09/07/2012
Aparelho ajuda a 'escrever' com a mente
Sistema que usa ressonância magnética e
decodificador permite escolher letras apenas com a atividade cerebral
- Pesquisa de europeus poderia ajudar pessoas com consciência
ainda intacta, mas incapazes de se movimentar
REINALDO JOSÉ LOPES
DO EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Demora e dá um bocado de trabalho, mas aparelhos de ressonância
magnética já podem ser empregados para "conversar"
usando apenas a força do pensamento.
A tecnologia, descrita por pesquisadores da Holanda e da Alemanha em
artigo na revista científica "Current Biology", usa
padrões cerebrais específicos para codificar cada uma
das letras do alfabeto e mais uma "tecla de espaço"
mental. Dessa forma, usando apenas sua atividade cerebral, voluntários
saudáveis na faixa dos 30 anos conseguiram formar palavras e
responder perguntas dos cientistas.
Trata-se de uma forma extremamente incômoda e lenta de "telepatia".
Mas a técnica tem chance de virar uma importante ferramenta para
que pessoas totalmente incapazes de se mexer voltem a se comunicar com
o mundo.
Esse problema, conhecido como "síndrome de locked-in"
(do inglês "trancado dentro de si mesmo"), é
um dos mais aterrorizantes problemas neurológicos.
Por conta de um derrame que afeta as funções motoras,
por exemplo, a pessoa tem sua consciência e inteligência
preservadas, mas simplesmente não consegue se mexer. Algumas
dessas pessoas têm movimentos residuais, como o dos olhos, que
podem ser usados na comunicação, mas em alguns casos nem
isso é possível.
No caso de pacientes em situação ainda mais grave, em
estado aparentemente vegetativo, o método poderia até
ajudar a determinar se, afinal de contas, eles possuem algum grau de
consciência.
O sistema criado pela equipe de Bettina Sorger, da Universidade de
Maastricht, não é simplesmente uma leitura da letra A
quando a pessoa "pensa num A", digamos.
Como não existem medições confiáveis sobre
como as letras seriam representadas na atividade cerebral vista pela
ressonância magnética, os cientistas precisaram criar um
código, baseado em "tarefas" mentais, que correspondiam
a certos grupos de letras.
Havia três tipos de tarefas: imaginar um movimento, fazer um
cálculo mental ou "falar" consigo mesmo.
A pessoa, além disso, tinha de escolher entre três durações
dessa "ação" mental (10, 20 ou 30 segundos)
e três tempos de atraso para colocá-la em prática
(nenhum atraso, 10 ou 20 segundos).
MÚLTIPLOS DE TRÊS
A combinação de todos esses tipos de variante -três
vezes três vezes três, perfazendo 27- chega a um conjunto
de 26 letras mais a "tecla de espaço", permitindo a
formação de qualquer palavra.
Em laboratório, os voluntários conseguiram responder
a perguntas simples dos pesquisadores, como "Onde você passou
as suas férias?" ou "Qual é o seu hobby?".
Por enquanto, o processo é de uma lentidão excruciante:
em torno de 50 segundos por letra, com taxa de acerto de 82%. Métodos
usando eletroencefalograma conseguem resultados com mais rapidez, mas
exigem certo grau de treinamento, e os pacientes às vezes não
pegam o jeito da coisa. Embora trabalhoso, o método da ressonância
é menos difícil e tem potencial para ficar mais rápido.
Por enquanto, não há perigo algum de que a tecnologia
seja empregada para bisbilhotar os pensamentos de outra pessoa sem permissão,
escrevem os autores.
"É importante salientar que apenas a ativação
cerebral gerada intencionalmente foi empregada para decodificar as letras."
Ah, bom.
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