21/05/2012
Pensamentos que viram comandos - Ondas
cerebrais ajudam contra apneia e autismo
por DAVID EWING DUNCAN
Já habituado a máquinas que lhe
permitem a duras penas se comunicar, o físico Stephen Hawking
envergou no ano passado o que parecia ser uma descontraída faixa
preta na cabeça, que continha um dispositivo leve, do tamanho
de uma caixa de fósforos pequena.
Chama-se iBrain ("iCérebro") e é parte de uma
experiência que se destina a permitir que Hawking -há muito
tempo paralisado pela esclerose lateral amiotrófica, ou doença
de Lou Gehrig- comunique-se por pensamento. O iBrain é parte
de uma nova geração de algoritmos e aparelhos neurológicos
portáteis, destinados a monitorar e diagnosticar problemas como
a apneia do sono, a depressão e o autismo. Inventado pela equipe
do neurocientista Philip Low, 32, presidente da NeuroVigil, de San Diego,
o iBrain está chamando a atenção como uma possível
alternativa aos custosos laboratórios do sono.
"O iBrain pode colher dados em tempo real na própria cama
da pessoa, ou quando ela está vendo TV ou fazendo qualquer coisa",
disse Low.
O equipamento usa o mesmo canal para captar as ondas dos sinais elétricos
cerebrais, que mudam conforme a atividade ou o pensamento, ou conforme
patologias que acompanham transtornos cerebrais.
As ondas são difíceis de ler porque precisam passar pelas
muitas dobras do cérebro e pelo crânio, por isso são
interpretadas com um algoritmo que Low criou para o seu doutorado, concluído
em 2007 na Universidade da Califórnia, San Diego (a pesquisa
original, publicada na revista "The Proceedings of the National
Academy of Sciences", foi feita em pássaros).
Sobre a experiência com Hawking, ele disse que a ideia é
vê-lo "usar sua mente para criar um padrão consistente
e repetível que um computador possa traduzir, digamos, como uma
palavra, letra ou comando de computador."
Os pesquisadores instalaram nele a faixa do iBrain e lhe pediram para
"imaginar que estava apertando uma bola com a mão direita",
disse Low. "É claro que ele na verdade não consegue
mexer a mão, mas o córtex motor do cérebro ainda
pode emitir o comando e gerar ondas elétricas no cérebro
dele."
O algoritmo foi capaz de discernir os pensamentos de Hawking como sinais,
que foram representados como uma série de picos em um gráfico.
A NeuroVigil planeja repetir o estudo em grandes populações
de pacientes com esclerose lateral amiotrófica e outras doenças
neurodegenerativas.
"Desejo ajudar na pesquisa, encorajar investimentos nessa área
e, o que é mais importante, oferecer alguma futura esperança
a pessoas diagnosticadas com ELA e outras condições
neurodegenerativas", disse Hawking, 70, em nota.
O físico também tem trabalhado com outros inventores
que buscam elucidar melhor seus pensamentos. A Intel recentemente preparou
um computador para se comunicar com os óculos infravermelhos
que captam e leem pequenas vibrações na bochecha dele
e está desenvolvendo um software de reconhecimento facial capaz
de monitorar mudanças sutis na expressão, o que pode ajudar
Hawking a se comunicar.
Cientistas desvinculados de Low se dizem animados com o potencial do
iBrain. "O dispositivo de Philip Low é um dos melhores monitores
cerebrais de canal único que há por aí", disse
Roth O'Hara, professora de psiquiatria e ciências comportamentais
na Universidade Stanford (Califórnia). Ela pretende usar o iBrain
para estudos sobre o autismo.
A NeuroVigil não divulga o preço do aparelho. Em 2009,
a empresa estabeleceu um acordo com o laboratório Hoffmann-La
Roche para testar o iBrain. A estratégia da NeuroVigil, disse
Low, é executar ensaios clínicos com a Roche, e buscar
aprovação da FDA (Administração de Alimentos
e Drogas dos EUA).
Outras empresas fabricam monitores cerebrais de canal único,
mas, ao contrário da NeuroVigil, vendem aparelhos e softwares
diretamente aos consumidores, pela internet. A Zeo, de Massachusetts,
se dedica à mensuração de padrões do sono
por meio de um aplicativo para smartphone ou de um rádio-relógio
-disponível a partir de US$ 99 e US$ 143, respectivamente. A
Emotiv Systems, de San Francisco, oferece o seu fone de ouvido Epoc
por US$ 299 e mais uma gama de aplicativos e agregados que incluem avaliações
neurológicas, mapeamento cerebral em 3D e jogos, tudo usando
uma combinação de pensamentos e movimentos musculares
faciais registrados por vários eletrodos em contato com a cabeça
do usuário.
A NeuroVigil vai seguir trabalhando com Hawking e sua equipe para refinar
sua tecnologia de decifração dos sinais gerados pelos
pensamentos do cientista.
Ainda há muito trabalho, como a integração das
ondas cerebrais de Hawking a computadores e aparelhos que lhe permitam
se comunicar. "Não seria maravilhoso", disse Low, "ter
uma mente como a de Stephen Hawking capaz de se comunicar um pouco melhor
que seja?"
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