Paulo
da Silva Neto Sobrinho
> Jesus teve ou não Irmãos?
“O fechado sistema dogmático
de ensino
compreende uma teologia escolástica
autoritária e não-bíblica há muito
ultrapassada”.
Hans Küng
Introdução
Em nosso meio sempre ocorrem dúvidas quanto à
questão de que Jesus teve outros irmãos, já
que não era o único filho de Maria.
Recentemente, numa palestra na reunião de quarta-feira,
à noite, no Centro Espírita Irmão Mateus,
Bairro Concórdia, Belo Horizonte, tocamos no assunto
e não deu outra: a polêmica se instalou. Um número
razoável de frequentadores acreditava que Jesus jamais
teve irmãos, coisa bem natural já que foi isso
que aprenderam de seus pais e líderes religiosos.
Às vezes é interessante que a polêmica ocorra;
é um bom caminho para se encontrar a verdade. Vimos que
alguns espíritas se interessam pelo assunto e que têm
por hábito o estudo das passagens bíblicas relativas
à vida e obra de Jesus. Percebemos, também, que
companheiros buscam apoiar-se em dados concretos e não
em crenças, às vezes, até mitológicas,
promanadas dos teólogos do passado, que, diga-se de passagem,
não devem ser condenados, pois somente representavam
a cultura de época.
Com o presente estudo desse tema não temos a intenção
de derrubar conceitos ou crenças religiosas; tão
somente nos move o sincero desejo de elucidar o assunto, caso
tenhamos condições de fazê-lo, é
claro. Nem temos a pretensão de esgotá-lo, dando
a palavra final.
A crença que interfere na crença
A principal crença que
faz com que as pessoas não aceitem, de bom grado, que
Jesus realmente teve irmãos reside na suposição
de que Maria foi virgem – antes, durante e depois do parto.
Óbvio que, se Jesus teve irmãos, essa visão
cai por terra, e os que acreditam nisso ficariam sem “chão”
dada a insistência que, ao longo dos tempos, se afirma
tal coisa. Ademais, para muitos, isso se depreende dos textos
bíblicos, os quais nós veremos um pouco mais adiante,
pois, antes disso, devemos mencionar algumas culturas religiosas
pagãs que tinham essa mesma crença, ou seja, de
uma virgem sendo fecundada por um deus.
Deuses engravidando mulheres virgens é algo comum na
mitologia antiga, conforme confirmam vários autores como,
por exemplo:
a) Pepe Rodríguez
(1953- )
No livro Mentiras fundamentais da Igreja Católica,
no capítulo III, no item “Nascer de virgem fecundada
por Deus foi um mito pagão bastante difundido em todo
o mundo antigo anterior a Jesus”, encontramos:
Lendas pagãs
deste género foram obviamente integradas na
Bíblia, não só nos referidos
relatos dos nascimento de Sansão, de Samuel ou de João
Batista, como, muito mais tarde, no relato do nascimento
de Jesus. Regra geral, desde tempos remotos, quando o personagem
anunciado era de primeira ordem, a mãe era sempre fecundada
por Deus, através de um procedimento milagroso que,
fosse ele qual fosse, confirmava claramente o mito da concepção
virginal. Esta confirmação era particularmente
patente na concepção dos deuses-Sol, uma categoria
a que, como veremos, pertence a figura de Jesus Cristo. (RODRÍGUEZ,
2007, p. 100-101, grifo nosso).
Um pouco mais à frente,
Rodríguez acrescenta:
Todos os grandes personagens,
tenham sido eles reis ou sábios – como,
por exemplo, os gregos Pitágoras (c. 570-490 a.C.)
ou Platão (c 417-347 a.C.) –, ou se tenham
tornado o centro de alguma religião e acabado por ser
adorados como “filhos de Deus” (Buda,
Krishna, Confúcio e Lao Tsé) foram mitificados
pela posteridade como filhos de uma virgem. Jesus,
surgido muito depois, mas destinado a desempenhar um papel
semelhante ao que os seus antecessores haviam desempenhado,
não podia ter um estatuto inferior ao deles. Desse
modo, o budismo, o confucionismo, o tauismo e o cristianismo,
ficaram indelevelmente marcados pelo facto de terem sido fundados
por um “filho do Céu”, encarnado através
do acesso directo e sobrenatural de Deus ao ventre de uma
virgem especialmente escolhida e apropriada.
(RODRÍGUEZ, 2007, p. 103, grifo nosso).
b) Hans Küng (1928-
)
Esse autor também nos
passa informações bem interessantes:
Sim, o Faraó
do Egipto é concebido milagrosamente como
rei divino, pelo deus espiritual, Amon-Rá, na figura
do rei reinante e pela rainha virgem. Na mitologia
greco-helénica os deuses também contraem “matrimónios
sagrados” com filhas de humanos, dos quais nascem filhos
de deuses tais como Perseu e Herácles ou também
figuras históricas como Homero, Platão, Alexandre,
Augusto. É impossível deixar de reparar
no seguinte: a concepção virginal em si não
é algo exclusivamente cristão! A ideia
de concepção virginal, é, pois, segundo
a exegese actual, utilizada por ambos os evangelistas como
lenda ou saga “etiológica”,
com o objectivo de apresentar uma “justificação”
(grego, “aitía”) para a existência
do filho de Deus. […]. (KÜNG,
1997, p. 56, grifo nosso, a não ser o da antepenúltima
linha, que é do original)
c) Edward Carpenter
(1844-1929)
Vejamos o que ele diz sobre
o tema:
Mas quase mais notável
que a crença mundial nos salvadores é a lenda
igualmente difundida de que eles nasceram de Mães-Virgens.
Não há quase nenhum deus –
como já tivemos a oportunidade de ver – que
seja adorado como um benfeitor da humanidade nos quatro continentes,
Europa, Ásia, África e América –
que não tenha nascido de uma Virgem, ou, pelo menos,
de uma mãe que atribuísse a concepção
não a um pai humano, mas sim ao céu.
E isso parece, à primeira vista, o mais surpreendente,
porque acreditar em tal possibilidade é muito absurdo
para nossa mente moderna. […]. (CARPENTER,
2008, p. 108, grifo nosso)
O mais interessante é
que Carpenter também lista vinte e uma semelhanças
da história de Jesus com histórias antigas de
deuses; vejamos, sobre isso, o que ele diz:
A história
de Jesus, como vemos, tem muita semelhança com as histórias
dos antigos deuses Sol e com o percurso atual do
Sol nos céus – tantas coincidências, que
não podem ser atribuídas à mera coincidência
ou até mesmo a blasfêmias do Demônio! Vamos
enumerar algumas delas. Há (1)
o nascimento da Virgem; (2) o nascimento
na manjedoura (caverna ou câmera subterrânea);
e (3) em 25 de dezembro (logo depois do Solstício de
Inverno). Há (4) a Estrela do Leste (Sírio)
e (5) a chegada dos magos (os “Três Reis”);
há (6) o Massacre dos Inocentes, e o voo para um país
distante (dito também de Krishna e outros deuses Sol).
Há os festivais da Igreja de (7) Candelária
(2 de fevereiro), com procissões das velas para simbolizar
a luz crescente; há (8) a Quaresma, ou a chegada da
primavera; há o (9) dia de Páscoa (normalmente
em 25 de março) para celebrar a travessia do Equador
pelo Sol; e (10) simultaneamente a explosão de luzes
no Sepulcro Sagrado em Jerusalém. Há (11) a
Crucificação e a Morte do carneiro-deus, na
sexta-feira santa, três dias antes da Páscoa;
há (12) a prisão feita com pregos em uma árvore,
(13) o túmulo vazio, (14) a Ressurreição
(nos casos de Osíris, Attis e outros); há (15)
os doze discípulos (os signos do Zodíaco); e
(16) a traição de um dos doze. Depois, há
(17) o Dia do Meio do Verão, o dia 24 de junho, dedicado
ao nascimento de João Batista, e correspondente ao
dia de Natal; há as festas da (18) Assunção
da Virgem (15 de agosto) e do (19) nascimento da Virgem (8
de setembro), correspondentes ao movimento do Sol por Virgem;
há o conflito de Cristo e seus discípulos com
os asterismos outonais, (20) a Serpente e o Escorpião;
e finalmente há um fato curioso de que a Igreja (21)
dedica o dia do Solstício de Inverno (quando qualquer
um pode, naturalmente, duvidar do renascimento do Sol) a São
Tomé, que duvidava que a Ressurreição
fosse verdadeira! Algumas coincidências, mas não
todas, estão em questão. Mas elas são
suficientes, acredito eu, para provar – mesmo permitindo
possíveis margens de erro – a verdade de nossa
contenção geral. Entrar no paralelismo dos caminhos
de Krishna, o deus Sol indiano, e Jesus demoraria muito tempo;
porque, de fato, a semelhança é muito grande."
Eu proponho, no entanto, ao final deste capítulo, que
nos aprofundemos um pouco na festa cristã da Eucaristia,
em parte por causa de sua relação com a derivação
de rituais astronômicos e celebrações
da Natureza já referidas, e em parte por causa da luz
que a festa geralmente, seja ela cristã ou pagã,
joga sobre as origens da Mágica Religiosa – um
assunto que devo abordar no próximo capítulo.
(CARPENTER, 2008, p. 35-36, grifo nosso)
d) Havery Spencer Lewis
(1883-1939)
Em sua obra A vida mística de Jesus,
ele afirma:
A Índia teve um grande
número de Avatares ou Mensageiros Divinos, Encarnados
por Concepção Divina, tendo dois deles levado
o nome de “Chrishna”, ou “Chrishna o Salvador”.
Consta que Chrishna nasceu de uma virgem casta chamada
Devaki que, por sua pureza, fora escolhida
para se tornar a mãe de Deus. Neste exemplo,
encontramos a antiga história de uma virgem dando à
luz um mensageiro de Deus divinamente concebido.
Buda foi considerado por todos os seus seguidores
como gerado por Deus e nascido de uma virgem chamada
Maya ou Maria. Nas antigas histórias sobre
o nascimento do Buda, tais como são compreendidas por
todos os orientais e como são encontradas em seus escritos
sagrados muito anteriores à Era Cristã, vemos
como o poder Divino, chamado o Espírito Santo, desceu
sobre a virgem Maya. Na antiga versão chinesa
dessa história, o Espírito Santo é chamado
Shing-Shin.
Os siameses tinham igualmente um deus e salvador nascido
de uma virgem e que eles chamaram Codom. Nesta velha
história, a bela e jovem virgem fora informada
com antecedência de que se tornaria mãe de um
grande mensageiro de Deus e, um dia, enquanto fazia
seu período usual de meditação, concebeu
através de raios de sol de natureza Divina. O menino
nasceu e cresceu de maneira singular e notável, tornou-se
um protegido da sabedoria e fez milagres.
Quando os primeiros europeus visitaram o Cabo Comorim,
na extremidade sul da península do Industão,
surpreenderam-se ao encontrar os naturais do lugar, que nunca
haviam tido contato com as raças brancas, cultuando
um Senhor e Salvador que fora divinamente concebido
e nascera de uma virgem.
E quando os primeiros missionários jesuítas
visitaram a China, escreveram em seus relatórios
que haviam ficado consternados por encontrarem na
religião pagã daquela terra a história
de um mestre redentor que nascera de uma virgem por concepção
divina. Ao que consta, esse deus havia nascido 3468
anos a.C. Lao-Tse, o famoso deus chinês, também
nascera de uma virgem, de pele negra, sendo descrita como
a bela e maravilhosa como o jaspe.
No Egito, bem antes do advento do cristianismo
e muito antes do nascimento dos autores da Bíblia ou
de qualquer doutrina concebida como cristã, o
povo egípcio já tivera vários mensageiros
de Deus nascidos de virgens por Concepção Divina.
Hórus, segundo o sabiam todos os antigos egípcios,
havia nascido da virgem Ísis, sendo sua Concepção
e seu nascimento um dos três grandes mistérios
ou doutrinas místicas da religião egípcia.
Para eles, todos os incidentes ligados à Concepção
e ao nascimento de Hórus eram pintados, esculpidos,
adorados e cultuados como o são os incidentes da Concepção
e do nascimento de Jesus pelos cristãos de hoje.
Outro deus egípcio, Ra, nascera de uma virgem.
Examinei uma das paredes de um antigo templo na margem do
Nilo, onde há um belo quadro esculpido representando
o deus Tot – o mensageiro de
Deus – dizendo à jovem Rainha Mautmes que daria
à luz um Divino Filho de Deus, que seria o
rei e Redentor de seu povo.
Ao nos voltarmos para a Pérsia descobrimos
que Zoroastro foi o primeiro dos redentores do mundo
a ser aceito como nascido em plena inocência, pela concepção
de uma virgem. Antigos entalhes e pinturas deste
grande mensageiro mostram-no cercado por uma aura de luz que
inundava o humilde local de seu nascimento. Ciro,
rei da Pérsia, também era tido como nascido
de origem divina, e nos registros de seu tempo ele é
chamado de Cristo ou Filho ungido de Deus
e considerado mensageiro de Deus. (LEWIS,
2001, p. 74-76, grifo nosso)
e) Geza Vermes (1924-
)
Em seu livro Natividade,
também trata da concepção virginal e da
suposta profecia de Isaías; leiamos:
A concepção
virginal em Mateus e a profecia de Isaías
Até aqui, Mateus contou
uma história desconcertante. A não ser pela
alusão a algum tipo de envolvimento do Espírito
Santo, uma expressão para designar o poder através
do qual Deus age no mundo, o anjo do sonho não
esclarece como Maria engravidou. O evangelista então
intervém e lança uma nova luz sobre a questão
valendo-se de uma profecia do Antigo Testamento, segundo a
qual uma virgem virá a dar à luz o Salvador
do povo judeu. Na versão do Evangelho para as palavras
de Isaías, diz a profecia: “Eis que a Virgem
conceberá e dará à luz um filho que se
chamará Emanuel, que significa 'Deus conosco'”
(Isaías 7,14, em Mt 1,23).
Este é o primeiro texto bíblico apresentado
como prova por Mateus em sua narrativa da infância.
Em Lucas não há nenhum. Mas esse testemunho
profético, cujo objetivo é anunciar
uma gravidez milagrosa ou concepção virginal,
só é eficaz sob uma condição:
ele funciona apenas se for seguida a versão da Septuaginta
grega para Isaías 7,14, destinada a um público
grecófono e interpretada como os leitores gregos o
entenderiam. Como se sabe, a forma que subsistiu
do Evangelho de Mateus é a grega e, como tal, seu alvo
era obviamente um público grego. Contudo, o público
original para o qual a tradição da narrativa
do nascimento de Jesus foi desenvolvida era de judeus palestinos
e o idioma em que foi inicialmente transmitida seria o aramaico
ou, possivelmente, o hebraico, não o grego.
Também é evidente que para esses palestinos,
em sua maioria judeus da Galileia, o texto de Isaías
teria sido extraído da Bíblia hebraica, não
da Septuaginta grega.
O que nos deixa em um verdadeiro dilema. Para aludir à
mulher que virá a conceber e dar à luz um filho,
Isaías 7,14 em hebraico não se refere a uma
virgem, ou betulah em hebraico, mas a uma 'almah,
isto é, “uma jovem mulher”: termo neutro
que não implica necessariamente virgindade. Por exemplo,
no Cântico dos Cânticos 6,8 o termo “jovens
mulheres” ('alamot) aparece em paralelo com
“rainhas e concubinas”, que seguramente não
são virgens. Ademais, é muito improvável
que a 'almah mencionada em Isaías 7, a jovem
que no futuro próximo há de conceber e dar à
luz um filho, seja virgem. O contexto sugere que ela já
é casada, e esposa do então rei judeu, Acaz,
ao fim do século VIII a.C.
Quando fala em 'almah, o texto hebraico de
Isaías em lugar algum especifica que ela ainda é
virgem ou que está prevista uma concepção
milagrosa de qualquer tipo. O sinal profético
em Isaías 7,14, em hebraico, está não
na condição virginal da mãe, mas no significado
do nome que ela deverá dar a seu filho – “Emanuel”
– sugerindo que o futuro príncipe, em conformidade
com o bom augúrio expresso no nome, “Deus conosco”'
trará proteção divina aos habitantes
de Jerusalém, naquela época sob ameaça
de dois reis inimigos que sitiavam a cidade (ver Isaías
7,16). Considerando tudo isso, a conclusão a que se
chega é que o relato semita subjacente à versão
grega de Mateus que conhecemos de forma alguma poderia conter
uma previsão da concepção virginal
do Messias.
Como então esta noção entrou no Evangelho
da Infância, de Mateus? Por puro acidente, o
tradutor da Septuaginta usou para o termo hebraico 'almah
de Isaías 7,14 a palavra grega parthenos (virgem),
que, no entanto, pode também significar solteira ou
mulher não-casada que não seja necessariamente
virgem. O Mateus “grego” ou o editor
grego do Mateus semita topou com essa tradução
imprecisa e a adotou. Esse feliz achado permitiu-lhe apresentar
a seus leitores de fala grega a concepção de
Jesus como única e situada em posição
muito superior a todas as outras concepções
milagrosas do Antigo Testamento.
Existe uma prova incontestável de que uma proporção
substancial do público visado pelo texto final de Mateus
era composta por gregos, que não tinham conhecimento
do hebraico. Em Mateus 1,23, o nome hebraico “Emanuel”
na citação de Isaías é apresentado
com uma tradução para explicar seu significado:
“Deus conosco”. Como se sabe, o original hebraico
de Isaías não inclui tal interpretação
e, o que é mais importante, ela também não
consta da tradução grega da Septuaginta. Os
judeus da diáspora, para quem a Septuaginta foi produzida,
supostamente deveriam saber o que significava Emanuel. O comentário
grego a essa citação em Mateus - “que
significa Deus conosco” - é obviamente criação
do próprio evangelista, para auxiliar seus leitores
gregos não-judeus. Assim, aplicada a Maria, a profecia
de Isaías em sua versão grega destinava-se a
transmitir ao público grego da narrativa materna da
infância que “Jesus-Emanuel” ou “o
Messias-Filho de Deus” seria concebido através
do Espírito Santo e milagrosamente gerado por Maria
na condição de virgem.
O Mateus grego, consequentemente, afirma que a concepção
virginal é demonstrada pela citação de
Isaías. No entanto, o argumento do evangelista está
invertido. Ele quer que seu leitor entenda que o evento representa
o cumprimento da profecia; em outras palavras, que a concepção
de Jesus por Maria ocorreu porque, de acordo com Isaías,
assim estava predestinada por Deus. A verdade é bem
o contrário: a ideia da “parthenos que
concebe”, fornecida pela profecia, é que motivou
a história. Foi o texto grego de Isaías 7,14
que proporcionou a Mateus uma fórmula surpreendente
para exprimir o caráter milagroso do nascimento de
Jesus, como o cumprimento de uma previsão das escrituras.
Repetindo pela última vez, a concepção
virginal é uma extrapolação das palavras
da Septuaginta, fazendo uso de material histórico,
apresentada a, e compreendida por, leitores cristãos
gentios helenistas do Evangelho de Mateus. A história
do nascimento de Jesus, contada em aramaico ou hebraico e
citando Isaías em hebraico, jamais poderia ter dado
origem a tal interpretação. Mas em
grego, em combinação com a exegese literal do
nome “Emanuel = Deus conosco”' tornou-se a fonte
da qual surgiu o conceito do Filho divino de mãe virgem.
É preciso reiterar, mesmo que seja ad nauseam,
que tal evolução somente foi possível
em um meio cultural helenístico grecófono. Os
antecedentes ideológicos da mitologia greco-romana
e as lendas sobre a origem divina de figuras eminentes da
época e de um passado recente (ver Capítulo
4) propiciaram um campo fértil para o crescimento do
que viria a ser, no jargão teológico cristão,
a Cristologia. Com o tempo, através de Paulo,
de João e dos filosofantes Padres da Igreja gregos,
essa ideia original evoluiu para a deificação
de Jesus, Filho da Virgem grávida de Deus (Theotokos).
Também é possível contestar que a ideia
da concepção virginal inferida no texto de Mateus,
com seu uso da versão da Septuaginta para Isaías,
era de origem cristã-gentia helenística, pela
posição adotada pelo antigo cristianismo judaico
sobre o assunto. Facetas importantes da doutrina desses cristãos-judeus,
conhecidos como os ebionitas ou os Pobres, foram preservadas
nos escritos dos apologistas da Igreja, que procuravam refutá-las.
Sob a denominação de ebionitas, devemos entender
comunidades cristãs-judaicas que, após sua separação
da Igreja cristã-gentia central, provavelmente na virada
do século I d.C., sobreviveram ainda por mais duzentos
ou trezentos anos. Através do Padre da Igreja Irineu,
do fim do século II, que foi bispo de Lião,
e do historiador da Igreja Eusébio de Cesareia, do
século IV, sabemos que os ebionitas rejeitavam a doutrina
do nascimento virgem. Eusébio deixa claro que,
para eles, Jesus era “o filho de uma união normal
entre um homem e Maria” (História
Eclesiástica 3,27). Irineu anteriormente havia
argumentado, usando frases emprestadas do Novo Testamento,
que os ebionitas “se recusavam a entender que o Espírito
Santo havia vindo a Maria e que o poder do Altíssimo
a havia envolvido com sua sombra” (Contra as Heresias,
5,1, 3). Ele explicava ainda que a fim de sustentar seus ensinamentos
e “puxar o tapete” da ortodoxia cristã,
os ebionitas defendiam a versão grega de Teodósio
e Aquila como mais correta do que a Septuaginta, e substituíram
o parthenos (virgem) desta última pelo termo
neanis (jovem mulher) em sua tradução
de Isaías 7,14 (ibid. 3,21, 1). Na opinião
deles, a prova de que a Septuaginta não era confiável
representava o fim da doutrina de Mateus e da Igreja cristã
a respeito de concepção virginal.
Com efeito, a 'almah do Isaías hebraico e
o correspondente neanis de Áquila e Teodósio
revelam a fragilidade da ideia do nascimento virgem,
conforme concebida pelo Mateus grego. Sua adoção
pelo evangelista (ou por seu editor final) tornou
inevitável a revisão da formulação
direta da genealogia (A gerou B etc.), com vistas a excluir
a paternidade de José; e tem também
o efeito imprevisto de prejudicar a prova montada para autenticar
a legitimidade de Jesus como Messias descendente direto de
Davi, através de José. (VERMES,
2007, p. 74-79, grifo nosso).
Sendo a maioria desses povos,
mencionados por estes vários autores, bem mais antiga
que os judeus, não há como não se levar
em conta que suas culturas foram incorporadas no cristianismo
nascente, embora muitos piedosos fiéis neguem isso, certamente,
pelo desconforto que traz àquilo que têm como verdade.
Os cristãos apoiam-se, principalmente, na seguinte passagem
bíblica para justificar a virgindade de Maria:
Mateus 1,18-25: “A
origem de Jesus, o Messias, foi assim: Maria, sua mãe,
estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem
juntos, ela ficou grávida pela ação do
Espírito Santo. José, seu marido, era justo.
Não queria denunciar Maria, e pensava em deixá-la,
sem ninguém saber. Enquanto José pensava nisso,
o Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho, e disse: 'José,
filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como
esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito
Santo. Ela dará à luz um filho, e você
lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu
povo dos seus pecados'. Tudo isso aconteceu para se cumprir
o que o Senhor havia dito pelo profeta: 'Vejam: a
virgem conceberá, e dará à luz um filho.
Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer:
Deus está conosco'. Quando acordou, José fez
conforme o Anjo do Senhor havia mandado: levou Maria para
casa, e, sem ter relações com ela, Maria deu
à luz um filho. E José deu a ele o nome de Jesus”.
Vejamos antes de nossas considerações
o que, em A dinastia de Jesus: a história secreta
das origens do cristianismo, o autor James D. Tabor
(1946-) explica a respeito da virgindade de Maria:
[…] O ensinamento
sobre a “virgindade perpétua” simplesmente
não é encontrado no Novo Testamento
e não faz parte dos primeiros credos cristãos.
A primeira menção oficial a essa ideia só
vem a partir de 374 d.C., com o teólogo cristão
Epifânio. (3) A
maior parte dos escritos cristãos primitivos anteriores
ao século IV d.C. aceita naturalmente que os irmãos
e irmãs de Jesus sejam filhos nascidos de José
e Maria (4).
_______
(3) A ideia da virgindade perpétua de Maria
foi afirmada no 2º Concílio de Constantinopla,
em 553 d.C. e no Concílio de Latrão, em 649.
Embora seja uma parte do dogma católico solidamente
estabelecida, nunca foi, no entanto, objeto de uma declaração
de infalibilidade pela Igreja Católica Romana.
(4) Essa é a chamada visão elvídica,
em homenagem a Elvídio, um escritor cristão
do século IV, que Jerônimo procura refutar. Eusébio,
o historiador da igreja do século IV, cita regularmente
fontes antigas e refere-se a irmãos de Jesus “segundo
a carne”, certamente concebendo-os como filhos de Maria
e José. Consulte Eusébio, Churc History
2.23;3.19.
(TABOR, 2006, p. 90, grifo nosso)
Três pontos importantes
podemos ressaltar em Tabor: 1º) que a virgindade perpétua
de Maria não é encontrada no Novo Testamento;
2º) que os escritos cristãos primitivos anteriores
ao século IV, aceitavam que Jesus tivesse outros irmãos;
e 3º) que essa ideia constitui um dogma, cuja imposição
se deu a partir de Concílios, iniciando-se, esse processo,
no ano de 553.
A menção de se
cumprir uma profecia é uma tentativa de se relacionar
Jesus ao Antigo Testamento. Aqui se trata de uma suposta profecia
de Isaías, cujo teor é:
Isaías 7,14: “Pois
saibam que Javé lhes dará um sinal: A
jovem concebeu e dará à luz um filho,
e o chamará pelo nome de Emanuel”.
O grande problema é que
esse passo de Isaías não é exatamente uma
profecia, mas um fato acontecido em seu tempo. Para melhor compreendê-lo
é necessário transcrevermos alguns versículos
anteriores, iniciando pelo 10:
Isaías 7,10-13: “Javé
falou de novo a Acaz, dizendo: 'Pede para
você um sinal a Javé seu Deus, nas profundezas
da mansão dos mortos ou na sublimidade das alturas'.
Acaz respondeu: 'Não vou pedir! Não vou tentar
a Javé!' Disse-lhe Javé: 'Escute, herdeiro de
Davi, será que não basta a vocês cansarem
a paciência dos homens? Precisam cansar também
a paciência do próprio Deus?'”
Dentro do contexto, o que vemos
é que o sinal que Deus promete é ao rei Acaz,
cuja mulher, uma jovem, estava grávida; o que corroboramos
com:
O reino do Norte (Efraim),
cujo rei era Faceia, se aliou a Rason, rei de Aram, numa tentativa
de se libertar do perigo assírio. Como o reino do Sul
(Judá) não participou da coalizão entre
o reino do Norte e Aram, estes dois temeram que Judá
se tornasse aliado da Assíria; resolveram então
atacar o reino do Sul, para destronar o rei Acaz e colocar
no seu lugar o filho de Tabeel, rei de Tiro. Acaz teme o cerco
e verifica a reserva de água da cidade. Isaías
vai ao seu encontro e o tranquiliza, mostrando que não
haverá perigo, pois continua válida a promessa
de que a dinastia de Davi será perene, desde que se
coloque total confiança em Javé. O sinal
prometido a Acaz é o seu próprio filho, do qual
a rainha (a jovem) está grávida. Esse
menino que está para nascer é o sinal de que
Deus permanece no meio do seu povo (Emanuel = Deus conosco)
(Bíblia Sagrada Pastoral, p.
954-955, grifo nosso).
Então concluímos
que, pelo contexto bíblico e confirmado por essa explicação,
se percebe que Deus, na realidade, promete um sinal ao rei Acaz,
sinal esse que nada mais é que o filho por nascer do
rei.
Na suposta profecia de Isaías está dito que a
criança teria o nome de Emmanuel (=Deus está conosco),
porém, o nome que foi dado ao filho de Maria foi Jesus,
que significa “Deus é salvação”,
o que não é a mesma coisa.
A explicação, no Dicionário Bíblico
Universal, para o verbete Emanuel é:
É o nome dado
por Isaías a uma futura criança cujo nascimento
será, para o rei Acaz, o “sinal” da assistência
divina (Is 7,14-17). A interpretação
deste oráculo deve estar ligada ao significado do nome
e ao alcance que terá na conjuntura daquele momento.
O reino de Judá é ameaçado pelos sírios
e efraimitas aliados, que querem acertar contas com a dinastia
reinante, a mesma dinastia que se beneficia das promessas
feitas a Davi. Em vez de recorrer a essas promessas, Acaz
apela para a Assíria. Isaías condena este modo
de agir e proclama: Deus está presente; ele está
“conosco”.
Qual será a criança cujo nascimento
será portador de uma mensagem como esta? Como
é ao rei, contemporâneo de Isaías, que
o sinal será dado, o nascimento anunciado deve
ocorrer proximamente. Será Ezequias –
afirma-se muitas vezes, e com boas razões. Mas esta
criança é descrita numa linguagem poético-mítica,
concretamente irrealizável. O oráculo abre portanto
uma perspectiva que vai além do rei em questão.
Graças a este oráculo, os crentes, insatisfeitos
com os reis históricos, esperarão por uma personagem
que finalmente satisfará a esperança deles.
Mateus e os cristãos posteriores a ele reconhecem em
Jesus aquele que realiza plenamente o anúncio de Isaías
(Mt 1,23)(Dicionário Bíblico
Universal, 1996, p. 226, grifo nosso).
Confirma-se, portanto, que a
suposta profecia não se refere mesmo a Jesus, o que fica
bem claro nessa explicação acima.
Há ainda um outro problema: é quanto ao significado
da palavra almah usada em Isaías. Para
os tradutores da Bíblia de Jerusalém
“O termo hebraico 'almah' designa, quer a donzela, quer
uma jovem casada recentemente, sem explicitar mais” (Bíblia
de Jerusalém, p. 1265). Vários estudiosos
confirmam isso, entre eles, citamos: Barrera, Rodríguez,
Tabor, Armstrong, Harris e Pastorino, cujas obras faremos constar
na referência bibliográfica, para possível
comprovação de alguém que nos for ler.
Ademais, se Jesus foi concebido por obra do “Espírito
Santo”, então Ele não é filho de
Davi, pois a descendência biológica naquele tempo
é que poderia dar esse status; consequentemente,
Jesus não seria o Messias, anunciado e esperado pelo
povo judeu.
Na Codificação tem-se
algo?
Allan Kardec (1804-1869) não tratou especificamente
do assunto, já que sua preocupação principal
foi o ensino moral de Jesus, que se depreende dos Evangelhos.
Entretanto, em duas de suas obras, ele menciona os irmãos
de Jesus.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no cap.
XIV, intitulado Honrar pai e mãe, discorrendo sobre a
fala de Jesus “Quem é minha mãe e quem são
meus irmãos?”, diz:
Causa admiração, e com fundamento,
que, neste passo, mostrasse Jesus tanta indiferença
para com seus parentes e, de certo modo, renegasse sua mãe.
Pelo que concerne a seus irmãos, sabe-se que
não o estimavam. Espíritos pouco adiantados,
não lhe compreendiam a missão: tinham por excêntrico
o seu proceder e seus ensinamentos não os tocavam,
tanto que nenhum deles o seguiu como discípulo.
Dir-se-ia mesmo que partilhavam, até certo ponto, das
prevenções de seus inimigos. O que é
fato, em suma, é que o acolhiam mais como um estranho
do que como um irmão, quando aparecia à família.
S. João diz, positivamente (cap. VII, v. 5), “que
eles não lhe davam crédito”.
[…].
A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se
acha claramente expressa em a narração de São
Marcos, que diz terem eles o propósito de
se apoderarem do Mestre, sob o pretexto de que este perdera
o espírito. Informado da chegada deles, conhecendo
os sentimentos que nutriam a seu respeito, era natural que
Jesus dissesse, referindo-se a seus discípulos, do
ponto de vista espiritual: “Eis aqui meus verdadeiros
irmãos.” Embora na companhia daqueles estives
declarar que sua mãe segundo o corpo nada lhe era como
Espírito, que só indiferença lhe merecia.
Provou suficientemente o contrário em várias
outras circunstâncias (KARDEC,
2007c, p. 251-253, grifo nosso).
Em A Gênese, cap. XVII
– Predições do Evangelho, lê-se o
seguinte comentário:
Pode-se fazer ideia dos sentimentos que para
com ele nutriam os que lhe eram aparentados, pelo fato de
que seus próprios irmãos, acompanhados
de sua mãe, foram a uma reunião onde
ele se encontrava, para dele se apoderarem, dizendo
que perdera o juízo. (S. Marcos, cap. III,
vv. 20, 21 e 31 a 35. – O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XIV.) (KARDEC, 2007e, p. 424, grifo
nosso).
Ao que nos parece, diante da forma com que Kardec
fala dos irmãos de Jesus, ele aceitava tranquilamente
este fato, sem maiores questionamentos; certamente, por achar
algo natural, o que se pode depreender dessa outra sua fala:
A estada de Jesus na Terra apresenta dois
períodos: o que precedeu e o que se seguiu à
sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção
até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita
à sua mãe, como nas condições
ordinárias da vida. […] (KARDEC,
2007e, p. 401, grifo nosso).
Portanto, Kardec, segundo acreditava, não
tinha o nascimento de Jesus como algo sobrenatural, pois Maria
passou por todo o longo processo de gravidez e parto como ocorre
com toda mulher encarnada na Terra; e até mesmo, pelo
que deduzimos de suas falas, a possibilidade de ter outros filhos
ele não a contestava, já que isso estaria “nas
condições ordinárias da vida”.
Textos bíblicos
Mateus 12,46-50: “Jesus ainda estava
falando às multidões. Sua mãe
e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar
com ele. Alguém disse a Jesus: 'Olha! Tua
mãe e teus irmãos estão aí fora,
e querem falar contigo'. Jesus perguntou àquele que
tinha falado: 'Quem é minha mãe e quem são
meus irmãos?' E, estendendo a mão para os discípulos,
Jesus disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos,
pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está
no céu, esse é meu irmão, minha irmã
e minha mãe'”(ver
tb Mc 3,31-32).
Mateus 13,53-57: “Quando Jesus terminou de contar
essas parábolas, saiu desse lugar, e voltou para a
sua terra. Ensinava as pessoas na sinagoga, de modo que ficavam
admiradas. Diziam: 'De onde vêm essa sabedoria e esses
milagres? Esse homem não é o filho do
carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus
irmãos não são Tiago, José, Simão
e Judas? E suas irmãs, não moram conosco?
Então, de onde vem tudo isso?' E ficaram escandalizados
por causa de Jesus. Mas Jesus disse: 'Um profeta só
não é estimado em sua própria pátria
e em sua família'. E Jesus não fez muitos milagres
aí, por causa da falta de fé deles”(ver
Mc 6,1-3 e também Lc 8,19-21, que não cita as
irmãs).
João 2,1-12: “No terceiro dia, houve uma
festa de casamento em Caná da Galileia, e a mãe
de Jesus estava aí. Jesus também tinha sido
convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos.
[…] Foi assim, em Caná da Galileia, que Jesus
começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória,
e seus discípulos acreditaram nele. Depois disso, Jesus
desceu para Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos
e seus discípulos. E aí ficaram apenas
alguns dias”.
João 7,1-5: “[…] a festa judaica das
Tendas estava próxima. Então os irmãos
de Jesus lhe disseram: 'Tu deves sair daqui e ir
para a Judeia, para que também teus discípulos
possam ver as obras que fazes. Quem quer ter fama não
faz nada às escondidas. Se fazes essas obras, mostra-te
ao mundo”. Na verdade, nem mesmo os irmãos
de Jesus acreditavam nele”.
Atos 1,12-14: “Os apóstolos voltaram para
Jerusalém, pois se encontravam no chamado monte das
Oliveiras, não muito longe de Jerusalém: uma
caminhada de sábado. Entraram na cidade e subiram para
a sala de cima, onde costumavam hospedar-se. Aí estavam
Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé,
Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota
e Judas, filho de Tiago. Todos eles tinham os mesmos sentimentos
e eram assíduos na oração, junto com
algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe
de Jesus, e com os irmãos de Jesus”.
1Coríntios 9,5: “Ou não temos direito
de levar conosco nas viagens uma mulher cristã, como
fazem os outros apóstolos e os
irmãos do Senhor, e Pedro?”.
Gálatas 1,18-19: “Três anos mais tarde,
fui a Jerusalém para conhecer Pedro, e fiquei com ele
quinze dias. Entretanto, não vi nenhum outro apóstolo,
a não ser Tiago, o irmão do Senhor”.
Observar que, nos três primeiros passos,
a menção a Maria e aos irmãos de Jesus
só pode se relacionar à sua própria família,
pois não há razão alguma de Maria andar
com os “primos” de Jesus, que não temos notícia
que de, caso eles tenham mesmo existido, morassem com ela e
não com a sua própria mãe. Então,
o argumento de que “irmãos” significa “primos”,
não têm razão de ser; tentam apenas, com
isso, demonstrar que Jesus foi filho único. Sobre essa
questão de “irmão” significar “primo”
abordaremos um pouco mais à frente.
O passo Mateus 13,52-57 é ainda mais claro, porquanto,
além da referência a Maria mencionam que Jesus
era filho do carpinteiro. Ora, essas observações
sendo ditas pelos que moravam na nesta cidade demonstram que
eles, por serem concidadãos de Jesus, o conheciam bem
e a toda a sua família.
Algumas pessoas justificam que Jesus não teve irmãos
pelo fato dEle ter dito a João, supondo-o o “discípulo
que ele amava” (João
19,26), “Eis a sua mãe”.
(João 19,27) e a Maria “Mulher,
eis aí o seu filho”. (João
19,26), por esperarem que isso fosse dito a irmãos,
caso Ele os tivessem. É exatamente essa a colocação
de Huberto Rohden (1893-1981): “Se os tais irmãos
de Jesus tivessem sido filhos de Maria, não se compreende
por que Jesus, ao morrer, tenha entregue sua mãe aos
cuidados de seu discípulo João; não se
teriam esses filhos interessado por sua mãe? (ROHDEN,
4ª ed. s/d, p. 120). Embora reconheçamos
no autor capacidade intelectual, milhares de vezes, acima da
nossa, não vemos nisso um bom argumento, porquanto, o
próprio Evangelho de João nos dá notícia
que os irmãos de Jesus não acreditavam nele (João
7,5) e além disso o fato dEle ter sido crucificado
poderia também ser outra causa de seus irmãos
não estarem ao pé da cruz, certamente, tomados
do medo de que destino semelhante lhes acontecessem. Se os próprios
discípulos, ou seja, os que acreditavam em Jesus, o abandonaram,
como esperar que seus irmãos que “não morriam
de amores por Ele” manifestassem solidariedade ao Crucificado?
Ademais ainda temos uma outra razão para acreditar que,
de fato, Jesus teve irmãos, que deixamos para citar agora
o passo onde ela se encontra, visando destacá-la. Leiamos:
Lucas 2,4-7: “José era da
família e descendência de Davi. Subiu da cidade
de Nazaré, na Galileia, até a cidade de Davi,
chamada Belém, na Judeia, para registrar-se com Maria,
sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam
em Belém, se completaram os dias para o parto,
e Maria deu à luz o seu filho primogênito.
Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não
havia lugar para eles dentro da casa”.
Se, de fato, Lucas agiu como diz no início
do Evangelho que “[…] após fazer
um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o
princípio, também eu decidi escrever para você
uma narração bem-ordenada, excelentíssimo
Teófilo” (Lucas 1,3),
a designação de Jesus como “filho primogênito”
de Maria só pode ser por considerá-lo o “primeiro
filho”, já que o relato foi feito tempos depois
do nascimento de Jesus e até mesmo de Sua morte, quando
já se poderia saber quantos faziam parte de sua família.
Em se pesquisando na Bíblia o termo “primogênito”
encontramos 76 ocorrências no A.T e 7 no N.T, não
há um deles sequer que tenha outro sentido que não
o de “primeiro filho”. Por outro lado, se Jesus
fosse filho único, então deveria ter sido empregado
o termo “unigênito”; aliás termo que
só aparece no N.T. e por apenas seis vezes; porém,
não é empregado para estabelecer Sua relação
com a família, mas tão somente a de colocá-lo
como sendo o filho unigênito de Deus, como se ele fosse
o filho único e nenhum outro mais existisse. Mas em relação
a Deus e não no sentido de família carnal.
Ademais por achar bem estranho que somente Lucas tenha qualificado
Jesus como “primogênito”, aprofundamos a pesquisa
e descobrimos que também Mateus usa o termo (Mateus
1,25); entretanto isso vai depender da tradução
que tenhamos em mãos. Vejamos estes dados:
MATEUS 1,25 |
Traduções
bíblicas |
Teor |
Bíblia de Jerusalém |
“Mas não a conheceu até
o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o
nome de Jesus”. |
Paulinas 1957; SBB, SBTB, Barsa |
“E não a conhecia, até
que deu à luz seu filho primogênito;
e pôs-lhe e nome de Jesus”. |
Paulinas 1977 e 1980 |
“Não a conheceu até que
deu à luz um filho, e pôs- lhe o nome de Jesus”. |
Explica-nos o exegeta Russell Norman Champlin (1933- ):
“PRIMOGÊNITO” aparece em
CDEKLMSUV, Gama, Delta, Fam PI (nas traduções
KJ AC F M). A palavra é omitida em Aleph, B, Z, 1,
33a (vid), b, c, sah, cop, si e o pai Amb. Os melhores e mais
antigos mss, juntamente com algumas traduções
egípcias, latinas e siríacas, omitem “primogênito”
aqui. A palavra foi tomada de empréstimo de Lucas
2:7 (onde é autêntica), por alguns escribas.
Todas as traduções usadas para comparação,
neste comentário, em número de catorze (nove
em inglês e cinco em português), omitem-na em
Mateus. Ex., KJ AC F M. (CHAMPLIN, 2005a,
p. 277, grifo nosso).
Então, temos que Jesus foi o primogênito
de Maria, o que nos faz concluir que Ele foi o primeiro a nascer
dos filhos e filhas de Maria e José.
Como os tradutores bíblicos católicos
e protestantes explicam
Aqui, perceber-se-á quase que uma “acirrada
guerra”; os católicos defendendo que Maria jamais
teve outros filhos e os protestantes contra-atacam dizendo que
os teve, sim.
a) católicos
1. Dicionário Barsa (ao final da obra):
Irmãos. Propriamente
indica o parentesco entre os filhos do mesmo pai e mesma
mãe. Na Bíblia, algumas vezes, é aplicado
o termo aos filhos do mesmo pai mas de mães diferentes,
ou da mesma mãe de pais diferentes. No Gen 42,15
Benjamin é chamado irmão de Ruben e dos outros
filhos de Jacó, embora tenha mãe diferentes,
ao menos da de alguns deles. O termo é usado,
na Bíblia, também para parentes mais distantes
que os meios-irmãos, como sobrinhos, tios e primos
de vários graus de parentesco (Gen
14,14; Lev 10,4; I Par 9,6). Até mesmo os
membros duma mesma tribo são, algumas vezes, chamados
de irmãos (2Sam 19,12; I Par
12,2), ou membros duma mesma nação
(Gen 16,12; Ex 2,11; Dt 2,4.8).
O termo é também aplicado aos amigos ou de
algum modo associados (Jos 14,8; I
Sm 30,23; 2 Sam 1,26; Am 1,9; etc.). Finalmente,
por causa da descendência de todos os homens de Adão
e Eva, qualquer homem pode chamar a outro de irmão
(Gen 9,5; Mt 5,22; 7,3; Hebr 2,11).
No Novo Testamento, há referências aos “irmãos
do Senhor” (Mc 3,31; Jo 2,12;
1 Cor 9,5; etc.). À luz do constante
ensinamento da Igreja, Nossa Senhora permaneceu sempre virgem
e, de fato, Cristo não teve pai carnal donde se conclui
que essa expressão não indica que essas pessoas
chamadas de “irmãos do Senhor” tivessem
com Cristo, o mesmo pai e a mesma mãe. Diante
de tantos exemplos citados acima (e de muitos outros), é
claro que a palavra irmãos é empregada no
seu significado mais amplo. Deste modo, esses “irmãos
do Senhor” eram primos ou mesmo alguns parentes mais
distantes de Nosso Senhor (Dicionário
Barsa, p. 137, grifo nosso).
2. Bíblia Vozes:
Mt 12,46-50: Em hebraico o termo
“irmão” (ah) podia indicar qualquer parentesco,
inclusive primo e sobrinho. As palavras de Jesus
sobre a nova fraternidade servem para o evangelista concluir
a secção […]. (Bíblia
Vozes, p. 1192, grifo nosso).
3. Bíblia de Jerusalém:
Mt 12,46: Há diversas menções
de “irmãos” (e “irmãs”)
de Jesus (13,44; Jo 7,3; At 1,14);
1Cor 9,5; Gl 1,19). Embora tendo o sentido primeiro
de “irmão de sangue”, a palavra
grega usada (adelphos), assim como a palavra correspondente
em hebraico e aramaico, pode designar relações
de parentesco mais amplas (cf. Gn
13,8; 29,15; Lv 10,4), e principalmente um primo-irmão
(1Cr 23,22). O grego possui outro termo para “primo”
anèpsios, ver Cl 4,10, único emprego
deste termo no NT. Mas o livro de Tobias atesta que ambas
as palavras podem ser indiferentemente usadas para falar
da mesma pessoa: cf. 7,2 “nosso irmão Tobit”
(adelphos ou anèpsios conforme
os manuscritos. Desde os Padres da Igreja, a interpretação
predominante viu nesses “irmãos” de Jesus
“primos”, de acordo com a crença na virgindade
perpétua de Maria. Além disso, isto
concorda com Jo 19,26-27 o qual deixa supor que, na morte
de Jesus, Maria estava sozinha(Bíblia
de Jerusalém, p. 1726, grifo nosso).
Não filhos de Maria, mas parentes próximos,
por exemplo, primos, que o hebraico e o aramaico também
chamavam de “irmãos” (Cf.
Gn 13,8; 14,16; 29,15; Lv 10,4; ICr 23,22s). Veja
também Mt 13,55p; Jo 7,3s; At 1,14; 1Cor 9,5; Gl
1,19. (Bíblia de Jerusalém,
p. 1862, grifo nosso).
b) protestantes
1. Dicionário da Bíblia Almeida
IRMÃOS DE JESUS:
Os irmãos de Jesus por parte de mãe, filhos
de José e Maria (Mt
13.55-56). Eles passaram a crer em Jesus depois de
sua ascensão (Jo 7.1-5; At
1.14). (KASCHER e ZIMMER, 1999,
p. 169, grifo nosso).
2. Dicionário Bíblico Universal
– Buckland
IRMÃOS DO SENHOR. Aqueles de quem
se fala em Mt 12.36 e 13.55, e outros lugares, como irmãos
de Jesus, seriam os filhos de José e Maria? Segundo
uma opinião que vem do segundo século pelo
menos esses “irmãos de Jesus” era filhos
de um primeiro matrimônio de José. Mais tarde
foram, por alguns críticos, considerados primos do
nosso Salvador. Podem, contudo, ter sido filho de
José e Maria. Em todas as passagens,
menos uma, em que esses irmãos de Jesus são
mencionados nos Evangelhos, acham-se associados com Maria.
Se era eles filhos mais velhos de José, não
seria então Jesus o herdeiro do trono de Davi, segundo
as nossas noções de primogenitura: Eles não
acreditavam em Jesus no princípio de Sua missão,
e até, segundo parece (Jo 7.5),
depois que os apóstolos foram escolhidos; e por essa
eles não puderam ser do número dos Doze, dos
quais, na verdade, eles particularmente se distinguem, quando
num período posterior são vistos na companhia
deles (At 1.14). Não
devem, portanto, ser confundidos com os filhos de Alfeu,
embora tenham os mesmos nomes. (V.
Tiago, Epístola de). Além disso, as
palavras “filho” e “mãe”,
sendo empregadas nesta passagem (Mt
13,44) no seu natural e principal sentido, semelhantemente
devem ser tomados os nomes “irmão” e
“irmã”, pelo menos, até ao ponto
de excluir o termo “primo”. O fato
de terem os filhos de Alfeu, bem como os irmãos do
Senhor, os nomes de Tiago, José, e Judas, nada prova,
visto que esses nomes eram muito vulgares nas famílias
judaicas. Estranha-se que não fossem lembrados estes
irmãos, quando Jesus confiou a sua mãe ao
cuidado de João; mas isso explica-se pela razão
de que a esse tempo ainda eles não criam Nele. A
conversão deles parece ter sido quando se realizou
a aparição de Jesus a Tiago, depois da Sua
ressurreição (1Co 15.7)
(BUCKLAND e WILLIAMS, 1999, p. 199-200,
grifo nosso).
3. Bíblia Shedd
Mt 12.46-50: Jesus tinha quatro irmãos
(mencionados pelo nome em Mc 6,3), além de um número
de irmãs não especificadas. Sem base
histórica, já tem sido negado serem, estes,
filhos de José e Maria. As alternativas
apresentadas são: estes poderiam ser primos de Jesus,
filhos de Alfeu e de outra Maria, irmã da mãe
de Jesus. Podiam, também, segundo, tais teólogos,
ser filhos de José antes do casamento com Maria,
Jo 7.5 e At 1,14 distingue-os dos filhos de Alfeu. Nota-se,
também, que nas dez ocasiões em que sua presença
se registra, estão sempre com Maria, mãe de
Jesus. […] (Bíblia
Shedd, p. 1348, grifo nosso).
4. Bíblia Anotada
Mt 13.44. seus irmãos. Estes
eram os filhos de José e Maria, nascidos depois de
Jesus, que nascera só de Maria. Vê-los
como filhos de um primeiro casamento de José ou como
primos de Jesus contraria o uso normal do termo “irmãos”
(Bíblia Anotada, p. 1204, grifo
nosso).
Certamente, que o motivo que move os católicos
a defenderem a não existência de irmãos
de Jesus é, como já dito, o fato de se verem obrigados
a defenderem o dogma de sua igreja sobre “virgindade de
Maria”, antes, durante e depois do casamento (ou do parto),
coisa, que à época, em que os Evangelhos foram
escritos, não fazia o menor sentido. A base, como vimos,
é uma passagem de Isaías que não é
uma profecia e nem se relaciona a Jesus, o que faz, com que
os protestantes, a nosso ver, estejam mais próximos da
verdade.
Estudiosos
1) Russell Norman Champlin e João Marques Bentes
(1932- )
Marcos menciona por nome quatro irmãos
de Jesus (6:3), bem como um número indeterminado de
irmãs. Muitos discutem a questão dos
irmãos de Cristo, aqui mencionados. Alguns, pretendendo
preservar a doutrina da perpétua virgindade
de Maria, inventada pelos homens, apresentam as seguintes
explicações: 1. Esses “irmãos”
de Jesus eram seus primos, e não irmãos no sentido
literal, como podem indicar as palavras gregas e hebraica
para “irmãos”. Alguns sugerem que eram
filhos de Alfeu e de Maria, a irmã de Jesus. 2. Seriam
filhos de José mediante um casamento anterior; 3. Seriam
filhos de José mediante um casamento posterior; e José
teria contraído essas núpcias a fim de criar
os filhos de um irmão seu, já falecido. Todas
essas ideias tiveram início bem cedo na história
eclesiástica, e até hoje perduram.
Os argumentos enumerados abaixo favorecem a ideia
de que os irmãos e as irmãs de Jesus eram filhos
de José e Maria, em seu sentido literal.
1. João 7:5 parece excluir “seus irmãos”
do número dos “doze”, mesmo porque não
eram realmente filhos de Alfeu, pai de Tiago, o apóstolo.
Atos 1:14 também os menciona em separado dos doze.
Portanto, esses homens (os irmãos) não poderiam,
realmente, ser primos de Jesus e estar no número dos
doze apóstolos. Os nomes Tiago, Judas e Simão
eram nomes muito comuns, e é provável que alguns
dos primos de Jesus tivessem os mesmos nomes de seus irmãos
literais. As Escrituras também indicam que seus irmãos
não tiveram fé nele senão após
a sua ressurreição (João
7:5).
2. Das quinze vezes em que esses irmãos são
mencionados (dez nos evangelhos, uma em Atos e algumas vezes
nos escritos de Paulo) quase sempre são mencionadas
em companhia de Maria, mãe de Jesus. É estranho
que os primos de Jesus andassem sempre em companhia
de sua tia, que nesse caso seria Maria, mãe de Jesus,
em vez de andarem em companhia de sua própria família.
3. Em nenhuma porção das Escrituras
é indicado que eles fossem primos de Jesus ou filhos
somente de José, e não de Maria. Tais suposições
são especulações humanas para estabelecer
e firmar uma teologia humana.
4. A não ser por motivo de preconceito teológico,
não há razão para não acolhermos
essas palavras em seu sentido mais natural, isto é,
eram filhos de José e Maria, em seu sentido natural,
isto é, eram filhos de José e Maria, em sentido
literal. A elevação de Maria à estatura
de deusa é uma tradição romanista, contrária
ao próprio tratamento de Jesus à sua mãe
(Mat. 12:47), onde ele não
reconhece qualquer relação especial, devido
à sua ligação física) e contrária
à ideia que diz que Jesus era o único de sua
espécie entre os homens, posição essa
que ele jamais dividiu com sua mãe. Finalmente, devemos
notar que a doutrina da perpétua virgindade de Maria
não é apoiada nas Escrituras. A preservação
dessa doutrina forma a base dos argumentos que explicam erroneamente
esses “irmãos”, como se não fossem
irmãos literais de Jesus; e também não
goza de base alguma nas Escrituras. Parece ser razoável
que uma doutrina dessa natureza, caso tivesse tanta importância
como alguns afirmam, pelo menos fosse apoiada por uma pequena
afirmação bíblica nesse sentido (CHANPLIN
e BENTES, 1995b, p. 683-684, grifo nosso).
3) Ernest Renan (1823-1892)
Mat., I,25 (texto recebido); XII,45 e seg.;
XIII,55 e seg.; Marc. III,31 e seg.; VI, 3; Luc., II,7; VIII,19
e seg.; João, II,12; VII, 3,5,10; Atos, I,14: Hegésipa,
em Eusébio H.E., III,20. A assertiva de que
a palavra ah (irmão) teria um sentido mais amplo em
hebraico do que em francês é totalmente falsa.
O significado da palavra ah é idêntico ao da
palavra “frère” (irmão). Os empregos
metafóricos, ou abusivos, ou errôneos, nada provam
contra o sentido próprio. Quando um pregador chama
a audiência “meus irmãos” poder-se-á
concluir que a palavra “irmão” não
tem sentido bem preciso? Logo, é evidente que nas passagens
anteriormente citadas a palavra “irmão”
não aparece no sentido figurado. Note, em particular,
Mat., XII,46 e seg., que exclui igualmente o sentido abusivo
de “primo” (RENAN, 2004b,
p. 102, grifo nosso).
2) Carlos Torres Pastorino (1910-1980)
Quando seus “parentes” chegam,
é que ficamos sabendo de quem se tratava: “sua
mãe, seus irmãos e suas irmãs”.
A expressão “suas irmãs”
está nos códices A, D, E, F, H, M,
S, U, V, Gama, e na maior parte das antigas versões
latinas; é aceita por Soden e Merck; Vogel e Nestle
a colocam entre colchetes. Não aparece nos códices
Aleph, E, C, G, K, Delta, Pi, 1, 13, 33
e 69 e na Vulgata, sendo recusada por Westcott-Hort, Souter,
Swete, Lagrange e Pirot.
[…].
Quanto aos quatro irmãos de Jesus (Tiago, Judas Tadeu,
Simão e José) e às duas irmãs
(Maria e Salomé), já apresentamos o problema
do parentesco no vol. 2.º, pág. 111-112. [é
a transcrição que se segue] (PASTORINO,
964c. p. 58).
[…] observamos a cena da entrega de Maria, Sua Mãe,
ao discípulo amado, a fim de que ele cuidasse de Maria
em lugar do próprio filho Jesus.
Anotemos, de passagem, que se Maria tivesse tido outros filhos,
ou mesmo enteados (filhos do primeiro matrimônio de
José), esse gesto de Jesus tem ensanchas de magoá-los
profundamente. Daí termos aceitado, desde o
início, a hipótese da expressão “irmãos
de Jesus”, como sendo seus “primos-irmãos”.
(1)
_______
(1) A palavra grega adelphós,
“irmão”, referia-se também a “primos”,
como lemos em muitos autores profanos (cfr. Herodoto.
1.65; 4.147; 6.94. etc.; Thucidides. 2.101, etc.; Strabão,
10.5.6, etc.), dando-se o mesmo com a palavra latina frater.
Lemos em Cícero (De Fin; 5.1. 1): L. Cícero
frater noster, cognatione patruelis, amore germanus,
ou seja, “Lúcio Cícero nosso irmão,
pelo parentesco primo, pelo amor, irmão”. E a
definição do Digesto (38. 10. 1, § 6):
item fratres patrueles, sorores patrueles, id est qui
quaeve ex duobus fratribus progenerantur, “da mesma
forma, primos-irmãos, primas-irmãs, os que e
as que são gerados de dois irmãos”. Não
esqueçamos que a palavra portuguesa “irmão”,
assim como a castelhana “hermano”, são
derivadas do latim germanus (proveniente de gérmen)
e exprime aqueles que são da mesma origem, do mesmo
germe, conforme já lemos mesmo em Plauto (Menaechmi,
1102): spes mihi est vos inventuros fratres germanos duos
geminos una matre natos et patre uno uno die, isto é:
“minha esperança é de que vos descobrireis
irmãos autênticos gêmeos nascidos de uma
mãe e de um pai, no mesmo dia”.
(PASTORINO, 1971, p. 155, grifo
nosso)
Vê-se que nem mesmo os estudiosos se entendem
sobre o assunto; alguns deles agem como defensores de suas crenças,
coisa fácil de se aceitar de pessoas comuns, não
de eruditos.
A suposição de que os “irmãos de
Jesus” tenham sido filhos de José de um casamento
anterior, como vimos citar aqui e no tópico anterior,
tem, segundo acreditamos, como base os livros chamados Apócrifos,
que o Aurélio define como: “Diz-se
de obra sem autenticidade, ou cuja autenticidade não
se provou”.
No Proto-Evangelho de Tiago, tem-se que José
teria dito quando supostamente foi o escolhido, por ser de viúvo,
para desposar a virgem Maria: “Tenho filhos e sou velho,
enquanto que ela é uma menina; não gostaria de
ser objeto de zombarias por parte dos filhos de Israel”
(TRICCA, 1995a, p. 111).
No A história do carpinteiro José,
obra “escrita em grego – talvez no Egito –
em fins do século IV” (TRICCA,
1995a, p. 195), Jesus conta a história de seu
pai, José, de onde transcrevemos, do cap. II:
3. Este homem, José, uniu-se
em santo matrimônio com uma mulher que lhe deu filhos
e filhas: quatro homens e duas mulheres, cujos nomes eram:
Judas e Josetos, Tiago e Simão, suas filhas chamavam-se
Lísia e Lídia. 4. E a esposa de José
morreu, como está determinado que aconteça a
todo homem, deixando seu filho Tiago ainda menino de pouca
Idade. 5. José era um homem justo e dava graças
a Deus em todos os seus atos. Costumava viajar para fora da
cidade com frequência para exercer o ofício
de carpinteiro em companhia de seus dois filhos,
já que vivia do trabalho de suas mãos conforme
o que estabelecia a lei de Moisés. 6. Este homem justo,
de quem estou falando, é José, meu pai
segundo a carne, com quem se casou na qualidade de
consorte, minha mãe, Maria. (TRICCA,
1995a, p. 198, grifo nosso).
O interessante é que nessa narrativa
Jesus afirma que José é seu pai “segundo
a carne”; como, então, tê-lo como gerado
de forma sobrenatural? Note-se, também, que ele exercia
o ofício de carpinteiro com “dois filhos”,
dando a entender que tinha esses dois, não nominados,
e Tiago, menino de pouca idade.
Então, possivelmente essa crença de José
ter outros filhos vem dessas duas obras apócrifas, o
que é algo inusitado, pois tomam de uma obra não
inspirada para considerar como “irmãos de Jesus”,
os filhos de José de um suposto casamento anterior. Será
que não perceberam essa contradição?
A “irmã de Maria”
É óbvio que se Jesus teve primos
estes teriam que ser filhos de um tio ou tia, ou seja, Maria,
sua mãe, teria, pelo menos, um irmão ou irmã.
Excluímos José dessa possibilidade visto, conforme
os textos bíblicos, ele não ser o pai biológico
de Jesus. A nossa surpresa é que encontramos no Evangelho
de João (19,25) algo a respeito, embora estranhemos o
completo silêncio dos autores dos Evangelhos sinópticos
sobre este importante fato. Para os que acreditam em “primos”,
em vez de “irmãos de Jesus”, João
torna-se o “salvador da pátria” ao apresentar
uma mulher como sendo irmã de Maria.
A novidade veio-nos pela Bíblia Barsa, quando,
no Novo Testamento, se explica a questão dos irmãos
de Jesus:
Mt 12.46. Irmãos, i.e. primos,
de acordo com o valor da palavra nas línguas semitas.
Aliás o próprio Evangelho chama a Tiago
e José de irmãos de Jesus e indica o nome de
sua mãe, Maria de Cleofas, irmã (ou prima) da
Virgem Maria. (Cf. Mt 13,55;
27,56; Mc 15,40,47; Jo 19,25). (Bíblia Barsa, p. 12
do NT, grifo nosso).
Vejamos algumas das passagens citadas nessa
explicação, nas quais se citam as mulheres que
estavam ao pé da cruz:
Mateus 27,56: “Entre elas estavam
Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José,
e a mãe dos filhos de Zebedeu”.
Marcos 15,40: “Aí estavam também algumas
mulheres, olhando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena,
Maria, mãe de Tiago, o menor, e de Joset, e
Salomé”.
João 19,25: “A mãe de Jesus, a
irmã da mãe dele, Maria de Cléofas,
e Maria Madalena estavam junto à cruz”.
Os autores Champlin e Bentes argumentam que
a comparação entre os trechos Mateus e Marcos,
identifica Salomé (Marcos 15,40)
como a mãe dos filhos de Zebedeu (Mateus
27,56) (CHAMPLIN e BENTES, 1995f,
p. 74). Aliás, estes dois Evangelhos só
têm Maria de Madalena em comum com o autor de João,
que, como sabemos, é o Evangelho mais tardio, em que
a visão que nos traz de Jesus é mais divinizada,
provavelmente, produto de influências culturais de outros
povos.
Deve-se levar em conta que o versículo João 19,25
não está presente em 28 manuscritos, incluindo
alguns do século III (P5 P22 P39 P45 P75); consta de
apenas 6, em que os dois mais antigos (01 e 03) pertencem ao
século IV, conforme se vê no Novo Testamento em
grego, publicado pelo site - http://nttranscripts.unimuenster.de/AnaServer?NTtranscripts+0+start.anv
[1]. E diante disso ficamos na
dúvida se esse versículo não foi um acréscimo
feito por uma “alma piedosa” visando criar as condições
para que os “irmãos de Jesus” se tornassem
“primos”. Essa hipótese nos parece razoável,
pois foi exatamente no século IV, mais precisamente no
ano de 325, quando do Concílio de Niceia, que se iniciou
o processo de divinização de Jesus, até
desembocar na instituição da Trindade cristã,
que, na verdade, é também uma cópia de
crença pagã.
Sabemos que causa espécie a alguns falar de acréscimos
nos textos bíblicos, mas em O que Jesus disse? O
que Jesus não disse? o autor Bart D. Ehrman apresenta
uma prova (p. 54):

O texto de João, ora
em exame, induz a considerar Maria de Cléofas (ou Clopas,
ou Alfeu) como sendo a irmã de Maria; mas aqui o que
temos é mais um problema de tradução:
JOÃO
19,25 |
Bíblias |
Teor |
Barsa, Paulinas 1957 e SBB |
“Entretanto estavam em pé junto
à crua de Jesus sua mãe, e a irmã de
sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria
Madalena”. |
Shedd, NTLH e Anotada |
“E junto à cruz estavam a
mãe de Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de Clopas,
e Maria Madalena”. |
Observa-se que com a colocação
de um “e”, antes da “Maria, mulher de Clopas”,
muda-se todo o sentido, pois, de três mulheres, passaremos
a ter quatro.
Explicações de Champlin e Bentes:
Diversas interpretações têm
sido dadas a este versículo, quando o mesmo é
comparado aos seus paralelos nos evangelhos sinópticos,
no que diz respeito à identificação das
mulheres citadas. Em primeiro lugar, devemos observar que
a tradução portuguesa que usamos como base neste
comentário (a tradução IV), conforme
é citada acima, dá a impressão de terem
estado presentes à cena da crucificação
nada menos de quatro mulheres. Em segundo lugar, ela não
identifica “Maria, mulher de Clopas” com a irmã
de Maria, mãe de Jesus, pelo contrário, distingue
as duas mulheres, inserindo a conjunção “e”
antes da palavra “Maria”. E assim temos: “…a
irmã dela (e não diz de quem) e Maria…”.
O motivo desse artifício de tradução
é que os revisores devem ter pensado que seria
extremamente difícil que, numa única família,
houvesse duas irmãs com o mesmo nome – Maria.
E, posto que nos manuscritos originais não foram usados
sinais de pontuação, bastaria ser posta uma
vírgula (que no caso agiria como substituta da conjunção
“e”) antes de Maria, mulher de Clopas,
para que houvesse o mesmo efeito de distinção.
Assim se poderia distinguir a irmã de Maria de “Maria,
mulher de Clopas”. A bem da verdade, é necessário
que se diga que a primitiva versão siríaca “peshito”
mostra-nos que desde bem cedo, na história da interpretação
do texto sagrado, essa passagem era aceita como a indicar
a presença de quatro mulheres, e não de três
somente, ao pé da cruz.
Outras traduções e interpretações
fazem com que pareça terem sido mencionadas apenas
três mulheres neste trecho, sem falarmos no fato de
que essa “Maria, mulher de Clopas”, aparece como
irmã de Maria; ou, ainda em outros casos, como cunhada
ou meio-irmã de Maria. Por isso é que a tradução
portuguesa AC diz: “…estava sua mãe
e a irmã de sua mãe, Maria de Cléopas…”.
No que tange ao problema que dificilmente duas irmãs,
numa mesma família, tenham recebido o nome de “Maria”,
podemos responder que a outra Maria era, na realidade, meio-irmã
de Maria, mãe de Jesus, ou então, sua cunhada.
Eusébio, tomando por empréstimo uma
ideia de Hegesipo, em sua História Eclesiástica
(I,3, cap. 11), supõe que Clopas seria irmão
de José, marido de Maria, mãe de Jesus,
o que faz com que esta “Maria” seja cunhada
de Maria, mãe de Jesus. Mas outros estudiosos
têm pensado que essa Maria fosse irmã de José,
e que assim é que ela vinha a ser cunhada de Maria
não há maneira de evitarmos as meras conjecturas.
A tradução portuguesa IB concorda neste caso
com a tradução portuguesa AA, indicando a presença
de quatro mulheres ao pé da cruz de Cristo.
Se reconhecermos a presença de quatro mulheres,
na cena da crucificação de Cristo, então
podemos fazer as seguintes observações:
A irmã de Maria, cujo nome não é
dado (pois se quatro mulheres são realmente mencionadas
neste texto, então Maria, mulher de Clopas, não
pode ser irmã de Maria), muito provavelmente era Salomé.
E isso é até certo ponto confirmado na narrativa
dos evangelhos sinópticos, que igualmente fornecem
uma lista das mulheres que se fizeram presentes à crucificação.
A diferença é que nos evangelhos sinópticos
todos os nomes são mencionados, ao passo que, neste
quarto evangelho, não é fornecido o nome da
irmã de Maria (Ver Marc. 15:40
e Mat. 27:56). A mulher que é identificada como
“mãe dos filhos de Zebedeu” (Mat.
27,56), dessa maneira, é evidentemente chamada
de “Salomé”, na narrativa paralela
de Marc. 15:40. Salomé, assim sendo, seria a mãe
de João e Tiago. E isso, por sua vez, significa que
tanto o apóstolo João como sua mãe estiveram
ao pé da cruz de Cristo, em companhia de Maria Madalena
e de Maria, mãe de Jesus, além de uma outra
Maria, “mulher de Clopas”. Isso, finalmente, significa
que os apóstolos João e Tiago eram primos de
Jesus.
A outra Maria, pois, era ao mesmo tempo mulher
de Clopas e mãe de um outro Tiago, que no trecho
de Marc. 15:40 é chamado de “o Menor”,
por ser de menor estatura que o outro Tiago, filho de Zebedeu,
ou por ser mais jovem. Voltando a nossa atenção
para essa outra Maria, averiguamos que ela era esposa de Clopas,
que também é chamado “Alfeu”, porquanto
esses dois apelativos parecem ser meras variações
de um único nome hebraico. O trecho de Mat. 10:3 diz-nos
que Tiago era filho de Alfeu, sendo provável que se
trate do mesmo Tiago, filho de Clopas. Por isso é que
os nomes Alfeu e Clopas têm sido confundidos e aceitos
como nomes de uma única pessoa, pelo menos por parte
de muitos intérpretes.
Entretanto, há estudiosos bíblicos
que negam a possibilidade dessa identificação,
os quais pensam que, afinal de contas, “Maria, mulher
de Clopas”, não é a mesma Maria, mãe
de Tiago e Joses. Todavia, durante toda a cena da crucificação
de Jesus, essa Maria parece ser a mesma pessoa que aquela
Maria, não havendo nenhuma razão sólida
para duvidarmos disso:
Se essa “Maria, mulher de Clopas” ou Alfeu, era
irmã de Maria, então Tiago, o Menor, e Joses,
eram também primos de Jesus. Entretanto, tudo
isso está na dependência da identificação
dessa “Maria” (do trecho de João 19:25)
com aquela outra “Maria”, mãe de Tiago
e Joses, que aparece nos evangelhos sinópticos. Alguns
eruditos, todavia, duvidam da validade dessa identificação.
Outrossim, a menos que a passagem de João 19:25 fale
definidamente apenas de três mulheres, então
essa Maria não é apresentada como irmã
de Maria, por isso mesmo, não era parenta de Jesus
em qualquer sentido; e, consequentemente, nem os seus dois
filhos seriam parentes carnais do Senhor.
Os intérpretes que pensam que este versículo
menciona apenas três mulheres, os quais também
vinculam essa Maria (irmã da mãe de Jesus) com
“Maria, mulher de Clopas” e mãe de Tiago,
o Menor e Joses, pensam que esses homens eram primos do Senhor
Jesus.
ESSE problema se complica ainda mais pelo fato de que o original
grego não declara, de forma peremptoriamente clara
que essa Maria era “mulher” de Clopas; pelo contrário,
segundo era costumeiro no grego, nesses casos de relações
familiares, diz simplesmente “de Clopas”, o que
poderia ser “mãe”, “irmã”
ou “filha” de Clopas. E neste caso não
estaríamos tratando do caso da mesma Maria, mulher
de Alfeu. Não obstante, a tradução “mulher”,
neste versículo, é a que goza de maiores probabilidades.
Posto que o nome “Maria” era extremamente comum
nos tempos de Jesus, visto que Clopas talvez não seja
Alfeu e em face do fato de que várias narrativas se
derivam de fontes informativas separadas, podendo identificar
diferentes pessoas por nomes similares ou mesmo iguais, é-nos
impossível asseverar, com absoluta certeza, quem era
exatamente essa “Maria”, ou se era ou não
irmã de Maria, mãe de Jesus, ou se Tiago, o
Menor e Joses eram ou não primos do Senhor Jesus. Por
essa razão é que encontramos bons eruditos defendendo
um ou outro lado da questão. A posição
deste comentário, embora apenas na forma de tentativa,
é que a “Maria” aqui aludida é a
mesma “Maria” mencionada nos evangelhos sinópticos,
onde aparece como mãe de Tiago, o Menor e Joses, e
mui provavelmente, trata-se da mesma Maria esposa de Alfeu
(Alfeu e Clopas seriam a mesma pessoa); mas que Tiago, o Menor
e Joses não eram primos de Jesus, porquanto a narrativa
de João alista quatro mulheres ao pé da cruz,
e esta Maria não é irmã de Maria, mãe
de Jesus, mas antes, Salomé, a qual, apesar de não
ser chamada por nome no evangelho de João, é
identificada por nome nos evangelhos sinópticos
(ver Mat. 27.56 e Marc. 15:40). (CHAMPLIN, 2005b, p. 618-619,
grifo nosso).
James D. Tabor faz algumas considerações,
que trazendo mais lenha para a fogueira; vejamo-las;
[…] Mas João reconhece explicitamente
a presença de Maria, mãe de Jesus, o que nos
permite identificar, com uma boa margem de segurança,
a mulher a quem Marcos se refere como “Maria, mãe
de Tiago e Joses” como sendo Maria, mãe de Jesus.
Quem é então a “nova” terceira Maria
– mulher de Cléofas? Quem é Cléofas?
Essa Maria é identificada como a “irmã”
de Maria, mãe de Jesus – mas qual é a
probabilidade de que duas irmãs, da mesma família,
tenham o mesmo nome?
Comecemos por Cléofas, já que sabemos alguma
coisa sobre ele. Como explicaremos em detalhe mais tarde,
quando Jesus morreu, deixou a seu irmão Tiago o encargo
de seus discípulos. Tiago foi assassinado em 62 d.C.,
e nossos primeiros registros falam que ele foi sucedido por
um homem idoso, conhecido como “Simão, filho
de Cléofas”. Sabe-se ainda que esse Cléofas
era irmão de José, marido de Maria. (9)
Nesse caso, é inteiramente possível que nossa
misteriosa Maria, mulher de Cleófas, mãe de
“Tiago e Joses”, fosse a cunhada de Maria, casada
com o irmão de seu marido José. Essa foi a solução
adotada pela Igreja há alguns séculos. Mas reparem,
nesse caso, há alguma coisa estranha:
COMPARAÇÃO
ENTRE AS DUAS “MARIAS” |
Maria casada com José |
Maria casada com Cléofas, irmão
de José |
Tiago-Joses-Simão
|
Tiago-Joses-Simão |
Quais são as probabilidades reais de
que essas duas mulheres, ambas chamadas Maria, fossem elas
irmãs ou cunhadas, casadas com irmãos, tivessem
filhos com os mesmos nomes, nascidos na mesma ordem: Tiago,
Joses e Simão?
O que mais parece plausível é que a “Maria,
mãe de Tiago e Joses”, de Marcos, fosse a mesma
Maria que era mãe de Jesus, e que o evangelho de João
(ou quem o editou) tenha criado uma terceira Maria,
mulher de Cléofas, na verdade, a mesma mulher
– para ocultar o fato de que a mãe de Jesus,
Maria, depois da morte de José se casou com Cléofas,
o irmão dele. Uma versão de João escrita
claramente diria
Ao pé da cruz, havia sua mãe,
Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena.
Isso estaria perfeitamente de acordo com Marcos
e não criaria esse absurdo de cunhadas com o mesmo
nome, tendo filhos como nomes idênticos e até
com o mesmo apelido, “Joses”, nascidos na mesma
ordem. Segundo essa reconstrução, as três
mulheres ao pé da cruz seriam provavelmente:
1. Maria Madalena
2. Maria, a viúva de José, que se casou com
Cléofas, seu irmão
3. Salomé, que pode ser tanto a irmã de Jesus
quanto a mãe dos filhos de Zebedeu
Um detalhe sobre Cléofas apoia essa
interpretação. Seu nome vem da raiz hebraica
chalaph, que significa “mudar” ou “substituir”.
Ela está na origem do termo “califado”,
que se refere a uma sucessão dinástica de governantes.
Provavelmente, esse não é seu primeiro nome,
mas uma espécie de apelido. Ele é quem deveria
substituir seu irmão José, que morreu
sem filhos. Cléofas é ainda mencionado em outra
parte, sob a forma grega de seu nome – Alfeu.
Seu primogênito é comumente conhecido como “Tiago,
filho de Alfeu” ou “Tiago, o jovem”, para
diferenciá-lo do Tiago, filho de Zebedeu, o pescador,
irmão do apóstolo João(10).
A partir dessa informação, começa a emergir
uma imagem inteiramente diferente, mas historicamente coerente.
Jesus nasceu de um pai desconhecido, mas não era filho
de José. José morreu sem filhos, de modo que,
segundo as leis judaicas, “Cléofas” ou
“Alfeu” se tornou seu “substituto”
e se casou com sua viúva, Maria, mãe de Jesus.
Seu filho primogênito, Tiago, o irmão que sucedeu
a Jesus, tornou-se legalmente conhecido como “filho
de José”, tendo adotado o nome de seu falecido
irmão, de maneira a perpetuá-lo. Isso significa
que Jesus tinha quatro meio-irmãos e pelo menos duas
meio-irmãs, todos nascidos de Maria, mas com outro
pai.
Essa é uma maneira plausível de reconstruir
os fatos. Há certas coisas que jamais conheceremos
com certeza absoluta. Cléofas é mencionado uma
só vez em todo o Novo Testamento (João
19:25). (11) Se ele e
seu irmão José eram muito mais velhos do que
Maria, é bem provável que nenhum deles estivesse
vivo quando Jesus se tornou adulto. Isso pode ainda ser constatado
no evangelho de João quando Jesus, o filho mais velho
da família, pouco antes de sua morte, entrega a mãe
aos cuidados de um misterioso “discípulo a quem
ele amava”, cujo nome João prefere calar (João
19:26). Mais adiante, darei provas de que essa pessoa
é provavelmente Tiago, seu irmão, o mais velho
da família depois de Jesus. Seja ele quem for, o fato
de que Jesus entregou sua mãe aos cuidados de outra
pessoa significa que ela era viúva. Temos de lembrar
que os evangelhos são, antes de tudo, relatos teológicos
da história de Jesus, escritos uma geração
ou mais depois de sua morte. Quando se trata da família
de Jesus, há coisas que eles não explicam e
outras que parecem suprimir deliberadamente. […].
O que podemos afirmar com algum grau de certeza é o
seguinte: José não é o pai de Jesus,
e a gravidez de Maria por um homem desconhecido foi “ilegítima”,
segundo as leis sociais. Jesus tinha quatro meio-irmãos
e duas meio-irmãs, todos filhos de Maria, mas de outro
pai – fosse ele José ou seu irmão Cléofas.
[…].
_______
(9) Isso é do escritor do século
II Hegésipo, que preserva para nós algumas das
mais valiosas tradições primitivas sobre a família
de Jesus (Eusébio, Church History 3.11).
(10) Consulte Marcos 3:18 d 15:40.
(11) Um Cléopas é mencionado em Lucas 24:18,
mas ele não parece ser a mesma pessoa, e os nomes em
grego são diferentes.
(TABOR, 2006, p. 94-97).
Pastorino tinha como certo que Tiago, filho
de Alfeu e de Maria, era irmão de José, de Simão
e de Judas Tadeu, e que todos eram chamados “irmãos
de Jesus” (Pastorino, (PASTORINO,
1964b, p. 81). Não conseguimos saber qual fonte
em que se baseou para dizer que José, Simão e
Judas Tadeu eram irmãos de Tiago. O que conseguimos,
com base nos textos bíblicos, é que:
– Judas, afirma ser irmão de
Tiago, (Jd 1);
– Tiago (o Menor) é filho de Alfeu (Mt
10,3; Mc 2,14; Lc 6,15; At 1,13);
– Levi (Mateus) é filho de Alfeu (Mc
2,14).
Então os filhos de Alfeu e Maria são:
Tiago, Judas e Levi, codinome de Mateus.
Existiram ainda, pelo menos, mais dois personagens com o nome
de Tiago:
– Tiago, irmão do Senhor (Gl
1,19) - Na carta de Tiago “o mesmo se apresenta
como Tiago, o irmão do senhor (cf
Mc 6,3), que dirigia a igreja de Jerusalém”
(Pastoral, p. 1561);
– Tiago (o Maior), filho de Zebedeu, irmão de
João (Mt 4,1).
Novamente, recorrendo a Pastorino, transcrevemos:
Agora as confusões.
Em João (19:25) esse mesmo
Tiago é dito “filho de Maria, a esposa de Clopas”.
Seria Clopas o mesmo nome que Alfeu, como supõem alguns?
ou teria ele um nome hebraico Halphai e um nome grego
Klopas (abreviatura de Kleópatra
– donde a variante Kleópas, o que o
identificaria com um dos “discípulos de Emaús”,
Luc. 24:18)? Esta parece a hipótese mais razoável,
pois era muito comum na época a duplicidade de nomes
(João se tornava Jasão, Phaltiel se tornava
Filipe, Levi era Mateus, etc.). Esse Clopas, citado
em João, é dito “irmão de José”
(esposo de Maria) por Hegesipo, pelos meados do 2.º
século (a cerca de 100 anos dos acontecimentos) conforme
testemunho de Eusébio (Hist. Ecles. 3, 11,
in Patrol. Graeca, vol. 20, col. 248) e segundo Epifânio
(Haeres. 78, 7, in Patrol. Graeca, vol.42,
col. 708).
Pensam alguns que Maria, esposa de Clopas, era irmã
de Maria mãe de Jesus. Mas como se explicaria
o caso de duas irmãs com o mesmo nome? Além
disso, a enumeração de João (19:25)
é bem clara: “estavam ao pé da cruz de
Jesus” 1) a mãe dele; 2) a irmã da mãe
dele; 3) Maria, esposa de Clopas; e 4) Maria Madalena. Pela
construção e pelo andamento da frase grega,
“Maria esposa de Clopas” não pode ser aposto
de “a irmã da mãe dele”: são
duas pessoas distintas. Curiosidade:
quem seria essa “tia” de Jesus, irmã
de Maria? Teria sido (simples hipótese!) Joana,
a esposa de Cusa, o oficial de Herodes,
que foi buscar Jesus em Caná para curar-lhe o filho
(conhecendo-o bem familiarmente, portanto, antes mesmo de
sua “vida pública”)? Além disso,
a intimidade constante de Joana de Cusa com Jesus e com o
colégio apostólico é suficiente para
dar justificativa a essa hipótese, não de todo
infundada, se bem que nova.
Neste caso, os quatro (Tiago, José, Simão e
Judas) seriam primos-irmãos de Jesus, parentesco que
costumava ser abreviado com a simples palavra “irmão”.
A afirmativa de alguns apócrifos e dos “pais”
da igreja Orígenes, Epifânio, Gregório
de Nissa, Hilário, Ambrósio e Eusébio,
de que eles teriam sido filhos de José, num
primeiro matrimônio (contra o que protestou energicamente
Jerônimo), não pode ser aceita; pois
não se compreenderia que José tivesse casado
com Maria, enquanto sua primeira esposa estava ainda viva
(tanto assim que estava ao pé da cruz de Jesus) e sobretudo
seria inconcebível essa promiscuidade das duas esposas.
Isso explica também que as “irmãs de Jesus”
(Mat 13:55-56), que segundo Teofilacto
se chamavam Maria e Salomé, deviam ser filhas ou de
Alfeu-Clopas, ou de Joana de Cusa (em nossa hipótese).
Talvez essa Salomé, irmã (prima) de Jesus, fosse
a esposa de Zebedeu (Mr. 15:40)
e então Tiago Maior e João seriam seus sobrinhos
e por isso estavam sempre a seu lado e o tratavam com tanta
familiaridade, retribuída por Jesus que os apelidou
com fina ironia “filhos do trovão” (PASTORINO,
1964b, p. 81-82, grifo nosso, exceto os termos que também
estão sublinhados).
Na relação dos doze apóstolos
conforme os Sinópticos encontramos um deles com o nome
de Simão:
Em Mateus: Simão,
chamado Pedro e seu irmão André; Tiago e seu
irmão João, filhos de Zebedeu; Felipe e Bartolomeu;
Tomé e Mateus; Tiago, filho de Alfeu e Tadeu; Simão,
o Cananeu e Judas Iscariotes
(Mateus 10.1-4).
Em Marcos: Simão, a quem pôs
o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão
de Tiago; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé,
Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu,
e Judas Iscariotes (Maros 3,16-19).
Em Lucas: Simão, ao qual também
chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João;
Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de
Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas,
filho de Tiago; e Judas Iscariotes (Lucas
6,13-16).
A nossa impressão é de que ao
citar o nome Simão após o de Tiago, que está
relacionado a “filho de Alfeu”, confundiu-se esse
personagem como também sendo filho de Alfeu. Dos mencionados
irmãos de Jesus – Tiago, José, Simão
e Judas – somente o nome de José não aparece
na lista dos apóstolos, uma prova de que esses nomes
eram mesmo bem comuns, fácil, portanto, de se fazer confusão
entre quem seriam os seus pais.
Conclusão
Acreditamos ter apresentado dados suficientes para que você,
caro leitor, possa fazer um juízo do assunto, ao qual
não se pode deixar de levar em conta esse pensamento
de Orígenes de Alexandria (185-254):
“[…] O rigor da crítica
exige uma busca longa e precisa, um exame de cada ponto, depois
dos quais, com vagar e precaução, podemos afirmar
que estes autores dizem a verdade e aqueles outros mentem
sobre os prodígios que narram. […]”(Orígenes,
2004, p. 440).
A nossa opinião, percebida ao longo desse
estudo, é que não vemos razão alguma para
que Maria e José não tivessem outros filhos, pois
isso era bem comum àquele época, em que se considerava
uma mulher como boa esposa se ela gerasse muitos filhos ao marido.
Pobres das estéreis!
As razões que nos apresentam são sempre de ordem
teológicas, nas quais claramente se vê o atavismo
humano, sempre querendo perpetuar (ainda que neguem isso), crenças
pagãs como se fossem verdades novas e exclusivas de sua
fileira religiosa.
[1] John 19,25: Not Present in P2 P5 P6
P22 P28 P36 P39 P44 P45 P52 P55 P59 P63 P75 P76 P80 P84 P90
P93 P95 P106 P107 P108 P109 P119 P120 P122 P128; Present in
P60 P66 P121 01 02 03.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Jul/2014
Referência bibliográfica
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Fonte:
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosPN/JESUS_TEVE_OU_NAO_IRMAOS.html
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