23/03/2007
Livro coloca Judas como personagem
trágico e não como mero traidor de Jesus
Um escritor anglicano e um bibliólogo
católico questionam em "O Evangelho Segundo Judas"
a tradicional imagem negativa do apóstolo.
María-Paz López
Roma
Judas Iscariote, um dos 12 apóstolos escolhidos
por Jesus e que, segundo o Novo Testamento, acabou por traí-lo,
merece uma revisão atenta em sua tradicional imagem de traidor,
ladrão e corrupto, na opinião dos autores do livro "O
Evangelho Segundo Judas, por Benjamin Iscariote",
que foi lançado nesta quarta-feira (21/3) em oito idiomas em
todo o mundo.
O anglicano lorde Jeffrey Archer, autor britânico
de best-sellers e antes um promissor político conservador caído
em desgraça, e o católico australiano especialista em
Bíblia Francis J. Moloney, dos salesianos de Dom Bosco, escreveram
juntos esse livro que pretende questionar tanto a visão ancestral
exclusivamente negativa de Judas como as recentes tentativas - surgidas
de um antigo manuscrito copta divulgado pela National Geographic Society
- de transformá-lo em mero instrumento do plano divino, e, portanto,
em herói que, com sua conduta, consegue que se realize a morte
e a ressurreição de Cristo.
"O silêncio dos evangelistas Marcos,
Lucas e João sobre a traição de Judas em troca
de 30 dinheiros me levou a pensar que o relato de Mateus é tendencioso,
e que na realidade não se sabe nada com certeza", disse
ontem o salesiano Moloney na apresentação mundial do livro,
da qual participou Stephen Pisano, reitor do Pontifício Instituto
Bíblico. Pisano salientou que sua presença "não
implica que o Pontifício Instituto, o Vaticano ou o papa aprovem
o livro, mas que permitem o debate acadêmico sobre um aspecto
do Novo Testamento".
Foi Jeffrey Archer quem buscou um bibliólogo
para escrever o livro e contatou Moloney por sugestão do cardeal
Carlo Maria Martini. Moloney aceitou sob a condição de
impor um método:
"Nem tudo o que o livro narra pode ser considerado
provável, mas tudo deve ser possível".
Resultado: o volume recolhe em formato de versículos
semelhantes aos Evangelhos a vida de Jesus vista por Judas e redigida
por seu filho, Benjamin Iscariote.
O relato é baseado em textos do Novo Testamento
e um glossário reúne esclarecimentos do bibliólogo.
Do livro emerge para o profano que Judas não
recebeu 30 peças de prata por vender Jesus, algo já sabido
pelos bibliólogos. O livro argumenta que Jesus não caminhou
sobre as águas nem transformou água em vinho nas bodas
de Canaã, episódios ampliados pela Igreja primitiva. Outra
tese nova para o grande público: Judas não queria que
Jesus fosse preso em Getsêmani, mas esperava convencê-lo
a fugir para a Galiléia com a ajuda do escriba, e foi o escriba
quem traiu Judas. Os autores questionam o suicídio de Judas por
enforcamento narrado por Mateus e afirmam que foi crucificado pelos
romanos.
Assim, disse Moloney, Judas torna-se um personagem trágico,
mas livre para dizer sim ou não, de modo que não se pode
considerá-lo obrigado pelo plano divino, como dizem os que defendem
o manuscrito da National Geographic, que é uma tradução
para o copta do século 3º de um texto grego gnóstico
anterior.
Fonte: La Vanguardia / http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lavanguardia/2007/03/22/ult2684u291.jhtm
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