17/08/2012
por Kristhian Kaminski
De cada 100 crianças e jovens vítimas
de agressão doméstica que são reintegradas a suas
famílias, 60 serão revitimizadas. O mais grave: 10% destas
acabarão morrendo. A informação é do médico
Mário Hirscheimer, do Núcleo de Estudos da Violência
contra a Criança e o Adolescente, da Sociedade de Pediatria de
São Paulo.
Hirscheimer, que já considera a situação atual
“bastante trágica”, afirma que os números
conhecidos de violência contra crianças e jovens no Brasil
são apenas a ponta de um iceberg.
“É muito pouco provável que numa casa com cinco,
seis crianças, apenas uma delas seja vítima de violência.”
O número de mortes decorrentes de violência doméstica
poderia ser reduzido de várias formas, disse Hirscheimer, ao
participar de uma conferência sobre violência doméstica
contra a criança e o adolescente, em São Paulo.
A primeira delas seria a participação mais efetiva da
sociedade, denunciando os agressores.
“Tem muita gente que ainda acha que não tem nada a ver
com a vida do vizinho. Testemunha agressões e não faz
nada.”
Segundo ele, há comunidades em que o comportamento agressivo
é aceito. A solução, portanto, passaria pela mudança
de todo um padrão cultural.
Conselhos "sem estrutura"
Cuidar da família como um todo é um ponto fundamental
para evitar a revitimização e mortes de crianças
e jovens. Nesse ponto, Hirscheimer dispara críticas à
atuação dos Conselhos Tutelares e das Varas da Infância
e da Juventude.
“Alguns setores ainda deixam muito a desejar, não por
falta de vontade, mas sim de estrutura”, afirma.
“Os Conselhos Tutelares não têm a força
necessária. Os membros são eleitos pela comunidade,
em votação não obrigatória e sequer divulga-se
quando haverá eleição, o que dá margem
ao uso político da função”.
Para o especialista, a única exigência para que uma pessoa
da comunidade possa fazer parte de um conselho tutelar é que
tenha dois anos de experiência com crianças e jovens, o
que segundo ele é “muito vago”.
Em relação ao trabalho das Varas da Infância e
da Juventude, Hirscheimer afirma que muitos casos de revitimização
de crianças e jovens decorrem de um erro de julgamento.
“Há algumas varas que fazem um trabalho excelente,
mas muitas simplesmente decidem que é melhor a criança
ou jovem voltar para a família, sem avaliar corretamente os
riscos que ela corre de ser revitimizada.”
O médico acrescenta:
“A vítima não é só aquela que chega
ao pronto-socorro. Toda a família precisa ser tratada.”
Hirscheimer diz que hoje há uma movimentação
muito grande entre diversos segmentos para combater o problema. Mas,
na prática, não existe um rede interdisciplinar bem estruturada,
porque diversos órgãos que lidam com a questão
não contam com qualquer tipo de apoio técnico.
Na avaliação do médico, o combate à violência
doméstica ajudaria o país a reduzir outro grave problema:
o crescente número de crianças e jovens que vivem nas
ruas.
“Boa parte delas tem família, mas decidiu fugir de
casa para evitar agressões”, afirma.
Um combate mais efetivo ao problema, defende o pediatra, também
ajudaria a reduzir os índices de violência doméstica
nas gerações futuras.
“Lidamos com uma doença contagiosa. A criança
educada desta forma será o agressor de amanhã.”
Texto retirado do site repórter social, em 18/08/2003
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