09/03/2014
Programa incorpora dimensão espiritual a tratamento médico
por Aline Naoe, do USP Online
Embora trabalhe diariamente com a questão da saúde humana,
o que com frequência é sinônimo de lidar com o sofrimento
alheio, a dor e a morte, o exercício da medicina e a formação
na área raramente levam em consideração aspectos
como religião e espiritualidade no contato com os pacientes.
Mas para o psiquiatra Frederico Camelo Leão, independentemente
das crenças pessoais do médico, ele deve estar preparado
para lidar com a dimensão espiritual.
“O paciente demanda isso”, afirma o pesquisador
do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas
(HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Complexidade do ser humano e
saúde mental vão além das questões neuroquímicas
No Instituto, Leão coordena o Programa de Saúde, Espiritualidade
e Religiosidade (ProSER
- clique aqui para visitar o site), iniciativa que busca compreender
a relação entre esses três fatores a partir de atividades
de pesquisa, ensino e assistência terapêutica. Segundo o
médico, a complexidade do ser humano e a saúde mental
vão muito além das questões neuroquímicas
— e é essa premissa que guia o programa.
A ideia não é que a espiritualidade
e a religiosidade entrem como uma alternativa ao tratamento médico.
“É
uma forma complementar, dentro da visão de que a busca da saúde
é mais do que apenas tomar remédios”, explica.
Leão conta
que trabalhos científicos na área indicam que práticas
como meditação, orações ou a dedicação
a uma denominação religiosa podem estar associadas a melhoras
na defesa imunológica e na longevidade. Ao frequentar um templo
ou igreja, por exemplo, a pessoa, além de trabalhar sua espiritualidade,
tem também suporte social, ou seja, frequenta um lugar onde pode
compartilhar experiências e obter apoio, o que traz benefícios
à saúde, podendo, inclusive, inibir ímpetos suicidas.
Mapeamento espiritual
Os pacientes em tratamento no IPq são
convidados pela equipe do ProSER a responder um questionário.
Trata-se da anamnese espiritual, uma forma de mapear o perfil espiritual
/ religioso, a partir de questões que buscam identificar os valores
cultivados pelo paciente — por exemplo, se ele vê relação
entre o sofrimento psíquico e a religião seguida, ou a
que a pessoa recorre em momentos de dificuldade.
Essa anamnese, que em si já apresenta uma
função terapêutica, pois estimula a reflexão
do paciente sobre essas questões, é seguida de discussão
pela equipe que vai, então, sugerir o encaminhamento a alguma
das atividades promovidas pelo programa, como meditação,
oficina de contos, yoga e psicoterapia transpessoal. No caso da yoga,
o programa se estende também aos funcionários do Instituto.
O trabalho feito pelo ProSER não envolve práticas religiosas,
mas tem a parceria do Comitê de Assistência Religiosa (CARE)
do Hospital das Clínicas. O Programa faz a intermediação
com esse Comitê quando o paciente deseja receber a visita de um
representante religioso, como um rabino ou pastor.
Em geral, pacientes se sentem mais
humanizados com abordagem do ProSER
Segundo o coordenador do ProSER, é difícil
dizer se a melhora do paciente tem relação direta com
a abordagem espiritual, especialmente ao se tratar do IPq, cuja assistência
multiprofissional é uma das características mais marcantes.
No entanto, os depoimentos dos pacientes revelam, em geral, que se sentiram
mais humanizados.
“Muitas
das queixas de pacientes internados vêm do fato de serem tratados
apenas como um leito, um diagnóstico. Quando você faz
uma abordagem diferente, dando a oportunidade da pessoa falar sobre
sua intimidade, suas crenças, a pessoa se sente mais acolhida”,
conta Frederico Leão.
Ciência e espiritualidade
Embora ainda exista resistência
por parte da comunidade científica ao lidar com questões
que envolvam religião e espiritualidade, Leão enxerga
um grande crescimento na produção científica na
área, que encontra espaço nas revistas de impacto.
Um exemplo é a Revista de Psiquiatria Clínica,
que publicou em 2007 uma edição especial dedicada ao assunto
e mantém atualmente uma seção chamada Série
Mente-Cérebro, que abrange trabalhos na área.
“O programa vem sendo reconhecido,
vem crescendo dentro da Universidade. Na psiquiatria, de um modo geral,
há um crescimento extraordinário das publicações,
não só no Brasil”.
Esse avanço se deve, em parte,
à decisão da Associação de Psiquiatria Americana
que, em 1995, atualizou o Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM), incluindo problemas espirituais e religiosos
como uma nova categoria diagnóstica, ou seja, eles deixavam de
ser classificados como transtornos mentais. A mudança deu impulso
à criação no IPq do Núcleo de Estudos de
Problemas Espirituais e Religiosos (NEPER), embrião do ProSER,
e motivou estudiosos também em outros países.
”A resistência vem de
quem acredita que a questão central da psiquiatria é
diagnóstico e medicação. Mas a psiquiatria não
se esgota aí”, crê Frederico Leão.
Informações sobre triagem e atendimento no IPq podem ser
obtidas pelo telefone (11) 2661-8045, diariamente, das 7 às 19
horas (inclusive sábados, domingos e feriados).
Foto: Pedro Bolle / USP Imagens
Fonte:
http://www.usp.br/agen/?p=167099
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