26/12/2007
Foz do Iguaçu/PR, 21 de
dezembro de 2007.
Caros confrades da LIPHE:
Muita Paz!
Com grande satisfação
lhes envio para análise o artigo que aborda uma singela, mas
sincera homenagem pelos 150 Anos do Lançamento histórico
da Revue Spirite, do ínclito Allan Kardec.
Sendo o Sesquicentenário da Revista Espírita uma das comemorações
mais importantes de 2008 (1º de janeiro), junto dos 140 Anos de
A Gênese (6 de janeiro) e dos 150 Anos da Société
Parisienne des Études Spirites (1º de abril), anexo também
as ilustrações das Referências Bibliográficas
utilizadas para a confecção da matéria comemorativa.
Vamos aproveitar todo o ano de 2008 para divulgar e estudar um pouco
mais nossa querida Revista Espírita, infelizmente quase desconhecida
em nosso meio, monumento doutrinário que complementa à
excelente Codificação Kardequiana.
Agradecendo a atenção dos amigos e desejando-lhes um Feliz
Natal e Ano Novo com Jesus, despeço-me com o afeto de sempre,
Enrique Eliseo Baldovino.
Tradutor da Revista Espírita
150 ANOS
Homenagem à Revista Espírita
Enrique Eliseo Baldovino
No mês de janeiro de 2008
comemoramos o Sesquicentenário da Revue Spirite, de Allan Kardec,
isto é, os 150 anos do lançamento dessa Obra monumental,
em 12 brilhantes volumes, que complementam o excelente Pentateuco Kardequiano.
A Revista Espírita esteve sob a segura direção
do eminente Codificador do ano de 1858 até 1869. Como sincero
tributo de reconhecimento ao ingente esforço do seu Autor para
plasmar tão importante Obra como legado para a Humanidade –
em colaboração com os Espíritos superiores –,
traduzimos ao português, a seguir, alguns parágrafos do
Prólogo-homenaje a Allan Kardec, que encontra-se nas primeiras
páginas da nossa tradução do francês ao espanhol
do Ano de 1858 da Revista Espírita,(1) Edições
CEI – Conselho Espírita Internacional:
Sexta-feira, 1º de janeiro de 1858. É lançada em
Paris a Revue Spirite - Journal d’Études Psychologiques,
de Allan Kardec, publicada sem interrupção pelo insigne
Codificador do Espiritismo até o mês de abril de 1869.
Apesar de Kardec ter desencarnado na quarta-feira 31 de março
desse mesmo ano, já havia deixado preparada a Revue de abril
de 1869, tal era sua organização, disciplina e esforço
exemplares, qualidades – entre tantas outras – que caracterizaram
o mestre de Lyon, junto ao seu inconfundível bom senso. Sua generosidade,
desprendimento e idealismo fazem-no custear todas as despesas com a
publicação da Revista, por sua própria conta e
risco, assim como o tinha feito quase nove meses antes com O Livro dos
Espíritos. Lança o primeiro número histórico
da Revista Espírita com 36 páginas, e o sucesso espiritual
haverá de acompanhá-lo em sua periodicidade mensal, tendo
como escritório de redação do Jornal, em essa época,
sua própria residência: rue des Martyrs, 8 (rua dos Mártires,
nº 8).
A Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos é
uma Obra monumental e magnífica em todos os sentidos, desde o
ponto de vista histórico, literário, científico,
filosófico, religioso etc. Tal qual o seu ilustre Autor, as páginas
da Revue possuem enorme bagagem cultural do mais alto valor, constituindo-se
em uma síntese de grande conteúdo biográfico, ético-moral,
geográfico, astronômico, político, artístico
e doutrinário propriamente dito. São exatamente 4409 páginas
de Luz no original francês (que temos a imensa honra de traduzir)
se somarmos os onze anos e quatro meses de publicação
dos seus doze volumes, sob a atenta direção de Kardec.
Portanto, desejamos homenageá-lo como digno mensageiro de Jesus,
que confiou ao Codificador a sublime missão de restabelecer todas
as coisas e, junto dos Espíritos superiores, instalar para sempre
na Terra o Consolador Prometido pelo Espírito de Verdade, Paracleto
que nos ensinará todas as coisas e que nos fará recordar
tudo o que o Cristo nos disse. [...]
Sem os limites naturais de um livro, a Revista é, então,
o complemento indispensável do Pentateuco Espiritista, já
que desenvolve, explica, amplia e ilustra, com a lógica de aço
de Kardec, os raciocínios expostos pelos Espíritos que
revelaram a magna Doutrina. Eis a verdadeira importância deste
gigantesco manancial da Revue Spirite no conjunto da Codificação
Kardequiana. [...] Com suas leituras em dia de vários diários
e obras literárias, científicas, filosóficas e
religiosas, o mestre lionês era um homem bem atualizado e muito
partícipe nos meios de difusão contemporâneos. Constantemente
retirava dos periódicos de todo o mundo artigos que analisava
sob a ótica espírita, transcrevendo muitos deles na Revista,
a fim de serem estudados doutrinariamente.
Para que possamos ter uma clara idéia da grande utilidade prática
da Revue no conjunto da Codificação, citamos a seguir
uma esclarecedora Nota de Kardec colocada no subcapítulo intitulado
Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso, item
43 e seguintes do capítulo XI de A Gênese,(2) Obra publicada
em 1868: “Quando, na Revue Spirite de janeiro de 1862, publicamos
um artigo sobre a interpretação da doutrina dos anjos
decaídos, apresentamos essa teoria como simples hipótese,
sem outra autoridade afora a de uma opinião pessoal controversível,
porque nos faltavam então elementos bastantes para uma afirmação
peremptória. Expusemo-la a título de ensaio, tendo em
vista provocar o exame da questão, decidido, porém, a
abandoná-la ou modificá-la, se fosse preciso. Presentemente,
essa teoria já passou pela prova do controle universal. Não
só foi bem aceita pela maioria dos espíritas, como a mais
racional e a mais concorde com a soberana justiça de Deus, mas
também foi confirmada pela generalidade das instruções
que os Espíritos deram sobre este assunto. O mesmo se verificou
com a que concerne à origem da raça adâmica”.
Eis porquê a Revista Espírita – nas próprias
palavras de Kardec – tornou-se um poderoso auxiliar na implantação
do Movimento Espiritista e na elaboração da Doutrina,
ao desenvolver os postulados em toda a sua extensão, apresentando
uma considerável variedade de casos e aplicações,
além de servir como meio de correspondência direta com
os leitores. [...] Assim como a própria Doutrina dos Espíritos,
a coleção da Revista Espírita é um grande
oceano, do qual encontramo-nos somente na praia e acreditamos que o
conhecemos em sua profundidade. Por isso urge a necessidade de estudar-se
a fundo esta magna Obra, grandioso documentário que tem servido
a Kardec de vasto campo experimental e de amplo laboratório de
idéias, auscultadas nas centenas de cartas recebidas, onde ele
sondava as reações da opinião pública, sedenta
do saber espiritista. A rigorosa pesquisa científica de Kardec
é digna de menção.
É por tudo isto que o estudo profundo da Revue há de contribuir
para uma ampliação de conhecimentos e, por conseqüência,
para a formação de uma sólida cultura doutrinária.
Através de suas luminosas páginas participamos ao vivo
da História da Doutrina Espírita – passo a passo
–, das árduas lutas e vitórias do Codificador, assim
como das calúnias e mentiras dirigidas contra ele pelos adversários
do progresso. A Revue Spirite está inscrita com letras maiores
nos Anais do Espiritismo, porque é a narração de
sua própria história e da detalhada exposição
dos acontecimentos dignos de memória, que a posteridade jamais
poderá esquecer. Era Kardec quem redigia integralmente a Revista
e quem cuidava de toda sua volumosa correspondência e remessa,
tarefa hercúlea que consumiria todo o tempo de uma pessoa comum.
Isto era apenas uma parte dos seus trabalhos, pois também tinha
o compromisso com a codificação e edição
dos outros Livros, com o Movimento Espírita nascente, com a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas – da qual era Presidente
–, com sua esposa Amélie-Gabrielle Boudet, com as centenas
de visitantes anuais que queriam saber mais sobre a Doutrina, com as
viagens doutrinárias... Esse era o homem singular e o espírita
exemplar Allan Kardec, que se havia olvidado de si mesmo para consagrar-se
por inteiro à Causa e Razão da sua vida: o Espiritismo.
Na Revista conhecemos também o caráter, o retrato e a
estatura moral do homem Allan Kardec. Aqui, esclarece e consola pessoalmente
a uma mãe desesperada pela desencarnação de sua
filhinha, e também a um filho que sofre as saudades do seu falecido
pai; ali, colabora diretamente na recuperação de um médium
obsidiado; cá, conversa na sessão mediúnica com
um criminoso, com tanto respeito e carinho que o faz emocionar e querer
mudar de vida; acolá, incentiva donativos para as vítimas
de epidemias ou oferece assinaturas gratuitas da Revue para os pobres.
Essas “minúcias” tão importantes encontramo-las
na Revue Spirite.
Por outra parte, várias páginas da Codificação
– literalmente ou em parte – tiveram suas origens na Revista
Espírita (RE), como por exemplo o quinto artigo da RE de outubro
de 1858–V: Teoria do móvel de nossas ações,
pp. 425-428. Deste artigo derivou-se, com poucas modificações,
a extensa questão nº 872 da 2ª edição
definitiva (20/03/1860) de O Livro dos Espíritos, sob o título:
Resumo teórico do móvel das ações humanas.
Outro interessante e comovente artigo o encontramos na RE ago. 1858–II:
A Caridade, pp. 335-340. Esta bela mensagem está – em menor
extensão e sem as nove perguntas que o Codificador fez ao Espírito
São Vicente de Paulo – em O Evangelho segundo o Espiritismo,
item 12 (Instruções dos Espíritos - A beneficência)
do cap. XIII. Por modéstia e humildade, outras magnas virtudes
suas, Kardec retira do texto desta Obra (da 1ª edição
de 1864 e também da 3ª ed. definitiva de 1866) as merecidas
linhas encomiásticas dirigidas a ele por São Vicente,
que diziam: “[...] Há, entre vós, homens que têm
a cumprir missões de amor e de caridade: escutai-os, exaltai
a sua voz; fazei se resplandeçam seus méritos e sereis,
vós próprios, exaltados pelo desinteresse e pela fé
viva de que vos penetrarão”.(3)
Por outro lado, com a sua didática inconfundível cria
– como bom redator – seções atrativas na Revue,
que interessam às variadas camadas do público leitor,
seções que com o transcurso dos meses se consagraram como
fixas: Conversas familiares de Além-Túmulo, Problemas
morais, Bibliografia, Evocações particulares, Variedades,
Poesias espíritas, Necrologia, Aos leitores da Revista Espírita,
Aforismos espíritas e pensamentos avulsos, Dissertações
de Além-Túmulo, Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas, Avisos, Questões e problemas, Correspondência
etc. Os artigos seguem uma ordem metódica e uma seqüência
tão lógica, que de jeito nenhum poderiam mover-se de lugar
sem afetar a coerência da progressão gradativa dos temas
e das idéias desenvolvidas. Um claro exemplo de sua magistral
concatenação é quando na RE dez. 1858–VI
c: Dissertações de Além-Túmulo – O
papel da Mulher, pp. 511-513, Allan Kardec publica uma belíssima
dissertação do Espírito Bernard Palissy sobre a
elevada tarefa-missão das mulheres, e duas páginas depois
Kardec conversa por via mediúnica com uma viúva da Índia,
que em sua mais recente existência foi obrigada, por costumes
e imposições religiosas, a queimar-se viva sobre o cadáver
do seu marido (RE dez. 1858–VIII a: Conversas familiares de Além-Túmulo
– Uma viúva de Malabar, p. 515.).
Esta é uma das razões que nos aconselham a ler e a estudar
Kardec, com preferência desde o começo até o fim
sem interrupções, de capa a contracapa, e não pulando
ou lendo partes isoladas, para conseguir atingir-se o objetivo precípuo
de aproveitar melhor todas as nuances que o Codificador vai semeando
em cada artigo – com as suas respectivas citações
e remissões –, superando-se constantemente Allan Kardec
em cada texto e, ao mesmo tempo, seguindo um seguro roteiro de sensatez
irrefutável. [...] A atualidade de Kardec é realmente
impressionante. Parece que ontem mesmo escreveu as várias páginas
que hoje tanto nos comovem e que são mais atuais do que nunca.
Parece que faz pouco tempo que coordenou e sistematizou aquelas comunicações
mediúnicas do mais alto valor, com o seu meticuloso critério
científico e com a precisão que caracteriza todo o seu
trabalho metódico. Sua presciência também é
verdadeiramente notável. [...]
Eis a nossa pálida homenagem a esse homem íntegro, em
todos os sentidos, a quem tanto devemos os espíritas de todas
as latitudes do planeta. Saudamos, então, [...] ao Codificador
com os nossos maiores anelos de que o seu excelente e imortal legado
seja melhor compreendido. Para finalizar, deixemos a palavra com Allan
Kardec, citando seus conceitos sempre sensatos, encontrados na Revista
Espírita, na Conclusão do Ano de 1858:
“[...] Seria um fato inusitado nos fastos da publicidade se não
nos defrontássemos com contradições, nem com críticas,
sobretudo quando se trata da emissão de idéias tão
recentes; mas, se de alguma coisa devemos admirar-nos, é de ter
encontrado tão poucos contraditores, em comparação
com os sinais de aprovação que nos foram dados, e sem
dúvida isso se deve bem menos ao mérito do escritor do
que à atração suscitada pelo próprio assunto
tratado e ao crédito que, diariamente, conquista nas mais altas
camadas da sociedade. Nós o devemos também, e disso estamos
convencidos, à dignidade que sempre temos conservado diante dos
nossos adversários, deixando que o público julgue entre
a moderação, de uma parte, e a inconveniência, de
outra.
O Espiritismo marcha no mundo inteiro a passos de gigante; todo dia
reúne alguns dissidentes pela força das coisas; e, se
de nossa parte podemos lançar alguns grãos na balança
desse grande movimento que se opera e que marcará nossa época
como uma nova era, não será melindrando nem nos chocando
frontalmente com aqueles que queremos justamente conquistar. É
por esse raciocínio, e não pelas injurias, que nos faremos
escutar. A esse respeito, os Espíritos superiores que nos assistem
dão-nos a regra de proceder e o exemplo. Seria indigno de uma
doutrina, que não prega senão o amor e a benevolência,
descer até à arena do personalismo; deixamos esse papel
aos que não a compreendem. Nada nos fará desviar da linha
que temos seguido, da calma e do sangue-frio que não cessamos
de demonstrar no exame raciocinado de todos os problemas, sabendo que
assim conquistaremos mais partidários sérios para o Espiritismo
do que pelo azedume e pela acrimônia. [...]”(4)
-----------------
Referências:
(1) KARDEC, Allan. Revista Espírita - Periódico de Estudios
Psicológicos (Año 1858). 1ª ed. Brasília:
CEI, 2005. Prólogo-homenaje a Allan Kardec, pelo tradutor Enrique
Eliseo Baldovino, pp. III-XII.
(2) KARDEC, Allan. A Gênese. 35ª ed. Rio de Janeiro: FEB,
1995. Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso
(Nota de Kardec), tradução de Guillon Ribeiro, pp. 229-230.
(3) KARDEC, Allan. Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos
(agosto de 1858). 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. A Caridade,
tradução de Evandro Noleto Bezerra, p. 336.
(4) KARDEC, Allan. Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos
(dezembro de 1858). 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Aos leitores
da Revista Espírita, tradução de Evandro Noleto
Bezerra, pp. 526-527.
>>> clique aqui para ver a lista completa de notícias
>>>
clique aqui para voltar a página inicial do site
topo