Em homenagem aos amigos Carmen
e Amauri, pela maneira positiva e esclarecida com que lidaram
com o desencarne de João Pedro
Para
alguns, filhos podem representar um enorme problema e obstáculo
frente à essa vida moderna e corrida. Para muitos, é o
sonho dourado, o complemento do casamento. Em diversas situações,
a espera do nascimento de um bebê é coroada de expectativas
e desejos. Cria-se uma atmosfera diferente, uma alegria que não
existia, relações familiares estremecidas são relevadas,
pessoas se aproximam, o clima de festa toma conta da família.
A grande maioria destas
gestações irá transcorrer sem problemas até
o final, veremos o reencarne de milhares de espíritos, que voltam
a encontrar antigos companheiros de jornada, todos juntos novamente
rumo ao árduo caminho da libertação espiritual,
da superação de nós mesmos.
Uma minoria, porém, permanece com um gosto amargo
na boca, um desapontamento profundo ao constatar que o recém-chegado
dos planos espirituais possui um problema de saúde.
A pergunta feita pelos pais que fica no ar, solicitando
resposta, é sempre a mesma: - Por quê? Como essa criança
inocente, que não pediu pra nascer, pode apresentar uma doença
tão grave?
A resposta, que nem
sempre agrada, mas que esclarece é que na verdade nossos filhos
não são seres angélicos que nascem ternamente pela
primeira vez, sem máculas e sem manchas. E a maioria deles pediu,
implorou pelo renascimento, enxergando nesse processo algo natural que
nos permite a todos evoluir, crescer. Assim como nós, Pais, eles
carregam a marca indelével dos acertos e dos erros no corpo espiritual.
Dr. Hernani Guimarães
Andrade, em 1958 publicou um dos destaques de toda a sua obra: a Teoria
do Modelo Organizador Biológico, falando da natureza do Espírito
e do corpo bioenergético. Nessa teoria, ele brilhantemente explica
que tudo que fazemos enquanto encarnados, produz alterações
energéticas no nosso corpo espiritual. Essas modificações
podem ser positivas ou negativas, dependendo da intenção
dos nossos atos. Ao renascermos essas alterações negativas
precisam ser drenadas para nosso corpo físico. Isso não
necessariamente acontece ao renascer, pois podemos drenar essas energias
durante nossa vida enquanto encarnados através do amor, da fé,
da caridade, etc...
Porém
em alguns casos, há a necessidade de verter para a carne energias
deletérias ao corpo espiritual, inoculadas em nosso psicossoma
por nós mesmos e pelos nossos pensamentos e atitudes inconsequentes.
Nesse processo temos as crianças que nascem com doenças
e em alguns casos essa doença é incompatível com
a vida.
Qual o propósito disso? Porque então
deixar reencarnar um espírito se ele não poderia usufruir
de uma vida normal e isso traria tanto sofrimento para a família?
Já não basta a agonia do dia a dia, as dificuldades financeiras,
de trabalho, os relacionamentos desarmonizados?
É de João
Evangelista a célebre declaração: "Deus
é amor" – I Jo.4.8.
Seria possível que esse Deus de amor permitisse que uma criança
nascesse com um defeito congênito que incompatibilize a vida e
outra criança, nascida no mesmo hospital, no mesmo dia, às
vezes recebendo os cuidados do mesmo médico, viesse à
vida de forma perfeita e sem problemas?
Para quem acredita
em uma vida somente, que iniciamos e terminamos nossa caminhada em uma
única existência, só existe uma saída, ou
não acreditamos em Deus, ou ficamos muito desapontados com ele.
Porém, a lógica
do universo, da natureza perfeita, da criação micro e
macrocósmica que ainda foge ao nosso entendimento nos faz acreditar
na superioridade divina, no Deus misericordioso, amoroso, no Pai.
Somente a reencarnação
explica esses dilemas. Somente a evolução contínua
esclarece isso, mostrando que a criança nascida com defeitos
congênitos necessitava daquilo para a resolução
de graves lesões no corpo espiritual, e a família precisava
dessa provação, não para sofrimento ou castigo,
mas para crescer na fé e no entendimento, na humildade e na união,
buscando sentidos para a vida atual que não sejam as coisas materiais.
Por tudo daí
graças, dizia o apóstolo Paulo. Por mais difícil
que seja, sempre temos a escolha de sermos positivos, gratos e esperançosos
de que tudo vem para o bem. Adotando essa conduta podemos deixar nossa
existência mais leve e seguirmos em frente, entendendo que um
dia tudo passará, toda dor, toda tristeza, tudo passará.
Paz e luz!
Sérgio Vencio, endocrinologista, vice-presidente
eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes, fundador e ex-presidente
da Comunidade Espírita Ramatís