06/08/2012
Por JOHN NOBLE WILFORD
Para os cientistas que estudam a origem do Homo
sapiens, a pesquisa avança em três frentes. Fósseis
de ossos expõem alterações anatômicas, a
genética mostra a cronologia e o lugar da "Eva" dos
humanos modernos e a arqueologia revela artefatos antigos que refletem
o pensamento abstrato e criativo e uma crescente autoconsciência.
O paleoantropólogo britânico Chris
Stringer é uma autoridade na evolução humana. Stringer,
64, é antropólogo do Museu de História Natural
de Londres e membro da Royal Society.
A seguir, trechos da entrevista:
P. O senhor escreveu que em 1970 a origem dos humanos modernos
quase não era reconhecida como um assunto digno de estudo. O
que mudou?
R. Em 1970, para algumas pessoas, não havia uma só origem:
nós evoluímos no mundo todo. Havia uma visão de
que em diferentes regiões uma espécie anterior, o Homo
erectus, evoluiu para os humanos modernos. Isso era conhecido como multirregionalismo.
Dizia esse argumento que nós continuamos como uma espécie
porque houve um cruzamento entre as diferentes populações.
Os neandertais na Europa seriam os ancestrais dos europeus modernos
e o Homo erectus na China seria o ancestral dos asiáticos modernos.
E o Homem de Java seria um antepassado distante das populações
modernas de aborígenes australianos. Os estudos de DNA tiveram
um impacto enorme.
P. E a Eva africana? Isso estabeleceu uma data aproximada para
a origem genética dos humanos modernos, na África.
R. A publicação da Eva Mitocondrial em 1987 foi um momento-chave.
Aí estavam dados independentes, do nosso DNA mitocondrial, sugerindo
que tivemos origem em uma só população na África,
talvez há 200 mil anos. A África foi o único lugar
que revelou uma transição de humanos arcaicos para modernos.
P. O senhor propõe que não houve um lugar só
na África onde os seres humanos modernos se originaram.
R. Os dados de DNA mostram que essencialmente cada um dos nossos genes
tem uma história evolutiva separada. Então, não
há um ponto único na África que geneticamente pareça
ser o lugar das nossas origens.
A África é um lugar enorme. Populações em
áreas diferentes teriam florescido brevemente, desenvolvido novas
idéias e, então, talvez morrido -isso estava sendo controlado
pelo clima-, mas não sem antes trocar genes, ferramentas e estratégias
comportamentais.
Isso continuou acontecendo e começamos a ver o padrão
moderno, comportamental e fisicamente, se aglutinando a partir dessas
regiões diferentes para dar origem aos seres humanos modernos,
há 60 mil anos.
P. A arte rupestre da Europa influenciou a visão de
que o comportamento moderno começou lá há 40 mil
anos. Até que ponto essa nova visão é firme?
R. Eu argumentaria que quando os humanos modernos saíram da África,
há, digamos, 60 mil anos, fundamentalmente eles eram modernos
do ponto de vista comportamental.
P. O senhor aceita as novas evidências de cruzamento
entre o neandertal e o Homo sapiens?
R. Essa é uma das notícias notáveis do último
par de anos. Nós reconstruímos o genoma dos neandertais
e, sim, ele mostra que as pessoas fora da África têm, em
média, cerca de 2,5% de DNA neandertal nelas. Claramente houve
um cruzamento viável.
P. Quem eram os denisovanos?
R. Essa é uma descoberta extraordinária. Alguns poucos
dentes e um osso de dedo produziram um genoma postado no site do Instituto
Max Planck de Biologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha. Parece que os
denisovanos foram um dos primeiros ramos na linhagem do neandertal.
Eles são conhecidos apenas a partir de um local na Sibéria,
e seu DNA aparece nas pessoas de hoje -lá na Austrália
e na Nova Guiné. Isso é extraordinário. Implica
que os denisovanos devem ter sido um grupo espalhado.
P. Poderíamos algum dia clonar esse povo extinto?
R. Teoricamente, você poderia recortar e colar essas mutações
denisovanas em um genoma humano moderno e, então, implantar isso
num óvulo e criar um denisovano.
Acho que isso seria completamente antiético. Trazer indivíduos
isolados de volta, para a nossa própria curiosidade ou propósitos
arrogantes, seria completamente errado.
P. Qual é o futuro da evolução humana?
R. Os geneticistas já demonstraram quantas mudanças genéticas
houve nos últimos poucos milênios, porque passamos por
grandes mudanças com a urbanização, a agricultura
A seleção ainda está agindo em muitas populações
humanas. Além disso, todos nós temos 50 mutações
em nosso DNA em comparação aos nossos pais. Então,
ainda estamos evoluindo. Vamos continuar a evoluir.
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