13/08/2012
Conselheira da ONU foi vendida como escrava na
Índia quando jovem e diz que combater tráfico humano é
seu chamado na vida
Minha História - Rani Hong, 40 - Retrato da
escravidão
A indiana Rani Hong, 40, que foi escrava na infância
e
atualmente é conselheira especial das Nações Unidas
Piyal Bhattacaharjee - 22.set.2009/The Times of India
FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES
Treze anos atrás, a indiana Rani Hong,
40, decidiu que tinha um "chamado na vida". Virou ativista
pelo combate ao tráfico humano ao descobrir que fora vítima
quando criança. Hoje é conselheira especial da ONU, após
exercer o mesmo posto no Departamento de Estado americano, pelo qual
fez viagem ao Brasil, há uma década.
Ela também fundou a Tronie Foundation, que ajuda sobreviventes
a se tornarem líderes.
Tinha sete anos e morava no sul da Índia, perto de Bangalore,
quando uma mulher que se dizia amiga da família nos procurou.
Ela queria nos ajudar e disse que me daria educação
e comida.
Por um período temporário, minha mãe deixou
que eu fosse e me visitava sempre, numa casa na mesma rua. Até
que um dia, ela não me encontrou. Eu havia sido vendida como
escrava.
Fui levada para um Estado vizinho, na fronteira, onde não
sabia a língua e não tinha como pedir ajuda. Era tudo
muito desorientador.
Para controlar as crianças, havia espancamento, torturas,
nos deixavam sem comida. Meu "dono" comprava e vendia crianças
para trabalhar de empregadas domésticas e em fábricas
ou para agências de adoção.
Chorava todas as noites, e meu "dono" repetia que minha
mãe havia morrido. Fiquei um ano encarcerada, mentalmente e
fisicamente incapacitada, traumatizada.
Quando perceberam que eu não daria mais lucro, eles decidiram
me vender para a adoção internacional. Fui enviada primeiro
para o Canadá e depois fui adotada por uma mãe solteira
nos EUA.
A agência de adoção aparentemente era legítima,
eles acreditaram que eu era órfã e vinha de um orfanato
de verdade. Minha mãe adotiva era uma mulher maravilhosa que
me deu humanidade de volta. Ela morreu quando completei 17 anos.
Só fui descobrir o que era tráfico humano quando completei
28 anos, numa viagem de férias à Índia. Por meio
de uma série de eventos, acabei descobrindo que minha mãe
biológica estava viva. Foi inacreditável, um milagre
puro, não estava preparada para aquilo, não estava procurando
por ela, achava que estava morta.
CHAMADO DE VIDA
A partir daquele momento, percebi que algo não
fazia sentido. Comecei a fazer perguntas, a pesquisar. Minha mãe
nem sabia o que era adoção. Por 20 anos, ela me procurava.
A partir daquele momento, ao voltar para os EUA, virei ativista para
combater tráfico humano: é este o meu chamado na vida.
Quando conto minha história pessoal, estou representando milhões
de pessoas que foram vendidas à escravidão. Todo mundo
quer saber números, estatísticas, mas quero levar a
conversa para outro nível -eu represento um coração,
um rosto.
Como conselheira especial das Nações Unidas, viajo
por vários países e visito empresas para levar a perspectiva
das vítimas e sobreviventes.
Meu objetivo é influenciar as pessoas para que percebam que
a questão é muito maior do que se imagina. Precisamos
nos unir para resolver o problema.
Três meses atrás, fiz meu primeiro discurso na Assembleia-Geral
da ONU. Disse que falta coordenação, o que é
muito desanimador para os sobreviventes, e que precisamos agir rápido.
Foi um discurso incrível e acho que foi bem aceito.
Há 10 ou 12 anos, fui enviada a Brasília através
de um programa do Departamento de Estado americano para contar minha
história aos parlamentares brasileiros. Lembro que ao final
eles me olharam como se perguntassem: "O que é tráfico
humano?". Disseram que isso não acontecia no país.
Fiquei chocada, mas na época ninguém falava muito no
assunto. Hoje, sabemos que o problema existe no Brasil. Mas, vendo
os relatórios, o país aparece como um dos líderes
do combate. É uma grande história de sucesso, e significa
que podemos repeti-la em outros lugares.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1133633-hoje-conselheira-da-onu-indiana-relata-escravidao-na-infancia.shtml
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