Cavalcanti
para Revista Mente Cérebro
A educação escolar de crianças com necessidades
educacionais especiais não é uma experiência nova.
Em meados da década de 70, as chamadas escolas alternativas já
faziam as primeiras tentativas de acolher esses alunos no espaço
escolar. Desde então, as escolas vêm acumulando as mais
diversas experiências, e hoje se consolida cada vez mais a tendência
de pensar numa educação de qualidade para todos. Mas o
que seria isso?
No início da década de 90, surgiu nos Estados Unidos um
movimento que propunha a inclusão de todas as crianças
com necessidades especiais em escolas regulares. Após a Conferência
Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em Salamanca,
Espanha, em 1994, o “discurso da inclusão”
tomou feições internacionais e, no Brasil, foi incorporado
pelo Ministério da Educação e pela Secretaria de
Educação Especial.

Se por um lado o princípio é indiscutível
– todas as crianças, independentemente de suas condições,
têm direito e devem ter acesso à escolarização
de qualidade – por outro, ele cria dificuldades, quando se propõe
a definir o que seria esse processo ou como deveria se dar.
Em que pesem as diferenças existentes entre eles, os defensores
da inclusão preconizam que todas as crianças devem estar
em escolas e em classes regulares. Mas o que os autoriza, por exemplo,
a afirmar que os surdos se escolarizam melhor em escolas e classes de
ouvintes se eles próprios pensam exatamente o contrário?
O que os leva a pensar que as chamadas crianças autistas e psicóticas
devem estar obrigatoriamente em classes regulares, quando existem experiências
tão diversas de sua escolarização e pouco se conhece
ainda de seus particularíssimos modos de aprendizagem?
Em uma conversa sobre inclusão com um grupo de professoras da
Rede Estadual de Ensino de Pernambuco, uma delas falou sobre suas experiências
pedagógicas com crianças com necessidades especiais. Para
algumas delas, disse a professora, as classes especiais ou integradas
eram condição para estarem na escola, um meio de se tornarem
visíveis. Para outras, essas classes foram dispositivos que promoveram
a segregação e acentuaram a condição de
inexistência. O mesmo se poderia dizer das salas regulares.
“O que a minha experiência mostra e eu
defendo”, disse a professora, “é que não
há um modelo a ser seguido.”
E concluiu:
“Por isso, sou contra a inclusão”.
Finalmente, movida por certo desconforto decorrente
de seu posicionamento, acrescentou que, óbvio, não defendia
a exclusão.
A fala dessa professora explicita o que incomoda no discurso da inclusão:
ele tornou-se um discurso hegemônico e ideológico. Ou seja,
o que é uma entre várias possibilidades de pensar a educação
para todos tornou-se A forma, aquela que anuncia uma verdade
única e indiscutível.
O fato de a professora sentir-se obrigada a justificar que não
era defensora da exclusão evidencia o efeito do modo maniqueísta
de pensar presente nesse discurso: quem não está comigo,
que represento o bem, está contra mim e com o mal. Ou seja, não
aderir ao discurso da inclusão implica defender a exclusão.
E aqueles que não aderem passam a fazer parte de uma extensa
lista de excluídos – composta de professores, diretores
de escolas, pais e dos próprios alunos com necessidades especiais,
como os surdos, por exemplo –, tachados de resistentes, preconceituosos
e segregacionistas.
Isso leva a supor que talvez, para pensar sobre uma educação
de qualidade para todas as crianças, o paradigma binário
inclusão/exclusão não
ajude.
Assim, a ideia de uma escola inclusiva deveria ser substituída
pela de escolas diversas e plurais, efeito de experiências bem-sucedidas,
sempre particulares, que já foram construídas ou estão
por construir. Elas poderiam ser uma espécie de antídoto
contra a atração fatal de homogeneizar o que é
diverso por condição.
Fonte:
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/excluidos_pela_inclusao.html
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