13/12/2007
Evolução moderna
e acelerada
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8149
Uma conhecida teoria sugere que a evolução
humana foi drasticamente freada – ou que até mesmo parou
no homem moderno. Mas um novo estudo descreve os últimos 40 mil
anos como um período de intensa mudança evolucionária,
resultado do crescimento exponencial da população e das
mudanças culturais.
O trabalho, descrito na edição desta segunda-feira
(10/12) da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas),
foi liderado pelo antropólogo John Hawks, da Universidade de
Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. A análise foi feita a
partir de dados obtidos pelo Consórcio Internacional HapMap,
que reúne mais de 200 cientistas de diversos países.
Segundo os autores, nos últimos 5 mil anos ocorreu
seleção positiva em uma taxa aproximadamente 100 vezes
mais alta do que em qualquer outro período da evolução
humana. Além disso, 7% dos genes humanos estão em meio
a um processo de evolução recente e acelerada.
Muitos dos novos ajustes genéticos teriam relação
com mudanças na dieta decorrentes do advento da agricultura.
E, também, com a resistência às doenças epidêmicas
que se tornaram a principal causa de mortes depois do crescimento das
civilizações.
A descoberta pode levar a ciência a repensar a
evolução humana, de acordo com Hawks, especialmente em
relação à visão de que a cultura moderna
amenizou as necessidades de mudanças genéticas em humanos
a fim de garantir a sobrevivência. “Geneticamente, nossa
diferença em relação às pessoas que viveram
há 5 mil anos é maior do que a diferença entre
elas e os neandertais”, disse.
A correlação entre tamanho populacional
e seleção natural não é nova – é
uma das principais premissas nas teorias de Charles Darwin. O que é
novo, segundo Hawks, é a capacidade para levantar evidências
quantificáveis, possibilitada pelo Projeto Genoma Humano.
Em parceria com o antropólogo Gregory Cochran,
da Universidade de Utah, e Eric Wang, da empresa Affymetrix, Hawks catalogou
semelhanças e diferenças genéticas em humanos a
partir de estudos de amostras de genes de populações distintas.
Enquanto mais de 99% do genoma humano é comum a todas as pessoas,
o HapMap está catalogando as diferenças individuais no
DNA, conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único
Para buscar variações genéticas
recentes, a equipe enfocou regiões do genoma nas quais variações
genéticas ocorrem com maior freqüência do que seria
possível por mero acaso. Geralmente essas mudanças indicam
algum tipo de vantagem seletiva. Os cientistas encontraram evidências
de seleção recente em cerca de 1,8 mil genes – o
equivalente a 7% dos genes humanos.
De acordo com Hawks, o estudo ressaltou importantes
mudanças esqueléticas, que indicam que as pessoas ficaram
menores, com cérebros e dentes também menores que os ancestrais,
contrariando o conhecimento convencional. Isso é visto como sinal
de um relaxamento seletivo – o tamanho e a força não
seriam mais fundamentais para a sobrevivência.
Mas outros caminhos foram abertos para a evolução.
As mudanças genéticas seriam agoras direcionadas por mudanças
impactantes na cultura humana. Um bom exemplo é a lactase, enzima
que ajuda a digerir o leite. A lactase geralmente declina e cessa sua
atividade na adolescência, mas populações no norte
da Europa desenvolveram uma variação que evitou a diminuição
na produção da enzima, diferentemente do que ocorre na
África ou na China.
O principal novo caminho para a seleção,
segundo Hawks, está ligado à resistência a doenças.
Quando o homem começou a viver em grupos maiores, concentrando-se
em assentamentos há cerca de 10 mil anos, as doenças epidêmicas
como malária, varíola e cólera começaram
a mudar dramaticamente os padrões de mortalidade.
A malária é um dos mais claros exemplos,
uma vez que hoje há mais de duas dúzias de adaptações
genéticas ligadas à resistência à doença,
incluindo até mesmo um tipo de sangue inteiramente novo, conhecido
como sangue do tipo duffy.
Outro gene descoberto recentemente, o CCR5, teve origem
há cerca de 4 mil anos e agora existe em cerca de 10% dos europeus.
Ele foi descoberto recentemente por tornar indivíduos resistentes
ao HIV. “Há muitos fatores na seleção que
tornam cada vez mais difícil para os patógenos nos matarem”,
disse Hawks.
O artigo Recent acceleration of human adaptive
evolution, de John Hawks e outros, pode ser lido por assinantes
da Pnas em www.pnas.org.
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