19/11/2007
Ratatouille selon Espiritisme
Dalmo Duque dos Santos
Ratatouille é um excelente filme-desenho para
entender o Espiritismo e os espíritas: os fenômenos, a
ciência experimental, a doutrina filosófica, os adeptos
e suas carcterísticas psicológicas, o movimento social,
bem como seus inimigos e seus críticos.
Como no “Aprendiz de Feiticeiro” de Disney,
onde o também ratinho Mickey se vê em apuros com os escolhos
da mediunidade, tudo é metáfora da relação
transformadora entre vivos e mortos, entre o conhecido e o desconhecido,
o natural e o sobrenatural.
O cenário é Paris, especificamente a culinária
e um restaurante, ideologia e ambiente tão sagrados na França
quanto os templos nas culturas religiosas. Quando questionado sobre
essa história absurda, o jovem ajudante de cozinha Linguini solta
uma frase desconcertante e paradoxal: “A verdade parece loucura,
mas é a verdade. E funciona!” O mesmo jovem , ao ser apresentado
como filho de Renata (Renascida), ex-amante e assistente de Auguste
Gusteau, diz sobre a mãe morta: “Tudo bem, ela acreditava
no céu, vida após a morte, está numa boa!”.
Ratatouille é um prato camponês, mistura
de culturas antigas do Mediterrâneo que, como a feijoada brasileira,
esconde uma simbologia de crenças e práticas sagradas.
Os personagens são típicos seres humanos em prova ou expiação,
encenando na carne ou fora dela suas peripécias evolutivas.
Auguste Gusteau, o imperador do gosto, o dono, o nome
do restaurante, agora tradição, está morto. Porém,
o Espírito vaga em busca de uma equação existencial
pendente. Desencarnou em situação emocional negativa,
fruto de uma reação melindrosa e depressiva dos comentários
arrasadores de um crítico de culinária, o ultra-exigente
Anton Ego. Para resgatar esse desvio de percurso, Gusteau descobre Remy,
um rato talentoso, fascinado pela culinária, e que vive numa
antiga casa na zona rural, onde mora uma senhora solitária, cujos
hábitos e costumes a impedem de perceber que vive em meio a uma
multidão de ratos. É o cenário rústico,
como em Hydesville, onde as pedras começaram a falar.
Remy, o rato, é a circunstância gerada
pelo fenômeno, o que está por trás do vento e da
tempestade, a verdade que vai levar o Espírito Gusteau ao jovem
ajudante Linguini, que será o seu médium de afinidade
mais próxima, com quem tem ligações remotas. Na
história ocidental Remy foi o bispo de Lyon que converteu a França
para o cristianismo, atuando na nobreza (os reis Clóvis e Clotilde)
e também no campensinato. Lyon, berço da heresia cristã
e da caridade, foi apontada por Allan Kardec como terra dos verdadeiros
espíritas. Kardec nasceu em Lyon, foi criado em Yverdon, porém
“renasceu” em Paris. San Rémy, como os Espíritos
São Luiz e Santo Agostinho, volta em Ratatoille para difundir
a Verdade, pelas vias improváveis dos fenômenos, sacudindo
os dogmas e as tradições do Velho Continente.
Linguini, o ajudante de cozinha e filho de Gusteau é
o médium; o rato Remy é a mediunidade. É o meio
e a mensagem. O médium é humano, desajustado, perturbado,
completamente confuso sobre si e seu destino. O rato é a faculdade,
o potencial, a possibilidade, a mente, o veículo, o objeto inteligente
de transposição das idéias de um plano para o outro.
Portanto, é a expressão do paradoxo: é repugnante,
é inadmissível, indesejável, inconveniente; é
o absurdo, a invisibilidade que se torna visível nas circunstâncias
mais imprevisíveis e contraditórias. É rato em
restaurante! Ninguém quer ver, mas existe! Ou então: só
não vê quem não quer!
Ao apresentar o Espiritismo para a sociedade parisiense,
Kardec imaginou como foco de resistência e reação
imediatas as três figuras clássicas do stablishment: o
Crítico, o Cético e o Sacerdote. Em Ratatouille eles se
manifestam simultaneamente na pele de dois curiosos personagens da trama:
o chef Skinner e o jornalista Anton Ego.
O chef Skinner é uma referência ao psicólogo
norte-americano B.F. Skinner, cujas experiências de condicionamento
de ratos serviram de base para as suas teorias do determinismo biológico.
O chef Skinner é o herdeiro institucional do chef Augustus Gusteau,
ou seja, o restaurante. Essa herança de tradição
cartorial, prestes a se concretizar, entra em risco com o aparecimento
repentino e inconveniente do jovem filho de Renata, admitido como ajudante
por pressão dos outros cozinheiros. Skinner é autoridade
eclesiástica na arte culinária, de competência socialmente
reconhecida. Porém, como desajuste de personalidade e transtorno
de comportamento, não se aceita como baixinho e feio. Tornou-se
complexado, perfeccionista, ciumento e não admite em hipótese
alguma a doutrina herege de Gusteau, publicada em livro, de que “qualquer
um pode cozinhar’. Este é o livro de cabeceira de Remy,
o seu “Le Livre des Sprits”. Na ânsia de defender
o seu status e seu interesse, o chef Skinner torna-se um manipulador
criminoso e, cedo ou tarde, vai se dar mal. Sua paranóia são
os ratos, e aquele que o ameaça e o força a cair em si
é o rato Remy. Como em toda trama histórica das revelações,
ele consegue, no papel infeliz, transformar o Espírito e o médium
em foco de escândalo. Afasta a clientela, mas não consegue
espantar a curiosidade, nem a verdade.
O jornalista Anton Ego é o crítico culinário,
terror dos cozinheiros e garçons. Sua fisionomia cadavérica
e seus trajes escuros simbolizam a treva, o poder e a corrupção
dos sentidos, doenças morais que a medicina e a psicologia tradicionais
seriam incapazes de desvendar e curar. Somente o Espírito Gusteau
descobre a raiz do seu desvio : um trauma de infância, uma carência
materna, simbolizada na busca do sabor ideal, perdido no tempo da memória
gustativa. Insaciável, Anton Ego vai ser curado pela mediunidade,
pela medicina do espírito, com temperos literalmente “improváveis”.
Redimido, torna-se uma pessoa feliz e iluminada, sem perder a classe
(pose).
E finalmente a sociedade parisiense, os clientes, os
funcionários públicos, os profissionais liberais, os cozinheiros,
os ratos, os que vêm de cima e de baixo. No cenário social
da cozinha e do restaurante, eles são os protagonistas afetados
pelas transformações geradas na trama.
As mudanças não vão atingir suas
posições e condições sociais, mas suas condições
íntimas, suas equações pessoais, limites e obstáculos
que os impedem de avançar na evolução espiritual.
Colette, a garota cozinheira rebelde; os cozinheiros e garçons,
ex-criminosos ou ex-viciados, todos operários social e mentalmente
reclusos na posição em que estão e nas funções
que exercem, para eles humilhantes.
Uns estão conformados, outros são resignados;
uns sublimam suas experiências como artistas anônimos e
outros se rebelam no silêncio doloroso. Mas todos são cúmplices
na escola da vida, na família, no trabalho e também no
centro espírita.
Dalmo Duque dos Santos - dalmoduque@ibest.com.br
http://espiritosescolas.blogspot.com
Ficha técnica: Direção: Jan Pinkava, Brad Bird.
Produção: Brad Lewis. Roteiro: Brad Bird, baseado em estória
de Brad Bird, Jim Capobianco e Jan Pinkawa Elenco de dublagem e personagens:
Patton Oswalt (Remy), Ian Holm (Skinner), Lou Romano (Linguini), Brian
Dennehy (Django), Peter Sohn (Emile), Peter O'Toole (Anton Ego), Brad
Garrett (Auguste Gusteau), Janeane Garofalo (Colette), Will Arnett (Horst),
Julius Callahan (Lalo / François), James Remar (Larousse), John
Ratzenberger (Mustafa), Tony Fucile (Pompidou / Inspetor de saúde)
Sinopse: Na nova aventura animada RATATOUILLE,
um rato chamado Remy sonha em se tornar um grande chef francês,
mesmo contra os desejos de sua família e do óbvio problema
de ser um rato em uma profissão totalmente inapropriada para
roedores. Quando o destino o leva aos esgotos de Paris, Remy se vê
na situação ideal, bem embaixo do famoso restaurante de
seu herói culinário, Auguste Gusteau. Apesar dos aparentes
perigos de ser um inadequado – e certamente indesejado –
visitante na cozinha de um fino restaurante francês, a paixão
de Remy pela arte culinária não demora a colocar em marcha
acelerada uma engraçadíssima e eletrizante corrida de
ratos que invade o mundo da culinária parisiense. Remy então
se sente dividido entre sua vocação e a obrigação
de voltar para sempre ? sua prévia existência de rato.
Ele aprende a verdade sobre amizade, família e entende que sua
única opção é a de aceitar quem ele é
realmente: um rato que deseja ser chef de cozinha.
– Disney – Site Oficial








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