11/07/2012
MAURÍCIO KELLER
‘A arte tem o poder de despertar a consciência
adormecida, possibilitando o acesso ao nosso núcleo divino’
Mauricio Keller Tamioso é
natural de Itaqui (RS), mas reside em Goiânia (GO) desde 1986.
Formado em Administração de Empresas, trabalha na área
de treinamento e consultoria empresarial. Faz parte do Grupo Arte Nascente
(GAN) desde sua fundação. É compositor, cantor
e poeta. Já participou de vários eventos de arte dentro
e fora da movimento espírita, realizando oficinas de criação
musical com foco na libertação do medo de criar e de apresentar
em público. É associado fundador da Abrarte, exercendo
atualmente o cargo de membro do Conselho Doutrinário.
1. Como você começou seu trabalho com arte espírita?
Tudo começou em 1989, quando me tornei espírita.
Até os meus dezenove anos, eu não frequentava nenhum culto
religioso, apesar de ser católico. Foi então que o meu
pai, que era agricultor, faliu. Passamos por um grave momento financeiro.
Num belo dia, ele trouxe de uma viagem que fez a um credor, em São
Paulo, dois presentes do mesmo: “O Livro dos Espíritos”
e o romance espírita “E a vida continua”. Apesar
de minha resistência, tive a curiosidade de folhear uma página
de “O Livro dos Espíritos” e me surpreendi. Parecia-me
que tudo estava sendo recordado. Li-o em três dias. Nessa época,
tínhamos nos mudado para um novo setor de Goiânia e não
conhecíamos os nossos vizinhos. Comecei a orar para a espiritualidade
solicitando trabalho. Nem sabia que existia esse negócio de mocidade
espírita. Até que aconteceu algo surpreendente: o vizinho
me convidou para participar do aniversário de um dos seus filhos
a fim de estreitarmos laços de amizade. Nem imaginava que quem
me fazia o convite era o Dr. Paulo Daltro de Oliveira, um dos ícones
do Espiritismo de Goiás. Na festa, ao conversarmos, ele me revelou
que era espírita e então tudo começou. No dia seguinte,
um domingo, já estava no carro dele indo para a “Mocidade
Espírita Joanna de Ângelis”. Como o seu filho mais
velho, Estevão, era o coordenador da mocidade e sabia que eu
cantava, pois que me ouvia muitas vezes através do muro da sua
casa, me convidou para integrar um grupo de arte que estava se formando
naquele momento, mas ainda não tinha nome. A proposta inicial
deste grupo de arte era pra ser um grupo de alegria cristã formado
por integrantes de várias mocidades espíritas de Goiânia
e que seria itinerante, para poder visitar o maior número de
centros espíritas. Mas, tudo mudou quando começamos a
criar músicas e definir uma campanha de valorização
à vida através da arte.
2. Como você define a arte espírita?
Defina-me o amor!
3. Qual o papel da arte no processo de despertar da consciência
e do auto-conhecimento?
Neste aspecto só posso falar por mim, da minha
experiência. Sinto que a arte tem o poder de acordar a consciência
adormecida de quem a faz, representa ou aprecia. Através deste
despertar da consciência temos a possibilidade de acesso imediato
ao nosso núcleo divino, o “brilhe a vossa luz”, exemplificado
pelo Cristo. No entanto, o que impede este acesso, é a nossa
mente, com todos os seus ruídos e turbulências. Ela cria
uma capa, uma casca que nos separa de nós mesmo, nos separa do
inconsciente puro, relatado por Jorge Andrea, em seu livro “Forças
Sexuais da Alma”. Invariavelmente a mente não está
no presente, pois que o ego aprecia o passado, agitando-se nas lembranças
de culpas, mágoas e ressentimentos, ou o futuro, perdendo-se
na angústia, na ansiedade do que pode acontecer. A mente nunca
está no presente, pois este é o seu pior inimigo. Presente
e ego se repelem automaticamente. Estar consciente é como haver
luz sobre as trevas. Toda vaidade, orgulho, ressentimentos e angústias
somem ao serem visitados pela consciência. Tornar-se consciente
é simples, basta observar, testemunhar o que acontece internamente
sem julgamentos. Apenas vigiar, mais nada, sem força, sem guerra.
A arte, neste contexto, tem o poder de nos fixar no aqui e agora. Ao
mergulharmos nela, nos tornamos unos com a vida, sem julgamentos, rótulos,
definições, racionalizações; apenas sentindo
a experiência. O grande segredo do auto-conhecimento, pois, é
o testemunhar a mente a cada instante. Aproveitar a arte para este despertar,
é uma jornada de libertação, de iluminação.
Em cada momento de criação, de ensaio, de apresentação
ou de apreciação devemos nos entregar à arte de
corpo e alma. Esvaziar a mente de deixar fluir. Esta entrega é
a grande felicidade da vida. Neste momento a luz interna do ser rompe
a casta do ego, pelo espaço que se abre na mente. A Doutrina
Espírita se torna mais vívida, mais curtida, mais fluída
quando nos tornamos testemunhas de nossas ações no bem
e experimentamos nitidamente as energias que nos envolvem. O Evangelho,
então, toma uma outra cor e, mais potente, nos transforma em
sua delicada pureza. Acredito, com tudo isso, que a arte pode ser o
mecanismo mais rápido para a nossa iluminação,
a jornada mais eficaz para vivenciarmos, plenamente, a boa nova em nossos
corações. Veja alguém que faz arte com presença.
Ele se torna um fenômeno energético, não mais uma
forma rígida. Ele se entrega e se torna tão vivo que a
moldura desaparece. Um dançarino, por exemplo, é capaz
de se confundir com a música. Ele desaparece para ser apenas
DANÇA. Esqueça de si mesmo em se torne apenas ARTE. Puro,
simples!
4. Você falou que seu primeiro contato com a Arte Espírita
coincidiu com o início do GAN, do qual você faz parte até
hoje. Como surgiu e como é o trabalho atual do GAN?
O GAN surgiu da necessidade compartilhada entre alguns
jovens de centros espíritas diversos em Goiânia. Eles se
reuniram para criar um grupo capaz de atender às demandas artísticas
das casas. Porém, tudo mudou quando o grupo começou a
criar, compor e se dedicar a campanhas de valorização
da vida através da arte. O próprio nome do grupo surgiu
de forma acidental. O GAN foi apresentar-se em um festival ecumênico
com músicas psicografadas de Noel Rosa. Na hora de apresentar
o grupo para a platéia, antes de entrar no palco, o apresentador,
Julinho Pimentel, nos perguntou como o grupo se chamava. Respondemos
que era um grupo que estava nascendo para a arte recentemente. Ele então
chegou para a plateia e disse: Com vocês o “Grupo Arte Nascente”.
Julinho ficou na nossa história. Hoje, o GAN é uma ONG
que possui 40 integrantes, divididos nas áreas de dança,
teatro e música. Temos cinco CDs lançados e dois DVDs.
Adoramos fazer musicais, onde integramos todas as áreas. Já
fizemos três: “VIDA - Uma história”, “Evolução”
e “Nova Viagem”. As duas principais campanhas realizadas
pelo grupo são de prevenção ao aborto e às
drogas. Estas campanhas direcionam todo o nosso trabalho e nos mantém
unidos dentro do ideal espírita. Nos reunimos todos os sábados,
das 15h30 às 20 horas, dividindo este tempo entre estudos, integração
e ensaios. Temos um regimento interno que norteia o comportamento geral
de trabalho, inclusive sobre conduta e procedimentos em viagens. Há
um ano e meio, mais ou menos, estamos realizando um projeto de evangelização
infantil através da arte, que chamamos de GANZINHO, e que acontece
no mesmo dia e horário do GAN.
5. O GAN sempre procurou desenvolver campanhas de valorização
da vida, com trabalhos com temática em torno das drogas e do
aborto. Poderia falar sobre essa proposta?
Desde o seu início o grupo sentiu a necessidade
de valorizar a vida através da arte. Primeiramente desejávamos
trocar de tema a cada ano, mas quando fomos verificando que tudo o que
fazíamos ainda era pouco, decidimos instituir. A nossa grande
proposta não é mexer na ferida de ninguém, mas
dar recursos, subsídios de consolo e direção para
aqueles que, direta ou indiretamente, se envolvem nas práticas
do aborto e das drogas. O mote mais forte do GAN é a auto-estima.
Acreditamos que nela está a solução de grande parte
dos problemas, principalmente com os jovens. O GAN, desta forma, procura
fazer uma arte espírita mista, tanto direta como indireta, pois
que o seu objetivo maior é alcançar as pessoas que não
são espíritas, e desta forma procuramos não violentar
a mente e a crença das pessoas.
6. Quais os novos projetos do GAN?
O GAN está com alguns projetos como o GAN sinfônico,
no qual queremos fazer um grande espetáculo onde praticamente
todas as músicas serão tocadas ao som de uma orquestra.
Pretendemos também gravar um DVD do espetáculo cênico-musical
“Nova Viagem”, que trata sobre as drogas. Queremos gravar
ainda um novo CD e produzir uma nova peça cênico-musical
relacionada com o circo.
7. Como está o movimento artístico espírita
em Goiás?
Continua forte, com o aparecimento de novos grupos
de arte e o fortalecimento de eventos relacionados. Em destaque está
a crescente demanda das casas espíritas, tanto do interior como
da capital, por encontros sobre arte e por apresentações
artísticas. Porém, uma das coisas que deve melhorar, e
muito, é a integração entre os grupos e as iniciativas
de arte.
Fonte: Informativo virtual da Abrarte
Associação Brasileira de Artistas Espíritas
Site: www.abrarte.org.br / Portal Arte Espírita:
www.arteespirita.com.br
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