30/03/2014
Depressão é uma das principais
causas de afastamento do trabalho
por Cláudia Collucci
Folha de São Paulo
A depressão e outros transtornos ansiosos figuram entre as quatro
causas mais frequentes de afastamento do trabalho, segundo dados de
2013 do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Só a depressão
foi responsável por 61.044 afastamentos.
As estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde)
não são animadoras. Na próxima década, a
doença será a mais comum no mundo, ultrapassando moléstias
cardiovasculares e câncer.
O Brasil tem poucas políticas públicas para prevenir
e tratar esse e outros transtornos mentais. O gargalo vai da falta de
rede primária de prevenção à escassez de
psicólogos e psiquiatras no sistema público e ao deficit
de leitos psiquiátricos de emergência para pacientes em
surto.
Segundo recomendações da literatura internacional, seriam
necessários 70 mil leitos psiquiátricos para a atual demanda
de doentes mentais graves no país. Hoje há 27 mil.
Muitas das crises de quadros maníacos agudos, como esquizofrenia,
poderiam ser controladas sem internação caso fossem tratadas
corretamente em 48 ou 72 horas.
Festa de aniversário no Caps da Vila Mateus
- Zanone Fraissat/Folhapress
É o que afirma o psiquiatra Rodrigo Affonseca
Bressan, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
e que participou do Fórum "A Saúde do Brasil",
da Folha.
A atual política mental se ancora nos Caps (Centros de Atenção
Psicossocial), mas eles ainda são em pequeno número e
enfrentam problemas de várias ordens.
"Os casos de transtornos mentais cresceram numa proporção
muito maior do que o de equipamentos ou de profissionais. Há
longas filas de espera para atendimento", diz o psiquiatra Duílio
de Camargo, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Bressan também ressalta a importância de não restringir
a especialistas o tratamento de pacientes com depressão, por
exemplo.
"Saúde mental é também responsabilidade
do médico de família e do enfermeiro", disse.
Para o psicólogo Sérgio Braghini, conselheiro do CFP
(Conselho Federal de Psicologia), há também um gargalo
na assistência psicológica, seja no SUS, seja na saúde
privada.
"O modelo de saúde mental privilegia a medicalização."
(...)
A rede Caps é a porta de entrada para os atendimentos em saúde
mental pelo Sistema Único de Saúde em todo o Brasil. Os
centros oferecem tratamentos contra dependência química
e doenças como esquizofrenia e autismo.
Das 80 unidades paulistanas, 16 contam com um total de 150 leitos para
o chamado acolhimento temporário, o caso de Oliveira.
"A rede de atendimentos da capital deve suprir apenas 10% da
demanda. Os demais pacientes ficam sem ter onde pedir ajuda",
afirma o psiquiatra Elko Perissinotti, vice-presidente do Hospital
Dia da USP (que realiza atendimento similar ao oferecido no Caps).
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2014/03/1432524-depressao-e-uma-das-principais-causas-de-afastamento-do-trabalho.shtml