
Vimos anteriormente que, para que haja Ciência,
são necessárias ao menos três coisas: um objeto
de estudo, uma linguagem e um método. O pseudoceticismo,
em geral, invoca a autoridade da Ciência para si para desqualificar
determinadas afirmações sobre o mundo, justamente
aquelas que não se alinham com as crenças pseudocéticas.
Vejamos uma afirmação clássica do pseudoceticismo:
A Ciência não
comprova a existência de vida depois da morte. A Ciência
não comprova a existência de Espíritos.
Qual o significado aqui da palavra 'Ciência'? Em quase todas
as discussões que vemos sobre o assunto, parece que podemos
interpretar 'Ciência' como o corpo de pesquisadores, o conjunto
de cientistas, a opinião de técnicos ou especialistas
em assuntos considerados científicos. Se este for o caso,
já vimos anteriormente que a opinião dos cientistas
não pode ser tomada como autoridade, principalmente no
que diz respeito àquilo que foge à especialidade
deles. Se não, vejamos:
Qual pode ser o 'objeto de estudo' dessa ciência que desaprova
a vida além da vida? Será que a ciência contemporânea,
entendida como opinião dos cientistas, tem se debruçado
sobre essa questão específica que é negada
pelos céticos? A resposta é claramente um não,
uma vez que a comunidade científica tem coisas muito bem
definidas - objetos de estudo específico - com que se ocupar.
Mas não podemos interpretar como 'comunidade de cientistas'
a palavra 'Ciência' na afirmação em análise,
mas sim esta como o corpo de conhecimento, sem apelo algum à
autoridade de seus principais executores e responsáveis.
Nesse caso, somos obrigados a apontar o objeto de estudo, o método
e a linguagem que seriam responsáveis por tal negação...
Onde, na ciência contemporânea poderemos encontrar
isso? Que ramo da Física, Astronomia, Biologia, Química
poderia ser invocado para afirmar que, de fato, inexiste vida
após a morte?
Muitos céticos dizem que é isso que vemos ocorrer
todos os dias quando animais são mortos ou pessoas deixam
a vida em hospitais. Não há evidências - repetem
eles - diante de um corpo inanimado, que nunca mais demonstrará
nenhum sinal de vida após os momentos derradeiros, de qualquer
coisa além. Fisiologistas e bioquímicos de renome
poderiam ser invocados para descrever os processos celulares internos
que ocorrem após a morte de tecidos biológicos,
neurofisiologistas poderiam enfileirar imagens de tomográficas
mostrando o apagar das luzes na massa encefálica e chegaríamos
realmente a formar uma imagem completa da morte?
Sobre as consequências dela para o corpo: sim, o corpo,
eis aqui o objeto de estudo que procurávamos. Aqui há
ciência positiva, há uma linguagem descritiva e há
um método de pesquisa muito bom. Mas será que isso
nos autoriza a dar o passo que permite negar a afirmação
que analisamos? Será que não estão fazendo
como o Cardeal Bellarmino - do caso Galileu - que afirmou não
existir evidências diante de uma Terra que parecia bem fixa,
imóvel, e do movimento do Sol, todos os dias a se levantar
a leste e se por a oeste?
Ao se tentar ir além, afirmarão: isso é metafísica...Mesmo
sem saber o significado dessa palavra, aprenderam sua conotação
negativa. O problema aqui é simples: trata-se de uma deficiência
na compreensão da existência de uma multiplicidade
de objetos de estudos no mundo em que vivemos. Se não se
reconhece a existência de um determinado objeto de estudo,
não pode haver Ciência. Mas o que fazer para que
a questão não se prenda às fronteiras da
mera especulação metafísica? O fato de eles,
os céticos (veja que não estou me referindo aos
pseudocéticos, mas aos céticos bem intencionados),
não se darem ao trabalho de buscar, pesquisar e procurar.
Muitos céticos não sabem que a Natureza oculta muito
bem os seus segredos. Mas uma das coisas que a nova visão
do mundo revela pela Ciência é que existem muitos
objetos de estudo que não sensibilizam diretamente nossos
sentidos.
Tomemos o exemplo do vírus (figura abaixo) e façamos
o exercício mental de nos colocar em uma época onde
microscópios eletrônicos não estavam disponíveis.
Hoje é fácil acreditar na existência desses
seres. Eles foram 'revelados' pela Ciência e são
a causa de muitas patologias. Mas, ao dizer isso, estamos numa
posição privilegiada. Há razões para
acreditarmos que, no que diz respeito à continuidade da
vida além da vida, não detemos tantos privilégios.
Imagem do vírus da
gripe espanhola. Se microscópios eletrônicos
não estivessem disponíveis, como poderíamos
ter 'evidências' sobre a existência desses seres
microscópicos? Hoje, estamos numa situação
privilegiada em relação ao conhecimento da existência
desses seres, mas o mesmo não é verdade com
muitas outras proposições a respeito do Universo.
Se não conseguem 'encontrar' o Espírito, sede da
consciência, é porque dele formaram uma ideia errada.
Usam concepção arcaica, antiga, de uma época
quando nosso conhecimento do mundo era muito pequeno, tão
pequeno que ainda nos julgávamos no centro dele. Como se
recusam a postular a existência de um novo objeto de estudo,
não podem aceitar novos fatos, não podem ir além.
Entretanto... ela se move! afirmaria Galileu. Precisamos de uma
nova ciência para nos revelar nosso futuro. Novos Galileus,
novos Newtons e novos Laplaces deverão se debruçar
sobre esse novo tema, a fim de descobrir suas leis, desenvolver
uma nova linguagem e um novo método. Essa será o
principal tema da Ciência do futuro.